Frutos do mar, 50% da produção mundial vem de fazendas
Como alimentar 10 bilhões de pessoas (em 2050)? A pergunta desafia formuladores de políticas e o público. Enquanto isso, a demanda por frutos do mar aumenta em todo o mundo. A aquicultura, ou agricultura aquática, cada vez mais atende a essa demanda e agora fornece pouco mais de 50% de todos os frutos do mar globalmente. Este tem sido um dos setores de alimentos que mais cresce no mundo. Apesar disso, é preciso saber a origem do produto antes de comprá-lo. Aqueles que vêm do Oriente, cuja produção é alta, estão repletos de fezes. Post, a partir de matéria do New York Times.
580 espécies aquáticas cultivadas em todo o mundo
A FAO diz que, “Cerca de 580 espécies aquáticas são atualmente cultivadas em todo o mundo, representando uma riqueza de diversidade genética dentro e entre espécies. A aquicultura é praticada por alguns dos agricultores mais pobres dos países em desenvolvimento e por empresas multinacionais. Comer peixe faz parte da tradição cultural de muitas pessoas. E, em termos de benefícios para a saúde, tem um excelente perfil nutricional. É uma boa fonte de proteínas, ácidos graxos, vitaminas, minerais e micronutrientes essenciais. As plantas aquáticas, como as algas marinhas, também são um recurso importante para a aquicultura, fornecem nutrição, meios de subsistência e outros usos industriais importantes.”
Persistem alguns problemas na aquacultura
Ainda que seja vista como tábua de salvação para a alimentação mundial, a atividade tem problemas sérios para resolver. A revista Forbes, em matéria de Maio de 2019, elenca quais são. A prevenção de doenças, entrega de vacinas, substituição de farinha de peixe, soluções de sustentabilidade (incluindo agricultura de ciclo fechado) e gerenciamento da cadeia de suprimentos.
A prevenção de doenças
A prevenção de doenças é um aspecto crítico da aquicultura. A mudança da temperatura dos oceanos e da qualidade da água tornam os animais e as plantas mais estressados e suscetíveis a doenças. Mas falta inovação na prevenção em comparação com a agricultura baseada em terra. Agricultores de alimentos terrestres podem implantar facilmente dezenas de vacinas e soluções preventivas. Já a aquicultura tem menos opções e desafios significativos de entrega. As vacinas ainda são administradas à mão. E simplesmente não há boas medidas preventivas para muitas das pragas.
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Outra inovação promissora no combate à prevenção de doenças é a entrega oral de vacinas como alternativa à injeção manual de mão-de-obra intensiva, em que cada animal recebe individualmente uma vacina. Algum progresso foi feito através da introdução de sistemas de injeção mecânica. Mas lidar com o estresse continua sendo um problema. Entrega oral seria um benefício em termos de eficiência e facilidade de uso. É adequado para todas as idades e tamanhos de peixes. Reduz o manejo e os danos aos peixes, pode ser usado repetitivamente à medida que os peixes amadurecem e podem se mostrar menos dispendiosos, ao mesmo tempo em que geram menores taxas de mortalidade.
Substituição de farinha de peixe
A maioria dos alimentos depende muito de farinha de peixe e óleo de peixe feitos de partes de peixes recicladas. Ricos em nutrientes, estes suplementos alimentares para as criações resultam em animais marinhos e terrestres grandes e saudáveis (o uso é dividido uniformemente entre animais terrestres e aquáticos). Mas a sobrepesca está colocando os suprimentos em risco. No ritmo que a aquicultura está crescendo, os suprimentos tradicionais de farinha de peixe provavelmente não acompanharão a demanda. Soluções à base de plantas – concentrados de proteína de soja por exemplo – estão em desenvolvimento. A ração de algas é outra opção interessante e em desenvolvimento. É parte natural da cadeia alimentar do pescado.
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A tão almejada sustentabilidade
Enfrentando ameaças de sobrepesca, aquecimento dos oceanos e resíduos tóxicos, os produtores de aquicultura estão buscando aumentar a sustentabilidade econômica, ambiental e social. A incorporação do controle de qualidade da água, a conservação, o uso eficiente da farinha de peixe e os comportamentos responsáveis pela terceirização fazem parte dessa equação. A agricultura de ciclo fechado baseada em terra, também conhecida como sistemas de recirculação de aquacultura, combina a piscicultura com outras técnicas de agricultura de aquacultura. Os benefícios da agricultura de ciclo fechado incluem: menos geração de poluição, menor consumo de recursos naturais e menor disseminação de doenças e espécies invasivas.
O declínio mundial da pesca
Há anos o Mar Sem Fim alerta sobre isso. Depois de nossa primeira viagem pela costa brasileira, temos dito que ‘este século verá o fim da pesca industrial, e o começo de outra extração perigosa, a extração mineral dos oceanos‘. Hoje isso é consenso entre pesquisadores. Mas, quais seriam os parâmetros de uma dieta saudável e sustentável, capaz de alimentar as quase 10 bilhões de pessoas que devem habitar o mundo já em 2050? Em 1900, dois terços da proteína consumida pelos americanos eram de origem vegetal, e não animal. Já em 1985, essa proporção tinha se invertido, com mais de dois terços da proteína vindos de origens animais, principalmente a carne bovina. Esses animais consomem até quatro quilos de grãos para produzir meio quilo de carne, gerando toneladas de gases-estufa no processo, enquanto suas calorias e gorduras saturadas contribuem muito para a alta incidência de doenças crônicas.
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Em editorial, a revista Lancet publicou: “A produção intensiva de carne se encontra em uma trajetória irresistível que representa o principal fator que contribui para a mudança climática. As dietas predominantes da humanidade fazem mal para nós, e prejudicam o planeta”. A reportagem da Lancet não insiste para que todos se tornem vegetarianos nem veganos. Mas define como meta uma redução no consumo de carne vermelha dos países ricos – principalmente a carne de vaca e cordeiro – a uma porção de 85 gramas por semana, ou uma porção de 170 gramas a cada duas semanas. Então, se não podemos continuar a usar a proteína extraída de rebanhos, como substituí-la?
Frutos do mar cultivados como fonte principal de alimento de origem animal
Se a criação de peixes ainda está longe de ser sustentável, sobra a criação de frutos do mar. Uma única porção de 150 g de frutos do mar pode fornecer 60% da necessidade diária de proteína de uma pessoa (saiba mais).O melhor de tudo é que a criação em fazendas de frutos do mar é muito menos problemática que a criação de peixes. Muitos dos organismos são filtrantes, não dependem de farinha de peixe, por exemplo, para alimentação. É algo promissor para um futuro próximo.
Maricultura no Brasil
Ainda é incipiente. Noventa por cento dela localiza-se em Santa Catarina, exceção à carcinicultura cujas maiores fazendas ficam no Nordeste e são altamente impactantes ao meio ambiente. As modalidades de frutos do mar mais significativas em Santa Catarina são o cultivo da ostra, do mexilhão, e um pouco de vieira e algas. Está faltando a mão empresarial na criação de frutos do mar no Brasil algo que, a julgar pelo extraordinário crescimento da atividade em todo o mundo, deve acontecer por aqui em breve.
imagem de abertura – cultivo de mexilhões em Santa Catarina.
Fontes – http://www.fao.org/aquaculture/en/; https://www.forbes.com/sites/michaelhelmstetter/2019/05/29/5-innovations-in-aquaculture-worth-catching-on-to-now/#3bb5054a431f; https://blogs.scientificamerican.com/observations/its-time-to-be-honest-about-seafood/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=weekly-review&utm_content=link&utm_term=2019-05-29_featured-this-week; https://internacional.estadao.com.br/noticias/nytiw,carne-bovina-contribui-para-doencas-e-mudanca-climatica-diz-estudo,7000280610.
Na reigião de Cananéia havia uma cooperativa de quilombolas que faziam o manejo sustentável da ostra nativa. Além de serem uma delícia as ostras duram uma semana FORA DA GELADEIRA vivas e frescas. Chamava Cooperostra, não sei se existe ainda.
Como coluna de importante alcance e relevância como formador de opinião sugiro que sejam feitos comentários de maior profundidade sobre os impactos ambientais.
Como traduzido na reportagem demonstrando a atividade de carcinicultura sendo de alto impacto ambiental. Não excluindo os impactos da atividade, porém é expressivo o aumento de sustentabilidade da atividade. Regulamentadas através das resoluções Conama 430 e licenciamentos ambientais estaduais exigentes.
Destaco ainda que os impactos antigos causados pela derrubada de manguezais para construção não se fazem presentes pela característica do solo imprópria para construção e manutenção de qualidade de água durante a produção. Além de que com a chegada de doenças como a mancha branca fez com que os cultivos reduzissem densidades de estocagem minimizando o potencial poluidor dos efluentes. Em contraste, os cultivos intensivos contam como uso de tecnologia bioflocos, reduzindo o uso de água e aumentando a eficiência do processo. Em todos os casos para os cultivos (extensivo ou intensivo) há necessidade de se regulamentar conforme a legislação vigente com projetos contendo lagoas de estabilização para o tratamento de água e barreiras para evitar a fuga de espécies.