Importância do mar para a riqueza das nações

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Importância do mar para a riqueza das nações

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), existem 193 países no mundo hoje. A maioria  tem saída para o mar. Uma minoria não tem, e paga muito caro por isso. Talvez você não pense neles pelo simples fato de morar num país com amplas saídas para o mar, como é o caso do Brasil. A propósito, você arriscaria ‘chutar’ quantos seriam os países que não têm saída para o mar, e como eles veem a  importância do mar para a riqueza das nações? Veja o mapa e arrisque…

imagem de mapa mundi ressaltando a importância do mar para a riqueza das nações
A importância do mar para a riqueza das nações

Países sem costa marítima, países ‘interiores’ ou ‘encravados’

Assim são conhecidos no ‘concerto das nações’ os 44 países que não têm saída para o mar. Em comum, além da geografia, a pobreza, a dificuldade em fazer o comércio, expandir sua presença no mundo, ganhar mercados, etc.

Na Europa, que contribui com 16 países encravados, só cinco  conseguiram livrar-se da pobreza, mas três deles tiveram que correr sérios riscos em seus sistemas bancários para que, como os oceanos, eles atraíssem riquezas. Falamos da Suíça, Liechtenstein e Luxemburgo. Os outros dois  são Áustria e San Marino.

A África contribui com mais 16; Ásia, dez; e América do Sul, mais dois, Bolívia e Paraguai.

A lista completa dos 44 países sem saída para o mar

Afeganistão (Ásia) Andorra (Europa) Armênia (Europa) Áustria (Europa) Azerbaijão (Europa) Botsuana (África) Bolívia (América do Sul) Butão (Ásia) Burkina Faso (África) Burundi (África) Bielorrússia (Europa) Cazaquistão (Ásia) Chade (África) Eslováquia (Europa) Etiópia (África) Hungria (Europa) Laos (Ásia) Lesoto (África) Liechtenstein (Europa) Luxemburgo (Europa) Macedônia (Europa) Moldávia (Europa) Mongólia (Ásia) Mali (África) Malauí (África) Níger (África) Nepal (Ásia) Paraguai (América do Sul) Quirguistão (Ásia) República Centro-Africana (África) República Tcheca (Europa) Ruanda (África) San Marino (Europa) Sérvia (Europa) Sudão do Sul (África) Suazilândia (África) Suíça (Europa) Tadjiquistão (Ásia) Turquemenistão (Ásia) Uzbequistão (Ásia) Uganda (África) Vaticano (Europa) Zâmbia (África) Zimbábue (África).

Importância do mar para a riqueza das nações

Uma rápida olhada na lista faz sentir arrepios. O futuro destas nações, e seus respectivos povos, milhões de pessoas, não é nada animador. Exceção para  três instituições bancárias de que falamos, Suíça, Liechtenstein e Luxemburgo, na Europa. E o Vaticano, que é outra exceção, além de Áustria e San Marino. Ao lado deles desfilam sua agressiva pobreza, Ruanda, Sudão do Sul, Mali, Armênia, Afeganistão, etc.

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imagem de mapa mundi com países sem saída para o mar
Importância do mar para a riqueza das nações

Na América do Sul, o drama da Bolívia e Paraguai

O drama da Bolívia é o que mais nos toca por estarmos perto.  Mas é doloroso acompanhar o patético esforço boliviano. No passado a Bolívia teve saída para o mar. Mas meteu-se numa desastrada guerra ao lado do Peru, contra o Chile, e perdeu. Breve histórico. “A Guerra do Pacífico ocorreu entre 1879 e 1883, confrontando o Chile às forças da Bolívia e Peru.

No final da guerra, o Chile anexou áreas ricas em recursos naturais de ambos os países derrotados. O Peru perdeu a província de Região de Tarapacá, e a Bolívia cedeu a província de Antofagasta, ficando sem saída  para o mar. Isso se tornou matéria de fricção na América do Sul. Chegou até os dias atuais e, para a Bolívia é uma questão nacional (a recuperação do acesso ao oceano Pacífico consta como um objetivo nacional boliviano na sua atual constituição).”

A questão do Acre

Posteriormente, a Bolívia teve com problemas com o Brasil e, mais uma vez, lutou por ter uma saída para o mar.  Aconteceu durante o auge do ciclo da borracha, quando seringueiros brasileiros aos poucos subiram o curso de afluentes do Amazonas atrás do produto. Eles acabaram por se internar no Acre que, naquela época, pertencia a Bolívia.

A Bolívia tentou cobrar impostos sobre a extração e transporte da borracha, e chegou até mesmo a negociar um arrendamento da área em litígio para uma empresa americana, a Anglo-Bolivian Syndicate. Mas nada deu resultados. A tensão foi crescente até quase o ponto de iniciar uma guerra. Então, o Brasil levou a questão para a negociação  internacional.

O Barão de Rio Branco conseguiu chegar a bom termo. A paz foi selada no Tratado de Petrópolis, em 1903. Segundo o tratado, o Brasil ficaria com o Acre pagando à Bolívia dois milhões de libras esterlinas. Além disso, o Brasil se comprometeu  a construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, pronta em 1912, oferecendo à Bolívia uma saída para o Atlântico. A despeito de tanta luta, a Bolívia jamais conseguir ter suas saída, seja para o Pacífico, seja o Atlântico. Mas o esforço é mais uma prova de sua importância.

Importância do mar para a riqueza das nações: 90% do comércio internacional é feito por transporte marítimo

A economia dos oceanos abrange indústrias oceânicas (como navegação, pesca, eólica offshore, biotecnologia marinha, turismo, etc), mas também os ativos naturais e serviços ecossistêmicos que o oceano fornece (peixes, rotas de navegação, absorção de CO2 e similares, saiba mais). Não é fácil para os países ‘encravados’ não contarem com estes recursos.

Comércio internacional: 90% depende dos mares

Mais de 90% do comércio internacional é feito por transporte marítimo, de acordo com a associação internacional de operadores de navios International Chamber of Shipping. Se mesmo com mar, e bom saldo exportador, é difícil um país superar seus problemas econômicos internos, como é o caso de muitos países pobres ou em desenvolvimento,  imagine sem saída para o mar.  Mas o comércio não é tudo. Apesar das ameaças que a pesca indiscriminada hoje representa, o comércio mundial de pescado é pujante e, para participar dele, é preciso ter saída para  mar…

Valores do comércio mundial de pescado

Veja a tabela da FAO:

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imagem de gráfico do mercado mundial de pescado
Importância do mar para a riqueza das nações. Dados da FAO.

Conforme a FAO, em 2017 o mercado mundial foi de 170 milhões de toneladas produzidas (quer dizer pescadas, e ou criadas em fazendas), alcançando o valor de US$ 153.5 bilhões de dólares. Mais uma perda arrebatadora para os pobres países ‘encravados’. Eles não participam deste mercado seja nos recursos apurados, seja nos empregos criados. E assim acontece ainda na indústria do turismo (80% do turismo mundial é baseado no ambiente marinho), e em vários outros segmentos da economia.

Os dez maiores países pesqueiros do mundo

Do primeiro, até o décimo, a ordem é esta: China, Índia, Indonésia, Peru, Estados Unidos; depois Chile, Japão, Tailândia, Vietnã e, por último, Rússia. Importante saber que, no caso dos países que mais pescam no mundo, não basta a vontade. É preciso ter sido abençoado, e ter um litoral grande, caso da Rússia, China, Estados Unidos, ou Indonésia; muita tecnologia aplicada; e ainda sorte da geografia, caso do Peru, que tem em seu litoral uma dos maiores ressurgências do globo.

Peixes selvagens versus aquacultura

Para encerrar este breve resumo sobre as vantagens da pesca para a maioria dos países que participam deste comércio, é bom saber que hoje, do total oferecido, 53% são peixes criados, e 47% selvagens. Veja quadro:

Imagem de gráfico com quantidade mundial da pesca
Importância do mar para a riqueza das nações. Dados da FAO.

O turismo marinho no mundo em valores

O Banco Mundial diz que “O turismo é uma das maiores indústrias do mundo, contribuindo com trilhões de dólares para a economia global e apoiando os meios de subsistência de uma em cada dez pessoas estimadas em todo o mundo. Em muitos países, com economias em desenvolvimento e bem desenvolvidas, o turismo é visto adequadamente como um mecanismo de crescimento econômico e um caminho para melhorar a sorte de pessoas e comunidades que, de outra forma, poderiam lutar para crescer e prosperar.” E ainda, “O turismo costeiro e marítimo representa uma parcela significativa da indústria. E é um componente importante da crescente Economia Azul sustentável, apoiando mais de 6,5 milhões de empregos – perdendo apenas para a pesca industrial.

Mais de 350 milhões de pessoas viajam anualmente para os litorais do mundo a procura dos recifes de coral. O setor de turismo dos recifes de coral tem um valor anual estimado em US$ 36 bilhões. Mais de 70 países e territórios têm “recifes de milhões de dólares” – recifes que geram mais de US $ 1 milhão em gastos com turismo anualmente.

Estima-se que 600.000 pessoas gastam mais de US $ 30 milhões anualmente para nadar com tubarões. O turismo de observação não para de crescer. E esta é mais uma riqueza com que os países ‘encravados’ não podem contar. É também mais uma motivo para que os países que tenham saída para o mar, cuidem muito bem de seu espaço marítimo.

Mares e oceanos, alguns mercados secundários

Mas a pesca, ou o turismo, estão longe de serem as duas únicas perdas dos países ‘encravados’. A ciência, e a cura de doenças através dos fármacos marinhos, é outra realidade que, para os encravados, não passa de ficção. E agora já começamos a extrair outros minerais além do petróleo, do mar. É outra desvantagem. E, antes de terminar, saiba que o consultor chefe do Reino Unido, Mark Walport, aponta  oportunidades na exploração da  “economia dos oceanos, hoje dominada pela China, um mercado que deve dobrar de tamanho, para US$ 3 trilhões(R$ 9,9 trilhões), até 2030.

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Quem tem mar, tem que ter responsabilidade

Por tudo que foi dito, os países que têm saída para o mar têm, ao mesmo tempo, de ter a responsabilidade que esta diferença impõe. Em primeiro lugar, cuidar do que é seu. Zelar por este bem, para que não apenas a nossa, mas as futuras gerações também possam desfrutar de seus imensos benefícios. Isso é a obrigação mínima. Já comentamos esse aspecto. Por exemplo, falta ao Brasil impor a sua ‘gestão ambiental’ às ilhas que ocupa, como apregoa a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. A Convenção abre a possibilidade de um país perder a posse de uma ilha caso não o faça.  Não basta decretar uma área qualquer como Unidade de Conservação, é preciso fazer com que elas funcionem o que não é caso do Brasil.

Brasileiros fazem sua parte?

Acreditamos que uma minoria Por uma série de fatores, entre os quais destacam-se o baixo nível do ensino, a crise atual da imprensa, o egoísmo generalizado, e a desinformação. O mar ainda não faz parte de nossas preocupações cotidianas. E se o povo não exige, os governos não fazem; ficamos boiando num entediante redemoinho, não avançamos, ou avançamos pouco.

Mudança de hábitos, será tão duro assim?

Por exemplo, quem conhece um fumante que não joga bitucas na rua? Se você por acaso conhecer, deve ser exceção. Pessoas fumam, e jogam os tocos na rua, na maior naturalidade! E as pessoas aceitam, se não aceitassem os infratores não fariam com tanta cara-de-pau. O que custa mudar este hábito miserável induzido pelo cinema (não há filme em que o herói não jogue uma bituca no chão)? E assim, uns por ação, outros omissão, dão sua contribuição sem lembrar que somos quase oito bilhões de pessoas. Não se pode fazer ‘o que der na telha’ numa sociedade deste porte. A Organização Mundial da Saúde (OMS),  estima que o número de fumantes no mundo é de 1,6 bilhão. Essa enormidade de pessoas joga fora 7,7 bitucas de cigarros por dia. Ou seja, 12,3 bilhões de bitucas descartadas diariamente. Onde vão parar? No mar, claro

Máximas do ambientalismo

O ambientalismo tem algumas máximas que nem todos conhecem. Uma delas prega: “pense globalmente, aja localmente”. Ou seja, pense que você não é exceção, mas parte de um contingente de oito bilhões de pessoas, e não deixe de agir. Porque não há dúvida que os hábitos de nossa geração,  insustentáveis, estão na raiz da poluição mundial, do desaparecimento de habitats, do despejo de CO2 na atmosfera, do uso indiscriminado, e posterior descarte errado do plástico, e assim por diante. Faça um teste: liste os dez piores problemas para o meio ambiente, e verá que atrás de nove estão nossos hábitos.

Fontes: https://www.geografiaopinativa.com.br/2013/08/paises-encravados.html; https://www.npr.org/2018/10/01/653409183/top-u-n-court-dashes-landlocked-bolivias-hopes-of-ocean-access; https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_do_Pac%C3%ADfico_(s%C3%A9culo_XIX);http://www.fao.org/fishery/statistics/en; https://www.statista.com/statistics/240225/leading-fishing-nations-worldwide-2008/; http://www.fao.org/documents/card/en/c/I9540EN/; https://oceanwealth.org/ecosystem-services/recreation-tourism/; https://blogs.worldbank.org/voices/Sustainable-Tourism-Can-Drive-the-Blue-Economy.

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Comentários

6 COMENTÁRIOS

  1. uma ressalva sobre o gráfico da FAO: boa parte da pesca e aquicultura mundiais provêm de águas continentais ou interiores, ou seja, água doce, de reservatórios, viveiros escavados e barragens e sistemas fechados. No caso do Brasil, a aquicultura continental responde majoritariamente pela produção de pescado cultivado, dado que a maricultura ainda ocorre em poucas regiões do litoral nacional.

  2. Vc sabia que Dubai não tem sistema de tratamento esgoto e os desejos são retirados em centenas de caminhões e jogados no mar de Dubai??? e que o sal retirado da dessalinização das águas tb são jogados diretamente no mar de Dubai??? Ôôôô gente porca !!!!!!!!!!!!!

  3. Vc sabia que Dubai não tem sistema de esgoto e os desejos são todos jogados no mar de Dubai??? e que o sal retirado da dessalinização das águas tb são jogados diretamente no mar de Dubai??? Ôôôô gente porca !!!!!!!!!!!!!

  4. Você recicla o plástico que utiliza, por exemplo?

    Jogado para os espectadores, ouvintes ou leitores parece um gesto nobre pra caramba, mas não faça perguntas bobas e tente dar ao menos sugestões para reciclar já que você á adepto de juntar inservíveis. Eu infelizmente ou felizmente não tenho uma usina recicladora e tampouco espaços inúteis no apartamento.

  5. João Lara Mesquita deixe um pouco do terrorismo de mídia e diga-nos se você teria respostas positivas para aquela clássica pergunta: “quem nunca….?” ou mesmo aquele enfadonho projeto da Globo: “que Brasil você quer???” Você finaliza esta matéria como uma pergunta que eu lhe devolvo: “você recicla o plástico que utiliza????” Eu não reciclo, mas entrego para a coleta de lixo todos os plásticos lavados, secos e em volumes reduzidos.

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