Mar de Sargaços muda de berçário para zona morta

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Mar de Sargaços muda de berçário para zona morta

O sargaço é um gênero de algas (Sargassum) que cresce em água tropicais. Alguns têm raízes que se estendem até o fundo do mar, outras espécies como o S.fluitants e o S.natais  flutuam na superfície levadas pelas correntes e ventos. Já o Mar De Sargaços é uma região do Atlântico Norte cercada por correntes oceânicas. No tempo das grandes navegações à vela do século 16, o Mar de Sargaços era um dos pavores dos marinheiros que vinham da Europa. Às vezes seus navios ficavam presos entre a massa de algas ameaçando a vida das tripulações. Agora um estudo mostra que o Mar de Sargaços deixou de ser um berçário natural para se transformar em mais uma zona morta no mar.

Mapa da localização do mar de sargaços
Ilustração, https://www.grupoescolar.com/.

De berçário para zona morta

O Mar de Sargaços ficou famoso depois das viagens de Cristóvão Colombo quando suas naus ficaram presas ao entrarem na região. Situado à leste da costa dos Estados Unidos e a nordeste de Cuba, bem na rota do navegador, ali flutuavam enormes bancos de algas.

Imagem de tartarugas se alimentando de sargaços
Os filhotes de tartarugas se deleitam com o sargaço. Imagem, https://www.cbd.int/.

Quem batizou este mar foram os nautas portugueses. Naquele tempo, e até recentemente, o local era um berçário natural. As algas atraíam crustáceos, peixes, mais de 120 espécies, entre eles as enguias, tartarugas-marinhas, e até mesmo enormes cetáceos.

Por sua biodiversidade, a  oceanógrafa Sylvia Earle colaborou no lançamento da iniciativa destinada a transformar o Mar dos Sargaços na primeira área marinha protegida de alto-mar.

Como curiosidade, o Mar de Sargaços é o único mar que não tem terras ou ilhas como fronteiras, mas correntes marinhas.

De berçário à Zona Morta

Agora cientistas da Florida Atlantic University descobriram mudanças dramáticas na química e na composição do sargaço, transformando este organismo vivo num habitante de uma tóxica “zona morta”, a informação é de estudo da Science News.

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Imagem de baleia no mar de sargaços
Imagem, National Geographic.

Segundo estudo publicado na Science News  ‘o aumento da disponibilidade de nitrogênio de fontes naturais e antropogênicas, incluindo águas residuais, estimula a proliferação do sargaço e transforma o habitat crítico em florações de algas prejudiciais com impactos catastróficos nos ecossistemas, nos litorais próximos, na economias e saúde humana’.

A floração de algas nocivas

Globalmente, a floração de algas nocivas está associada ao aumento de poluição por nutrientes, neste caso, o nitrogênio.

‘A comparação dos dados mostra que a percentagem de nitrogênio (N) aumentou significativamente (35%), ao mesmo tempo que se verificou uma diminuição na percentagem de fósforo (42%) no tecido de sargaço da década de 1980 a 2010’.

“O recém-formado Grande Cinturão de Sargaço do Atlântico pode ser sustentado por entradas de nitrogênio e fósforo de uma variedade de fontes.

“Elas incluem descargas dos rios Congo, Amazonas e Mississippi (na foz do Mississipi fica a maior zona morta do mundo em razão dos agrotóxicos usados no vale do rio), afloramentos na costa de África, mistura vertical, ressurgência equatorial, deposição atmosférica de poeira do Saara e queima de biomassa da vegetação na África Central e do Sul”, disse o investigador Brian Lapointe.

O nascimento de um novo mar de sargaços

Matéria do jornal El País, de julho de 2019, comenta outro assunto ligado ao mesmo tema: a dificuldade que turistas, da Flórida até a Venezuela passando por praias do México, têm em chegar até o mar dada a imensa quantidade de sargaços que cobrem as praias.

Imagem do novo mar de sargaços
O novo mar de Sargaços. Imagem, BRIAN LAPOINTE / INSTITUTO OCEANOGRÁFICO BRANCH HARBOR.

No princípio pensava-se que vinham do Mar de Sargaços. O jornal diz que ‘agora, um estudo de 19 anos de observações usando vários satélites indica que a cada ano emergem milhões e milhões de sargaços no Atlântico Central, muito longe do mar original’.

O novo mar de sargaços

‘A análise destes dados, publicado na revista Science, mostra que este novo mar dos sargaços começou a surgir no verão de 2011, chegando a alcançar 8.850 quilômetros em julho do ano passado. A estimativa de sua massa é ainda mais impressionante: 20 milhões de toneladas de biomassa vegetal’.

Em resumo, ‘o banco de macroalgas, que não existia há 10 anos, agora une a África ao Caribe ao longo de milhares de quilômetros’, diz o El País.

Motivo do surgimento de novo mar de sargaços pode ser o desmatamento na Amazônia

Um dos motivos pode ser o desmatamento na Amazônia. Como é sabido, dos anos 70 para cá a Amazônia perdeu 20% de florestas,  800 mil km2, e tem outros 20% bastante degradados. Ao mesmo tempo, a agricultura e a pecuária ocuparam parte desta área desmatada.

Simultaneamente, o rio Amazonas despeja por segundo no Atlântico até 200.000 metros cúbicos de água! Água que traz toneladas de sedimentos capazes de mudar a cor da água na região da foz invadindo o oceano por quilômetros.

A matéria do El País especula, junto a especialistas e responsáveis pelo estudo da Science, que um dos  motivos pode estar ligado ao uso de fertilizantes na Amazônia.

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‘Procurando aí a chave, os autores do estudo analisaram a média anual de desmatamento desde 2000, os padrões de consumo de fertilizantes no Brasil, que aumentou em 67% no período 2010-2018 com relação a 2000, e colheram amostras durante vários anos do nitrogênio e o fósforo na margem oeste do Atlântico central’.

E conclui: ‘Embora seus dados sejam preliminares e ainda careçam de mais estudos, tudo indica que o processo que vai do desmatamento à agricultura, passando por um maior arrasto de sedimentos agora enriquecidos, estaria alterando a química oceânica, dopando a água com um extra de nutrientes que fazem os sargaços prosperarem’.

Assista ao vídeo 

O Mar dos Sargaços evoluiu de um berçário natural para uma tóxica “zona morta”

Imagem de abertura: https://www.cbd.int/.

Fontes: https://zap.aeiou.pt/mar-sargacos-toxica-zona-morta-404804; https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/04/ciencia/1562219478_533571.html; https://nationalgeographic.pt/natureza/grandes-reportagens/2191-sargaco-a-alga-que-alimenta-o-atlantico-norte; https://geographyandyou.com/sargasso-sea-unique-seaweed-ecosystem/.

Ilha vulcânica na Islândia é um laboratório natural

Comentários

2 COMENTÁRIOS

  1. Grande oportunidade de produzir energia a partir de biomassa. Recolher esse montão de algas e usar em geração térmica ou a biogás seria uma ótima maneira de lidar com o problema. Ou que tal compostar boa parte disso e usar como fertilizante, fechando o ciclo de onde vem o nitrogênio? Além é claro, de parar o desmatamento e reduzir o carreamento de sedimentos para o rio Amazonas.
    Soluções tecnológicas já existem e, tenho quase certeza, viáveis economicamente.
    Vamos pensar grande, vamos vivar uma desgraça potencial em exemplo e, por que não, lucro.
    Algum investidor se habilita?

  2. FALA SÉRIO!

    FORA OS JOÃOS LARAS MESQUITAS E ALGUNS OUTROS POUCOS COLEGAS BRAVOS DEFENSORES DA NATUREZA/ECOLOGIA/TEMPERATURA/OZÔNIO… TEMOS ACASO GOVERNANTES/EMPRESÁRIOS E CONSUMIDORES INTERESSADOS NOS ALIMENTOS DE AMANHÃ???? OU DIRÃO QUE AMANHÃ OUTROS VENTOS SOPRARÃO E QUIÇÁ TRARÃO BOAS NOVAS??!!!!!

    APESAR DE JÁ TER PASSADO DA LINHA DA MINHA VIDA ONDE O PASSADO É BEM MAIOR QUE O FUTURO FICO A PENSAR COMO VIVERÃO OS JOVENS E AS CRIANÇAS POR VIREM HABITAR NESTE PÁLIDO PONTO AZUL?

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