Pesca ilegal de atum ligada à corrupção, lavagem de dinheiro, e tráfico humano
‘Impulsionada em parte por sindicatos criminosos estrangeiros, a pesca ilegal de atum pode estar associada a outros crimes organizados, incluindo a lavagem de capitais, a corrupção e a escravatura a bordo dos navios de pesca’, revela o site africano Enactafrica sobre o que se passa na costa da Somália. A pesca internacional do atum às vezes lembra filmes de cowboy, com ladrões de bancos mal-encarados sendo perseguidos pelos mocinhos, que quase sempre representam o bem vencendo o mal. Entretanto, essa lógica não se aplica à pesca mais cobiçada do mundo, justamente por seu alto valor e intensa disputa. Segundo o Atuna, ‘as sete espécies comerciais de atum contribuíram com uma média de 40 bilhões de dólares em valor final para a economia global a cada ano, tornando-se o peixe mais valioso do mundo, de acordo com um relatório do Pew’.
![atum amarelo ou albacora](https://marsemfim.com.br/wp-content/uploads/2025/02/atum-amarelo-ou-albacora--768x474.jpg)
Exploração desenfreada do atum albacora ameaça os meios de subsistência da Somália
A pesca ilegal de atum por embarcações chinesas na costa da Somália atingiu níveis alarmantes, sendo que o atum albacora, um dos peixes mais importantes do mundo do ponto de vista comercial, é o centro dessa preocupação. Sua alta demanda global e seu valor econômico fazem da espécie um alvo para as redes criminosas.
![](https://marsemfim.com.br/wp-content/uploads/inserts-on-content/colab0.webp)
O Institute For Security Studies, africano, informa que a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, custa à Somália US$ 300 milhões por ano. Esses crimes geralmente são transnacionais e ligados a grupos criminosos organizados, prejudicando os esforços regionais para conservar os estoques de atum.
Nada disso é novidade. Desde que o jornalista norte-americano, Ian Urbina, publicou Oceano Sem Lei, escancarando as barbaridades cometidas em alto-mar por asiáticos e, dentre eles, os chineses, ninguém mais tem o direito de alegar ignorância.
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemPraia do Buracão, BA, e a chaga do litoral: especulação imobiliáriaOperação global contra tráfico de fauna e flora apreende 20 mil animaisEsgoto polui Fernando de Noronha: a crise de nossas UCsOcorre que, como disse Urbina não há lei capaz de coibir a situação. Assim, onde acontece a pesca do atum há um pouco de tudo que fez do ser humano uma mixórdia moral. No Índico os europeus dão o mal exemplo, em Moçambique a pesca do atum e seus corriqueiros escândalos, derrubaram a economia do país. Enquanto isso, o atum azul, altamente valorizado no preparo de sushi, segue ameaçado de extinção e alcança preços absurdos, como os US$ 3,1 milhões pagos por apenas um peixe!
Comissão Internacional para Conservação do Atum do Atlântico e Mares Adjacentes – ICCAT
As coisas em alto-mar são tão confusas que decidiram criar o ICCAT para regularizar a pesca do atum no mundo. A organização é apenas mais uma a provar que não há força no mundo capaz de brecar a pesca industrial. Há tanta corrupção no órgão regulador que ele já não é mais levado tão a sério.
PUBLICIDADE
Em 2018, descobriram contrabando de atum azul no Mediterrâneo, envolvendo França, Itália, Espanha e Malta. Uma denúncia de milhões de euros e cerca de 80.000 Kg de atum azul, espécie de peixe/commodity (também chamado atum rabilho), capturado e comercializado ilegalmente. A ICCAT é uma espécie de FIFA da pesca internacional.
A gota d’água aconteceu em uma denúncia de 2023. Naquele ano, mais da metade da delegação da UE de um órgão crucial de reguladores do estoque de atum, a Comissão Internacional para Conservação do Atum do Atlântico e Mares Adjacentes – ICCAT, era composta por lobistas da indústria pesqueira!
Leia também
Esturjão, história, caviar e extinçãoFrota de pesca de atum derruba economia de MoçambiqueMatança de peixes-boi prossegue na AmazôniaO cado na Somália
Antes de mais nada, vamos recordar que a Somália é um país pobre, perdido em meio a guerras. Portanto, um país cheio de fraquezas. É aí que o apetite insaciável da China ataca. O país é o maior predador da vida marinha alheia.
Segundo o ISS África, ‘a pesca ilegal de atum por navios chineses ao largo da costa da Somália atingiu níveis alarmantes – com o atum albacora, um dos peixes mais importantes do mundo, central para essa preocupação. Sua alta demanda global e valor econômico tornam a espécie um alvo para redes criminosas’.
Em 9 de julho de 2024, uma agência de notícias da Somália informou que a pesca ilegal de atum por navios chineses na costa da Somália havia atingido níveis alarmantes.
‘Desde 2015, as capturas globais de atum têm consistentemente ultrapassado os limites de captura sustentáveis. Em 2021, o Planet Tracker alertou que, sem ação urgente, os estoques de atum poderiam entrar em colapso até 2026′.
O atum albacora no Oceano Índico está sendo pescado em excesso e caminhando para um colapso até 2026. O colapso é definido neste contexto como pelo menos um declínio de 70% na biomassa adulta em um período de 10 anos.
A Comissão de Atum do Oceano Indico
O Índico não quis ficar na dependência da ICCAT. Assim, nasceu a Comissão de Atum do Oceano Indico (IOTC), mas seu alcance é limitado. A IOTC é uma organização intergovernamental responsável pelo tratamento de espécies semelhantes a atum no Oceano Indico e nos mares adjacentes. Embora possa desenvolver recomendações e medidas de conservação, a aplicação da lei cabe aos Estados-Membros, muitos dos quais não dispõem de recursos e capacidade para o fazer eficazmente.
Para o ISS África, ‘no âmbito da IOTC, o poder de lobby da União Europeia e a resistência a regulamentos mais rigorosos sobre dispositivos de recolha de peixes (medidas nocivas que atraem peixes para os navios de pesca) criaram uma fenda com os Estados costeiros que defendem medidas rigorosas. Assim, a sobrepesca continua, com frotas da China e países europeus supostamente como os principais culpados.
Suborno na Somália?
Ao que parece, aconteceu de novo. Segundo o Enactafrica, em dezembro de 2018, o ex-ministro das Pescas da Somália, Abdillahi Bidhan, assinou um acordo que permite que as empresas chinesas pescassem a 24 milhas náuticas das costas do país a um custo de US$ 1 milhão. De acordo com o Ministério das Pescas e a Economia Azul, este acordo seria renovado com base em avaliações anuais de unidades populacionais independentes – e continua a funcionar.
Como observado pela Stop Illegal Fishing, uma organização independente sem fins lucrativos com sede na África, o fortalecimento da capacidade anticorrupção, e a promoção da cooperação nacional entre agências e o aumento da cooperação internacional são fundamentais. Ou isso, ou mais cedo ou mais tarde veremos atuns apenas em fotos.
Zheng He: O Almirante Eunuco que Fez da China uma Potência Marítima no Século XV