Arquipélago de Alcatrazes reaberto ao público depois de 30 anos, vitória do bom senso, do ‘ativismo’ hoje condenado…
Foram 30 anos de luta até conseguirmos de volta o que sempre foi nosso, o arquipélago de Alcatrazes reaberto ao público. O conjunto de ilhas, e ilhotas, rochas, parcéis e lajes, pode ser comparado a uma linda explosão de granito no meio do mar. A ilha principal, Alcatrazes, tem os mais belos costões rochosos da costa brasileira, alguns com até 200 metros de altura! Uma beleza dramática pouco comum no litoral do Brasil, Alcatrazes com seu pico em forma de Pão de Açúcar é ainda tradição náutica nacional. Uma das mais importantes referências para a navegação, ou para o abrigo em caso de mau tempo. Quem navega pelo litoral de São Paulo tem alguma história com Alcatrazes.
O arquipélago de Alcatrazes
O Arquipélago dos Alcatrazes, a aproximadamente 45 kms do Porto de São Sebastião, é formado pela ilha principal, Ilha dos Alcatrazes; pelas ilhas da Sapata, do Paredão, do Porto ou do Farol e do Sul, além de 4 outras ilhotas não nominadas , 5 lajes (Dupla, Singela, do Paredão, do Farol e Negra) e dois parcéis (Nordeste e Sudeste). A REVIS dos Alcatrazes tem 67.479,29 hectares.
O porquê do nome Alcatrazes
“O nome do arquipélago vem do pássaro que corresponde à segunda maior população de aves no local, com cerca de 3 mil indivíduos: o atobá-pardo, também conhecido como “alcatraz”, termo que em árabe significa “o mergulhador” – devido à sua habilidade para mergulhar no mar e capturar peixes ou lulas.”
As cinco ilhas do Arquipélago e três de suas ilhotas são locais de nidificação do atobá, nome atual do alcatraz. E não são apenas os atobás que enfeitam os céus de Alcatrazes. Há 103 espécies de aves no arquipélago, 11 delas sob algum grau de ameaça de extinção.
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Entre as muitas espécies vegetais, está a orquídea Rainha do Abismo. No mar a água é clara, e a variedade de vida marinha do entorno inclui de cetáceos, como a baleia-de-bryde, a golfinhos e, durante o inverno, a presença das jubartes. Além de tartarugas-marinhas, e um sem – número de espécies de peixes.
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O porquê da luta de 30 anos
Porque um belo dia, em 1980, a Marinha do Brasil decidiu usar Alcatrazes como alvo para tiros de canhão. E tomou para si as ilhas proibindo, desde então, que qualquer barco navegasse pela área sem prévia autorização. Foi vapt-vupt.
Da decisão equivocada nasceu a campanha para, ao contrário de fechá-la, transformá-la em Parque Nacional (o deputado Fábio Feldmann entrou com projeto em 1990). Abaixo a primeira equipe de defensores de Alcatrazes como parque nacional, destaque para o biólogo Fausto Pires de Campos.
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Mais tarde, criamos a regata Eldorado-Alcatrazes por Boreste, que abria a Semana de Vela de Ilhabela, o maior e mais importante campeonato de vela dos anos 80 para cá.
A regata, autorizada pela MB, obrigava os veleiros a contornar a ilha principal, dando chance a todos de curtirem sua beleza, e passarem para o lado da proteção, em vez de tiros.
Quando passamos aos documentários, em 2005, o primeiro que fizemos foi em Alcatrazes, mais uma vez acompanhados por Faustão, como nosso amigo é conhecido.
Um parêntesis para o papel de Michel Temer na proteção do mar brasileiro
Uma das coisas que nos entristece é perceber discussões, muitas vezes com agressões gratuitas, quando se fala em política. Cansei de ver nos ‘Comentários’, espaço reservado aos leitores.
Voam pedras para tudo que é lado, uma disputa que não leva a nada, pura perda de tempo. Mas nem por isso deixaremos de contar a história como ela aconteceu, elogiando quem teve papel importante nesta campanha.
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A Marinha do Brasil desiste de Alcatrazes
Bem, depois de muito barulho e protestos, a Marinha do Brasil finalmente caiu na real. Percebeu o quão ruim era para sua imagem bombardear uma das mais ricas e extraordinariamente belas ilhas do litoral.
A ilha principal já sofrera um incêndio como consequência dos bombardeios. Em 2013 cessaram os tiros no arquipélago. Imediatamente depois, começou o preparo e o trabalho para que o conjunto se tornasse unidade de conservação, com preferência pela categoria de parque nacional.
Alcatrazes e o papel do Governo Temer
Não vencemos em tudo, mas em agosto de 2016, Michel Temer assinava o decreto criando a REVIS dos Alcatrazes. Temer, que deixa o governo com os piores índices de aprovação, fez um governo irreparável do ponto de vista ambiental.
Esse legado ninguém lhe tira. Escolheu para ministro uma unanimidade no meio ambiental, Zequinha Sarney. Os dois anos de Temer foram os melhores dos últimos tempos para o meio ambiente. Além da REVIS dos Alcatrazes, o presidente criou as duas maiores unidades de conservação do bioma marinho.
Temer foi o primeiro presidente, pós-ditadura, a olhar para o mar. Os outros criaram unidades de conservação na parte continental brasileira, que tem cerca de 10% de seu espaço transformado em áreas protegidas.
Até o governo Temer, nosso mar territorial tinha apenas 1,5% de áreas protegidas. Saltamos para 25% graças às áreas por ele criadas. Parabéns pela sensibilidade, presidente. O futuro lhe fará justiça neste caso.
E chegou a melhor hora da recapitulação: Arquipélago de Alcatrazes reaberto ao público para o ecoturismo
Em 16/12/2018 a exuberante beleza, e riqueza, de Alcatrazes foi reaberta ao público. Desde sempre lutamos por duas condições: que a unidade fosse de proteção integral, bem mais efetivas que as de ‘uso sustentável’, e que fosse aberta ao público para ser conhecida e admirada por todos.
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Só se preserva o que se conhece. Preferíamos um Parque Nacional, mas o modelo escolhido pelo ICMBio foi o de uma REVIS, Refúgio de Vida Silvestre. Ambas as categorias preveem a presença de turismo.
Alcatrazes é ideal para mergulho autônomo, e livre, além da observação de fauna embarcada. A unidade já tem plano de manejo, e está preparada para receber as operadoras que levam os turistas.
Operadoras já iniciaram os passeios
Os passeios são feitos por empresas autorizadas pelo ICMBio. Neste momento inicial 32 estão inscritas, mas só duas já atuam. Em Ilhabela as saídas são pela Colonial Diver; em São Sebastião, a Universo Marinho. Preço médio por pessoa, R$ 700 reais.
Em breve empresas de Santos e Bertioga estarão operando. Lanchas particulares, por enquanto, estão proibidas o que é uma pena já que São Paulo concentra 35% de toda a indústria náutica nacional. Esse pessoal deveria ter direito a navegar para a ilha, desde, claro, que houvesse estrutura suficiente. Ainda que com restrições, as embarcações privadas não deveriam ser simplesmente barradas.
Avaliação
Durante o primeiro ano e meio de operação a equipe do ICMBio, cuja chefe da unidade é a competente e engajada Kelen Leite, fará uma constante avaliação do impacto do turismo, adotando novas normas se for o caso.
Apesar dos pesares, este é um ano feliz para o meio ambiente, mesmo com a ameaça do novo governo. A tese do turismo de observação, que contaminou o mundo, finalmente arribou no Brasil.
Queremos mais do mesmo!
Francisco Heraldo Turra Vieira
Estive em Alcatraz junto com meu irmão em uma lancha de 15 pés junto com um amigo em outra lancha de 16 pés no ano de 1980 para praticar caça submarina e ficamos vislumbrados com a beleza da ilha.
Tenho um amigo que contava inumeras historias de alcatrazes dos peixes existente, tamanho que la eles conseguiam atigir.
La eram protegidos um berço para conssguirem a qualificação da especie.
Agora as historias que meu amigo mergulhador contava mudara.
-Vicente, meu amigo meu professor meu patrão, nunca esquesserei suas historias !
-Renatinho seu amigo seu aluno seu funcionario, amem !
Em Fernando de Noronha, os “ambientalistas” soltaram um réptil (tejú), que acabaram com as gaivotas, pois se alimentavam de seus ovos.
Com esse valor para visitação, creio que o melhor é deixar a Marinha utilizar como campo de tiro. Isso é muito ridículo, exclusão social em nome da preservação.
Concordo com você. Proibido para pequenas embarcações , e cobra-se um absurdo pelo passeio.
Parabéns pela excelente reportagem João! E não deixe o chorume destilado te envenenar! Excelente trabalho! Siga em frente meu caro!
Sou Oficial da Marinha da Reserva e participei de inúmeros exercícios de tiro em Alcatrazes. Cabe esclarecer que os “tiros de canhão” eram com munição inerte, ou seja, sem explosivos; não geravam nenhuma destruição nem ruídos; e em áreas específicas de rocha sem vegetação. Durante todo esse tempo, graças à atuação e vigilância da Marinha, o arquipélago se manteve inteiramente preservado. É muito bonito ver o arquipélago se transformar em um REVIS – Refúgio de Vida Silvestre, mas uma assinatura presidencial em um pedaço de papel não impedirá que turistas mal-educados joguem suas garrafas, sacos plásticos e lixo no mar e nas trilhas; suas bitucas de cigarro na vegetação causando incêndios; ou pior, as fogueiras dos visitantes clandestinos que lá irão acampar sem medo de serem surpreendidos por “tiros de canhão”. Como é praxe no Brasil, somos muito bons para criar leis e extremamente incompetentes para impor e fiscalizar o seu cumprimento. Espero que não, mas creio que em breve surgirão as tartarugas mortas com plástico no estômago, os pescadores clandestinos e os incêndios na mata matando as espécies em extinção. Os verdadeiros habitantes nativos do arquipélago e suas águas, a fauna e a flora, vão sentir saudades dos “tiros de canhão” da Marinha.
Excelente conclusão. As FFAA sempre preservam, contudo, a suposta preservação não irá ocorrer, pois temos vários exemplos do descaso com nossa fauna e flora por supostos ambientalistas.
Esclarecimento muito importante. As notícias de bombardeio eram sempre estranhas e desencontradas. Obrigado.
Excelente.
Esse pessoal faz a reportagem mas não procura informar-se. Já sai criticando. Confesso que não sabia que “tiros de canhão” eram com munição inerte mas quem escreveu deveria no mínimo ter pesquisado na fonte e não da cabeça deles.
Como já disseram acima, agora que foi liberado o acesso, vão destruir tudo e depois mais uma vez, culparão os militares.
Lamentável.
Tem que fechar mesmo, vai acabar como Noronha.