Navio encalha no quintal após oficial dormir no ponto
Alguns acidentes com navios beiram o inacreditável. Muitos causam mortes e deixam um rastro de destruição ambiental. Como armadores colocam embarcações caríssimas nas mãos de irresponsáveis? Quem esqueceu o Exxon Valdez? O capitão bêbado, Joseph Hazelwood, largou o comando do navio com um subalterno. Resultado: uma das maiores catástrofes ambientais do Alasca. Ou o caso do Costa Concórdia? O capitão Francesco Schettino levou o navio para perto da ilha de Giglio só para fazer uma “saudação”. O gesto matou 32 pessoas. Agora, na Noruega, um navio encalha em um local inusitado: o quintal de uma casa. O morador Johan Helberg acordou em choque com o cargueiro de 135 metros e 11 mil toneladas encostado ao lado de sua janela.
Imagem, Joanne Fielder.

NCL Salten encalha num jardim perto de Trondheim
O navio estava viajando a aproximadamente 16 nós quando o incidente ocorreu. Felizmente desta vez, todos os 16 tripulantes a bordo da embarcação registrada no Chipre escaparam de ferimentos.
No dia seguinte jornais do mundo inteiro publicaram a foto que vai entrar para a história enquanto se perguntavam o que poderia ter acontecido. Simples. O segundo oficial, um ucraniano, estava sozinho no comando mas, mesmo assim, caiu em sono profundo fazendo com que a embarcação avançasse em velocidade de cruzeiro para cima do jardim de Johan Helberg, revelou o gCaptain.
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Depois do susto, Helberg disse que “dormíamos a apenas sete metros da proa e não ouvimos nada… Se tivesse seguido um rumo ligeiramente diferente, teria atingido nossa casa.”
Ontem mesmo, Bente Hetland, executivo-chefe da NCL — empresa que fretou o navio — afirmou não haver sinais de que o encalhe tenha sido intencional. Já as autoridades norueguesas que ouviram a tripulação consideravam várias hipóteses, incluindo falha técnica. Também não descartaram erro humano.
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A empresa comentou: “Incidentes como este acontecem, mas já iniciamos uma investigação. Estamos aliviados por não haver feridos. Nosso foco está nas pessoas do local e na tripulação.”
Incidentes assim só acontecem quando se entrega o comando a irresponsáveis — diríamos nós. Caso contrário, não aconteceriam.
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O Mar Sem Fim fala sobre isso há muito tempo. No post sobre o acidente nas Ilhas Maurício, voltamos a destacar o problema. Já denunciamos também os navios de cruzeiro — sonho de consumo para muitos, mas pesadelo para os oceanos. A maioria joga lixo direto no mar.
A Carnival Corp., maior empresa de cruzeiros do mundo, levou uma multa de US$ 40 milhões nos Estados Unidos por repetir esse crime, até mesmo em áreas protegidas.
Enquanto isso, a indústria marítima global fez lobby para ficar fora do Acordo de Paris. Alegou que o transporte marítimo responde por “apenas” 3% das emissões globais de carbono.
Segundo a Forbes, o setor argumenta que é grande demais para ser regulado por acordos multilaterais. E insiste que a auto-regulamentação, via IMO — a Organização Marítima Internacional —, seria suficiente para cumprir metas climáticas.
A Forbes foi clara: “Continua a ser a única indústria global que se destaca como uma relíquia de dinossauro de uma antiga era do carbono.”
Com regras frouxas, o setor permite absurdos. Muitos tripulantes trabalham em condições análogas à escravidão. Navios velhos, que mal flutuam, seguem recebendo autorização para navegar.
Foi o caso do cargueiro Rhosus, que explodiu em 2020 no porto de Beirute e quase destruiu a cidade.
E isso sem falar na falcatrua oficializada: os navios com bandeiras de conveniência, um esquema ainda aceito no mundo inteiro.
Navio encalha no quintal e quase estaciona na sala

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