Você gosta de tainha? Coma enquanto é tempo – em breve pode sumir de nosso mar
Eu adoro uma tainha assada no inverno, especialmente quando acabou de sair do mar. Que delícia de peixe! E você, também gosta? Então se apresse. A temporada de pesca começou há pouco. E talvez esta venha a ser uma das últimas no litoral do Brasil.
Pesca da tainha
Em 2019 publicamos o post Pesca da tainha, tradição centenária se renova a cada ano para comentar esta tradição que começou ainda no século 16. Mas o que descobri de 2019 para 2022, é que a tradição pode estar com os dias contados.
A prática da pesca da tainha é do tempo em que aqui ainda não havia chegado nenhum europeu. Uma tradição indígena que eles passaram aos seus descendentes, os caiçaras, e que se renova ano após ano.
A primeira descrição deste tipo de pesca data do século 16.
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Além disso têm pequenas redes (referindo-se aos Tupinambás). O fio com que a emalham obtêm-no de folhas longas e pontudas que chamam tucum.
Quando querem pescar com estas redes, juntam-se alguns deles e colocam-se em círculos na água rasa, de modo que a cada um cabe determinado pedaço da rede.
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Vão então uns poucos no centro da roda e batem n’água. Se algum peixe quer fugir para o fundo, fica preso na rede. Aquele que apanha muito peixe reparte com os outros que pescam pouco.
O mítico personagem histórico
O alemão Hans Staden, mítico personagem histórico do litoral, veio ao Brasil onde trabalhou como artilheiro no forte de Bertioga. Mas foi preso pelos Tupinambás, cujo chefe Cunhabebe morava na região de Ilha Grande (RJ).
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‘Historicamente’ como revela a apresentação ‘foi esse navegador o primeiro a deixar em forma de livro, para conhecimento dos pósteros, uma obra que o tornou secularmente célebre e que se fixou como uma das fontes mais autorizadas da etnografia sul-americana’.
Portanto a tradição já completa cinco séculos. Mas agora, devido ao fato da pesca no Brasil ser uma esculhambação total ela pode estar no fim.
Aos fatos…
A temporada de pesca da tainha de 2022
Depois que os índios foram expulsos do litoral, seus descendentes os caiçaras do Sudeste e os nativos da costa Sul, os substituíram na pesca da tainha e mantiveram a tradição tal qual nos contou Hans Staden.
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Mas além dos nativos a pesca industrial brasileira também participa do semi-extermínio. E no Brasil a pesca não é controlada desde o (des) governo Dilma. Por exemplo, o nosso é um dos três únicos países que não têm estatísticas de pesca, consequentemente não informa a FAO que vive reclamando.
Os outros dois, Indonésia e Miamar, já informaram que vão retomá-las. Como se vê o problema da pesca é mundial. E, neste foro, quem sugere as regras é a FAO- Organização para a Alimentação e Agricultura, um braço da ONU.
Isto quer dizer que não se sabe exatamente o quê se pesca e em qual quantidade. Como manejar os cardumes sem este instrumento?
Conheça o ciclo de vida do peixe
A tainha, explica o site da Oceana, tem um ciclo de vida que a torna particularmente frágil à pesca intensa. Depois de viver seu primeiro ano no mar, ela entra nos estuários e lagoas costeiras, onde cresce até 4 a 6 anos quando atinge a idade adulta.
Machos e fêmeas formam grandes cardumes
A partir daí, prossegue a Oceana, a cada outono machos e fêmeas formam grandes cardumes para empreender uma longa jornada. Cada tainha vai desovar até 5 milhões de ovos.
Eles dependerão do acaso para serem fecundados, formarem pequenos juvenis que se dirigirão para os estuários onde crescerão e fecharão o ciclo da vida. A chamada safra da tainha acontece entre abril e julho, durante a migração reprodutiva da espécie.
O estoque sul migra anualmente de estuários na Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul, no Brasil, podendo chegar até o Espírito Santo, dependendo das condições climáticas.
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Estoques sobreexplorados
Então surgem as consequências do descaso com a pesca que piorou no governo passado. Para começar, o secretário de Pesca, escolhido pelo dedo podre do presidente é dono de uma das mais multadas empresas industriais de pesca.
Uma dezena de multas ambientais para a empresa do ex-secretário da Pesca
A empresa da família de Jorge Seif, o ex-secretário, tem uma dezena de multas por infrações como pescar espécies em época de defeso, e outras por pescar espécies da lista das ameaçadas de extinção.
Por isso entre outras, falamos da ‘esculhambação total’.
Esforço de pesca de nativos e caiçaras
A isto soma-se o esforço de pesca dos nativos e caiçaras que, como bem sabemos e comentamos, também cometem desatinos apesar do fato não ser criticado ou denunciado pela maioria dos acadêmicos.
Mas muitas vezes, como neste caso, a pesca artesanal é insustentável.
Santa Catarina, Estado que mais pesca a tainha
No Brasil cerca de 80% da pesca da tainha é realizada em Santa Catarina onde é considerada Patrimônio Cultural. Os cardumes saem da Laguna dos Patos, no Rio Grande do Sul, especialmente quando venta sul.
Cardumes podem chegar até o Espírito Santo
Em seguida, sobem a costa se aproximando das praias até o Espírito Santo, quando TODAS as comunidades nativas repetem a pescaria explicada por Hans Staden, de cerco na praia; mas também com redes de emalhe em barcos de pesca (as mais mortais e que matam as já ameaçadas toninhas do Espírito Santo por exemplo).
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Mas como não temos estatísticas, pesca-se mais que a capacidade de reprodução da espécie.
Como já explicamos, é como uma conta bancária em que você só faz retiradas, ano após ano, sem entretanto jamais depositar. Um dia acaba.
É o que acontece.
Notícias da pesca da tainha em 2022
Jornal Nacional, 17 de maio, 2022: ‘Todo este esforço já reduziu os estoques em 70%. Acendeu o sinal de alerta. Especialistas de três universidades calcularam a quantidade de tainhas da espécie Mugil liza como algo em torno de 16.500 toneladas’.
‘O estudo revelou urgência de uma pesca sustentável’.
Como? Sem estatísticas, e com um secretário que dá mau exemplo (e talvez por isso mesmo tenha sido escolhido) como conseguir?
Jornal Nacional
‘Se mantivermos esta quantidade atual, aproximadamente 9 mil toneladas, diz Rodrigo Santana oceanógrafo da UNIVALI, ‘a resposta do modelo que estudamos é uma inviabilização destes recursos’.
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Segundo a matéria a captura total não deveria ultrapassar 4 mil toneladas, a metade do que se pesca hoje.
Rodrigo Santana oceanógrafo da UNIVALI
‘Com oito anos teríamos estoques com o dobro do tamanho que a gente observa hoje, podemos fazer remoções até maiores do que a gente faz atualmente (9 mil toneladas)’.
A matéria diz que a secretaria de Pesca adota cotas para a captura.
Cotas sem estatísticas, como assim? Então é um chute.
Prossegue o JN
‘Em 2018, a pesca industrial tinha autorização para 50 embarcações. Diminuiu para dez este ano’.
A partir deste ponto, Jorge Neves, presidente do SINDIPI, Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região, entra no ar e declara:
‘Há interesse no setor que esta pesca seja sustentável para que futuramente possamos ter mais barcos e mais quantidades para pescar’.
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Sei…
Com esta esculhambação, como chegar lá?
Jornal Nacional: A matéria segue com uma entrevista com Martin Dias, diretor científico da Oceana, ‘O futuro da pesca da tainha passa por compreendermos melhor, monitorar melhor, e fazer um controle rigoroso das embarcações que têm maior potencial de captura, garantindo que as cotas sejam respeitadas’.
Ou seja, blá-blá-blá. Aproveite logo enquanto é tempo. Garanta seu peixe nesta safra. Pode ser a última vez.
Imagem de abertura: Maurício Vieira/Secom.
A pesca de Tainha faz parte da minha familia já fazem 40 anos. Não consigo imaginar um mundo onde essa tradição acabe, pois planejo pescar tainha com meus filhos e netos. O pessoas aqui de Pescaria Brava – SC tira seu sustento da pesca, a gente precisa aprender a respeitar o nosso ganha pão (ou ganha peixe)
Lendo essa excelente matéria, me veio uma frase clássica do protagonista Rhett Butler em “E o vento levou” filme de 1939, após salvar todas as “mocinhas” de uma Atlanta em chamas, ele dramaticamente fala para Scarlett que vai finalmente se alistar no exército sulista e diz: – Tenho um fraco por causas perdidas, depois de estarem perdidas…
Espero que acordemos antes do meio ambiente estar perdido. Abraços.
Sou do interior do PR e tenho casa no litoral catarinense desde 1988, onde venho acompanhando a Pesca da Tainha. Acho um absurdo a pesca industrial ou artesanal durante a migração para desova! As Tainhas “ovadas” recebem um sobrepreço no momento da comercialização, por se tratar de prato típico regional..
Uma estupidez o impedimento da desova e uma medida radical precisa ser tomada urgentemente.
Vai faltar Tainha no prato dos caiçaras por 2 ou 5 anos? Melhor do que nunca mais ter, não é verdade?
PESSOAL, Infelizmente o problema não é só com a tainha, temos centenas desse mesmo caso, vejam quantas especies nativas já desapareceram e as que estão desaparecendo, onde estão as especies nativas do rio Paraná, Tietê, Piracicaba, Cuiabá e todos os outros do Brasil? Isto só vai começar a melhorar quando para nomear um homem publico, Governador, Senador, Deputado, Ministros etc.etc. for exigido folha corrida judicial e certidão negativa dos Orgãos Competentes do Governo, ai vai sobrar homens honestos que amam este nosso Brasil, e a coisa melhora.
Ao ler o texto, primeiramente achei que seria um exagero dizer que este seria dos últimos anos…….constatei que não é. Aqui no litoral norte de São Paulo não vejo mais tainha saltando fora d’água. Perguntei aos caicaras o que aconteceu. Dizem que muitos estão pescando tainha nos rios, antes que estas desovem. Lamentável e assustador.
João, muito oportuno seu artigo/matéria. Sou paulistano e morei até os 14 anos na ilha de Cananéia, que frequento até hoje pelo fato de termos um hotel de nossa família lá. A tainha é uma instituição no arquipélago, muito apreciada e com festas da Tainha em Cananéia, Ilha do Cardoso e por bairros da Ilha Comprida – que outra matéria sua já denunciou estar em um franco processo de degradação pela exploração imobiliária inescrupulosa.
Ano após ano testemunho o declínio no volume de tainhas que são pescadas na costa de Ilha Comprida, e esse declínio é absurdamente veloz. Não faz cinco anos lembro de ter comentado com amigos locais: poxa, lembro de quando surfávamos no inverno e era tanta tainha que elas saltavam por cima das pranchas. Hoje, em plenos períodos em que deveria haver fartura do pescado, é cada vez mais raro ouvirmos sobre uma boa pesca. Os pescadores artesanais e toda população local sofre com uma pesca industrial altamente predatória no sul do país, e que faz com que seja cada vez mais raro observar cardumes na costa paulista.
De fato, acredito que tainha no prato está em seu último ano, se é que nesse Cananéia e região verão tainhas. Daquelas gordas, suculentas que se viam há vários anos atrás, difícil.
Parabéns pelo seu trabalho. Sua voz é uma das poucas a alertar sobre como estamos destruindo o planeta. Resta a tristeza em perceber o poder de destruição do homem, estamos dizimando espécies, em especial dos oceanos. Ao passo que transformamos o oceano no esgoto da humanidade.
O autor cita um governante de 2015, sete anos atrás, mas nada comenta sobre a destruição de todo tipo de controle ambiental que vem ocorrendo nos últimos anos sob Bolsonaro, aliado dos atuais governantes do estado de Santa Catarina. Indignação seletiva??
Não, ‘ignorância seletiva’ sua Gustavo. Está no post que “Então surgem as consequências do descaso com a pesca, que conseguiu piorar no governo atual. Para começar, o secretário de Pesca, escolhido pelo dedo podre do presidente, é dono de uma das mais multadas empresas industriais de pesca.”
Mais: “E, no Brasil, a pesca não é controlada desde o (des) governo Dilma.”
Mais ainda: vc parece que precisa de uma professora ao seu lado enquanto lê, de modo que ela possa explicar o que vc leu e não entendeu. Para além disso, se tivesse um mínimo de conhecimento deste site não falaria a bobagem que falou. Não criticamos governos, criticamos as políticas ambientais do PT, PSDB, MDB, e demais partidos. Uma simples pesquisa neste site e vc conheceria alguns dos muitos posts como João Doria Jr. e Bruno Covas estão à altura de SP? (https://marsemfim.com.br/joao-doria-jr-e-bruno-covas-sao-paulo/), onde criticamos as políticas do PSDB; Dilma liberou pesca em período reprodutivo (https://marsemfim.com.br/governo-libera-pesca-em-periodo-reprodutivo/)onde sentamos pau nas políticas ambientais do PT; O legado ambiental do Governo Temer (https://marsemfim.com.br/o-legado-ambiental-do-governo-temer/), onde elogiamos as políticas ambientais do MDB, e assim por diante. Se informe antes de deitar falação.
ACHO QUE DEVERIA SER PROIBIDO PRO PELO MENOS DOIS ANOS PARA DAR TEMPO DA ESPÉCIE SE RECUPERAR , CLARO QUE QUEM VIVE DA PESCA TEM QUE RECEBER AUXILIO COMPATIVEL AO TEMPO EM QUE A PESCA ESTIVER SUSPENSA .
Ok, José, ms quem deve dizer o quê, e como fazer, são aqueles que estudam a pesca no País. E, gente boa, não falta conforme realçamos no texto. Abraços
Vejo isso tudo com preocupação, pois todos os anos há essa preocupação por parte dos pescadores em pescar a qualquer custo o máximo possível de tainhas e de qualquer outro peixe que sirva para o comércio . O resultado ambiental disso já está está acontecendo pela destruição gradativa da biodiversidade marinha devido a essa pesca desenfreada todos os anos… Futuramento não teremos mais peixe em nossa zona costeira se alguma providência não for tomada
Sou de tradição da pesca onde tenho o prazer de recordar dos meus bisavós nos convocando a ajudar a safar o peixe da rede para levarmos a mesa, temos muitas correções a ser feito neste seguimento.um dos seria evitar paraquedistas nos comandos daquilo que não domina. A pesca já foi a segunda fonte de economia do país hoje é motivo de preocupação motivado pela extinção. Então voltamos com o dec.lei 221/67. Que era bem claro. É considerado pescador profissional aquele que faz da pesca seu meio de vida. Sou oriundo da pesca ex funcionário da Sudepe e aposentado pelo Ibama. Na eco 92 ouvi um líder francês de que o Brasil não é um país sério. ( verdade)
É vero, Djalma, infelizmente o Brasil não é um país sério. Muito obrigado pelo comentário. Abraços e volte sempre.
No atual desgoverno Bozo, é inacreditável o descaso com tudo o que diz respeito a pautas ambientais! É o desgoverno da destruição!…
Leu a matéria com atenção, descaso já no governo Dilma…..
TEM QUE PROIBIR FECHAR A PRAIA PRA PESCA DA TAINHA, PESCADORES ALEGAM Q SURFISTA ESPANTA PEIXE, LEI ANTIGA E SEM FUNDAMENTOS, O ESQUEMA DA BANDEIRA NAO FUNCIONA, OS MESMO QUE DEFENDEM ESSE ABSURDO, SÃO OS MESMO QUE DEFENDEM A FARRA DO BOI… “CAMBADA DE ZÓIO GRANDE” UM DIA ESSA PALHAÇADA DE FECHAR A PRAIA VAI ACABAR
Quando era garoto, tainha era “peixe de pobre”. Na medida que rarearem, passarão a ser “peixe de rico”, como é hoje um robalo. As peixadas que minha mãe e tias faziam defitivamente ficarão para a história. E assim se arrasa cada vez mais o Brasil, lugar onde se ainda existisse “peixe de pobre”, talvez muitos não tivessem de cozinhar ossos.
Lembrei de um velho amigo de Florianopolis: a Terra é como uma vela que queima pelas duas pontas.
Nada a fazer….lembrem que a cada ano , 80 milhoes de novos inquilinos chegam a essa casa. E isso ocorre desde 1970, pelo menos, com inacreditavel acuidade…..