Icon of the Seas, maior navio de cruzeiro, limpo, ou sujo?

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Icon of the Seas, maior navio de cruzeiro, limpo, ou sujo?

Ele é um colosso dos mares, cinco vezes maior que o Titanic, com capacidade para transportar cerca de 8.000 pessoas e 2.350 tripulantes. O navio tem 20 andares, 1.198 pés de comprimento (cerca de 365 m), e 250.800 toneladas. A construção custou US$ 2 bilhões. Seu proprietário é a Royal Caribbean que informa que o Icon of the Seas também estabelece um novo padrão de sustentabilidade com a utilização de tecnologia de eficiência energética concebida para minimizar a pegada de carbono e aproximar-se do objetivo da empresa de emissão zero até 2050. Ele é o primeiro navio da empresa movido a gás natural liquefeito, ou GNL, um combustível fóssil que a indústria de cruzeiros aponta como uma alternativa mais limpa ao óleo combustível pesado comumente usado. Entretanto, o colosso dos mares também recebeu muitas críticas.

Icon of the Seas
Icon of the Seas, a ‘imensidão psicodélica flutuante’. Imagem, Royal Caribbean.

A poluição gerada por navios

Já comentamos a tremenda pegada deixada por navios. A grande maioria polui o ar e os mares ao mesmo tempo em que afeta habitats, áreas e espécies frágeis. Isto acontece por diversas maneiras. Uma delas é o combustível, espécie de borra de petróleo, extremamente poluente.

Há ainda problemas de bioinvasão promovidos pela água de lastro. A poluição do mar vem através de descargas de água cinza. Qualquer navio também provoca poluição sonora nos oceanos com múltiplos impactos na vida marinha.

Finalmente, ‘os navios de cruzeiro lançaram quatro vezes mais gases sulfúricos nocivos na atmosfera na Europa do que os veículos de passageiros em 2022. Isso é o que descobriu uma  pesquisa demonstrando que a qualidade do ar está se deteriorando, apesar dos limites de emissões e das promessas da indústria de tornar-se verde.’

Navio Icon of the Seas.
Imagem, Royal Caribbean.

Pesquisadores confirmam. Por exemplo, em 2021 o estudo Environmental and human health impacts of cruise tourism: A review alertava que  ‘apesar dos avanços técnicos e de alguns programas de vigilância, os navios de cruzeiro continuam a ser uma importante fonte de poluição do ar, da água  e da terra. Afeta habitats. São uma potencial fonte de riscos para a saúde humana física e mental’.

A despeito de usar gás natural liquefeito como combustível, ambientalistas e estudiosos continuam preocupados. Segundo o New York Times, apesar de emitir cerca de 25% menos dióxido de carbono do que os combustíveis navais convencionais,  o GNL é majoritariamente metano. Este é um gás poderoso que retém mais calor na atmosfera ao longo do tempo do que o dióxido de carbono.

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‘Um aumento de 150% nas emissões de metano dos navios’

Segundo o Times, um estudo de 2020 sobre gases de efeito estufa da Organização Marítima Internacional, agência da ONU para o transporte marítimo, mostra um aumento de 30% no uso de LNG como combustível marítimo de 2012 a 2018. Isso levou a um salto de 150% nas emissões de metano de navios.

Por outro lado, a Royal Caribbean afirma que, mais de dez anos atrás, o LNG era a melhor opção de combustível alternativo disponível na época das decisões sobre a construção do navio.

deck do navio Icon of the seas
Imagem, Royal Caribbean.

Tratamento dos resíduos de bordo: um avanço

Pense na quantidade de lixo que 8 mil pessoas podem gerar em um dia. Para enfrentar o desafio, a Royal Caribbean implementou um sistema de gerenciamento de resíduos inovador, capaz de transformar lixo em energia, conforme reportado pelo New York Times.

Esse sistema emprega a tecnologia de pirólise assistida por microondas. Ela é conhecida como MAP, e transforma restos de comida, biorresíduos e papelão em pequenas pelotas. Depois, aquece essas pelotas para produzir um gás, transformado em energia a vapor. A empresa diz que essa energia alimenta o parque aquático do navio, que inclui até uma cachoeira!

O Icon of the Seas também tem um sistema avançado para tratar a água residual, ou água cinza. O sistema consegue limpar toda a água usada no navio, de banheiros a cozinhas, marcando um avanço significativo na gestão ambiental.

Algumas opiniões divergem das afirmações da Royal Caribbean. O The Guardian conversou com Bryan Comer, diretor do programa marítimo do Conselho Internacional de Transportes Limpos. Ele criticou o uso de LNG como combustível, chamando-o de “falsa solução climática”.

Comer argumentou que considerar o LNG um “combustível verde” é enganoso. Para ele motores a LNG emitem 70 a 80% mais gases de efeito estufa por viagem do que os que usam combustíveis  convencionais. “O Icon possui os maiores tanques de LNG já instalados em um navio, o que é um exemplo claro de lavagem verde”, ele acrescentou. Para Comer, a indústria naval deveria optar por células de combustível, hidrogênio ou metanol renováveis, que são menos poluentes.

A opinião do CEO da Royal Caribbean, e outras

A CBC, do Canadá, reportou uma declaração de Jason Liberty, CEO do Grupo Royal Caribbean. Ele afirmou que o “Icon of the Seas” representa o ápice de mais de 50 anos de sonhos, inovações e compromisso da empresa em oferecer as melhores experiências de férias de maneira responsável.

De acordo com a Reuters, a Royal Caribbean alega que seu novo navio é 24% mais eficiente em termos de emissões de carbono do que os padrões exigidos pela Organização Marítima Internacional (IMO), o regulador marítimo global.

A Bloomberg destacou a opinião de Stella Bartolini Cavicchi, consultora de política marítima da OceanMind, uma ONG que utiliza tecnologias como satélites para analisar o impacto humano nos oceanos. Cavicchi apontou que, apesar de os navios de cruzeiro constituírem apenas cerca de 1% da frota mundial, eles são responsáveis por 6% das emissões totais de carbono negro.

A Bloomberg esclareceu o conceito de carbono negro. Trata-se de uma substância similar à fuligem, emitida por grandes navios, que absorve a luz solar e retém calor no ambiente. Esse fenômeno é especialmente problemático no Ártico, uma região que tem recebido cada vez mais cruzeiros. Quando o carbono negro se deposita na neve e no gelo, acelera o derretimento das geleiras.

Navios de cruzeiros, os vilões do mar?

É importante notar que várias grandes companhias de cruzeiro já foram penalizadas por despejos ilegais de lixo e por poluição. Em 2019, a Carnival Corp., a maior linha de cruzeiros do mundo, concordou em pagar 20 milhões de dólares em multas por continuar a poluir os oceanos, apesar de promessas anteriores de cessar tais práticas.

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Icon of the seas
É tão ‘over’ que parece um sambódromo em alto-mar. Imagem, Royal Caribbean.

Entre 1998 e 1999, a Royal Caribbean foi multada em 27 milhões de dólares. A Guarda Costeira dos EUA filmou o Sovereign of the Seas, então o maior navio de cruzeiro do mundo, despejando óleo perto de San Juan, Porto Rico.

Além disso, após despejar produtos químicos perigosos e óleos usados em águas costeiras, a Royal Caribbean foi condenada a pagar 18 milhões de dólares em multas em 1999. Essas multas foram por 21 crimes federais relacionados ao despejo ilegal e por supostamente mentir ao governo federal para ocultar as infrações.

Royal Caribbean se declara culpada

Em 1999, conforme relatado pelo New York Times, a Royal Caribbean Cruises Ltd., segunda maior operadora de cruzeiros do mundo, confessou o despejo rotineiro de petróleo e produtos químicos perigosos de nove de seus navios em águas costeiras dos Estados Unidos. A empresa concordou em pagar uma multa de 18 milhões de dólares como parte da sua admissão de culpa.

A companhia também reconheceu que um de seus navios continuou a realizar despejos ilegais mesmo após a Royal Caribbean ter sido penalizada por infrações anteriores e se comprometido a cessar tais práticas. Além disso, admitiu ter mentido reiteradamente à Guarda Costeira dos EUA a respeito da poluição causada.

O New York Times também informou que a empresa, descrita por um funcionário federal como tendo uma “cultura do crime”, confessou ter despejado solventes tóxicos no porto de Nova York, além de petróleo e produtos químicos tóxicos em Miami, nas Ilhas Virgens, em Los Angeles e na Inside Passage do Alasca. A Royal Caribbean se declarou culpada de 21 acusações relacionadas à poluição, falsas declarações sobre essas ações e armazenamento ilegal de resíduos perigosos, representando muitos outros atos ilegais. As acusações foram formalizadas em seis Tribunais Distritais Federais nos locais afetados pela poluição.

Por este passado, digamos, no mínimo nebuloso da Royal Caribbean, é bom ficar de olho vivo na imensidão psicodélica flutuante.

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