Ministro do Meio Ambiente implode entidade ruralista

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Ministro do Meio Ambiente implode Sociedade Rural Brasileira

A marionete do ‘Proibido-para-menores’, Ricardo Salles, que se dispôs a fazer o papel do exterminador da legislação ambiental, rebaixando a condição do Brasil de protagonista mundial da causa  para vilão internacional, colhe agora mais derrotas. Ministro do Meio Ambiente implode Sociedade Rural Brasileira (post de opinião).

Sociedade Rural Brasileira, conheça

“Fundada em 1919, a Sociedade Rural Brasileira (SRB) é uma associação de produtores rurais que trabalha, há quase cem anos, na representação política em defesa do setor agropecuário para o desenvolvimento do Brasil”, explica o site da entidade. Como parte de sua missão, a SRB diz, entre outros, estar o “respeito ao meio ambiente e compromisso com a sustentabilidade econômica, social e ambiental do agro brasileiro.”

(Por falar nela, Ricardo Salles foi um de seus ex-diretores jurídicos…)

A batalha dos anúncios

Dias depois da ‘aula de catecismo’ de 22 de abril, ONGs publicaram anúncio de página inteira no Estadão e Folha de S. Paulo repudiando a declaração de Salles de que ‘o governo deveria passar a boiada e aprovar normas ambientais em meio à pandemia’. As ONGs afirmavam que “para o ministro do Meio Ambiente, mais de 20 mil mortos são uma oportunidade’.

No dia seguinte cerca de 90 entidades, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, CNA; Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, CNC;  Confederação Nacional da Indústria, CNI; Associação da Indústria de Cosméticos, Abihpec, e a Sociedade Rural Brasileira, SRB, publicaram anúncio do mesmo tamanho nos dois jornais rebatendo. Para elas, ‘no meio ambiente a burocracia também devasta’.

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A repercussão nacional e, especialmente, internacional foi imediata. Mais um tiro pela culatra do esforçado ministro.

Ministro do Meio Ambiente implode a Sociedade Rural Brasileira

Uma das maiores lideranças da SRB e do agronegócio, Pedro de Camargo Neto, atual vice-presidente da entidade (que presidiu nos anos 90) renunciou ao seu posto depois da “guerra” de anúncios provocada pelas declarações de Salles.

Camargo censurou ao Estadão: “pretender usar o momento de dor e mesmo pânico na saúde pública para aprovar medidas contra a burocracia fere meus princípios”.

Com sua desmedida arrogância, Ricardo Salles conseguiu implodir os ruralistas!  Era inimaginável pensar que algum dia um titã do grupo, como Pedro Camargo, pudesse renunciar em repúdio às declarações do ministro ‘casado com o agronegócio’.

Entrevista de Pedro de Camargo Neto ao Estadão

Em 29 de maio o jornal conversou com Camargo Neto. Título: ‘Retrocedemos na questão ambiental’, diz Pedro de Camargo Neto’. Texto de abertura: “As declarações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na reunião ministerial do 22 de abril,  provocaram um racha em uma das principais entidades ruralistas do País. “

“Contrariado com o posicionamento de apoio da Sociedade Rural Brasileira (SRB) ao ministro Salles, Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da entidade, renunciou ao seu posto.

O jornal perguntou: ‘O sr. é uma das principais lideranças do agronegócio do País. Por que decidiu sair da SRB?’

“A SRB é um microcosmo do Brasil. Sempre tivemos, e é bom que assim seja, as diversas tendências político-partidárias e mesmo ideológicas. Saí pela questão ética. Fui contra assinar o anúncio de apoio ao Ministério do Meio Ambiente que entendo ser equivocado e que fere meus princípios. Pretender usar o momento de dor e mesmo pânico na saúde pública para aprovar medidas contra a burocracia fere meus princípios. O debate e a participação da sociedade são essenciais. Burocracia em excesso atrapalha o desenvolvimento, empobrece a população. Temos avançado muito pouco.”

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Sobre o discurso de Salles, disse Pedro de Camargo: “Seu discurso forte agrada a muitos. O que precisamos, contudo, não é discurso. Estamos retrocedendo na questão ambiental. São medidas concretas que não ocorreram. A atual polarização dificulta ainda mais. A MP 910 da regularização fundiária para o pequeno e o médio produtor esquecido na Amazônia, que os ambientalistas chamam de MP da grilagem (saiba mais sobre a MP 910), não foi aprovada por causa da polarização…  (leia a íntegra da entrevista).”

Presidente da Associação Brasileira de Agronegócio: ‘estamos nos transformando em um pária’

A Associação Brasileira de Agronegócio (Abag) não assinou o anúncio que funcionou como jogar gasolina no fogo. A peça recebeu uma penca de críticas. Mas o presidente da entidade não se omitiu. Em entrevista ao Estadão, Marcello Brito, que também é cofacilitador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, disse que a “questão da desburocratização é pauta há 30 anos”.

Mas também disse que não deve ser da forma exposta por Salles. “Não precisa passar coisas de baciada. Pegou mal. Pega mal pro agro. E veja bem. Não era a ministra da Agricultura que estava falando, era o ministro do Meio Ambiente. Tem um processo meio maluco nisso aí.”

Em seguida Marcello Brito comentou sobre a MP 910 (leia a íntegra da entrevista).

Associação da Indústria de Cosméticos, Abihpec, também muda posição

Esta entidade, que assinou o anúncio a favor de Salles, recuou. Em 28 de maio, na Folha de S. Paulo, ‘Empresas de cosméticos desembarcam de apoio a Ricardo Salles’. No texto, “Natura, O Boticário e L’Occitane fazem parte da Abihpec, que retirou sua assinatura de manifesto.”

O jornal explicou: “A Abihpec (associação da indústria de cosméticos) decidiu nesta quarta (27) sair do manifesto em apoio ao Ministério do Meio Ambiente elaborado por entidades após a divulgação do vídeo da reunião ministerial…”

Onde o ministro põe a mão, o fogo se alastra. Pode ser na Amazônia, na Mata Atlântica, nas entidades de classe, ou no próprio governo federal…

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Ministro do Meio Ambiente implode ruralistas e recebe um chega pra lá do vice-presidente

Até dentro do governo o radicalismo do rapaz faz inimigos. E se torna um fardo. Que o diga o vice-presidente Hamilton Mourão. Folha de S. Paulo, 28 de maio: “Mourão tira Salles do Fundo Amazônia, mas imagem negativa é obstáculo para volta do fundo.”

Texto: “Numa tentativa de reativar as doações da Noruega e Alemanha para ações ambientais no Brasil, o vice-presidente, Hamilton Mourão, enquadrou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o retirou da presidência do comitê orientador do Fundo Amazônia.”

Sobre as ‘medidas concretas que não ocorreram’, e o ‘estamos retrocedendo na questão ambiental’

Como tomar medidas concretas, e eficientes para diminuir a pesada burocracia estatal, acrescentamos, se as poucas executadas foram na direção de desfazer o que está feito sem nada colocar no lugar? Ou amputar, irresponsavelmente, a obrigatória fiscalização? E como não retroceder com este comando suicida?

Ricardo Salles faz jus ao doidivanas do jet ski. Desde que assumiu não fez outra coisa que não seja denegrir seus comandados do MMA, e a imagem externa do País. Autoritário como o chefe, logo depois da posse proibiu qualquer funcionário do ministério de dar entrevistas e, mais recentemente, investiu contra publicações pessoais da sua equipe nas redes sociais.

Ainda em junho de 2019, foi acusado de assédio moral por servidores do MMA em seis Estados e Distrito Federal. Eles enviaram representação ao Ministério Público Federal (DF) em que pedem que o órgão apure a conduta do ministro.

Colecionou uma penca de inimigos do cenário internacional ao inviabilizar o Fundo Amazônia, e desestabilizar a COP 25. No cenário interno, provoca rachas no agronegócio brasileiro, e consegue a façanha de unir ambientalistas.

Onde, afinal, quer chegar?

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‘MPF pede que Salles seja investigado por crime de responsabilidade’

Esta foi a manchete do Correio Braziliense em 28 de maio. “O Ministério Público Federal (MPF) entrou com um pedido para que a Procuradoria Geral da República (PGR) e a Procuradoria Geral do Distrito Federal (PGDF) investiguem a fala do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles na reunião do dia 22 de abril. O órgão pede que Salles seja investigado pelos crimes de responsabilidade e improbidade administrativa.”

#ForaSalles

Ministro, o senhor perdeu sua chance. Conseguiu semear a discórdia no seio que deveria favorecer. E perdeu o respeito de seus pares, Hamilton Mourão não foi o único. Como já dissemos, pelos  imensos malefícios à imagem externa do País por suas ações, sua cabeça foi pedida pelo hesitante ministro da Economia ao voltar de Davos em 2019.

Pense na sua biografia e preste um bom serviço. Limpe as gavetas e saia antes de ser saído. Seria uma inestimável contribuição. Festejada por ambientalistas, entidades de classe, membros do governo, e os brasileiros que não se deixam contaminar pela cloroquina.

Imagem de abertura: NACHO DOCE/REUTERS

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Comentários

5 COMENTÁRIOS

  1. O retrocesso vem acontecendo, quase sem alarde, também no âmbito estadual. O meio ambiente foi submetido à Secretaria de Infraestrutura e a análise das propostas de reserva legal, arrancada do meio ambiente e transferida para a Agricultura, pasta que vem sofrendo pelo quadro de pessoal reduzido, pouco habituado aos recursos computacionais necessários para a gestão do Sistema e sem muito conhecimento do Código Florestal. Tenho muitas preocupações com o mundo que legaremos para nossos filhos e netos.

  2. Lema que criei
    “Atras de todo sujeito arrogante existe um incompetente”
    Pois o mesmo esconde a ignorância atras da arrogância ,usando a mesma como escudo pra ninguém sacar a sua santa incompetência

  3. Não era apregoado como um “Ministério Técnico”, composto apenas de “notáveis” em suas áreas? Só se forem notáveis idiotas, pois nenhum escapa, nenhum tem um plano mínimo para nada, sem exceção. Fora que, no caso em questão, vivemos a situação paradoxal da Ministra da Agricultura (tudo bem que por interesses outros) defender mais a preservação ambiental que o ministro que o deveria fazer! Belo “novo mundo” esse…

  4. Esse é o problema endêmico do país, hoje dos 30 ministros não dá para salvar 5 que tenha um pouco de moral e ética, além de competência. O resto é restolho como esse da agricultura. arioba

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