Reflexões de Elizabeth Kolbert sobre mineração submarina
Elizabeth Kolbert é jornalista, geóloga e paleontóloga, autora e pesquisadora visitante do Williams College, em Williamstown, Massachusetts. Ela é muito influente na comunidade acadêmica, e entre o público em geral. Ficou famosa ao ganhar o Prêmio Pulitzer pelo livro The Sixth Extinction: An Unnatural History (O Mar Sem Fim repercutiu este livro em post de 2017, Extinção em Massa, começou a sexta). Elizabeth Kolbert escreve regularmente para a revista The New Yorker.
Foi um de seus textos que nos inspirou a fazer um resumo para um novo post, dada a importância do tema e da autora que comenta o início iminente da mineração submarina.
Reflexões de Elizabeth Kolbert sobre mineração submarina
Com o título The Deep Sea Is Filled with Treasure, but It Comes at a Price (O mar profundo está cheio de tesouros, mas tem um preço, em tradução livre), o texto de Kolbert foi publicado em 14 de junho de 2021.
“Mal exploramos o reino mais escuro do oceano. Com a mineração de metais raros em ascensão, já o estamos destruindo”, logo no primeiro parágrafo a edição entregava ao leitor de que lado da polêmica está a jornalista.
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Repercutir suas conclusões ajuda, porque o trunfo de Kolbert são as explicações simples sobre um tema complexo, expostos de forma que só quem entende é capaz de fazer.
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Isso facilita que o leitor do Mar Sem Fim aos poucos forme opinião sobre a questão que divide o cenário no Hemisfério Norte.
De um lado estão grandes empresas mineradoras, no meio está a autoridade marítima mundial, a ISA- International Seabed Authority e, no outro extremo, pesquisadores, cientistas que estudam os oceanos, ambientalistas e ativistas.
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Elizabeth Kolbert começa explicando quem é quem nesta disputa. ‘De acordo com o direito internacional, os países controlam os mares em um raio de duzentas milhas de suas costas. Além disso, os oceanos e tudo o que eles contêm são considerados “patrimônio comum da humanidade”. Este reino, que abrange quase cem milhões de milhas quadradas do fundo do mar, é referido no ISA-simplesmente como a Área’.
Os nódulos polimetálicos que existem na ‘Área’
‘Espalhadas pela área estão grandes riquezas. Na maioria das vezes, elas tomam a forma de caroços que parecem batatas enegrecidas’.
‘Os caroços, conhecidos como nódulos polimetálicos, consistem em camadas de minério que se acumularam em torno de fragmentos marinhos, como dentes de tubarão antigos’.
Os nódulos podem levar três milhões de anos para se formar!
‘O processo pelo qual os metais se acumulam não é totalmente compreendido; no entanto, é considerado extremamente lento. Uma única pepita do tamanho de uma batata pode levar cerca de três milhões de anos para se formar’.
A riqueza superior dos nódulos submarinos
‘Estima-se que, coletivamente, os nódulos no fundo do oceano contenham seis vezes mais cobalto, três vezes mais níquel e quatro vezes mais ítrio metálico de terras raras do que na terra. Eles contêm seis mil vezes mais telúrio, um metal que é ainda mais raro do que as terras raras’.
A mineração submarina está crescendo
‘Como disse um relatório recente, O Oceano Pacífico é o cenário de um novo oeste selvagem. Trinta empresas receberam licenças do I.S.A. para explorar a área’.
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‘A maioria está tentando extrair os nódulos; outros esperam escavar trechos do fundo do oceano ricos em cobalto e cobre. As licenças para começar a mineração comercial podem ser emitidas dentro de alguns anos’.
O que dizem os defensores da mineração submarina
Elizabeth Kolbert não deixa de informar os motivos pelos quais ‘o outro lado’ defende a mineração submarina.
‘Os defensores da mineração em alto mar argumentam que quanto mais cedo começar, melhor. A fabricação de turbinas eólicas, veículos elétricos, painéis solares e baterias para armazenamento de energia requer recursos, muitas vezes escassos. (Telúrio é um componente-chave em painéis solares de película fina.)’.
Kolbert ainda cita o que disse Gerard Barron, presidente da Metals Company, uma das empresas detentoras de alvarás do ISA: “A realidade é que a transição de energia limpa não é possível sem extrair bilhões de toneladas de metal do planeta.”
‘Os nódulos no fundo do mar, disse ele, “oferecem uma maneira de reduzir drasticamente” o impacto ambiental da extração dessas toneladas’.
A charada em que nos encontramos
Para este site, esta é a charada em que estamos. No momento em que o mundo finalmente acordou e começa a lutar para mitigar o aquecimento global, especialmente depois que Joe Biden foi eleito nos Estados Unidos, a mineração submarina pode ser a pá de cal para vida marinha, e ao mesmo tempo liberar toneladas de CO2 sequestradas e absorvidas pelo subsolo oceânico.
Uma coisa é certa: os impactos da mineração submarina serão severos. Disso ninguém duvida, nem mesmo empresas interessadas. Gigantes como as montadoras BMW e Volvo, e ainda a Samsung, e o Google anunciaram em março de 2021 que apoiam uma moratória para a mineração submarina.
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Oceanos, o maior sumidouro de gás carbônico
Os oceanos são o maior sumidouro de gases de efeito estufa. O pesquisador, referência mundial, Enric Sala diz que embora manguezais, florestas de algas e prados de gramas marinhas sejam bons em capturar carbono, o fundo do oceano, repleto de detritos de animais marinhos, é um reservatório de carbono maior e melhor.
De fato, um estudo publicado na revista Science, em 2019, diz que ‘os oceanos absorvem 1/3 de todas as emissões globais de dióxido de carbono’.
Com máquinas pesadas cavando o fundo do oceano é provável que este estoque seja liberado de volta para a água. O excesso de carbono torna os oceanos mais ácidos, o que prejudica a vida marinha.
Afinal, devemos minerar o fundo do mar? A questão ainda não está decidida. Mas será em aproximadamente dois anos.
Esta é a expectativa depois de um pedido formal da pequena nação insular de Nauru que, em junho de 2021 notificou a ONU e a ISA, sua intenção de minerar o fundo do mar. De acordo com a regras da ISA, depois que uma nação faz o pedido formal o órgão tem no máximo dois anos para estabelecer as regras.
Elizabeth Kolbert destaca recentes descobertas do fundo do mar
Depois de mostrar como pensa o ‘outro lado’, Kolbert explica as últimas descobertas sobre a vida marinha em grandes profundidades.
‘A mineração do fundo do mar apresenta riscos ambientais por si só. Quanto mais os cientistas aprendem sobre as profundezas, mais extraordinárias são as descobertas’.
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‘O fundo do oceano é povoado por criaturas que prosperam em condições que parecem impossivelmente extremas’.
Kolbert cita as biólogas marinhas, Helen Scales, e Edith Widder,’elas temem que o fundo do oceano seja destruído antes que muitas das criaturas mais maravilhosas que vivem lá sejam sequer identificadas.
“A história da fronteira sempre foi de destruição e perda”, escreve Widder. “É ingênuo presumir que o processo seria diferente nas profundezas.”
Na verdade, ela argumenta, as profundezas são particularmente inadequadas para perturbações porque, devido à escassez de alimentos, as criaturas tendem a crescer e se reproduzir com extrema lentidão.
“O habitat vital é criado por corais e esponjas que vivem por milênios.”
Conclusão de Elizabeth Kolbert
Depois de citar o caso de Nauru, que colocou em xeque a ISA, diz Kolbert: ‘Ao ISA, por sua vez, foi atribuída a tarefa não apenas de emitir as licenças para a mineração do fundo do mar, mas também de redigir os regulamentos para reger a prática. Esses regulamentos ainda não foram finalizados, então não está claro o quão rigorosos eles serão’.
Não é tolerável que os oceanos sejam subjugados, como é hoje às áreas de mineraçãoé nos também sejamos subjugados pelos interesses de minorias, o uso pode ser feito para todos.