Mexilhão-verde, mais uma espécie invasiva no litoral

0
625
views

Mexilhão-verde, mais uma espécie invasiva no litoral

‘Desde 1995, a disseminação do mexilhão verde Perna viridis ao longo da costa sul-americana levantou preocupações sobre seus potenciais impactos nas comunidades costeiras em áreas vulneráveis’, diz um estudo publicado na revista Marine Biology. ‘Sua presença em complexos de lagoas coloca desafios significativos para a conservação de espécies nativas e manutenção da biodiversidade regional. Ressaltamos a necessidade de avaliar o equilíbrio entre predadores, parasitas e outros componentes ecológicos em áreas invadidas para mitigar os impactos na ecologia regional…Nossos achados destacam a urgência de implementar estratégias de manejo eficazes e políticas de conservação adaptativa para abordar a invasão de P. viridis. Estas políticas devem centrar-se na prevenção da propagação da espécie e no apoio à sustentabilidade dos ecossistemas estudados e costeiros locais’.

mexilhão-verde
Imagem, Wiki Commons.

Mais uma espécie invasiva detectada no litoral

O artigo, publicado em março de 2025, é de autoria de pesquisadores do Instituto de Pesca de São Paulo, da Universidade de São Paulo (USP) e colaboradores.

Identificaram o molusco, originário do Indo-Pacífico, em diversas praias paulistas, entre elas, a da Cocanha (Caraguatatuba), das Cigarras (São Sebastião), Ponta das Furnas (Ilhabela), Saco da Ribeira (Ubatuba), Enseada da Baleia (Parque estadual da Ilha do Cardoso, Cananéia), Iguape, Ilha Comprida, Peruíbe, São Vicente e Santos. Como tudo que é ruim pode piorar, dos 41 registros da espécie, 12 aconteceram dentro de áreas protegidas. Além disso, o molusco também foi encontrado na Baía de Guanabara e em Santa Catarina.

mapa da distribuição do mexilhão verde no litoral
Ilustração, Marine Biology.

A necessidade de políticas de prevenção e controle

Apesar dos alertas dos pesquisadores sobre a necessidade de políticas de prevenção e controle, o poder público ainda não adotou nenhuma medida. Pesquisamos, mas nada encontramos. Desse modo, corremos o risco de repetir o caso do mexilhão-dourado. Este molusco entrou na América do Sul pelo Rio Prata, infestou o Lago Guaíba e, sem barreiras, espalhou-se por rios do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.

Em 2014, ele já havia alcançado rios de São Paulo e Minas Gerais. Hoje, sua presença incômoda se confirma até no Pantanal, uma das maiores reservas de biodiversidade do país. O maior receio dos cientistas agora é sua chegada à Amazônia. Além disso, o mexilhão-dourado também foi detectado no Rio Tocantins, e nos Estados do Pará, Maranhão e Tocantins.

Ambos, ao que parece, chegaram aqui na água de lastro de navios, uma das formas mais ‘eficazes’ de transporte de espécies invasoras.

PUBLICIDADE

Mexilhão-verde na Baía de Guanabara

Outro estudo, da Universidade Federal Fluminense com supervisão do professor Abilio Soares Gomes, revela ‘novas evidências sobre o papel do plástico como vetor de espécies invasoras em ambientes marinhos, especialmente com o encontro de uma espécie inesperada: o Mexilhão-verde’.

‘Lixo flutuante é um importante vetor de transporte’

‘O lixo flutuante é um importante vetor de transporte para esses organismos, como é o caso do mexilhão-verde. O molusco já havia sido identificado em diversas áreas da Baía de Guanabara mas nunca antes associado ao lixo marinho’.

Conclusões parecidas dos dois estudos

Para os pesquisadores da USP, ‘o estabelecimento do mexilhão verde, P. viridis, no estuário de Cananéia-Iguape, região do Porto de Santos, Rio de Janeiro, e avistamentos no sul do Brasil, particularmente dentro de áreas protegidas, representa um desafio significativo para a gestão ambiental e as comunidades locais’.

‘Os impactos ecológicos, econômicos e sociais desta espécie exótica destacam a necessidade de medidas eficazes de controle e mitigação. A implementação de programas de monitorização contínua, a nível local, nacional e regional. E, de maneira idêntica, sensibilizar o público através de campanhas direcionadas além de aplicar regulamentações mais rigorosas ao transporte marítimo e à aquicultura. Estas medidas são, portanto, fundamentais para evitar a propagação desta espécie exótica no Brasil e, potencialmente, em todo o Atlântico Sudoeste’.

A mesma conclusão surgiu no trabalho da UFF. Para o professor Abilio Soares Gomes, ‘sem um esforço coordenado, o problema tende a se agravar. Precisamos de políticas públicas eficazes para rastrear e reduzir o descarte de lixo no mar, além de campanhas de conscientização que envolvam diferentes setores da sociedade’.

Os mexilhões agora juntam-se ao peixe-leão, ao coral-sol, e até mesmo às tilápias, todas espécies invasivas que hoje infestam o mar brasileiro. Enquanto isso acontece, o Ministério de Meio Ambiente continua a dar pouca, ou nenhuma, atenção ao litoral e mar brasileiros.

Soluções baseadas na natureza são essenciais para cidades costeiras

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here