Aquicultura supera a pesca pela primeira vez, diz a ONU
Viramos mais uma página de nossa história. Em 2022, cultivamos cerca de 94,4 milhões de toneladas de peixes, comparadas com 91 milhões de toneladas capturadas em águas abertas, segundo um novo relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. A FAO informa que a Ásia produz 90% dos peixes a nível global. Manuel Barange, diretor da divisão de pesca da organização, afirmou que a “aquicultura é o sistema de produção de alimentos que mais cresce no mundo”. Enquanto isso, cerca de 160 organizações pediram à FAO que excluísse o salmão, o robalo e outros peixes de barbatana carnívoros de suas definições de ‘aquicultura sustentável’. Essas organizações argumentam que a criação industrial dessas espécies está “destruindo os ambientes marinhos, esgotando os estoques de peixes selvagens e prejudicando as economias locais”.
A polêmica alimentação das criações de peixes
Apesar desta novidade, ainda pairam dúvidas sobre a ração para as criações, sempre tida como insustentável. Contudo, o Financial Times reproduz declarações de Manuel Barange sobre uma mudança nesta relação. Cerca de 40 anos atrás, até 40% dos peixes capturados na natureza foram usados para alimentação animal, mas isso agora caiu para menos de 20%, disse Barange. No passado, cerca de 3 kg a 4 kg de farinha de peixe eram necessários para produzir 1 kg de um peixe de criação, como o salmão. Mas diferentes formulações de ração mostram significativa melhora. Agora, 1 kg de farinha de peixe produz 1,2 kg do animal em criação.
O Ecowatch também repercutiu a novidade. O último relatório da ONU sobre o Estado da Pesca e Aquicultura Mundial, descobriu que a aquicultura produziu 130,9 milhões de toneladas métricas em 2022. Em comparação, o mesmo ano registrou 92,3 milhões de toneladas métricas de produtos de vida aquática da pesca global. A pesca interior (rios e lagos) gerou 11,3 milhões de toneladas, enquanto a captura marinha produziu 81 milhões de toneladas.
A ONU observou que o aumento da produção das criações é uma maneira de reduzir a insegurança alimentar, bem como um modo de minimizar a sobrepesca e práticas insustentáveis da indústria pesqueira, especialmente porque o relatório previu um aumento de 10% na produção de animais aquáticos até 2032 para atender a um aumento estimado de 12% na demanda de consumo.
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O Mar Sem Fim acompanha este assunto desde sempre. Mostramos inúmeras vezes a insustentabilidade das criações de peixes de água salgada, não só pela antiga relação da ração versus a produção. Para além disso, muitas criações, especialmente a do salmão, mas não apenas, produzem grande poluição.
Em 2021, mostramos que a indústria de salmão do Chile era perigosa e insustentável por estes motivos. A produção chilena era tão combatida que a Argentina proibiu as fazendas na Terra do Fogo, uma região rica em vida marinha.
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As fazendas de salmão do hemisfério norte sempre foram combatidas pelos mesmo motivos. Isso aconteceu no Canadá, por exemplo. Outra questão que já abordamos, é a sobrepesca, um dos maiores problemas da indústria mundial da pesca. E, um dos motivos para a sobrepesca era justamente a produção de ração para as fazendas.
Portanto, se a relação da produção versus ração mudou, isto é uma ótima notícia, resta saber se a poluição provocada também diminuiu. E o relatório da FAO não aborda esta questão.
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Por outro lado, a Pew Charitable Trusts mostra que a indústria da pesca serve como fornecedora de matérias-primas para operações aquícolas, fornecendo cerca de um quinto de suas capturas para a produção de ingredientes para farinha e óleo de peixe para essas fazendas.
Isso ocorre, explica a PEW, em grande parte porque a produção de espécies “alimentadas”, como salmão, e camarão, tem uma participação muito maior (e crescente) do mercado de aquicultura do que espécies como mexilhões, que não exigem ração para peixes. A PEW alerta que a demanda por peixes selvagens ainda é susceptível de aumentar à medida que a produção de espécies alimentadas aumenta.
Seja como for, parece claro que houve um grande avanço. Resta saber sobre a poluição provocada. Nós vamos continuar no tema até descobrirmos.