Caça às baleias, ou quando vamos aprender com a História?
Antes de mais nada, este post não tem a pretensão de esgotar um assunto tão amplo cujo início aconteceu milhares de anos atrás. Ao contrário. Queremos apenas ressaltar alguns aspectos deste capítulo marítimo mundial, consequentemente, da História da humanidade. A caça às baleias confirma que o ser humano sempre dependeu excessivamente da exploração da natureza. Entorpecido pela arrogância, o processo segue do mesmo modo com os combustíveis fósseis até ultrapassarmos o ponto de inflexão para utilizar expressão corrente. Assim também verificou-se com o primeiro combustível humano. Ou seja, florestas antigas cujas madeiras foram usadas até à exaustão provocando, por exemplo, o declínio das primeiras civilizações.
Pincelada sobre o início da civilização
A História da civilização é importante para podermos nos situar no presente, pavimentar o futuro e, sobretudo, evitar erros do passado. Neste primeiro momento, nossa fonte é o saboroso História das Florestas, do premiado John Perlin.
Perlin demonstra como “a madeira foi a base sobre a qual as sociedades antigas foram construídas.” E como nossos excessos cobraram um alto preço desde priscas eras.
Início do desmatamento no Crescente Fértil
“Ao longo das eras as árvores forneceram material para fazer fogo, cujo calor permitiu que a nossa espécie readaptasse o planeta para seu uso…(Pertinente observação, contudo, atual. A floresta tropical do Congo, segunda maior depois da Amazônia, é paulatinamente destruída pelos mesmos motivos: lenha para cozinhar num país com 89 milhões de pessoas onde menos de 17% da população dispõem de energia elétrica.Enquanto isso, aqui passaram a boiada)“
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Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemA repercussão da retomada da análise da PEC das Praias pelo SenadoOutro navio de Vasco da Gama encontrado ao largo do QuêniaDecisão do STF proíbe criação de camarão em manguezais“O primeiro relato escrito sobre a procura e subsequente desmatamento das florestas se originou da região onde a civilização ocidental surgiu pela primeira vez, ou seja, no Crescente Fértil.”
Uruk, há cerca de 4.700 anos
“Uruk, há cerca de 4.700 anos, era ‘uma cidade-reino no sul da Mesopotâmia. O regente nesta época, Gilgamesh, desejava fazer para si ‘um nome que perdurasse’ através da construção de sua cidade.”
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Assim foi feito. Porém, sem a floresta começou o processo de erosão. “Sais minerais em quantidades anormalmente grandes eram levados rio abaixo e se acumulavam nas terras de cultivo irrigadas da Mesopotâmia meridional. A crescente salinização dos solos aluviais da Suméria coincidiu com o início do domínio da Mesopotâmia sobre a região arborizada setentrional e sua exploração.”
Resumindo, saltamos para a conclusão da primeira parte: “Inadvertidamente, os planos de construção de poderosos reis, a começar por Gilgamesh, acarretaram a destruição da civilização que se empenharam em construir.”
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Mas, conforme avançava o desmatamento, mudava-se o centro de poder. Desse modo, ascendeu Atenas, depois Esparta e, finalmente, a Macedônia.
Ao fim e ao cabo, com solos perigosamente desprotegidos, produzindo menos alimentos, gerando mais doenças, e dificultando o comércio, o centro do poder muda-se para Roma. E nova fase de devastação florestal começou na Europa…
Este site comentou o livro no post Madeira, base de antigas civilizações e…infortúnios.
A caça às baleias desde os primórdios da humanidade
Segundo a britannica.com a caça às baleias foi documentada em muitas fontes – desde a arte rupestre neolítica. Evidências arqueológicas sugerem a caça primitiva à baleia pelos Inuits e outros no Atlântico Norte e no Pacífico Norte, por volta de 3000 a.C.
Os habitantes pré-históricos das regiões costeiras do extremo norte desenvolveram técnicas baleeiras bem-sucedidas usando armas da Idade da Pedra, diz a britannica.com.
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Quando os inuits (esquimós) do leste e oeste da América do Norte foram encontrados pela primeira vez por europeus, já dominavam a caça às baleias e muitos métodos inuits foram usados até 1900. Para este povo (e outros antigos, acrescentamos), uma baleia fornecia comida, combustível e luz...
A National Geographic também abordou os primórdios da atividade. ‘As pessoas caçam baleias há milhares de anos. Os noruegueses estavam entre os primeiros a fazê-lo, há 4.000 anos. Os japoneses podem ter feito isso ainda mais cedo.’
Contudo, não se pode dizer que o tipo de caça praticada por nossos antepassados mais longevos tenha influenciado nas baixas populações atuais. Apenas mostra que, também para eles, a caça às baleias significava combustível, além de comida.
Segundo o whalingmuseum.org., Os vikings igualmente caçavam baleias francas ao longo da costa e inventaram um arsenal de arpões, lanças e técnicas de abate, com leis rigorosas para regular a pesca.
O início da predação já no século 17
Segundo o www.ifaw.is, o início da predação só começa depois da organização e sistematização da operação de caça. Obra dos bascos. ‘Pode-se dizer com alguma certeza que os bascos foram os primeiros a desenvolver a “caça organizada de baleias” na Europa. Há evidências sugerindo que eles começaram a caçar as francas do norte no Golfo da Biscaia no século 12.’
Mas, mesmo em tempos antigos, já os estragos eram inevitáveis. Tanto é verdade que ‘os bascos se mudaram mais para noroeste devido ao esgotamento da população de baleias francas do norte de Biscaia.’
‘Isso incluiu a caça ao redor da ilha de Svalbard (território ártico norueguês) a partir de 1596, e há evidências sugerindo que eles chegaram às águas islandesas do Westfjord em 1604.’
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Saiba que os bascos eram grandes navegadores. Ou melhor, exímios pescadores que não mediam esforços para ir atrás dos melhores cardumes. Alguns historiadores dizem que chegaram à América antes de Colombo atrás de cardumes de bacalhau, o Gadus Morhua.
Holandeses na ilha de Svalbard
Segundo o Atlas Obscura, no final do século 17 dúzias de navios baleeiros holandeses e dinamarqueses se reuniram em Smeerenburgfjorden (literalmente “figo da cidade blubber”) na porção noroeste do Arquipélago de Svalbard. Os holandeses e os dinamarqueses, ao lado dos ingleses, deixaram sua marca nas ilhas desoladas e isoladas no topo do mundo desde o início do século 17.
Inicialmente, os baleeiros usavam plantas de processamento em terra onde o óleo poderia ser processado. Mas, à medida que a tecnologia melhorou – e os animais buscavam segurança mais longe da terra – os baleeiros começaram a processar as baleias capturadas no mar.
Guerras e assassinatos em nome de mais baleias caçadas
A mesma fonte mostra que o ‘produtora tão disputado que guerras entre potências europeias muitas vezes se espalharam para o arquipélago remoto e batalhas campais entre equipes baleeiras de nacionalidades rivais não eram desconhecidas. A morte e o perigo eram companheiros constantes no deserto congelado.
Contudo, o maior perigo era o gelo do mar. Quando a temporada de verão terminava e os dias encurtados, o gelo se movia inexoravelmente para baixo, fechando os fiordes e as enseadas um por um. Qualquer navio e tripulação presos no gelo receberiam uma sentença de morte efetiva na escuridão e temperaturas congelantes do longo inverno ártico.
Naquela época, pelo menos para os baleeiros holandeses, o mais temível desses inimigos era o rei francês Luís XIV, que estava em guerra com a Holanda. Sem o conhecimento dos holandeses, Louis tinha de fato enviado uma frota de navios de guerra franceses para Smeerenburg com instruções claras para seu comandante, M. de la Varenne: “Sua Majestade quer que ele que arqueie ou afunde, sem qualquer exceção, todos os navios que voam as bandeiras britânica, holandesa ou de Hamburgo”.
Estações bascas na Islândia em 1613
‘As estações bascas de caça à baleia foram estabelecidas na Islândia entre 1613 e 1615… Há também alguma indicação de que os holandeses, dinamarqueses e noruegueses começaram a caçar baleias nas águas islandesas no início de 1600. No início do século 17, os bascos caçavam baleias em Labrador (província do Canadá, portanto, próxima à América…), Terra Nova (idem…) e Islândia.’
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Baleia franca, a baleia ‘certa’ para matar
A origem do nome ‘baleia franca’, ou ‘right whale’ em inglês, vem do fato de que ela movia-se lentamente, ou seja, a ‘baleia certa’ para matar.
‘Os bascos concentraram seus esforços na caça de francas que nadam lentamente, têm espessas camadas de gordura, se alimentam na superfície ou perto dela e ficam relativamente perto da costa, o que as tornam alvos fáceis que flutuam após serem mortas.’
‘Relatos dos séculos 17 e 18 destacam a extensão da caça à baleia basca ao redor da costa islandesa. A relação entre os bascos e islandeses durante este tempo não está particularmente bem documentada; acredita-se que interagiram uns com os outros e potencialmente se beneficiaram economicamente da caça.’
Baleias francas na proa do Mayflower em 1620
Mas a atividade não aconteceu apenas nos Mares do Norte. Segundo o www.pbs.org quando os peregrinos ainda estavam a bordo do Mayflower em 1620, ‘observaram baleias francas brincando na proa do navio. Não demorou para se lançarem àquelas águas.
‘A caça às baleias costeiras começa em Southampton, Long Island. A incipiente indústria é administrada por nativos americanos, que recebem uma porcentagem baseada na quantidade de óleo devolvida.’
Pouco depois, em 1700, ‘Aproximadamente 60 colonos ingleses e 160 nativos americanos Wampanoags estão envolvidos na caça às baleias em Nantucket.’
Nantucket, guarde este nome… Mas, antes, saiba que já em 1789 ‘Um navio baleeiro britânico, o Amelia, torna-se o primeiro a navegar ao redor do Cabo Horn em busca de baleias.’
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Assim, a exploração nos Mares do Sul começou no final do século 18. E, anos depois, tornou-se massiva na região. Mas, vamos por partes…
Com o século 18 franceses e norte-americanos passam a caçá-las
Os lucros da caça à baleia eram grandes. Não demorou para que outros povos a ela se lançassem. Assim, ainda no século 18 franceses e norte-americanos se juntaram aos bascos e nórdicos.
‘Há também evidências de que caçadores de baleias norte-americanos e franceses estiveram presentes nas águas islandesas ao longo do final do século 18 ao 19, incluindo a caça de baleias da empresa da Nova Inglaterra em 1776 e navios franceses de Le Havre documentados em 1844.’
As mesmas baleias, porém, para cada vez mais caçadores. Não poderia dar certo. E não apenas as baleias eram visadas. Os primeiros a pagarem a conta foram os pinípedes. Eles valiam duplamente: as focas geravam peles valiosíssimas, enquanto as maiores espécies, como leões e elefantes-marinhos, lhes davam óleo. Era bem mais fácil desembarcar em enseadas e massacrar as colônias do que sair em perseguição às baleias no mar…
As privações de uma viagem baleeira no século 19
Antes de mais nada, era uma profissão perigosa. Mortes por afogamento, ferimentos, doenças e até ataques de baleias aos escaleres. E além disso, das mais inconfortáveis. Cada viagem demorava, às vezes, de dois a três anos.
Os tripulantes enfrentavam o brutal tédio das longas navegações mal alimentados, dormindo pouco, e enfrentando, ocasionalmente, enormes tempestades. Dezenas de navios naufragaram
Pagamento dos tripulantes
O maior castigo, entretanto, era o pagamento. Ao capitão, cabia 1/8 da porcentagem dos lucros. Já, os tripulantes, recebiam apenas 1/350 de uma ação. Se os lucros fossem baixos, um marinheiro poderia não receber nada, ou até acabar endividado já que pagava pelas roupas, botas, tabaco e outros acessórios.
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Ao encontrar as baleias começava o perigo maior
Mas, ao encontrar as baleias, começava o perigo maior. Depois de arpoadas, elas se debatem descontroladamente colocando em perigo os pequenos botes, ou tentam mergulhar o mais fundo possível.
Normalmente, a baleia tentaria escapar de seu atacante arrastando o escaler a velocidades de mais de 20 milhas por hora, em tentativa frenética de escapar. Então, o cabo do arpão era girado em torno de um pequeno poste (na proa dos botes) chamado cabeçuda, para diminuir a velocidade. À medida que a baleia puxava o barco, o cabo se desenrolava tão rápido que fumegava com o atrito.
Uma vez morta, tinham que voltar a remo. Ocorre que uma baleia, muitas vezes pesa mais de 50 toneladas. Mesmo assim, o único modo era rebocá-la em mar aberto por horas a fio.
Quando finalmente o animal estava ao lado do navio, seria levantado por dispositivos que puxavam a cabeça e a cauda, levantando a carcaça para o convés. À força de músculos, claro.
Gordura esculpida em longas tiras e jogada no convés
Em seguida, a gordura (camada externa de gordura) era esculpida em longas tiras e jogada no convés. Depois, outros a cortavam em pedaços e os jogavam em caldeirões usados para ferver e obter óleo. Os ossos seriam raspados e colocados para secar para que pudessem ser transformados em produtos utilizáveis.
O convés ficava tão liso de sangue e óleo que um homem poderia escorregar para os tubarões abaixo facilmente E, enquanto a gordura era processada nos caldeirões, uma onda às vezes balançava o navio e jogava óleo escaldante na tripulação.
Mesmo assim os tripulantes, divididos em dois grupos, trabalhavam em turnos de seis horas, dia e noite, até que o trabalho fosse concluído. E além disso, você poderia sentir o cheiro fétido de um baleeiro no mar antes mesmo de vê-lo.
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(Todas as informações deste subtítulo são do whalingmuseum.org)
O massacre dos pinípedes
No verão de 1785, William Rotch, comerciante de óleo de baleia, mandava notícias a seu irmão Francis no novíssimo país dos Estados Unidos da América. Rotch fora para Londres para apresentar ao governo britânico uma proposta inusitada (Nossa fonte agora é o escritor Alan Gurney, no excepcional Abaixo da Convergência).
A guerra da Independência havia sido desastrosa para a indústria baleeira americana, ele queria levar para a Grã-Bretanha toda a indústria baleeira de Nantucket e, junto, a competência no que dizia respeito à caça de baleias para benefício do Estado britânico.
Peles de foca vendidas para a China
Rotch acabara de ler o relato de James Cook sobre suas viagens aos Mares do Sul, e o que atraiu sua atenção foi uma menção a peles. Aparentemente, os marinheiros ingleses tinham vendido peles de foca para a China que dominava a arte da peleteria ‘pelo altíssimo preço de 100 dólares cada’ (Note que o valor era de 1785!).
William Rotch sabia existirem na região Sul da América do Sul, milhares de focas fornecedoras de peles…em 1784 um navio zarpara em busca de peles de focas e leões-marinhos; o barco regressou a Nova York com sua carga em 1786, negociando 13 mil peles de focas por 6.500 dólares. A notícia de lucros tão fabulosos espalhou-se rapidamente.
Durante as décadas seguintes, os caçadores de focas se espalharam das ilhas Falklands para a costa da Patagônia e Geórgia do Sul…Uma vez descoberta uma praia com focas, ou outros pinípides, os caçadores ‘trabalhavam’ até que não restasse nenhuma viva.
Então, houve a…
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Transição da economia na Europa, a Revolução Industrial
Ela mudou a economia mundial. E, para o que nos interessa, foi a mola propulsora do primeiro navio a vapor a atravessar o Atlântico, o Savannah, em 1819. Conforme aumentava o número de máquinas e fábricas, substituindo a produção manual, o óleo passou a valer ainda mais.
Segundo o whale.org, O óleo de baleia, obtido a partir da gordura, era muito procurado tanto como lubrificante para garantir o bom funcionamento de todas estas novas máquinas e fábricas, como também para iluminar as casas e ruas dos séculos 18 e 19.
O declínio inexorável a partir do século 19
Logo no início, em 1807, diz o www.pbs.org, ‘A frota de Nantucket se recuperou das perdas da Guerra Revolucionária e, com 116 navios, é a maior da jovem república americana.’
Foi ainda neste século, em 1865, que foi introduzido um arpão explosivo que simultaneamente se prendia à baleia e a atingia com dois pequenos projéteis explosivos; segundo o whalingmuseum.org.
A ‘Idade do Ouro’
Mas, o pior ainda estava por vir. E aconteceu depois da guerra Guerra Anglo-Americana. Então, em 1818, diz o www.pbs.org, ‘a indústria baleeira entra em sua “Idade de Ouro”. Entre os investidores atraídos pelo setor está o romancista James Fenimore Cooper, que, ao visitar um parente em Long Island, investe em uma empresa baleeira.
1820, a tragédia que inspira Herman Melville e o seu Moby Dick
A dramática história do baleeiro Essex, de Nantucket, já então o centro mundial da caça à baleia, aconteceu em 1820, quando estava a cerca de mil milhas a Oeste das ilhas Galápagos, em pleno Pacífico, longe de tudo e de todos. O baleeiro é abalroado e afundado por um cachalote de 26 metros.
Foi da saga dos sobreviventes do Essex que retornaram a Nantucket que o jovem escritor se inspirou para escrever sua obra-prima. Em 1840, aos 21 anos, Melville se engaja no baleeiro Acushnet, a bordo do qual passou três anos. E foi neste cenário que ele conheceu o filho do capitão do Essex que lhe deu uma cópia da narrativa de seu pai. Assim, pode-se dizer que Moby Dick nasceu a bordo de um baleeiro…
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Quanto à Nantucket, não demorou muito o seu apogeu. Em 1846, a cidade foi devastada por um grande incêndio que comprometeu o futuro do porto. Contudo, quatro anos depois, em 1850, o centro é transferido para New Bedford, ‘a cidade com renda per capita mais rica do país’, conforme o www.pbs.org.
Foi igualmente neste período que os baleeiros indo cada vez mais ao Sul descobriram várias ilhas periféricas da Antártica, numa épica jornada.
Nathaniel Brown Palmer
Nathaniel Brown Palmer, 1799 – 1877, foi um capitão baleeiro considerado codescobridor da Antártica em 1820. Também foi homenageado. A atual Península Antártica era chamada, no passado, Península Palmer.
Hoje, uma das muitas bases norte-americanas chama-se Palmer. E também há a ‘Terra de Palmer’.
Neste entreato, o Ártico começa a ser devastado. Em 1848, diz o www.pbs.org, o capitão baleeiro de Sag Harbor, Thomas Welcome Roys, abre o Ártico para os baleeiros americanos através do Estreito de Bering.
Foi ainda neste século que aconteceram os piores acidentes. Em 1871, no Ártico, diz o whalingmuseum.org, trinta e três navios baleeiros foram perdidos quando o gelo se fechou em torno deles antes que pudessem navegar para o sul no final do verão. Eles foram avaliados em mais de US$ 1.600.000 (aproximadamente US$ 13.000.000 em dólares de 1982).
Mesmo assim, diz a mesma fonte, em 1879 o primeiro baleeiro a vapor americano, o Mary and Helen, partiu de New Bedford para o Ártico.
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A semiextinção dos pinípedes pelos baleeiros
À esta altura, quando os pinípedes já eram escassos portanto não mais ‘econômicos’, a procura ao óleo mirou as grandes baleias do Sul. E foi um massacre.
De acordo com o escritor Alan Gurney, “O extermínio das focas das Shetland do Sul durante esses poucos meses é assustador. James Weddel estimou em 320 mil o número de peles levadas da ilha em duas estações, além de 940 toneladas de óleo de elefantes-marinhos.”
“Como a matança era indiscriminada, ele calculou também que mais de 100 mil filhotes morreram devido à morte de suas mães…Mais de 200 mil peles de foca chegaram ao mercado londrino depois da temporada 1820-1, trazidas por menos da metade da frota de caçadores. O total de focas mortas pode ter chegado a meio milhão, segundo cálculos conservadores.”
“No verão subseqüente, o da temporada 1821-2, somente 40 caçadores retornaram às Shetland do Sul. Era o golpe final contra as focas-de-pelo, que foram virtualmente exterminadas das ilhas.”
William Smith descobre a Ilha Deception
Ainda em 1820, o ex-baleeiro norte-americano William Smith, que descobriu a ilha Livingston (Antártica) um ano antes, faz nova descoberta não muito distante. Era a ilha Decepction a cerca de seis milhas da anterior. Pouco tempo depois Deception se tornaria um importante centro de processamento, e o mais mortífero, de baleias na Antártica.
Depois disso, a caça explodiu na região. Não há quase nenhuma baía relativamente abrigada da Antártica que não tenha se transformado em uma estação baleeira.
Contudo, um aspecto tem que ser ressaltado, ou seja, a perícia destes formidáveis marinheiros. Grande parte dos baleeiros de então eram barcos de pouco mais de 20 metros de comprimento, por oito de largura. Sem mapas, sem qualquer instrumento a não ser rudimentares binóculos, bússola, sextante, e velas, em um navio de madeira.
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Ainda no século 19 uma novidade surgiu. O primeiro poço de petróleo foi perfurado na Pensilvânia em 1859. Onze anos depois, surge o carro motorizado, invenção do austríaco Siegfried Marcus, datada de 1870. Trinta e oito anos depois, em 1908, Henry Ford lança o Ford modelo T, o primeiro a ser comercializado com sucesso de vendas.
Começa a dependência do petróleo que dura até hoje, e sem data para acabar apesar dos pesares…
A primeira fábrica flutuante
Alan Gurney: Em 1906, noruegueses e chilenos trouxeram a primeira fábrica flutuante para Deception. Em 1914/15 já havia 13 estações operando. A matança, nesta ilha, durou até 1931. E só parou porque o preço do óleo caiu em razão de novas tecnologias. A caça da baleia quase acaba com o animal. Algumas espécies diminuíram para cerca de 5% de seus estoques originais, caso da azul que segue para a inexorável extinção…
Na temporada de 1930-31, a captura da baleia azul, o maior animal do planeta (30 metros, e 120 toneladas em média), chegou ao impressionante número de 31 mil animais (fonte: Alan Gurney, Abaixo da Convergência – Expedições à Antártica 1699-1839). Esta população jamais se recuperou. Estimativas recentes (2022) sugerem que as populações mundiais estejam entre 10.000 e 25.000 animais, cerca de 10% do que eram antes (whalescientists.com).
Ainda em 1930, segundo o whalingmuseum.org, em razão da escassez, tratados internacionais foram negociados para regular a caça, e a Comissão Baleeira Internacional foi estabelecida em 1949, com um Comitê Científico especializado para monitorar a população e a abundância.
Contudo, foram necessários mais 37 anos até que a barbárie alcançasse uma ‘moratória’.
Vapor, a nova tecnologia entra em ação; cresce o massacre
No final do século 19, diz www.whalefacts.org os navios a vapor rápidos e manobráveis e arpões disparados por canhões ‘revolucionaram’ a caça às baleias. Em 1930, essas frotas baleeiras de alta tecnologia matavam cerca de 50.000 baleias em todo o mundo todos os anos!
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Então, prossegue, na década de 1940, muitas das espécies de baleias comumente caçadas, como baleias-azuis e cachalotes, estavam perto da extinção.
Por último, em 1986, a Comissão Baleeira Internacional proíbe a caça comercial após um movimento global anti-caça na década de 1970. A proibição, no entanto, permite a caça para ‘pesquisa científica’. Esta disposição permitiu que países como o Japão, Noruega, e Ilhas Faroe, agissem sob ‘licenças’.
A matança prossegue até hoje
Contudo, até hoje prossegue o massacre de focas no hemisfério Norte…Ainda assim, felizmente os estoques conseguiram se regenerar. O mesmo não se pode dizer das baleias. Apenas no século 20, diz o www.weforum.org, ‘Um total de 2 milhões de baleias foram mortas no Oceano Antártico.’
E, do mesmo modo, segue a matança de cetáceos nos dois hemisférios. Na Noruega, entre outros, para comida de cachorro, acredite se quiser; no Japão para alimentação humana, e nas Ilhas Faroe, para alimentação e…tradição.
Assim, fica claro que não aprendemos a lição para podermos nos situar no presente, pavimentar o futuro e, sobretudo, evitar erros do passado.
Rumo ao suicídio coletivo…
Idioticamente, como robôs incapazes de raciocínio, prosseguimos rumo ao suicídio coletivo, de que fala o Secretário-geral da ONU, ao insistirmos nos combustíveis fósseis depois de quase acabarmos com a madeira (leia-se florestas) e os cetáceos. Pior, chamamentos ao bom senso parecem inúteis.
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Thomas Friedman, em artigo que comentamos, escreveu: enquanto os EUA e seus aliados ocidentais continuarem vivendo em um mundo de fantasia no qual basta apertar um botão para realizarmos a transição dos combustíveis fósseis para as fontes renováveis de energia… seguimos nossa rota suicida.
Enquanto isso, setores dominantes da economia, como a indústria do petróleo, compram cientistas desonestos para mentirem disseminando fake news. A mesma atitude sórdida é induzida pelo setor da eletricidade nos Estados Unidos. Outras gigantes, como a Volkswagen, agem com obscenidade e praticam fraudes mundiais para não perder mercados no ranking dos maiores vendedores (de automóveis…).
Esta indecência, em conjunto, produz uma horda mundial de beócios que acreditam que o o aquecimento é uma perfídia. Não à toa repetimos, em países periféricos como o nosso, há quem jure que a Terra é plana. E, por isso mesmo, poucos dias antes de nova eleição o tema ainda não foi sequer mencionado pelos candidatos mais bem avaliados (?).
Até quando comeremos milho de joelhos em outras palavras, de quatro, como animais da Suméria?
Artigo muito bom e triste!
Que as vozes como a de João Lara nos despertem!
Parabéns.
Bom trabalho.
Consciência!
A História não ensina lições.
Artigo muito bem redigido. Uma narrativa rica que põe a nu a gritante ferocidade do ser humano diante da natureza. Parabéns ilustre João Lara Mesquita.
A História não ensina lições. Ela apenas e tão somente nos coloca o fato histórico que é toda e qualquer ação natural ou de produção humana no tempo e no espaço e esses, nunca se repetem em sua totalidade absoluta. Sendo assim, não aprendemos com nossos erros, nem tampouco com nossos acertos pois se o fizéssemos o ser humano e seu planeta não estariam o lixo que estão hoje.
Muito bom. Olhar pela perspectiva da evolução industrial e da própria humanidade, a caças desses mamíferos, produziu uma globalização precoce, que fundiu costumes e conhecimentos. Mesclados entre as tripulações variadas e povos de todos os mares, espalharam-se por toda a parte. Uma sina de esforço e martírio, assim foi. A convivência com esses seres dos oceanos, ainda é para o futuro não distante, pois, enquanto os Homens tratam a Mãe Terra com ganancia e desprezo, ninguém está à salvo. A vida é um lugar hostil!