Pesquisa revela cocaína em cações/tubarões no Rio de Janeiro
Pesquisando o sangue de elefantes marinhos na Antártica, o pesquisador brasileiro detetou compostos sintéticos em meio ao plasma. O que seria, perguntei a Adauto Bianchini, da FURG. Ele explicou que o ser humano produz remédios que, ao serem excretados nos mares, contaminam o sangue dos enormes animais que ele estudava na Antártica! Já para o oceanógrafo Frederico Brandini, ex-diretor do IO-USP, uma das substâncias mais comuns nas águas, ao largo de grandes cidades, era o composto do Prozac. Agora uma pesquisa revela cocaína em cações/tubarões que frequentam águas cariocas. Todos, sem excessão, consequências da superpopulação mundial.
Pesquisa de um grupo do Instituto Oswaldo Cruz
Antes de começar, vamos recordar que ‘cação’ é o nome pelo qual a indústria da pesca de Itajaí decidiu batizar a carne de tubarão que será exposta nas gôndolas de supermercados. Cação e tubarão são sinônimos, mas o público consumidor parece ter algo contra ‘tubarão’, assim, a indústria usa ‘cação’, apenas por ser mais…palatável para o consumidor. Infelizmente, a maior parte da mídia nacional também usa o termo ‘cação’ ao comentar casos como este. São por estes motivos que aproveitamos para mais uma vez contribuir para desfazer o equívoco.
Já, a pesquisa, é de um grupo do Instituto Oswaldo Cruz referência no estudo, pesquisa e desenvolvimento da ciência biológica no Brasil. A liderança foi do ecotoxicólogo Enrico Mendes Saggioro. A conclusão surgiu depois de uma pesquisa com 13 animais e publicada no periódico Science of the Total Environment. O estudo encontrou resquícios da droga em músculos e fígados dos animais.
O cação/tubarão estudado foi o da espécie Rhizoprionodon lalandii, popularmente conhecida como cação-rola-rola ou tubarão-bico-fino-brasileiro. E o estudo ressalta que Estudos com foco em peixes selvagens são, no entanto, muito limitados, e não há relatos sobre elasmobrânquios disponíveis.
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Finamente, a pesquisa deu preferência à espécie Rhizoprionodon lalandii justamente por ela passar a vida inteira em águas costeiras. Os pesquisadores parecem ter feito uma aposta, e depois cuidaram de prová-la, ou não. Assim, compraram 13 exemplares de pescadores, e os analisaram com a técnica de cromatografia utilizada para análise, identificação e separação dos componentes de uma mistura.
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Todas as amostras estavam contaminadas
Desse modo, eles descobriram a contaminação em 100% das amostras, algumas com concentrações cem vezes maiores do que em outras espécies aquáticas, nos informa o Diário do Litoral.
O maior problema é que, como já comentamos, o Brasil é o maior consumidor mundial de carne de tubarão. Além de comprar da Espanha e Uruguai, nossos maiores fornecedores, também há a pesca em nossas águas. Em 2023, numa das raras operações de fiscalização, o Ibama apreendeu 20 toneladas de pescado dentre eles, tubarão-martelo, no Rio Grande do Sul.
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Para começar, os predadores do topo da cadeia alimentar têm a importante função de manter em boas condições os cardumes das regiões que frequentam, só por isso não deveriam enfrentar o extermínio.
O fato é que pelos excessos da pesca mundial, os tubarões que frequentam o planeta desde antes da primeira árvore nascer, hoje têm parte significativa das espécies em risco de extinção. Quanto ao perigo do consumo, quem explica é o Ph.D. David Shiffman para a revista Scuba Diving.
Afinal, qual é o problema do mercúrio em tubarões e outros peixes? Por que isso é ruim para nós?
Primeiro, vamos esclarecer que existem diferentes compostos de mercúrio, e estamos falando de metilmercúrio, não o etilmercúrio que é encontrado em algumas vacinas e completamente inofensivo. O metilmercúrio pode causar uma variedade de efeitos nocivos, especialmente ao sistema nervoso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que observa que os fetos em desenvolvimento são os mais vulneráveis a esses efeitos.
E por que é pior nos principais predadores como atum, ou cações/tubarões?
Os níveis de mercúrio são piores nos principais predadores devido à bioacumulação e biomagnificação do metilmercúrio. Isso significa que quanto mais alta a cadeia alimentar, maior concentração de metilmercúrio haverá nos sistemas desses animais.
Agora você fica sabendo que comer carne de tubarão/cação é perigoso em qualquer lugar devido à bioacumulação, no Brasil pode ser ainda pior caso seja a carne de um animal que frequenta os mares das grandes cidades. Não nos esqueçamos que já foi encontrada cocaína também nos mares de Santos.
Apesar da divulgação de mais este problema provocado por poluição não ter sensibilizado a mídia nacional, a mídia estrangeira ficou chocada e abriu manchetes em peso para o assunto.
Como a cocaína chegou aos mares cariocas?
De acordo com o litoralmania são três as hipóteses:
- Laboratórios clandestinos de produção de drogas: O descarte inadequado de resíduos químicos desses laboratórios pode contaminar os cursos de água que desembocam no mar.
- Fezes de usuários de cocaína: O consumo e a excreção da droga podem levar à contaminação das águas por meio do sistema de esgoto e rios.
- Pacotes de cocaína perdidos ou descartados no mar: Traficantes frequentemente lançam pacotes de drogas no mar para evitar apreensões, o que contribui para a contaminação do ambiente marinho.
Enfim, esta é mais uma ‘contribuição’ da superpopulação mundial de oito bilhões de pessoas. Não tinha como dar muito certo…
Imagem de abertura: Rhizoprionodon lalandii, de Dr. Ross Robertson, Domínio Público
E se Kamala Harris ganhar, como ficam as questões ambientais?