Tubarões e arraias perderam 70% da população em 50 anos — e o Brasil assiste
Metade das 31 espécies de tubarões oceânicos do mundo agora estão listadas como ameaçadas ou criticamente em perigo pela União Internacional para Conservação da Natureza. A arraia-jamanta gigante também está em perigo. Isso é consequência do grande aumento do esforço de pesca que acontece desde 1970. O resultado, aponta um estudo publicado na Nature, é que a população de tubarões e arraias caiu 70% em 50 anos.
Como foi feito o estudo
Comparando uma série de estudos anteriores, além de dados de captura (o Brasil não tem estatísticas de pesca), os pesquisadores compilaram o primeiro censo global para espécies de tubarões e arraias. O jornal The Guardian diz que as perdas poderiam ser ainda maiores, mas os primeiros dados da população mundial, de 1950, foram insuficientes para a comparação.

Ainda em novembro de 2020 este site comemorava o terceiro berçário de raias manta descoberto no mundo, ao largo da Flórida. Poucos meses depois, nos deparamos com este novo estudo.
Isso acontece porque poucos cientistas e pesquisadores exploram e tentam mitigar nossa capacidade destrutiva, enquanto muitos matam cada vez mais.
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Segundo os autores do estudo, atividades como extração de gás e petróleo, além do aquecimento global também podem afetar os animais. Para os cientistas a sobrepesca foi a principal causa do declínio.
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Em junho de 2019 este site publicou o post Sobrepesca ameaça os oceanos, mais que poluição. Na ocasião, os dados eram de relatório da ONU. Mais uma vez, um novo estudo confirma os abusos da indústria mundial da pesca.
Cassandra Rigby, bióloga da James Cook Universidade na Austrália, coautora do estudo, declarou ao jornal: “O declínio contínuo mostra que não estamos protegendo uma parte vital de nossos ecossistemas oceânicos da pesca excessiva. Isso continuará a abalar a saúde dos oceanos até que façamos algo a respeito.”
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O que espanta nestes dados é a rapidez. No curto espaço de uma vida humana, a diminuição das espécies atinge uma escala que, em outras eras, levaria séculos para acontecer. Não é preciso lembrar que o planeta tem cerca de 4,5 bilhões de anos.
Mas em razão da superpopulação mundial, e da tecnologia hoje aplicada ao esforço de pesca a atividade se torna um massacre.

“O declínio não para, o que é um problema”, disse Nathan Pacoureau, pesquisador da Simon Fraser University no Canadá e principal autor do estudo. “Tudo em nossos oceanos agora está se esgotando. Precisamos medidas proativas para evitar o colapso total. Que isso sirva como alerta para os formuladores de políticas.”
Deveria ser, mas não é. Um dos ícones da ciência marinha, Syvia Earle, a primeira mulher a dirigir a NOAA, agência norte-americana responsável também pela pesca, pediu demissão e 1992 durante o governo Bush, depois que propôs sem resultados medidas mais drásticas para diminuir o esforço nos Estados Unidos, talvez o país que ‘mais controle’ a pesca no mundo.
O New York Times à época publicou um artigo sobre a renúncia de Earle. Segundo a matéria, ela saiu por ‘razões pessoais’ e ‘frustração burocráticas’. A reportagem traz declarações da cientista que confirmam sua ‘frustração’.
“Como cidadã comum, poderei fazer e dizer coisas que não são apropriadas para um alto funcionário do governo dos Estados Unidos, e trabalhar ativamente por um ambiente marinho saudável e sustentável.”
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Os tubarões continuam sendo caçados impiedosamente
Tubarões e arraias são frequentemente mortos sem intenção por pescadores que usam redes para capturar outras espécies, a chamada pesca incidental. Mas os tubarões continuam como alvos prediletos da pesca industrial para se tornarem sopa de barbatana de tubarão, quando suas barbatanas são cortadas antes de seus corpos serem jogados de volta ao mar.
É inacreditável que isto aconteça mesmo sabendo de sua especial importância. Predadores do topo da cadeia, eles são responsáveis pela manutenção do equilíbrio no ecossistema marinho. Os tubarões se alimentam de peixes e invertebrados que estão menos aptos à sobrevivência, garantindo a saúde dos estoques pesqueiros de todo o mundo.
O Guardian confirma a barbárie, especialmente contra os tubarões. Estima-se que os humanos matem 100 milhões de tubarões por ano, número que ultrapassa a capacidade de reposição da espécie.
Desde 1970, a pesca aumentou drasticamente e reduziu a abundância de tubarões e raias nos oceanos. Espécies antes comuns, como os tubarões-martelo, agora correm risco de extinção, concluiu o estudo.
Mas apesar da caça desenfreada, de vez em quando há novas esperanças, como no caso das três espécies de tubarões que brilham pela bioluminescência recém-descobertos.
O declínio no Atlântico, Pacífico, e Índico
O declínio acentuado no número de tubarões e arraias no Oceano Atlântico começou a se estabilizar um pouco depois de 2000 em meio a medidas de conservação, diz o Guardian.
A taxa de perda também diminuiu no Pacífico. No Índico, a quantidade de tubarões e arraias caiu continuamente desde 1970. A queda estimada é de 84% na população.
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Muitas espécies de tubarões são migratórias, o que significa que sua proteção requer a cooperação de diferentes países porque grande parte da pesca nociva ocorre em alto-mar, sem governo ou proteção.
Com a eleição de Joe Biden, é provável que avancem os projetos para proteger até 30% do alto-mar. Caso essa meta se concretize, a pesca em alto-mar pode finalmente deixar de ser tão devastadora quanto tem sido.
Mariah Pfleger, cientista da Oceana, demonstra concordar que é preciso por um fim a pressão da pesca: “As descobertas deste artigo são horríveis, mas em última análise não surpreendentes. Há muito sabemos que muitas espécies de tubarões e raias não podem suportar a extensa pressão da pesca comercial.”
Imagem e abertura: Google
Fonte: https://www.theguardian.com/environment/2021/jan/27/sharks-rays-global-population-crashed-study; https://www.nytimes.com/1992/01/19/us/chief-scientist-at-federal-agency-to-resign.html?auth=login-email&login=email.
O bicho homen e a peor pandemia para a natureza, depredador em extremo, está aliminando as outras especies e alterando o clima.