O último navio de Shackleton, o Quest, é encontrado
Em março de 2022, o mundo ficou surpreso quando o icônico Endurance, o mais famoso navio de Sir Ernest Shackleton, foi encontrado na Antártica a 3 mil metros de profundidade, em excelentes condições. Foi com ele que Shackleton protagonizou uma das páginas mais lindas da história náutica mundial durante a “Era Heroica da Exploração Polar”. Em 1915, o navio ficou preso no gelo do mar de Weddell. Posteriormente, o Endurance foi esmagado pela pressão gelo e afundou. Começava a saga de Shackleton para salvar seus homens. A sua reação, depois de ter perdido o navio, comandando seus homens, foi uma lição de liderança, bravura, e humildade, poucas vezes repetida na história. O final feliz deu-se em agosto de 1916, quando Shackleton resgatou toda a tripulação sem perder um único homem. Agora, outro capítulo se abre com a descoberta do último navio de Shackleton o Quest.

A expedição Quest, e o final da fase heroica na Antártica
Antes de mais nada, a chamada “Era Heroica da Exploração Antártica” começou no final do século 19 e terminou no início do século 20, após a Primeira Guerra Mundial, com a expedição Quest, liderada por Shackleton. Durante esse período, 10 países organizaram 17 expedições com variados níveis de sucesso. Algumas das mais notáveis foram as que destacaram, entre outros, Roald Amundsen o primeiro a chegar ao polo Sul em 1911, numa disputa entre ingleses e noruegueses que determinou a morte de outro expoente das expedições, Robert Scott; e também Adrien de Gerlache, o belga que foi o primeiro a invernar na Antártica em 1897. A Antártica ainda se destaca como o último continente a ser ‘descoberto’ e o único a ter pelo menos três ‘descobridores’.
Shackleton liderou três expedições à Antártica
Sir Ernest Shackleton liderou três expedições à Antártica. Além disso, atuou como terceiro-oficial na expedição Discovery, de Robert Scott (1901-1904), mas precisou se retirar mais cedo por causa do escorbuto.
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O Quest, lançado ao mar em 1917 na Noruega, era originalmente chamado Foca, uma pequena escuna de madeira de dois mastros de 205 toneladas. Shackleton comprou o navio para a expedição, em seguida o renomeou por sugestão de Lady Shackleton.
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Em 17 de setembro de 1921,o navio deixou Londres para mais uma expedição polar. O plano original era explorar o Ártico, ao norte do Canada, contudo, quando o governo canadense retirou o apoio financeiro, a expedição mudou o rumo em 180º e, de novo, mirou a Antártica.

De Londres, o Quest rumou para a Cidade do Cabo, África do Sul, onde a tripulação pretendia pegar um hidroavião, equipamento e o cientista Ernest Goddard.
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Como já comentamos, durante o século 19 o Rio de Janeiro era uma escala obrigatória, na ida ou na volta, de quase todos que se aventuraram na Antártica.
Assim, quando o Quest teve problemas no motor Shackleton navegou para o Rio, para reparos vitais. A essa altura, os sinais de seus problemas de saúde também começaram a aparecer, mas o navio continuou para a Geórgia do Sul de qualquer maneira.

Quando estava ancorado no porto de Grytviken, na Geórgia do Sul, nas primeiras horas de 5 de janeiro de 1922, Shackleton sofreu um ataque cardíaco fatal. O explorador tinha apenas 47 anos de idade. A pedido de sua mulher, seu corpo acabou enterrado na Geórgia do Sul, onde repousa no pequeno cemitério de Grytviken, depois de uma tentativa de levá-lo de volta à Inglaterra. Entretanto, o Quest continuou em serviço até 1962 quando naufragou.
Caçadores de naufrágios encontraram o Quest
Segundo a BBC, os restos do Quest, um navio a vapor de 38 metros de comprimento, estavam no fundo no Mar de Labrador, ao largo da costa da Terra Nova, no Canadá, no domingo 9 de junho, por uma equipe liderada por John Geiger, CEO da Royal Canadian Geographical Society.
Um sonar encontrou-o em 390m de profundidade. O naufrágio está quase na vertical. O mastro principal está partido e pendurado a bombordo, entretanto, o navio parece estar praticamente intato.
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O famoso caçador de naufrágios David Mearns, que dirigiu a bem-sucedida operação de busca disse à BBC que “a sua última viagem acabou de certa forma com a Era Heroica da Exploração da exploração Polar”.
“Posso confirmar definitivamente que encontramos o naufrágio de Quest”, diz Mearns. “Os dados das imagens de sonar de alta resolução correspondem exatamente às dimensões conhecidas e características estruturais deste navio especial, e também são consistentes com os eventos no momento do naufrágio.”

Para a Canadian Geographic, o local de descanso final do navio é comovente, dado que Shackleton originalmente pretendia usá-lo para uma expedição canadense no Ártico antes que o governo do então primeiro-ministro Arthur Meighen recusasse apoio.
Um estranho pressentimento?
Segundo a Canadian Geographic, a Expedição Shackleton-Rowett deixou Londres, em 17 de setembro de 1921, com Shackleton dizendo ao Evening Standard que esta viagem seria seu “canto do cisne”. Essa declaração foi profética: o explorador morreu enquanto Quest estava ancorado na Geórgia do Sul. Contudo, a expedição continuou mas o coração dela já não estava presente. Desse modo, depois de seis meses o Quest voltou para Londres, onde foi posteriormente vendido para a família Schjelderup, da Noruega.
O último local de descanso do Quest
Os membros da equipe do RCGS realizaram uma extensa pesquisa para encontrar o último local de descanso do navio. Eles recolheram informações dos diários de bordo, registros de navegação, fotografias e documentos do inquérito sobre a sua perda.

“Neste momento, não tencionamos tocar no naufrágio. Na verdade, encontra-se numa área já protegida para a vida selvagem, pelo que ninguém lhe deve tocar”, disse o diretor adjunto das buscas, Antoine Normandin. “Mas esperamos voltar e fotografá-lo com um veículo operado remotamente, para compreender realmente o seu estado”.
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O navio serviu na Marinha Real Canadense durante a Segunda Guerra Mundial
O Quest também participou de operações de salvamento no Ártico e serviu na Marinha Real Canadense durante a Segunda Guerra Mundial, antes de ser entregue aos caçadores de focas.
Segundo a Canadian Geographic, na década de 1960, Quest estava mostrando sua idade. Em 1º de abril de 1962, enquanto estava preso no gelo do Mar de Labrador, o navio foi esmagado com força suficiente para quebrar os parafusos do convés na sala de máquinas e deformar as portas da cabine. Um vazamento persistente que estava presente há meses piorou.

Na manhã de 5 de maio, a água sobrecarregou os motores do Quest e seu capitão, Olav Johannessen, fez o chamado para abandonar o navio. A tripulação, algumas cargas e objetos de valor foram evacuados para navios próximos, e às 17h40, Quest escorregou sob as ondas. Num telegrama para os proprietários do navio na Noruega, Johannessen observou a posição final da Quest: 53’10 N, 54’27 W.
Alexandra Shackleton, neta do explorador, foi patrona da expedição
De acordo com a BBC, Alexandra Shackleton, neta do explorador, foi a patrona do estudo da RCGS. “Fiquei emocionada e muito entusiasmada com a notícia; sinto-me aliviada e feliz e tenho uma enorme admiração pelos membros da equipe”, disse à BBC News. “Para mim, isto representa a última descoberta na história de Shackleton. Completa o círculo”.

O diretor de busca David Mearns disse à CBC que “esta é agora uma parte do patrimônio cultural canadense, patrimônio cultural de Terra Nova, mas patrimônio cultural mundial. É um naufrágio muito, muito significativo.”
Como curiosidade, 2024 marca 150 do nascimento de Shackleton.
Para saber mais, assista ao vídeo