Jazidas minerais encontradas na Elevação do Rio Grande
A Elevação do Rio Grande fica ao largo do Estado do Rio Grande do Sul, a cerca de 1.200 km da costa. Porém, em águas internacionais. Contudo, em 2014 o Brasil ganhou autorização da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos para estudar a região por 15 anos. A ideia é fazer um levantamento geológico atrás de sua possível riqueza mineral. A região era vista como um ‘pré-sal da mineração’. Agora a suspeita torna-se realidade. A mídia anunciou que a ‘USP descobriu uma jazida no fundo do mar’, um ‘tesouro submarino’ em forma de jazidas minerais.
Jazidas minerais encontradas na Elevação do Rio Grande
A população mundial cresce assustadoramente. Somos oito bilhões de pessoas hoje, e a ONU calcula que seremos quase 10 bilhões em 2100. Os recursos naturais escasseiam nos 30% da área do planeta que fica em terra firme.
Foi isso que levou aos estudos sobre minerais submarinos que começam a ser explorados ainda que de forma experimental neste momento. Esta percepção levou o Brasil a requisitar o direito de explorar os recursos minerais da Elevação do Rio Grande, uma área de 480 mil km2 que ficam entre 600 a 5.000 metros de profundidade.
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O site conclui que ‘a nova descoberta dos pesquisadores brasileiros pode tornar o Brasil rico em energias renováveis!’
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Uma boa notícia, mas perigosa
A confirmação de jazidas minerais na Elevação do Rio Grande é bem-vinda. Estudos recentes revelam que ela deve ter sido um arquipélago antes de afundar. Havia vestígios de praias, dunas, cavernas, canais fluviais e manguezais na cadeia montanhosa. Ela submergiu há cerca de 40 milhões de anos.
Quando escrevemos sobre a Elevação, em 2019, destacamos as descobertas que foram feitas a bordo do navio da USP Alpha Crucis, em expedição de 2018.
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Ilhas Cook na vanguarda da mineração submarinaParlamento norueguês vota pela mineração submarinaComo está a Guiana depois do boom do petróleo?Na ocasião, os pesquisadores encontraram na região as primeiras ocorrências no Atlântico Sul da associação simbiótica entre a esponja Sarostegia oculata e a anêmona Thoracactis topsenti, formando ramificações semelhantes às de corais.
O biólogo Paulo Corrêa, também do IO-USP, disse que os estudos podem mostrar espécies ainda desconhecidas. O “ambiente é frágil” e “de renovação muito lenta”.
E é este o problema: o “ambiente é frágil”, e “de renovação muito lenta”. E a exploração de jazidas minerais no subsolo oceânico apenas engatinha. Por isso dissemos que a descoberta é uma boa notícia, mas muito perigosa.
É boa por sabermos que há uma riqueza até agora não mensurada. Ela pode contribuir para as contas do País no futuro. Mas também perigosa, porque a atividade de mineração é sempre impactante mesmo em terra firme, mas muito mais perigosa e difícil no fundo dos oceanos.
A idade da jazida encontrada
De acordo com o site clickpetroleoegas.com.br/usp ‘a jazida se formou durante a separação do supercontinente Gondwana (que deu origem à África e à América do Sul). A Elevação Rio Grande era uma ilha que afundou há 40 milhões de anos devido ao peso da lava de um vulcão e à movimentação de placas tectônicas’.
‘A descoberta foi publicada recentemente pela revista Microbial Ecology e contou com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP. Além disso, as expedições foram a bordo do RRS Discovery, navio da realeza britânica’.
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Existem apenas quatro áreas com o mesmo potencial da Elevação do Rio Grande
A maior de todas as ‘províncias minerais’ do mar até agora descobertas é a área Clarion Clipperton, no Pacífico (as outras seriam o monte submarino Takuyo-Daigo, no Pacífico Norte, além do monte submarino Tropic, no Atlântico Norte), onde testes estão sendo feitos neste momento e com grande preocupação por parte não só de ambientalistas, mas até mesmo de empresas interessadas nos minerais.
Só para área Clarion Clipperton a ISA já deu 29 licenças. Em matéria sobre o tema a BBC destacou: “ali, a 4 mil metros abaixo da superfície encontram-se vastos depósitos de nódulos de manganês, pedras ricas em níquel, cobre, cobalto. E outros minerais essenciais para a fabricação de equipamentos – de celulares a baterias para carros elétricos e painéis solares”.
Na mesma época outro ícone do jornalismo, a National Geographic, também abordou o assunto e alertou: “a mineração em águas profundas pode acabar tendo a maior pegada de qualquer atividade humana no planeta em termos de impacto”, diz o oceanógrafo da Universidade do Havaí, Craig Smith.
Os perigos da mineração submarina
Os oceanos passam por momento delicado, fruto da superpopulação mundial e seus rejeitos. Como se sabe, parte deles acaba no mar. O plástico é apenas um deles, mas não o único.
Fertilizantes e agrotóxicos usados na agricultura nos vales dos grandes rios, como o Mississipi, são frequentemente levados para o mar depois das chuvas que lavam os campos, acumulam os materiais nos leitos dos rios que depois os despejam no mar. Não por outro motivo uma das maiores zonas mortas dos oceanos fica no Golfo do México, na foz do Mississipi.
A pesca industrial é outro flagelo, com suas redes de arrasto que chegam a ter o tamanho de até 13 aviões jumbo, depredando o que resta de vida marinha, além de revolver o subsolo a ponto de liberar o dióxido de carbono, um dos gases de efeito estufa ali armazenados.
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Os oceanos são o maior sumidouro de dióxido de carbono, um dos gases de efeito estufa, da atmosfera. Entretanto, o arrasto altera dramaticamente o solo oceânico. A prática leva à desertificação do fundo do mar, e liberana coluna d’água o CO2, tornando as águas ainda mais ácidas.
O mesmo processo vai acontecer quando as enormes máquinas começarem a revolver o subsolo marinho. E além de liberar ainda mais dióxido de carbono, a vida marinha vai pagar a conta não só no local da exploração, mas em todo o entorno.
A formação das jazidas minerais submarinas: até 14 milhões de anos!
Em 2020 reproduzimos matéria do New York Times a respeito de um estudo sobre a mineração submarina e seus perigos. Os autores alertavam: ”Mas, como nós e nossos colegas observamos recentemente na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, os impactos da mineração submarina serão pronunciados e debilitantes não apenas no fundo do mar. Mas também em toda a coluna de água profunda que se estende por cerca de 600 pés abaixo da superfície até o fundo, onde ocorre a extração.”
“Os minerais procurados se formam e se acumulam de forma extremamente lenta no fundo do oceano, com taxas de crescimento de apenas alguns milímetros por milhões de anos.”
“Um nódulo do tamanho de uma bola de tênis no fundo do mar e consistindo em grande parte de valiosos metais de terras raras pode ter mais de 14 milhões de anos.”
“Quando um nódulo é arrancado e aspirado do fundo do mar, ele é bombeado para um navio de superfície por meio de um oleoduto. Os minerais são removidos e, em seguida, o fluido lamacento, sedoso e enriquecido com toxinas é bombeado de volta ao mar como o que é chamado de “pluma de desidratação”.
“Partículas mais pesadas irão afundar no fundo do mar, mas devem passar por milhares de metros de água intermediária antes de se assentarem. Além disso, o lodo fino irá derivar e fluir por milhas e meses nas correntes oceânicas. É assustadoramente claro que o impacto dessa nuvem flutuante nos ecossistemas de águas abertas será severo, variado e em escala global.”
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Conclusão sobre a descoberta na Elevação do Rio Grande
Assim como é uma dádiva que um País em desenvolvimento, e desigual como o Brasil, tenha petróleo no pré-sal, é também uma benção saber que existem Jazidas minerais importantes na Elevação do Rio Grande.
Vida marinha na região da Elevação do Rio Grande
Segundo a National Geographic, abril de 2023, ‘Em uma década de estudos na Elevação do Rio Grande, os cientistas constataram uma grande diversidade de organismos. Corais e esponjas espalham-se pela região e formam estruturas tridimensionais, que permitem a colonização de outros organismos. Artrópodes, crustáceos, moluscos e peixes compõem a fauna desses ambientes, a exemplo do tubarão-azul (Prionace glauca) e do espadarte (Xiphias gladius).’
Paulo Sumida, biólogo e professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), e estudioso da região, falou à NG: “Você desce com o submersível totalmente apagado, aí pisca a luz e todos os organismos começam a piscar (bioluminescência). Parece que você se transporta para o espaço e está vendo as estrelas”, observa Sumida, que estuda a Elevação do Rio Grande desde 2013.”
“Sumida é co-autor de um estudo que saiu no periódico Deep-Sea Research, em agosto de 2022, que analisou a fauna bentônica da Elevação do Rio Grande, isto é, dos organismos que habitam o fundo do mar. Em uma expedição de 14 dias financiada pela Fapesp e o Centro Nacional Oceanográfico de Southampton, no Reino Unido, os pesquisadores realizaram 13 mergulhos de um veículo subaquático controlado remotamente, com uma câmera acoplada. Eles filmaram 36 horas em uma extensão de 26 quilômetros do fundo do mar, além de coletar amostras dos 10 indivíduos mais representativos.”
Ao analisar as imagens, diz a NG, os cientistas identificaram 11 habitats heterogêneos – cinco na fenda e seis nos platôs – que mudam rapidamente suas características geomorfológicas, declives e texturas do substrato. Essa diversidade de ambientes possibilita uma alta variedade de espécies, comprovada pelos 17 mil organismos bentônicos identificados.
Empresas defendem moratória
Mas a sua exploração de forma sustentável ainda está muito, mas muito distante das atuais tecnologias. Não por outro motivo, a preocupação com a saúde dos oceanos, em março de 2021 gigantes como as montadoras BMW e Volvo, e ainda a Samsung, e o Google anunciaram que apoiam uma moratória para a mineração submarina.
Para saber mais ouça a entrevista que fizemos com Alexander Turra, professor titular do Departamento de Oceanografia Biológica da Universidade de São Paulo, a USP.
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Imagem de abertura: Google
Fontes: https://clickpetroleoegas.com.br/usp-descobre-jazida-no-fundo-do-mar-e-tesouro-submarino-torna-o-brasil-rico-em-energias-renovaveis/; https://www.nytimes.com/2020/08/14/opinion/deep-ocean-mining-pollution.html?fbclid=IwAR0cjmFbiF-Hzg61KxEzZWzmKQiOOhAb18QiS56sxdXWTUMD7zVe5MGwOt0.
GRANDE INFORMAÇÃO..TUDO TEM NO BRASIL
Ótimo texto, materia excelente!!!
Espero que seja proibido a exploração pois sabemos que 85% do oxigênio vem do mar sem contar a estrutura ambiental marinha que será afetada em troca de dinheiro?
Espero que as empresas foquem seus investimentos em outras fontes que não agridam nosso planeta. Olhar para fora do planeta é uma alternativa. Assim como a empresa de Elon Musk e outras. Otimo texto. Parabéns.
Ótima matéria coerente, bem explicativa.. parabéns!
Acho muitissimo importante a opinião da Universidade de Rio Grande(UFRG), atraves de seus cientistas e professores com grande conhecimento da área . Tambem com os seus acervos sobre este assunto. Cito um dos possiveis Grandes conhecedores desta . Dr Prof Lauro Calliari que tem um amplo conhecimento geologico desta região litoranea do Rio grande do sul.
Muito interessante e bem feito este documentário. Penso que as informações são muito importantes sobretudo porque alertam para as possibilidades e os perigos dessa exploração submarina.