❯❯ Acessar versão original

Ambientalistas no Brasil, uma visão crítica

Ambientalistas, uma análise crítica

Esta matéria é dedicada a você que se interessa pelas questões ambientais, mas não participa — ou talvez não conheça — as entranhas do movimento ambientalista brasileiro. Ambientalistas no Brasil: uma visão crítica é um post de opinião que busca mostrar como enxergamos parte dessa realidade.

Não pretendemos seguir um cronograma histórico rígido. Queremos apenas compartilhar como os fatos nos pareceram acontecer, reunindo lembranças e impressões sem outra pretensão além de dividir a visão pessoal do Mar Sem Fim com quem nos dá o privilégio da confiança. Afinal, como tudo começou? Por que surgiu? Quais eram seus objetivos iniciais?

Se nossa visão está certa, parcialmente certa ou errada, cabe ao público julgar. O que garantimos é total honestidade intelectual.

Sobre este post de opinião

Este post foi escrito em janeiro de 2017 e atualizado em 2022, depois de mais de dez anos de investigação no mar e na zona costeira. Nesse período, aprendi muito sobre a questão ambiental, as unidades de conservação, os conflitos, as leis de ocupação e uso do solo, entre outros temas.

A ideia é propor uma crítica construtiva, provocar reflexão sobre posturas repetitivas que observei ao longo desses anos — e que, acredito, continuam atuais até hoje.

Pra começar, vale lembrar que os “ambientalistas” não são piores nem melhores que qualquer outro grupo humano. São iguais. Como todos, têm virtudes e defeitos. Este texto busca mostrar algumas das fragilidades de quem se envolve com a causa ambiental.

Ambientalistas, uma análise crítica, e o compromisso ético de nossa geração

Nossa geração tem um compromisso ético com o meio ambiente porque vive o fenômeno da superpopulação — somos quase 8 bilhões de inquilinos — e, pior, mantém hábitos de consumo insustentáveis.

Ninguém duvida disso. Por isso se fala tanto em “sustentabilidade”, “consumo responsável” e, mais recentemente, na sigla “ESG” (environmental, social and governance, em inglês), que define a nova e esperada governança corporativa, ambiental e social — além de outras expressões semelhantes que hoje permeiam toda a sociedade.

Anos 70, início do ‘movimento ambientalista’ moderno

Vale lembrar que o concerto das nações reconhece há mais de 50 anos que nossos hábitos são insustentáveis.

Não por acaso, em 1972, ao final da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo (Suécia) — um marco do ambientalismo moderno —, a declaração final (parágrafo sexto) ressaltou que

…chegamos a um ponto na História em que devemos moldar nossas ações em todo o mundo, com maior atenção para as consequências ambientais. Através da ignorância ou da indiferença podemos causar danos maciços e irreversíveis ao meio ambiente, do qual nossa vida e bem-estar dependem…

No mesmo ano a Organização das Nações Unidas criou o seu Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, PNUMA com um objetivo bem definido

promover a conservação do meio ambiente e o uso eficiente de recursos no contexto do desenvolvimento sustentável

A reposta brasileira ao desafio da ONU

É certo que, antes da Conferência de Estocolmo, governos e ONGs já demonstravam preocupação com as questões ambientais. No Brasil, o governo criou o Estatuto da Terra em 1964, o Código Florestal em 1965, a Lei da Pesca em 1967 e o Estatuto de Proteção à Fauna também em 1967.

Todas essas medidas antecederam a Conferência de Estocolmo. Outro marco importante foi a atuação de  Paulo Nogueira Neto que convenceu o presidente Médici a criar, em 1973, a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema), vinculada ao Ministério do Interior. À frente do órgão até 1985, Nogueira Neto estruturou a legislação e os órgãos administrativos da área ambiental no País.

Foi o germe do Ministério do Meio Ambiente, finalmente criado em 1992.

O Almirante Ibsen de Gusmão Câmara e o mar

Outro titã do ambientalismo brasileiro, como bem lembrou o leitor Anand Sampurno nos comentários (abaixo do post), e também reverenciado neste site por ocasião de sua morte aos 90 anos, com mais de quatro décadas dedicadas à causa ambiental.

O almirante Ibsen de Gusmão Câmara presidiu a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza. Participou do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e foi conselheiro de inúmeras organizações ambientais. Ele também é considerado um dos fundadores do conservacionismo no Brasil.

Entre seus feitos, destacam-se a liderança na campanha contra a caça de baleias no Brasil e a defesa intransigente das Unidades de Conservação nos biomas marinho e amazônico. Foi também graças a ele que o País criou seu primeiro parque marinho nacional: a Reserva Biológica do Atol das Rocas.

Todos esses pioneiros tinham algo que às vezes falta hoje — espírito público e visão de conjunto. De nada adianta salvar o Cerrado e deixar o Pampa ou o bioma marinho minguarem. Todos os biomas têm a mesma importância quando o que prevalece é a questão ambiental, acima de qualquer interesse local, por mais legítimo que seja.

Maria Tereza Jorge Pádua

O Mar Sem Fim se desculpa por ter esquecido, na primeira versão deste texto, de citar esse grande brasileiro — um lapso de memória. Como dissemos no início, “não pretendemos reconstituir um cronograma histórico rígido”.

Mas nos redimimos após a lembrança de um leitor e incluímos não apenas ele, como também uma mulher que trabalhou ao lado de Ibsen e a quem também devemos muito: Maria Tereza  Jorge Pádua, outra figura emblemática e íntegra do ambientalismo brasileiro.

Maria Tereza foi uma das responsáveis pela criação de oito milhões de hectares de áreas protegidas na Amazônia ainda nos anos 1970. Desde 2015, ela já alertava este site: “Não há pressão política, nem educação adequada, para que possamos exigir uma efetiva política ambiental.” E concluía: “O meio ambiente nunca foi prioridade no Brasil.”

A ação da sociedade civil

Pelo lado civil, não foi diferente. Entre muitas outras, a União Protetora do Ambiente Natural (UPAN) nasceu em 1955, criada por Henrique Roessler no Rio Grande do Sul; e a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN), no Rio de Janeiro, surgiu em 1958.

O marco, porém, foi aquele encontro, considerado a primeira iniciativa global voltada à preservação ambiental. A resposta veio rápido: várias ONGs internacionais abriram filiais no Brasil — como Greenpeace, WWF e Conservation International — e novas organizações brasileiras também surgiram.

Entre elas a SOS Mata Atlântica (1986), Amigos da Terra – Amazônia Brasileira (1989), Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (1992), Instituto Socioambiental, ISA (1994), Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (1999), Instituto Akatu (2001), etc.

Anos 80: meio ambiente em alta

Quem viveu, sente saudades. Havia mobilização geral. O público reagia, a grande imprensa dava destaque, a conscientização crescia. Os ambientalistas inspiravam-se uns nos outros.

Mas houve um erro pelo qual pagamos até hoje: o mundo se esqueceu do mar e do litoral. Cem por cento das ONGs e do público voltaram-se apenas para a proteção do continente.

Biodieversidade em questão. (Imagem: webnode)

Ambientalistas, uma visão crítica, e algumas consequências do “movimento” de então

Pelo menos nossos biomas mais importantes ganharam visibilidade. A Mata Atlântica, com sua incrível biodiversidade, subiu ao topo das preocupações — até então, quase só se falava na Amazônia. O Cerrado também ganhou destaque, assim como o Pampa, o Pantanal e a Caatinga.

A grande imprensa se engajou na luta. Entre os jornais vale lembrar o saudoso Jornal da Tarde que deu imensa contribuição especialmente, mas não apenas, para a questão da Mata Atlântica.

Os governos foram pressionados — e reagiram. Em São Paulo, Franco Montoro tombou a Serra do Mar e sua cobertura de Mata Atlântica. O gesto foi seguido por José Richa, no Paraná.

A pressão pelo fim do desmatamento na Amazônia ganhou força extraordinária. O Pantanal virou coqueluche, e, pouco a pouco, as pessoas começaram a visitar nossos biomas. Havia idealismo no ar.

Anos 90 até o fim do século passado

As empresas começaram a se preocupar com seus processos e, diante do engajamento da opinião pública, algumas passaram a fazer doações que deram novo fôlego às ONGs.

O Brasil, país com a maior biodiversidade do planeta, ganhou destaque mundial com a Rio-92. A conferência da ONU, realizada no Rio de Janeiro, virou manchete nacional e internacional. A partir dela, os brasileiros passaram a compreender melhor as questões ambientais e o papel do país nesse debate.

Em 1992, São Paulo deu um novo exemplo ao abraçar a causa do Tietê, que até então dormia na mente do paulistano. Faltava um empurrão para transformar o desejo em ação — e foi o que aconteceu. Sem querer, acabei tendo um papel destacado nessa mobilização.

Naquela época não havia egoísmo nem comodismo. O engajamento da sociedade foi total: população, imprensa, ONGs e governos atuaram juntos.

O movimento foi tão forte que o Núcleo União Pró Tietê completa 30 anos, sempre sob a liderança da SOS Mata Atlântica — a mais notável ONG do País, a nosso ver. Apesar das três décadas de campanha, a despoluição completa ainda está longe.

Faltam investimentos consistentes em saneamento básico nos municípios às margens do rio. E ainda serão necessários muitos anos de esforço se quisermos ver o Tietê limpo e saudável novamente.

Mas houve outra novidade: nos anos 90, o mar e a zona costeira começaram a conquistar seu merecido reconhecimento — tanto na mídia quanto na consciência da população, ou pelo menos de parte dela.

A virada do século – ambientalistas, uma visão crítica

Entramos no século 21. A tecnologia passou a dominar nossas vidas. O mundo encolheu e a população mundial explodiu, enquanto os recursos naturais diminuem de forma alarmante. O mar e a zona costeira, finalmente, ganham destaque na mídia.

Surgem ONGs no exterior — muitas criadas ainda antes da virada do milênio — dedicadas exclusivamente ao “maior e mais importante ecossistema do planeta”. Outras, que antes cuidavam apenas do meio ambiente continental, ampliam sua atuação e lançam campanhas voltadas para o mar.

A participação do Mar Sem Fim

O www.marsemfim.com.br ganhava importância graças ao vasto conteúdo em vídeo — cerca de 50 horas de documentários inéditos, filmados do rio Oiapoque ao arroio Chuí.

Duas ONGs nos chamaram, pediram o material que foi cedido, o mesmo  disponibilizado neste site. Nasciam as primeiras ações para o mar e zona costeira por parte de grandes ONGs.

É verdade que já existiam algumas, poucas, atuando em defesa do mar. Mas fomos pioneiros na mídia ao chamar atenção para o descaso histórico com o espaço marítimo brasileiro.

Em 2010 começou uma guerra desnecessária entre dois segmentos da sociedade: ambientalistas e agronegócio. O estopim foi a reforma do Código Florestal, entre 2010 e 2012. Houve radicalismo dos dois lados — e quem perdeu foi o Brasil.

Tanto o agronegócio quanto um meio ambiente saudável são fundamentais e se complementam. Mesmo assim, muitos ambientalistas generalizaram seus ataques, mirando apenas no agronegócio e, com isso, confundindo o público.

Mais um erro que cresceu depois que ficou evidente: o País depende desse setor da economia para não entrar em colapso. É claro que a maior culpa pela devastação recai sobre quadrilhas de grileiros e outros grupos de criminosos.

Negar essa realidade é, para este site, inaceitável. Equivale ao que Bolsonaro fez ao desprezar a ciência e a importância de um meio ambiente íntegro. Está mais que comprovado que o agronegócio cresce ano após ano por mérito próprio, com ganhos de produtividade. Esse novo equívoco apenas reforça a necessidade de uma crítica aos “ambientalistas” entre aspas.

Ambientalistas, uma visão crítica, o século 21

Parte das ONGs e dos ambientalistas, que até então tiveram papel importante, decepcionou na virada do século ao se afastar dos objetivos dos pioneiros — aqueles que defendiam um meio ambiente saudável em convivência harmoniosa com o aumento de empregos e renda no campo.

Enquanto isso, o Brasil mergulhava em sua pior crise financeira e moral, que dividiu a sociedade. O PT foi desmascarado, e faltava dinheiro até para os serviços mais básicos.

Para alguns ambientalistas, a corrupção generalizada parecia nem existir, como se suas consequências não tivessem afetado o meio ambiente — nem as verbas destinadas às unidades de conservação, nem a reposição de cargos essenciais no Ibama e no ICMBio. Sem falar na paralisação de inúmeros serviços públicos e programas do MMA.

Foi nesse contexto que começou o declínio do Ibama e do ICMBio, um processo que continua até hoje. Enquanto a lama subia, certos ambientalistas pareciam mais preocupados com salários do que com a causa ambiental. E algumas ONGs demonstravam o mesmo alheamento.

Por fim, o suplício terminou: Dilma Rousseff deixou o poder. Há consenso de que seu governo foi um dos piores para o meio ambiente — ao menos até a chegada de Ricardo Salles.

Temer na presidência

Temer assume em meio à pior crise política da história. Os partidos estão na berlinda, expostos pelas práticas patrimonialistas reveladas pela Lava Jato.

O clima é tenso. Ninguém sabe se o governo vai terminar, nem se o País vai quebrar ou conseguir se reerguer. O desemprego bate recorde, com mais de 12 milhões de pessoas sem trabalho.

A sociedade reage, apoia a Lava Jato e coloca o Brasil em primeiro lugar.

Zequinha Sarney e o carma do sobrenome

Zequinha Sarney assume o Ministério do Meio Ambiente. Apesar do sobrenome, Zequinha conquistou respeito dentro e fora do setor. Atuou com eficiência no governo FHC, e ambientalistas de renome o apontam como o melhor ministro do Meio Ambiente que o país já teve — posição que este site compartilha integralmente.

Zequinha torna Alcatrazes uma Unidade de Conservação depois de mais de 20 anos de luta. E toma  outras medidas há anos esperadas. Com elas cria inimizades no meio político. E desagrada o ‘baixo clero’, e alguns conservadores do agronegócio…

Os conservadores pedem a cabeça do ministro.

O panelaço a favor de Zequinha Sarney

Ambientalistas ainda ativos na causa organizaram uma reação contra as ameaças. Um “panelaço” foi combinado nas redes sociais, com data e hora marcadas, reunindo grupos, ONGs e ativistas convocados para participar.

O panelaço não acontece

E o que aconteceu? Nada — ou quase nada. A omissão serviu apenas para separar o joio do trigo e mostrar quem é quem. Mesmo aqueles que haviam apoiado a escolha de Sarney Filho recuaram, justamente num momento em que a união era absolutamente essencial.

O movimento ambiental se fragmenta ainda mais e perde força ao adotar o “cada um por si”. Nem sequer reage à fake news espalhada pelo Planalto, que dizia haver 820 mil ONGs “mamando nas tetas”. Não é verdade. Segundo a última edição dos dados do IBGE, o Brasil tem 237 mil ONGs — o que, convenhamos, já é bastante.

O ‘mea-culpa’ que falta aos ‘ambientalistas’ (com aspas porque há muitos outros sem elas)

Depois de um 2019 terrível para o meio ambiente, com uma administração ignorante e de má vontade, chegou a hora de um mea-culpa — que deveria vir, mas nunca virá — por parte dos “ambientalistas”, agora entre aspas, para diferenciá-los sem generalizar.

O governo federal não faz outra coisa senão demonizar ONGs e ambientalistas indistintamente, acusando-os de serem “aproveitadores de dinheiro público em benefício próprio”.

Ao mesmo tempo em que acusa indistintamente, o governo desmonta e aparelha o que resta dos órgãos ambientais, ameaça o status das poucas Unidades de Conservação do bioma marinho e ainda enfraquece regras importantes em algumas áreas terrestres.

Faz mais: ignora a legislação ambiental no combate às ilegalidades e, de forma deliberada, reduz a aplicação das sanções previstas.

E, pior, o governo estimula o garimpo ilegal e o desmatamento enquanto asfixia os órgãos ambientais.

Sobre a política ambiental de Bolsonaro, ONGs e ambientalistas hoje levantam a voz. Mas, quando ele ainda era candidato e ameaçava extinguir o MMA, poucos alertaram seus públicos ou protestaram.

Hora de pôr os pingos nos is.

Eleição de Jair Bolsonaro e a posição de ONGs e ambientalistas

Em outubro de 2018, em plena campanha eleitoral, publicamos o post Ministério do Meio Ambiente ameaçado por asneiras de Bolsonaro; ONGs emudecidas, e ambientalistas calados.

No parágrafo de abertura escrevemos: “Tudo tem limites. Desde o início das eleições temos sido brindados com todo tipo de demagogia, propostas estapafúrdias e desejos mal explicados de candidatos.”

“Um dos líderes do torneio de baixarias é o candidato maioral nas pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro. Uma de suas propostas mais disparatadas é transformar o Ministério do Meio Ambiente num apêndice do Ministério da Agricultura. A proposta não é apenas uma parvoíce, é vil!”

Quem mais denunciou?

Mais uma vez reiteramos: pode até ser que alguma ONG, e ou ambientalista, tenha publicado um repudio à época das sandices do candidato. Mas, se o fizeram, não vimos.

A desunião esfarela a força do ‘movimento ambiental’ que nem existe, é apenas uma forma de expressão deste escriba.

Incapaz de fazer frente aos desvarios e mentiras do governo, os ambientalistas sem aspas perdem força, e influenciam cada vez menos a opinião pública.

Desunião de um lado contra 41, 9 milhões de seguidores do outro

É certo que ninguém faz frente aos petardos certeiros (do ponto de vista do trabalho nas redes sociais) da família do presidente, do chefe de governo que por si só tem uma força imensa, e ainda conta com a ajuda de de ministros, ex-ministros, e 41, 9 milhões de seguidores nas redes sociais.

Com a impossibilidade de trabalharem juntas e alinhadas, por ‘incompatibilidade de gêneros’ leia-se interesses pessoais na frente dos ambientais, as ONGs atiram isoladamente pra todo lado, quando atiram; e mesmo quando acertam o alvo, erram.

Erram porque por mais que acertem um alvo não fazem cócegas na multidão de leigos que os consideram ‘vagabundos’, ‘dependentes de verbas públicas’, fruto da ‘narrativa’ que o governo consegue passar,  (colocando no mesmo balaio até mesmo ONGs que não aceitam patrocínios públicos).

Não aprenderam ainda que união faz a força. Ou, então, são egocêntricos demais. Ou serão as duas coisas?

Problemas jamais apontados pela vasta maioria dos ambientalistas: UCs às moscas

Depois de muito trabalho e dedicação, abri as caixas pretas das UCs federais brasileiras, a maioria das quais funciona no papel. A imprensa jamais havia feito investigação de tamanha envergadura. E nunca mais parei de denunciar os mal feitos.

Grande parte dessas unidades existe só no papel. Em muitas delas, os antigos proprietários das terras desapropriadas pela União ainda não receberam indenização — mesmo em áreas criadas há mais de 20 anos.

Por causa dessa tremenda (e pouco contada) mancada, muitas “áreas protegidas” não conseguem se proteger nem impor suas regras de conservação. É o caso do sublime Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no litoral médio do Rio Grande do Sul, entre várias outras UCs.

Poucas vezes vi ambientalistas alertando o público sobre esta omissão governamental ao criar UCs.  Parte dos ambientalistas foi, e continua sendo, omissa. Com isso produzem munição a ministros que tem por gosto a peleja.

A falta de fiscalização já foi denunciada pelos ‘ambientalistas’?

Você sabia que o Ibama, a quem cabe a fiscalização da costa brasileira, tem três barcos para a fiscalização?

Eu disse, três barcos para mais de 7 mil km!  Alguma vez, alguém do MMA denunciou o  descalabro? E quanto às ONGs e ativistas ambientais?

Plano de Manejo – inexiste na maioria das UCs, algum ‘ambientalista’ mostrou esta realidade?

O Plano de Manejo é um instrumento fundamental e indispensável para o bom funcionamento das unidades de conservação, pois define e orienta seus usos. No entanto, são raros nas UCs brasileiras.

Esse passivo aberto reflete a falta de pessoal, de infraestrutura e até das condições mínimas necessárias para manter íntegras as áreas protegidas.

Apesar disso, vi pouquíssimos ambientalistas explicarem essa realidade ao público leigo. Na opinião deste site, isso é uma obrigação, já que são especialistas e sabem que a maioria das pessoas sequer entende o que é um Plano de Manejo — muito menos desconfia de sua importância vital. Sem ele, pode-se dizer, a UC não avança um milímetro além de servir como fonte de conflitos.

Pode até ter havido alguma denúncia, mas eu mesmo nunca vi nenhum “deles” explicar publicamente esse ponto tão simples e importante.

Mangues extirpados no Nordeste para dar lugar à famigerada carcinicultura e nova omissão

Uma das grande surpresas desagradáveis que tive foi descobrir a famigerada carcinicultura. As fazendas de criação de camarão no Brasil são um acinte às leis ambientais. A vasta maioria se localiza no Nordeste, pelo clima favorável.

Só que os ‘fazendeiros’ decidiram arrancar os manguezais da região para ali construírem os tanques criatórios. E mangues são áreas públicas, protegidas pela legislação.

Embora os mangues sejam Áreas de Preservação Permanente, durante dez anos seguidos governos do Nordeste permitiram sua destruição, e nenhum ambientalista denunciou esse descalabro — pelo menos eu não vi.

Professores da academia o fizeram. Nativos, também. Mas, se algum ambientalista protestou, foram muito poucos, e mesmo assim não vi.

Até hoje as fazendas continuam lá. A maioria, de políticos, prefeitos, deputados e senadores. Até um ex-vice-presidente foi dono de uma das maiores.

Mas, tirando a academia, o silêncio da maioria dos ambientalistas persiste. Nas redes sociais, e mídia em geral, só vejo este site denunciando solitariamente.

Estatísticas da Pesca, e o silêncio de ‘ambientalistas’

Como alerto faz tempo, o Brasil é um dos três únicos países do mundo que, desde o governo Dilma, deixou de fazer estatísticas da pesca tão esperadas pela academia, e pelos fóruns internacionais como a FAO, por exemplo.

Porque você só consegue gerir a pesca, interna, ou externamente no caso da ONU, se souber o que acontece na atividade. Mas no Brasil, só vi o jornalista Herton Escobar, e este site, denunciando a baixaria.

Nunca vi um  ‘ambientalista’ alertando seus públicos sobre mais esta ‘excentricidade’ de Pindorama.

O Conselho do CONAMA, na verdade, uma assembleia impraticável

O Conselho Nacional do Meio Ambiente –  órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente-SISNAMA  instituído pela Lei 6.938/81 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente é presidido pelo ministro do Meio Ambiente, e sua Secretaria Executiva é exercida pelo Secretário-Executivo do MMA.

Pois bem, três meses depois de assumir a pasta, o ministro Ricardo Salles convocou uma reunião extraordinária do Conselho Nacional do Meio Ambiente, cuja pauta era a revisão do regimento interno.

O anúncio provocou um barulhão nas redes sociais: “Vão acabar com o Conama!”, “O ministro destruidor ataca de novo!”, e outras frases do tipo. Mas nenhuma das críticas mencionava o tamanho do conselho do Conama.

Pesquisando, descobri que o ministro queria mudar  Conselho do Conama que era formado por nada menos que 96 pessoas! Convenhamos, isso não é conselho é assembleia!

Se eu fosse o ministro, também mudaria. Raríssimas vezes vi ambientalistas criticarem o fato de o Conama funcionar como uma assembleia com quase cem pessoas. Se eu, que sou do ramo, não sabia, imagine o público leigo.

O que fez o ex-ministro? Reduziu o total de 96 para 23 conselheiros. E, aproveitando o desconhecimento do público e a omissão dos já citados “ambientalistas”, deu um golpe ao alterar também a representatividade do conselho.

Na versão de Salles, a sociedade e a academia perderam espaço, enquanto o governo ampliou sua influência. E o público, convencido pela “narrativa” oficial, ainda atacou quem ousou criticar nas redes sociais.

Mais uma vez, choveram ofensas como “vagabundos”, “acabou a grana”, “não tem mais mamata” e outras do mesmo tipo.

Grande parte dessa percepção distorcida nasce da omissão dos “ambientalistas”, que nunca atuaram de forma unida nem construíram uma estratégia comum de defesa — e tampouco denunciaram o absurdo de um conselho com 96 membros.

Críticas do ex-ministro Ricardo Salles à criação de UCs

Quando o  ex-ministro criticava a criação de algumas unidades de conservação não o contestamos. Era das poucas críticas pertinentes.

Todos os presidentes desde a redemocratização em 1985, de Itamar, a Collor, passando por Sarney, FHC, Lula e Dilma e Temer, criaram unidades de conservação. Mas nem todos as implantaram de fato deixando um legado que se arrasta e acumula até hoje.

A realidade mostrada minuciosamente pelo Mar Sem Fim na série UCs federais do bioma marinho,  é a mesma que impera nas dos biomas terrestre, tanto as federais, como estaduais ou municipais.

A atual administração herdou esse passado triste. E os “ativistas ambientais” de plantão, há tantos anos, nunca denunciaram essa pobreza ao público. Eu, pelo menos, nunca vi.

Mais uma falha que faz parte do ‘mea-culpa’ que está faltando. Sem falar no excesso de burocracia também presente nas ações do MMA, raramente criticada por ativistas, ou na necessidade de rever a legislação de tempos em tempos.

Por que não? As coisas mudam, novas realidades surgem e a legislação precisa acompanhar essas transformações. Não há nada de errado em revisá-la de tempos em tempos, nem que seja para concluir que nada precisa ser alterado

Mas qual ‘ambientalista’ admite a hipótese de revisão (me referi a esta questão ANTES ainda do advento Ricardo Salles)?

O novo marco do saneamento básico omissão imperdoável

Até a aprovação do novo marco regulatório a falta de saneamento básico era nossa maior chaga.  Sua ausência criminosa promove e estimula uma  indecorosa  segregação social, além de contribuir para a poluição terrestre, dos rios, e do mar.

Quase 100 milhões de brasileiros não têm acesso à coleta de esgoto apesar do direito  assegurado pela Constituição. O caso ganha contornos  dramáticos se considerarmos a pandemia que infecta milhões, e mata milhares, especialmente os mais pobres.

Como se sabe, uma das formas de evitar a doença é a higiene pessoal. Como consegui-la sem acesso à água tratada?

Realidade conhecida por todos, incluso ‘ambientalistas’

É uma realidade conhecida por todos os formadores de opinião, incluso ‘ambientalistas’, que humilha qualquer pessoa de princípios.

Mas, apesar da eloquência dos números, um segmento da sociedade não tomou conhecimento da votação do Senado do novo marco regulatório do saneamento. Este segmento é formado por grande parte dos ‘ambientalistas’, entre aspas para não acusar todos.

Estas pessoas e entidades adotaram uma postura ignominiosa ao se calarem frente à discussão do novo marco regulatório (a maior parte por ser contrária às concessões!).

Sua decisão, político-partidária, se sobrepôs à questão ambiental contribuindo para que o publico leigo não atinasse para a importância do que estava em jogo, ou em como a ausência deste serviço básico destroi a vida, e o meio ambiente que tanto dizem proteger.

Com isso, conseguiram atrair ainda mais desconfiança e antipatia contra ativistas ambientais em geral.

Crianças morrem por diarreia, rios agonizam entupidos de lixo, ambos por falta de saneamento básico. Mas ‘ambientalistas’ se calaram

Segundo o Trata Brasil, referência do assunto no País, ‘a diarreia mata 2.195 crianças por dia e faz mais vítimas do que a Aids, a malária e o sarampo juntos. É a segunda causa de morte entre meninos e meninas entre 1 mês e 5 anos no mundo’.

Enquanto a vergonha persiste, nossos rios agonizam. E aqueles que ainda conseguem chegar ao mar, despejam lixo em vez de água contaminando o litoral.

Ainda assim, a maioria dos ‘ambientalistas’ escolheu  o silêncio durante o período em que o projeto tramitou, muitas vezes ameaçado de ir para as gavetas do Congresso.

Apesar da omissão, o projeto foi aprovado na noite de 24 de junho de 2020 para a felicidade geral.

Em abril de 2021, a concessão da CEDAE no Rio de Janeiro gerou nada menos que R$ 22,7 bilhões de reais, o que nos faz acreditar que, se houver também um esforço em educação ambiental, é possível que até mesmo a Baía de Guanabara alcance enfim a sua despoluição.

Sem falar que o processo  tende a diminuir a indecorosa  segregação social  do Brasil. Especialistas acreditam que será possível universalizar os serviços em 15 anos, ou menos, com as concessões.

E estimativas indicam que as concessões  podem gerar  mais de 1 milhão de empregos nos próximos cinco anos.

Saneamento básico, uma vergonha nacional, agora pode mudar. Mas muitos ‘ambientalistas’, com aspas, não se manifestaram até hoje sobre o tema.

O “movimento ambientalista” mostra fraqueza e pusilanimidade

O idealismo  empalidece. A acomodação, interesses  menores e subalternos, impera. Parte dos  ‘ambientalistas’ que antes agia por idealismo, agora cuida da sobrevivência financeira e, alguns, de ambições  políticas.

Como justificar seu silêncio em momentos cruciais se sabem desde 1972 que…

…chegamos a um ponto na História em que devemos moldar nossas ações em todo o mundo, com maior atenção para as consequências ambientais. Através da ignorância ou da indiferença podemos causar danos maciços e irreversíveis ao meio ambiente, do qual nossa vida e bem-estar dependem…

Declaração final (Parágrafo sexto) da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, Suécia, em 1972.

Tráfico de animais silvestres, e as redes sociais

Sair da versão mobile