Povos navegadores: conheça as semelhanças entre vikings e portugueses
A Era Viking durou cerca de três séculos, de 793 a 1066. A epopeia lusitana começou mais tarde e durou menos tempo. A conquista de Ceuta em 1415 marcou seu início, e a viagem de Fernão de Magalhães, terminando em 1522, sinalizou seu fim. Apesar de acontecerem em diferentes períodos e contextos, as navegações vikings e portuguesas têm semelhanças notáveis. Ambas as culturas se destacaram em habilidades marítimas e na exploração de territórios além de suas fronteiras. Vikings e portugueses desenvolveram tecnologias de navegação, tinham a noção de latitude e aprimoraram a construção naval, sem rivais em suas épocas. Povos navegadores, singraram longas distâncias marítimas. A principal diferença estava nos motivos para desbravar os oceanos. Os vikings buscavam saquear e escravizar, mas também colonizaram. Já os portugueses queriam comerciar, colonizar e catequizar, mas também saquearam, torturaram, e escravizaram. Ambos exploraram terras em pelo menos quatro continentes.
Réplica da caravela Vera Cruz construída em 2000 para comemorar os 500 anos da descoberta do Brasil. Imagem, FaceBook, Fernando Ferreira.
Os avanços na construção naval
Os vikings construíram os famosos navios longos, que eram rápidos, leves e capazes de navegar em águas tanto profundas quanto rasas. O drakkar surgiu no século 9 com outra ousadia, a introdução da vela. Tinha um comprimento médio de 28 m. Largura, 3m. Velocidade de até 12 nós (22 Km), excelente para a época e os tempestuosos mares do Norte em que navegava.
Muitos séculos depois, os portugueses deram continuidade à sua saga, iniciada em 1415, com a viagem de Gil Eanes que cometeu a proeza de ultrapassar o Cabo Bojador, em 1434, com uma barca que usava a mesma vela quadrada dos tempos vikings.
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Expansão territorial e comercial
Habilidades de navegação
Vikings e portugueses tinham habilidades notáveis de navegação, usando os astros, correntes, ventos, e até a composição do fundo do mar para orientar suas viagens. E isto nada tem a ver com a lenda da Escola de Sagres. Os nautas lusitanos aprenderam uns com os outros, por tentativa e erro, até vencerem o Mar Tenebroso. Embora os métodos e instrumentos fossem diferentes, o conhecimento profundo do mar e do clima era crucial para ambos.
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Tanto vikings quanto portugueses deixaram um legado duradouro em termos de exploração marítima, afetando significativamente a história mundial e as interações culturais e comerciais globais.
Contribuição para as cidades e o comércio europeu
Esta é mais uma semelhança entre ambos. As atividades comerciais dos vikings desempenharam um papel significativo no desenvolvimento de cidades europeias, muitas das quais começaram como assentamentos vikings ou pontos de comércio. Eles contribuíram para a urbanização e o crescimento econômico de várias regiões.
O mesmo pode-se dizer dos portugueses. Depois que Gil Eanes superou o cabo Bojador em 1434, menos de 100 anos foram precisos para os lusitanos ultrapassaram a ponta extrema da África, ao dobrarem o Cabo da Boa Esperança. Poucos anos após chegavam à Índia, estabelecendo-se em Goa, Calecute, Cochin, em 1502, e Malaca, por volta de 1509.
Localizada na Malásia, no estreito que liga o Índico ao Mar da China, e defronte à ilha de Sumatra, Malaca desempenhava no século 15 e 16 o que hoje cabe ao porto de Singapura. Era um mercado que conectava o comércio do Índico com a China, Japão e Coréia.
No trajeto, descobriram a maioria das ilhas do Atlântico sul como Ascensão, Santa Helena e Tristão da Cunha. Da índia, e sempre navegando para Oeste, tomaram posse de Timor Leste em 1512, chegaram à China em 1517, onde tentaram estabelecer o comércio com a dinastia Ming; e ao Japão, o fim da linha, em 1542. Contudo, outro feito foi o estabelecimento da colônia de Macau, na China, em 1557 (só devolvida em dezembro de 1999).
O primeiro império marítimo do mundo
Assim, coube aos portugueses a façanha de estabelecer o primeiro império marítimo no planeta, ainda no século 15. “O maior enigma da História”, segundo o historiador inglês H. S. Plumb, referindo-se ao seu espantoso alcance e à brevidade de seu apogeu. Ainda segundo ele “o domínio dos mercados mundiais ajudou a Europa comercial a encaminhar-se para o seu futuro industrial. Por um preço terrível, Portugal abriu as portas para um mundo mais vasto, que não podia dominar nem controlar.” Foi um império que se notabilizou pela vastidão e também pela efêmera duração como potência comercial.
Navegações dos vikings
Os vikings estabeleceram uma extensa rede de rotas comerciais que se estendiam desde o Atlântico Norte até o Mar Báltico, chegando até o Oriente Médio e a Rússia. Eles navegaram por rios e mares, conectando diferentes regiões e culturas através do comércio.
Por meio dessas rotas, os vikings comerciavam uma variedade de bens, incluindo peles, marfim, tecidos, especiarias, metais e escravos. Este comércio não apenas enriqueceu os vikings, mas também facilitou o intercâmbio cultural e a transferência de tecnologias entre diferentes partes do mundo.
Uma das rotas mais significativas estabelecidas pelos vikings foi a rota comercial que ligava o norte da Escandinávia a Constantinopla (atual Istambul) e ao mundo árabe. Essa rota, conhecida como a “Rota dos Varangianos aos Gregos”, foi fundamental para o desenvolvimento do comércio e das relações diplomáticas entre o norte da Europa e o Império Bizantino, bem como com os califados do Oriente Médio.
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As rotas de ambos perduraram até o advento do vapor
Talvez o maior legado destes povos seja a descoberta das rotas marítimas. No Atlântico Norte elas foram identificadas pelos erros e acertos dos vikings. No hemisfério sul, em especial no Atlântico Sul, pelos nautas lusitanos.
O legado das rotas comerciais vikings perdurou por séculos, influenciando as práticas comerciais e as conexões culturais no hemisfério norte. Mesmo após o fim da Era Viking, muitas dessas rotas continuaram a ser usadas, adaptando-se às mudanças tecnológicas e políticas, até à era do motor a vapor.
De maneira idêntica, aconteceu no hemisfério sul. Os portugueses, durante a Era dos Descobrimentos, abriram rotas marítimas para a África, Ásia, Oceania e América do Sul, navegando pelo Atlântico Sul e Índico. Assim como aconteceu com as rotas do Atlântico Norte, as rotas abertas pelos lusitanos também vigoraram até o advento do motor a vapor.
Ambos contribuíram para os primeiros estágios da globalização. Os vikings conectaram várias partes da Europa e do Oriente Médio, enquanto os portugueses estabeleceram os primeiros contatos marítimos regulares entre a Europa e as regiões da África, Ásia e Américas. Estes contatos iniciais levaram ao intercâmbio de bens, culturas, ideias e tecnologias em uma escala global.
Assim, pode-se dizer que o legado dessas explorações é um mundo mais interconectado. As rotas comerciais estabelecidas pelos vikings e portugueses formaram a base para o comércio internacional moderno e a interação global.
Imagem de abertura: O Mar Tenebroso, Pinterest
Se atravessar um oceano com uma caravela, onde homens, bem ou mal, tinham um local para se abrigar de intempéries e dormir, deveria ser difícil, imagine em um drakkar, relativamente pequeno, cheio e tudo ao relento. Só por isto, acho que vikings foram mais ousados. E ainda navegavam no Mar do Norte, reconhecidamente perigoso até hoje para embarcações modernas. Os caras não era fracos não.
Lançamento de livros no Instituto Oceanográfico da USP
https://agencia.fapesp.br/lancamento-de-livros-no-instituto-oceanografico-da-usp/51025
Sempre fiquei intrigado com o fato de Portugal não ter conseguido estender seu poder sobre as suas colônias por mais tempo, principalmente o Brasil. É como se eles desconhecem noções básicas desse tipo de gestão, o que parece improvável. Enfim, nem a Inglaterra conseguiu, embora creio fez melhor uso dos recursos que adviram desta exploração.
Entendo que talvez o maior problema da exploração tipo colonial eram as distâncias a serem percorridas e o tempo gasto para isso com os recursos de que dispunham. Sendo assim, as ordens emanadas da metrópole demoravam tanto tempo para chegarem e serem implantdas nas colônias que grande parte delas perdia sua eficácia. Embora as leis gerais (Ordenações Afonsinas, as Ordenações Manuelinas e as Ordenações Filipinas) regessem todo o império colonial, os problemas do dia a dia dependiam tão somente as autoridades locais. Isso, certamente enfraquecia o sistema. Outro pornto importante é o fato de que, assim como a Espanha, Portugal nunca desenvolveu uma indústria forte (como por exemplo a Inglaterra) e nisso, gastou praticamente todo o seu ganho colonial para manter a metrópole, importanto ao invés de produzir. Diz-se que, o ouro de Minas foi todo para a Inglaterra e que chegou até a financiar a Revolução Industrial naquele país. Enfim, é a História.