Censura no ICMBio, e outras más notícias ambientais

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Censura no ICMBio, e outras más notícias ambientais

O descaso e o negacionismo produziram uma catástrofe tão forte na saúde pública que as más notícias ambientais foram quase eclipsadas. Mas elas continuam pródigas no governo federal. Parece que  atravessamos um raro momento de tranquilidade depois que cessaram os violentos incêndios na Amazônia e Pantanal com a chegada do período das chuvas. Apenas parece. As manchetes, antes ocupadas pelo desgoverno ambiental, foram desbancadas pelo descalabro na saúde pública. Mas a censura no ICMBio, e outras más notícias ambientais são a ponta do iceberg de que teremos mais problemas nesta sensível área em 2021. Post de opinião.

Imagem de Jari Bolsonaro e Ricardo Salles
A dupla que nos envergonha. Mas a ‘culpa’ é da ‘narrativa esquerdista’. O que os satélites registraram na Amazônia não passam de mentiras. Imagem Adriano Machado/ Reuters.

Censura no ICMBio, e outras más notícias ambientais

A censura não é exatamente nova na gestão Bolsonaro. Em março de 2019, pouco depois de ter assumido o ministério do Meio Ambiente, Ricardo Salles impôs a mordaça às equipes do Ibama e ICMBio. Pela primeira vez desde a redemocratização funcionários federais ficaram proibidos de darem entrevistas.

Depois de passar meses agredindo publicamente a própria equipe, Salles decidiu-se pela proibição pura e simples. Seguiu o estilo autoritário de seu chefe. “Ibama e ICMBio, não se manifestem publicamente sem submeter, previamente, todas suas informações ao ministério”, foi a orientação que prevalece até hoje.

Mas agora a situação piorou. Nestes dois anos de trapalhadas e demonstrações explícitas de despreparo para o cargo, com estragos recordes de desmatamento e incêndios ilegais na Amazônia e Pantanal, e aparelhamento do ministério com a troca de técnicos concursados por militares, a nova investida é contra o ICMBio.

Portaria 151 institui a censura no ICMBio

Portaria do ICMBio (Nº 151), de 10 de março, obriga pesquisadores do órgão a submeter sua produção científica para a aprovação de uma diretoria antes de ser publicada. A portaria delega ao diretor de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade (Dibio) do IMCBio ‘a competência para autorizar previamente a publicação de manuscritos, textos e compilados científicos produzidos no âmbito e para este Instituto em periódicos, edições especializadas, anais de eventos e afins’.

A Dibio é chefiada por outro PM, o tenente-coronel da reserva Marcos Aurélio Venancio. Denis Rivas, presidente da Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente, Ascema, ouvido pela Folha de S. Paulo disse que ‘é uma tentativa de controlar não só a produção acadêmica como também a opinião dos servidores’.

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‘Mordaça aos servidores’ ou a censura no ICMBio

Segundo a Folha, ‘a Ascema classifica de ‘mordaça aos servidores’ o código de ética do ICMBio’. Já o governo diz que ‘a portaria abrange apenas artigos destinados a publicações oficiais do órgão’.

‘Mas’, diz o jornal, ‘no entendimento dos servidores ouvidos pela reportagem, a portaria impactará dezenas de servidores que realizam pesquisas científicas em paralelo ao trabalho no ICMBio, incluindo os que cursam pós-graduação’.

O Mar Sem Fim entende como mais uma ação descabida e danosa ao aparato ambiental federal. Vamos recordar que esta não é uma medida isolada, mas em série com o desmonte provocado desde o primeiro dia de mandato do atual ‘ministro’. Houve demissões em massa, aparelhamento com militares, extinção de conselhos, perdas de órgãos, e desmonte generalizado do aparato legal.

O resultado da ‘política ambiental’  são dois anos seguidos de destruição sem precedentes de nossos biomas terrestres, e descrédito internacional no momento em que o mundo finalmente se dispõe a enfrentar o aquecimento global e a rápida perda de biodiversidade no planeta.

Mas esta é apenas uma parte das más notícias no campo ambiental.

Carla Zambelli, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara

Carla Zambelli (PSL/SP), que como seus colegas do alto escalão Bolsonarista sempre negou o aquecimento global, ganhou de presente pela obsessão, pela ignorância a Comissão de Meio Ambiente da Câmara em 12 de março.

Imagem de Carla Zambelli
O que esperar de alguém que posa assim para um jornal? Imagem, DIDA SAMPAIO/ESTADÃO.

É uma comissão importante por onde passam projetos que versam sobre modificações no Código Florestal, regularização fundiária, licenciamento ambiental, alterações ou criação de novas unidades de conservação, etc.

É pela comissão que também passam alguns dos Projetos de Lei já prontos como o PL 6268/2016 que trata da liberação de pecuária em reservas legais, o PL 364/2019 que tira a proteção dos campos de altitude, o PL 1205/2019 que acaba com as zonas de amortecimento de unidades de conservação, e uma infinidade de outras ameaças.

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As responsáveis pela devastação na Amazônia são as ONGs

Para a senhora armada, ‘as responsáveis pela devastação na Amazônia são as ONGs’, como lembrou O Estado de S. Paulo em editorial. “Zambelli, em sua primeira legislatura, já declarou na ONU que as responsáveis pela devastação na Amazônia são as ONGs e que “nunca a Amazônia queimou tão pouco” nos últimos 20 anos.”

Pois é, os dados de satélites mentem. A verdade está na diminuta mente da deputada. O fogo na Amazônia e Pantanal foi responsabilidade de ONGs!!

Como alertou Suely Araújo, ex-presidente do Ibama, depois que Zambelli foi alçada à presidência da comissão,  “a pressão será sentida no sentido de que as boiadas de Ricardo Salles sejam concretizadas também na arena legislativa.”

Em entrevista a Camila Turtelli, no Estado de S. Paulo, Zambelli disse que ‘a responsabilidade pela alta do desmatamento é de mudança climática, e não do governo Bolsonaro’.

O negacionismo de Zambelli deu um tempo?

O negacionismo de Zambelli, que também é alvo no inquérito das Fake News, deu um tempo? ‘Não acho que qualquer aumento de desmatamento ou de queimada seja culpa do governo. Foi uma circunstância. Acho que o governo atuou da melhor maneira possível.’

Perguntada sobre a imagem externa de Bolsonaro e Salles, recorreu à palavra em moda quando a questão é cobrar resultados do governo. Para Carla Zambelli a culpa é da ‘narrativa’.

Posando para o jornal com uma pistola 380 na mão, Zambelli não se envergonha e culpa a ‘narrativa’, apesar dos dados de satélites que mostram aumento de 34% no desmatamento entre agosto de 2019 e julho de 2020.

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‘Tudo na política é uma questão de construção de narrativa. Os conservadores são vistos dessa forma pelos esquerdistas, mas também temos um público que nos enxerga com bastante esperança. O maior índice de queimada ocorreu quando a Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente (no governo Lula). Eu rebato crítica com ações’.

O desgoverno promovido por Bolsonaro continua firme e forte, e sua obsessão em culpar ONGs e ambientalistas por seu fracasso, ganhando adeptos na Câmara dos Deputados, sinaliza mais problemas para a área ambiental em 2021.

É lamentável o desserviço que Bolsonaro e seus comparsas prestam ao País. Quem ganha com isso?, responda quem for capaz.

Imagem de abertura: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Fontes: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,o-desgoverno-chega-as-comissoes,70003646860?utm_source=facebook%3Anewsfeed&utm_medium=social-organic&utm_campaign=redes-sociais%3A032021%3Ae&utm_content=%3A%3A%3A&utm_term=&fbclid=IwAR08nzXE8TvCmbfan2K0Ge1rbDN92wDtGE8kf_9dA_FOISZC_QffqsH7wx8; https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,nao-acho-que-aumento-de-desmatamento-ou-de-queimada-seja-culpa-do-governo-diz-zambelli,70003646192;

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Comentários

2 COMENTÁRIOS

  1. Estão agora comandado como a exploração econômica ao máximo, não importando o impacto ambiental fosse meros detalhes. A visão é que a proteção ao meio ambiente leva o atraso e paralisa o crescimento econômico, e assim será, pois, é a política governamental de hoje .

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