Peixe-leão em Fernando de Noronha é a nova ameaça
As espécies invasivas constituem uma das piores pragas que ameaçam a já ameaçada (pelo aquecimento do planeta) biodiversidade global. De acordo com especialistas, as espécies invasivas são a segunda causa de perda de biodiversidade, só perdendo para o desaparecimento de habitats. No mar, uma destas pragas é a proliferação do peixe-leão, espécie originária do Indo-Pacífico que tomou conta dos corais do Caribe, sendo considerado pela agência norte-americana NOAA ‘o garoto-propaganda das questões de espécies invasoras na região oeste do Atlântico Norte’. E, incluímos, ameaça agora o Atlântico Sul, escolhendo a dedo o ‘inimigo’ a atacar: peixe-leão em Fernando de Noronha é o tema de hoje.
Peixe-leão no Caribe
O site da NOAA atribui a dispersão do peixe-leão no Caribe a aquaristas. ‘O peixe-leão é popular entre os aquaristas, então é plausível que as repetidas fugas para a natureza por meio da liberação do aquário sejam a causa da invasão’.
Como se vê, uma atitude impensada e quase banal teria sido a causa da presença desta espécie no mar do Caribe. Segundo a NOAA ele foi visto a primeira vez ao longo da costa da Flórida em meados da década de 1980. Suas populações aumentaram dramaticamente nos últimos 15 anos.
Por não ter predadores naturais, a espécie se prolifera descontroladamente, roubando o espaço e a alimentação dos peixes nativos. Hoje, diz a NOAA, ‘os peixes-leão continuam a se expandir em velocidades surpreendentes e estão prejudicando os ecossistemas de recifes de corais nativos no Atlântico, Golfo do México e Caribe’.
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No Rio de Janeiro, em 2015
Em 2015, um peixe-leão foi visto pela primeira vez no Brasil, no litoral do Rio de Janeiro. Enquanto o animal explorava o novo habitat no sul, no Atlântico Norte a contraofensiva incluía a pesca e a venda do animal em peixarias, com o governo do México fazendo campanhas na TV para explicar que apenas os espinhos externos do peixe-leão podem inflamar a pele de quem for picado por eles, mas que a carne do peixe é saudável e pode ser ingerida sem problemas.
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Ainda assim, a luta para mitigar os estragos é dura e penosa. O site da NOAA explica por quê: ‘Os peixes-leão adultos são principalmente comedores de peixes e têm poucos predadores fora de sua área de vida. Os pesquisadores descobriram que um único peixe-leão residente em um recife de coral pode reduzir o recrutamento de peixes de recife nativos em 79 por cento’.
‘O peixe-leão se alimenta de presas normalmente consumidas por pargos, garoupas e outras espécies nativas comercialmente importantes. Isso significa que sua presença pode afetar negativamente o bem-estar da valiosa pesca comercial e recreativa’.
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Infelizmente, os problemas provocados pelo peixe-leão não se resumem apenas a outros peixes. Ele também prejudica o mais importante ecossistema marinho: os recifes de corais. Mais uma vez, recorremos ao site da NOAA.
‘Conforme as populações de peixes-leão crescem, eles colocam pressão adicional nos recifes de coral. Por exemplo, peixes-leão comem herbívoros e herbívoros comem algas de recifes de coral. Sem herbívoros, o crescimento das algas não é controlado, o que pode ser prejudicial à saúde dos recifes de coral’.
Por estes motivos existe grande preocupação depois dos encontros de…
Peixes-leão em Fernando de Noronha
Fernando de Noronha foi transformado em parque nacional marinho com o objetivo de preservar sua beleza natural e sua biodiversidade.
O parque sofreu recentemente com o primeiro ‘ministro’ do Meio Ambiente do atual desgoverno ambiental. Ricardo Salles, em sua arrogância e ignorância, abriu a pesca de sardinha no parque nacional e, junto com os filhos do presidente, foi mais permissivo com a presença sempre problemática do turismo de massa via os cruzeiros marítimos em Fernando de Noronha.
Para piorar, vários exemplares de peixe-leão acabam de ser encontrados na área do parque nacional. Esta é uma péssima notícia para a biodiversidade local. O parque, que já contava com corais em seu interior, teve um novo banco de corais descoberto em 2019.
A pergunta que se faz hoje é: os corais resistirão? E a fauna marinha, que prejuízos terá?
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11 exemplares em dois meses em Fernando de Noronha
Quase toda a grande mídia repercutiu o indesejado encontro em mares tropicais. Uma das matérias, da Folha de S. Paulo, publicada em 10 de setembro, diz que ‘em um intervalo inferior a dois meses, o arquipélago de Fernando de Noronha registrou 11 ocorrências de peixes-leão, a mais recente sexta-feira (10)’.
O jornal explica que a fonte é o ICMBio, e informou que ‘dos animais registrados de dezembro até agora, oito acabaram capturados’.
Ou seja, se 11 ou 12 exemplares foram avistados em apenas dois meses é porque a coisa está feia, muito feia. Segundo a Folha, a chefe do ICMBio em Noronha, a analista ambiental Carla Guaitanele afirmou que os animais capturados estão congelados para serem enviados para pesquisa na Universidade Federal Fluminense, para que seja identificada a real origem dos peixes’.
Por enquanto, segundo a Folha, ‘três equipes de mergulhadores já passaram por treinamento do órgão para capturar a espécie em Fernando de Noronha’. E, em outubro, ‘deve chegar um especialista do Caribe para uma captação de nível mais avançado’.
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Imagem de abertura: O Estado de S. Paulo
Fontes: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/09/peixe-leao-invade-fernando-de-noronha-especie-ameaca-ecossistema.shtml; https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2021/08/28/peixe-leao-em-fernando-de-noronha-infografico-detalha-animal-invasor-venenoso-que-ameaca-ecossistema-local.ghtml;https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/aparicoes-de-peixe-venenoso-em-fernando-de-noronha-preocupam-especialistas/.