Cerrado ameaçado com a diminuição do Parna da Chapada dos Veadeiros
O Cerrado, ou a savana brasileira, é considerado um dos hotspots mundiais, um dos biomas mais ricos e ameaçados do mundo. É a segunda maior formação vegetal do País depois da floresta amazônica.
Mas, assim como a Amazônia, o Pantanal, a Mata Atlântica, a Caatinga, ou o Pampa, está seriamente ameaçado pela cultura da soja.
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
Para preservá-lo, em 1961 foi criado no coração do bioma o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros que, por sua importância, foi incluído pela Unesco entre os sítios do Patrimônio Natural da Humanidade.
Este post foi escrito para repercutir o que especialistas consideram uma ‘sentença de morte’ para o bioma.
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Localização
Originalmente o Cerrado, considerado ‘berço das águas’ do País, cobria 25% do território brasileiro com uma área entre 1,8 e 2 milhões de km2 englobando os Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, sul do Mato Grosso, oeste de Minas Gerais, Distrito Federal, oeste da Bahia, sul do Maranhão, oeste do Piauí, e porções do Estado de São Paulo.
Características
Pelo imenso tamanho que ocupa suas características variam de região para região. Mas um dos aspectos mais singulares é o fato dele fazer fronteira com todos os biomas terrestres brasileiros, salvo o Pampa.
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Ao norte a fronteira é com a Amazônia; a leste/nordeste, com a Caatinga; ao sudoeste, o Pantanal; e a sudeste, a Mata Atlântica.
Uma das mais importantes características do bioma, como lembrou o ex-ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney em recente artigo para a Folha de S. Paulo, é o fato de que ‘o Cerrado abriga as nascentes que abastecem seis de nossas oito principais bacias hidrográficas’.
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No momento em que o mundo começa a enfrentar cada vez mais secas intensas e prolongadas, fruto dos eventos extremos desencadeados pelo aquecimento global, isso já seria mais que suficiente para preservá-lo com todo o cuidado.
Biodiversidade
São mais de 11 mil espécies de plantas, com cerca de 4 mil espécies endêmicas, que podem ser extintas com os efeitos do aquecimento do planeta.
A biodiversidade é tão alta que até hoje os estudos ainda não são conclusivos. Entretanto, sabe-se que há mais de 800 espécies de aves, com 29 endêmicas; 185 de répteis, com 24 endêmicas; 194 espécies de mamíferos, sendo 19 endêmicas; e 145 de anfíbios, com 45 endêmicas. Estudos mostram que há mais de 14 mil espécies de invertebrados.
Ameaças ao Cerrado, e ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
Por suas características, 50 anos atrás o Cerrado foi a área escolhida pelo governo federal para a produção agrícola. Naquela época o Brasil era importador de alimentos, uma incômoda situação para um País com dimensão continental, e com enorme e carente população.
De lá para cá o País passou a ser um dos principais exportadores de alimentos, um feito e tanto do agronegócio brasileiro.
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E foi para proteger este bioma onde a agricultura começava a entrar que foi criado o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
Muitos anos depois, já com o agronegócio como o carro-chefe da economia nacional, e com continuadas ameaças de se expandir ainda mais no Brasil Central, em 2017 o então ministro do Meio Ambiente Zequinha Sarney propôs ao presidente Michel Temer a ampliação do parque para 240 mil hectares.
Com este tamanho, se fosse de fato protegido, suas qualidades excepcionais de endemismo e produção de água estariam garantidas.
Da criação do parque em 1961 para 2021: puxa-estica-corta-puxa-de-novo
Quando foi criado em 1961 o parque tinha 625 mil hectares. Mas ele sofreu sucessivas reduções até atingir os 65 mil hectares, cerca de 10% da área original.
Ambientalistas e funcionários do MMA sabiam de sua importância desde sempre. Assim como sabiam do avanço da soja, cana-de-açúcar, milho, e algodão na região.
Cerrado perde 60% do tamanho original
Cinco décadas depois do início da agricultura na área, o bioma perdeu nada menos que 60% do tamanho original segundo o ministério do Meio Ambiente.
Por isso, em 2001 houve uma primeira tentativa de ampliação para 240 mil hectares durante o governo de FHC quando Sarney Filho foi ministro do MMA pela primeira vez.
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Mas falhas no processo fizeram com que a tentativa fosse barrada pelo Supremo Tribunal Federal.
As falhas da criação desta unidade de conservação
A criação do Parna da Chapada dos Veadeiros sofreu o mesmo e velho problema de sempre, já muito comentado e criticado pelo Mar Sem Fim.
Ao ser criado por decreto, a área do parque foi desapropriada, mas nem todos os proprietários foram indenizados, um vício de origem de quase todas as unidades de conservação brasileiras.
2017: o Parna Chapada dos Veadeiros e a dupla Temer-Sarney Filho
Como se vê, a história do parque é cheia de altos e baixos. Nasceu grande, foi cortado e restou 10% do original. Muitas tentativas depois, graças à habilidade e competência de Zequinha Sarney, e da sensibilidade de Michel Temer, o parque finalmente cresceu para os atuais 240 mil hectares.
Antes de prosseguir, um recado aos neófitos do movimento ambiental: uma das poucas unanimidades entre ambientalistas é o fato de Sarney Filho ser considerado o melhor ministro do Meio Ambiente que já tivemos desde a redemocratização.
Sempre que comentamos sobre isso nestas páginas é comum que os desinformados deitem falação contra Zequinha apenas por sua filiação. É um tremendo erro. Repito o que já dissemos: não há ambientalista sério que não considere Zequinha um paradigma.
Quanto a Michel Temer, seu legado ambiental é riquíssimo, foi o primeiro presidente a dar o devido valor ao mar territorial brasileiro, além de contribuir para ampliar importantes UCs terrestres.
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A agricultura brasileira no século passado e hoje
A agricultura que abriu o Cerrado no século passado era uma atividade rudimentar nos anos 70, ao mesmo tempo em que biomas como o Cerrado e Amazônia ainda eram semi-virgens.
Hoje, meio século depois, a Amazônia perdeu 20% do total de sua área, com outros 20% bastante degradados. E o Cerrado, como informamos, perdeu cerca de 60% da área original.
Em compensação, a agricultura brasileira atingiu níveis superlativos de produtividade, não necessitando de mais áreas para produzir ainda mais. Ano a ano, a agricultura vem produzindo mais apenas com os ganhos em produtividade.
O mesmo ainda não se pode dizer da pecuária. Parte dela evoluiu, mas ainda faltam muitas doses de ciência e tecnologia para que a pecuária como um todo atinja a mesma produtividade da agricultura. Basta saber que 46% do rebanho bovino abatido em 2020 era oriundo da Amazônia.
De qualquer modo, o Cerrado é hoje ocupado pela agricultura que, repetimos, não necessariamente precisa mais terras para crescer. Por isso não se justifica o que está agora em jogo no Congresso Nacional: a diminuição do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
Perda da superfície de água no Brasil: menos 16% em 30 anos
Pesquisa inédita do MapBiomas mostra que em 30 anos a perda de superfície de água no País foi dramática. Todos os biomas brasileiros foram afetados.
O estudo também mostra a relação entre regiões afetadas por queimadas e redução de água. O impacto determinado pela pesquisa sinaliza grandes perdas econômicas, especialmente na agricultura.
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Para Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, ‘Em algumas regiões de fronteira agrícola, como o Cerrado, chegar a um quarto da redução vai significar também o fim da safrinha”, ao referir-se às culturas anuais mais curtas e que têm grande peso financeiro para os produtores.
Já Carlos Souza, coordenador do Grupo de Trabalho de Água do MapBiomas, declarou: “Mudanças no uso e cobertura da terra, construção de barragens e de hidrelétricas, poluição e uso excessivo dos recursos hídricos para a produção de bens e serviços alteraram a qualidade e disponibilidade da água em todos os biomas brasileiros.”
E concluiu: “Ao mesmo tempo, secas extremas e inundações associadas às mudanças climáticas aumentaram a pressão sobre os corpos hídricos e ecossistemas aquáticos.”
É o que dá a desastrada política ambiental atual e o aquecimento global simultaneamente.
Ameaça ao Cerrado: a diminuição do Parna da Chapada dos Veadeiros
A partir deste subtítulo, as informações foram todas tiradas do artigo Sentença de morte para o cerrado, de autoria de José Sarney Filho, publicado em agosto de 2021 pela Folha de S. Paulo.
‘Estimulados pelos retrocessos promovidos pelo governo Bolsonaro, a ameaça à sobrevivência do Cerrado está ganhando corpo no Congresso Nacional’.
Projeto do deputado Delegado Waldir (PSL-GO) ameaça o Parna
‘O projeto de decreto legislativo 338/2021 foi apresentado à Câmara no início de agosto e busca sustar o decreto de 2017 que ampliou a área do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros’.
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Ampliação do parque foi difícil
Sarney Filho diz que ‘não foi fácil’ a criação do decreto de ampliação do parque. ‘A pressão por parte de setores atrasados do ruralismo e pela especulação imobiliária sobre o Governo de Goiás nos tomaram mais de um ano de intensa negociação’.
O Cerrado corresponde a 30% da biodiversidade brasileira
‘O Cerrado, que abriga a Chapada dos Veadeiros, é a savana mais biodiversa do planeta e comporta 30% da biodiversidade brasileira’.
É o berço das águas brasileiras
‘Ocupa 1/4 do território nacional, fazendo a conexão de todos os demais biomas, e é o berço das águas do país, pois suas nascentes abastecem seis de nossas oito principais bacias hidrográficas, com imensos aquíferos subterrâneos’.
50% do Cerrado foi tomado pela soja
‘Entretanto, o Cerrado é também uma das ecorregiões mais ameaçadas do mundo. O bioma teve quase 50% de sua cobertura vegetal degradada nas últimas cinco décadas, em grande parte devido à monocultura da soja’.
Efeitos dramáticos para a segurança hídrica
‘Os efeitos disso para o clima e a segurança hídrica são dramáticos. Precisamos reverter este processo de degradação e fragmentação e, como sabemos, as unidades de conservação são vetores da integridade ecossistêmica’.
‘O tempo do homem é maleável e relativo, mas o tempo da natureza…’
Para Sarney Filho, ‘o tempo do homem é maleável e relativo, mas o tempo da natureza é absoluto e implacável. A demora pode levar a perdas irreversíveis. E quando a natureza perde, perdemos todos’.
Tempos funestos…
‘Nestes tempos tão funestos, nosso Parlamento não pode permitir que se dê ao Cerrado, com nova redução da área do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, uma sentença de morte’.
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O Mar Sem Fim está com Sarney Filho a quem mais uma vez aplaude. E se você pensa do mesmo modo, compartilhe este post. Faça com que mais pessoas conheçam o que estamos prestes a perder caso a opinião pública seja omissa em sua missão de pressionar o poder público para não permitir a redução do parque.
Conheça mais do bioma assistindo ao vídeo Belezas do Cerrado, da WWF
Assista a este vídeo no YouTube
Imagem de abertura: Marcelo Camargo, Agência Brasil
Fontes: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/08/sentenca-de-morte-para-o-cerrado.shtml?fbclid=IwAR3PUQJflcosPRCtrTULJHle3bItxNDMvdUJZ4qa8dTsB3BwLFKiALer0To; https://www.icmbio.gov.br/cbc/conservacao-da-biodiversidade/biodiversidade.html; https://www.icmbio.gov.br/parnachapadadosveadeiros/; https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-06/parque-nacional-da-chapada-dos-veadeiros-sera-ampliado-para-240-mil-hectares; https://www.ebc.com.br/especiais/especial-novos-horizontes-para-a-chapada-dos-veadeiros; https://brasilescola.uol.com.br/brasil/cerrado.htm.
Visitem o Museu do Cerrado que é um museu virtual com o objetivo de divulgar os conhecimentos científicos, os saberes e os fazeres populares acerca da sociobiodiversidade do Sistema Biogeográfico do Cerrado. Convido-lhe a visitá-lo no seguinte site e peço que divulgue na sua lista de contatos:
http://www.museucerrado.com.br
Precisamos urgente rever a questão da falácia do agronegócio, que é apenas um nome bonito para a monocultura de exploração.
Agronegócio é produção agrícola envolvendo a cadeia inteira se suprimentos (campo + indústria + comércio) e proteção ambiental, pois sem meio ambiente o primeiro a sofrer é o próprio campo.
Mais uma vez a falácia do câncer do marketing e suas funestas propagandas.
Não generalize, Marcos Eduardo. O agronegócio é hoje o carro-chefe da economia brasileira. E a agricultura alcança uma das maiores produtividades do mundo. Mas, como todos os grupos, há gente boa e outros nem tanto.