Estrada do Colono ameaça Parque Nacional do Iguaçu

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Estrada do Colono ameaça Parque Nacional do Iguaçu

A Câmara dos Deputados pautou para quarta-feira, 2 de junho, mais um tema ambiental polêmico e desnecessário, a reabertura da Estrada do Colono, que vai cortar ao meio a última grande reserva de Mata Atlântica do interior do País até agora bem protegida pelo Parque Nacional do Iguaçu, considerado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO.

Imagem do Parque nacional do Iguaçu
Imagem, conexaoplaneta.com.br.

Estrada do Colono ameaça Parque Nacional do Iguaçu

Fechada há mais de duas décadas por decisão judicial, não há o que justifique sua reabertura especialmente no momento em que o mundo parece disposto a lutar para mitigar os efeitos do aquecimento global amenizados pelas florestas tropicais.

Imagem da Estrada do Colono
O que são 79 km em comparação com a biodiversidade que está em jogo? Imagem, santahelena.portaldacidade.com.

A ideia de reabrir a Estrada do Colono ganhou força desde que no final de 2020 o ‘ministro’ do Meio Ambiente esteve em Iguaçu em reunião com o deputado Vermelho (PSD/PR). Ele é o autor do Projeto de Lei 984/19 incluído na pauta da Câmara em regime de urgência. Não é preciso dizer que o presidente que despreza a conservação apoia a reabertura da estrada.

Pequena história da Estrada do Colono

Há muitos anos esta estrada, que corta o parque onde vivem espécies ameaçadas como a onça-pintada entre muitas outras, é a grande ameaça. Ela foi aberta em 1950, batizada como BR-495, e seu fechamento foi determinado pela Justiça na década de 1990 por reconhecer que ela era um vetor de desmatamento, caça, contrabando, e tráfico de armas e drogas entre outras atividades ilegais.

Para os defensores de sua reabertura, a estrada facilitaria o tráfego de veículos de passeio e o escoamento da produção da agricultura local. Segundo a Folha, ‘o trajeto de 100 km por dentro do parque ligava os municípios de Serranópolis a Capanema. Hoje a distância pelas rodovias que contornam a área protegida é de 179 km’

Como dissemos, faz muitos anos que políticos da região insistem em reabrir a estrada. A questão foi judicializada e chegou ao STF que negou recurso para tanto. A questão é definitiva, não cabe mais recurso.

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Por este motivo o deputado “Vermelho” entrou com o Projeto de Lei para criação da esdrúxula figura de ‘estrada-parque’.

Nós conversamos com Mário Mantovani, diretor de políticas públicas da SOS Mata Atlântica. Mário contou que quando o ‘ministro’ esteve  em Iguaçu em 2020, provavelmente pela primeira vez como demonstra seu notório desinteresse e abissal ignorância sobre o tema da conservação, a reprodução do inferno ou o ‘Vermelho’, aliou-se ao governador Ratinho Jr.

Interesses escusos

Para Mário Mantovani, ambos têm interesses escusos.  Querem mudar a gestão atual do Parque para algum apadrinhado, sob alegação de que parte da área pertence ao Paraná por uma Lei Estadual perdida no tempo;  e transferir  recursos hoje arrecadados, que vão direto para ICMBio, para o caixa do Governo do Estado.

Foi o que sugeriu Mantovani. “Parte dos recursos da visitação passariam para o Estado, assim, para além da permanente chantagem da reabertura da  Estrada, esculacham de vez a gestão do nosso mais importante Parque Nacional.”

O que está em jogo com a abertura da estrada

Será mais uma ameaça para a perda de biodiversidade que se verifica em todo o mundo, e mais um problema para a imagem externa do Brasil.

Segundo a Folha de S. Paulo, ‘em 2014, um relatório da Unesco voltou a expressar preocupação com a possível reabertura da estrada e lembrou que “a conservação da biodiversidade na mata atlântica é uma prioridade global e razão principal para a inclusão da região na lista de patrimônios da humanidade, para além das impressionantes cataratas.”

Internamente também houve reações negativas ao projeto de Vermelho. Para começar o Ministério Público Federal se mostrou contrário à reabertura, assim como o Ministério Público do Paraná que alertou por sua inconstitucionalidade, e que também publicou Nota Técnica condenando a reabertura da estrada.

Mas talvez seja por isso mesmo, manifestações contrárias e embasadas, interna e externamente, que o projeto segue para avaliação dos deputados nesta quarta-feira. Este parece ser o esporte predileto da atual administração: criar polêmicas e crises que nada acrescentam, e que põem em risco o maior ativo brasileiro: sua extraordinária biodiversidade.

Imagem de abertura: conexaoplaneta.com.br

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/04/parlamentares-querem-estrada-parque-em-area-com-bichos-ameacados-no-iguacu.shtml.

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Comentários

5 COMENTÁRIOS

  1. Como morador lindeiro ao PNI no município de Serranópolis do Iguaçu e que “poderia” ser um dos beneficiados por esta estrada, digo que sou absolutamente contrário a sua reabertura. Aqui moramos no paraíso e com esse parque maravilhoso próximo e que inclusive temos a permissão de caminhar ou pedalar por ele através de trilhas (trilha da Onça).

  2. Hoje há pouca sinergia ou complementaridade econômica entre os municípios próximos, porém separados pelo Parque Nacional do Iguaçu, que seriam ligados por essa estrada-parque. Seus moradores seriam beneficiados por não precisar contornar o Parque. Porém, para municipios ou regiões mais distantes (ao norte e ao sul do Parque), a via natural é a BR-163, a leste do Parque, que está sendo duplicada.
    Não creio que haja razão econômica investir uns R$ 150-200 milhões (por baixo) nessa rodovia paralela, a +-40 km da BR-163. Talvez fosse mais adequado estabelecer alguma compensação aos moradores obrigados a contornar o Parque, como isenção de pedágio na BR-277 e, futuramente, na BR-163.

  3. VAMOS DESMATAR À VONTADE PARA PASSAR COM AS BOIADAS. O BRASIL DO FUTURO??? QUE SE F%¨&M! VOTAM SEM RESPONSABILIDADES ENTÃO NÃO SE QUEIXEM.

  4. Infelizmente essa uma realidade dos parques nacionais do Brasil, ameaçados por grileiros, latifundiários, garimpeiros e outros asseclas dos políticos corruptos que infestam O planalto, as Congresso e as Assembleias Legislativas.

  5. Bom dia, João. Tudo bem? Vi um editorial sobre a Mata Atlântica no outro dia e um ponto me chamou a atenção. O bioma cobre vários estados da federação e precisa de uma atuação integrada para que sua preservação seja mais efetiva. Seria possível trabalhar pela criação de uma espécie de consórcio de Governadores da Mata Atlântica? Talvez nos moldes de alguns que cuidam de bacias hidrográficas. Não sei se faz sentido isso, se é viável politicamente ou até se já há iniciativas nesse sentido. Abraços

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