Brasil pega fogo, espanta o mundo, e Lula confessa: ‘não estamos preparados’
Este post, inicialmente focado na repercussão global dos incêndios, ficou pronto na noite de terça-feira. Enquanto revisava o texto, chegou a hora dos telejornais. Como de costume, me acomodei em frente à TV, selecionei o canal e abri o Instagram do *Mar Sem Fim*. Costumo trabalhar ouvindo as notícias do dia. De repente, uma voz familiar e rouca, desta vez ainda mais rouca, chamou minha atenção: “Hoje, no Brasil, não estávamos 100% preparados para lidar com isso.” O quê? Como assim? Não acreditei. Era Lula referindo-se finalmente ao aquecimento global cantado em prosa e verso pela academia há nada menos que 30 anos! Foi a segunda vez que um homem público de alto escalão admitia a incompetência dos políticos. A primeira foi durante um podcast que gravei com Fernando Henrique Cardoso, em agosto de 2020. Bem, antes tarde do que nunca. Passado o choque inicial, decidi incorporar essa confissão de Lula ao post já pronto, afinal, o tema é o mesmo, e é raríssimo o presidente ter a humildade de externar seus erros. Essa declaração certamente vai repercutir na imprensa internacional que o poupava até agora como se verá.
‘O país se transformou em um vasto inferno’
A declaração é do jornalista francês
A repercussão dos incêndios no Brasil é enorme; praticamente todos os veículos de comunicação dão destaque ao tema. Mas e no resto do mundo? Como está a nossa imagem lá fora? O que dizem os jornais e os analistas internacionais? Curioso, fui conferir, e percebi que nossos leitores também merecem saber. O Brasil está em chamas e chocando o mundo. O New York Times, talvez o jornal mais influente do planeta, publicou o artigo “Os incêndios que poderão remodelar a Amazônia”, assinado por Manuela Andreoni. O título, cuidadosamente escolhido, captura perfeitamente a essência do texto.
New York Times, 17 de setembro
Grande parte do Brasil, país que detém mais de um décimo da água doce do mundo, está ardendo. O fogo está em vastas áreas da floresta amazônica e do Pantanal, as maiores zonas úmidas do mundo, bem como nas pastagens do Cerrado e nas florestas atlânticas ao longo da costa oriental.
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…Nesta época do ano, a temporada de incêndios no Brasil atinge seu auge, impulsionada por fazendeiros que queimam pastos e limpam áreas de vegetação. No entanto, este ano, as queimadas causaram uma destruição muito maior. Embora muitos dos focos tenham sido iniciados por ação humana, a vegetação seca em abundância alimentou fogos imensos, que rapidamente saíram de controle de maneira extraordinária…
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Andreoni ouviu Luiz Aragão, cientista do instituto de investigação espacial. “Se os incêndios são uma consequência direta da desflorestação, então uma política de combate ao desmatamento também deveria ser eficaz contra incêndios. Mas o que estamos vendo não é bem assim”.
Le Monde, 15 de setembro
Sob o título Brasil sufoca sob fumaça de incêndios recordes, o correspondente informou que ‘o país se transformou em um vasto inferno. Foram pelo menos 11,3 milhões de hectares devastados este ano, quase 10 vezes o tamanho da região de Paris’…
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Dois hectares de mangue em Paraty provocam discórdiaMitos e verdades sobre a campanha de despoluição do rio TietêConheça o novo navio de carga híbrido…Mais de 60% do território, ou 5 milhões de quilômetros quadrados, estão cobertos de fumaça. Uma mancha grossa e acinzentada, visível do espaço e sentida agudamente no chão’.
Enquanto isso, São Paulo, a maior área metropolitana da América do Sul, detém o título nada invejável da “cidade mais poluída do mundo” desde 9 de setembro.
Agência Reuters, 13 de setembro
Jake Spring e Stefanie Eschenbacher escolheram América do Sul supera recorde de incêndios como título. Incêndios devastam a América do Sul, desde a floresta amazônica no Brasil, passando pelas maiores zonas úmidas do mundo, até as florestas secas da Bolívia, superando o recorde anterior de focos de chamas detectados em um ano até setembro…
… Brasil e Bolívia enviaram milhares de bombeiros para tentar controlar as chamas…Apesar de ainda ser inverno no Hemisfério Sul, as altas temperaturas em São Paulo se mantiveram em mais de 32 graus Celsius desde 15 de setembro…
…Centenas de pessoas marcharam nas terras altas da Bolívia para exigir ação contra os incêndios, segurando faixas e cartazes dizendo “Bolívia em chamas”.
ABC News, 14 de setembro
A matéria de Aicha El Hammar Castano e Julia Jaco revela que mais de 50.000 incêndios florestais estão ativos em todo o Brasil, segundo o Instituto Igarapé, um think tank voltado para segurança e desenvolvimento. A Amazônia enfrenta sua pior seca em 40 anos, conforme declarou o presidente Lula durante visita a uma comunidade ribeirinha perto de Tefé. No Brasil, os responsáveis por incêndios criminosos enfrentam até quatro anos de prisão, mas Lula prometeu endurecer essa legislação.
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Carbon Brief, 8 de agosto
Mudança climática tornou os incêndios florestais do Pantanal mais intensos em 2024. O Pantanal da América do Sul – a maior zona úmida tropical do mundo – experimentou condições excepcionalmente quentes, secas e ventosas em junho, fazendo com que os incêndios aumentassem…É um dos lugares mais biodiversos da Terra, lar de mais de 4.700 espécies de plantas e animais…
The Guardian, 26 de agosto
Matéria de Tom Philips, a partir do Rio de Janeiro…Falando após uma reunião de emergência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marina Silva chamou o súbito pico de incêndios florestais no interior do estado de São Paulo de “incomuns” e disse que a polícia federal está investigando as causas. Três pessoas foram presas…
“O apocalipse chegou”, escreveu um morador de Campinas, ao lado de imagens do incêndio tóxico de cor tangerina do lado de fora de sua janela.
Deutsche Welle, 11 de setembro
O jornalista Martin Kuebler destaca que o Brasil enfrenta mais uma devastadora temporada de incêndios, com grandes focos ativos na Amazônia, no Pantanal e no estado de São Paulo. O desmatamento e as mudanças climáticas agravam a situação, criando um cenário ainda mais crítico. Ana Paula Cunha, pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta Precoce de Desastres Naturais, afirmou à Associated Press: “Pela primeira vez, uma seca se estende do norte ao sudeste do país. É a mais intensa da história.”
Der Spiegel, fevereiro, 2024
Incêndios florestais na Amazônia garantem as emissões mais altas em 21 anos, este é o titulo do artigo.
‘Em vários países da América do Sul, as emissões de carbono em fevereiro atingiram os níveis mais altos em pelo menos 21 anos, com os incêndios florestais na Amazônia sendo os principais responsáveis. O cientista do CAMS, Mark Parrington, ressaltou o aumento significativo nas queimadas e nas emissões nas regiões tropicais. No Brasil, as emissões em fevereiro chegaram a 4,1 megatons de carbono, muito acima dos 1,1 megatons registrados no mesmo período do ano anterior, segundo seus dados’.
E paramos por aqui. Embora a extrema seca seja responsável por muitos dos incêndios, a situação também reflete o despreparo de um poder público que ignorou os alertas da academia por 30 anos inclusos, entre outros, Lula e Marina, como já comentamos inúmeras vezes.
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Eles desconhecem a prevenção; a imprudência e negligência são a marca registrada da maioria dos políticos em se tratando de aquecimento global. A resposta deste governo quase sempre é atrasada, mesmo com uma ministra do Meio Ambiente icônica no comando. Vide o Rio Grande do Sul. As falhas do governo federal podem não ter ganhado destaque no exterior, como sugerem as matérias.
Mas quem acompanha de perto a gestão ambiental não tem dúvidas. É pura ilusão a declaração de Lula em discurso no dia Mundial do Meio Ambiente
O Brasil voltará a ser referência mundial em sustentabilidade e enfrentamento das mudanças climáticas. E cumprirá metas de redução de emissões de carbono e desmatamento zero
Presidente, fala sério! Do jeito que as coisas estão indo, ‘o Brasil vai surpreender o mundo’, como apostava o ex-ministro da Economia.
Me despeço parafraseando o morador de Campinas, o ‘apocalipse chegou faz tempo, só Lula, Marina e companhia não perceberam’.”
Prefeito de Iguape: ‘há 300 anos discutimos o fechamento do Valo Grande’
O que me espanta é o silencio ensurdecedor dos artistas e pseudo-intelectuais do nosso pais a respeito do tema. O falastrão de plantão, assim como o seu antecessor demonstram a incompetência de tratar um tema crucial para o desenvolvimento econômico de nosso pais.
Existe um momento mais propício para se preparar do que num evento real?
De doutores e burocratas atrás das mesas estamos cheios.