Amazônia e Pantanal: outubro foi o pior mês

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Amazônia e Pantanal continuam em chamas, outubro foi o pior mês

Até outubro os recordes já estavam batidos. Na Amazônia, bastaram 10 meses para o número de incêndios em 2020 superar o de 2019. Outubro foi o pior mês na região desde 2015. E no Pantanal, mesmo faltando dois meses para fechar o ano, registra a maior devastação desde que a série histórica de medições começou em 1998. Fizemos uma curadoria na rede sobre os incêndios de outubro. Como já dissemos, os índices de 2019, que já foram recordes comparando com 2018, vão deixar saudades. Amazônia e Pantanal: outubro foi o pior mês.

imagem do Pantanal em chamas
O pantanal ainda em chamas. Imagem,Gustavo Basso/NurPhoto/Getty Images

Amazônia e Pantanal continuam em chamas

Os recordes de 2020 acontecem enquanto o Exército ainda está por lá na operação Verde Brasil 2. Isso acontece porque, além da demora no início do combate às chamas, as Forças Armadas não têm a competência para a ação.

O caso de nossos biomas lembra a intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018. Apesar da presença, os crimes não diminuíram. Porque quem sabe lidar com o crime é a polícia, não o Exército.

Os recordes de desmatamento e incêndios são consequência das políticas do próprio governo  que deliberadamente impediu a ação de quem sempre cuidou destes casos, e tem expertise para tanto, o Ibama. Historicamente, quando as queimadas aumentavam a fiscalização do Ibama  coibia a depredação quando os governos assim o desejavam e liberavam verbas.

Mas as autarquias do ministério do Meio Ambiente foram destratadas publicamente desde a época da campanha e, uma vez Bolsonaro eleito, seus quadros foram reduzidos, as chefias trocadas por policiais, e alguns dos procedimentos como a queima de equipamentos pesados, proibidas.

A consequência foi imediata. Dois anos seguidos de recordes de perda da floresta. Então, numa vã tentativa de responder à pressão externa, o Exército entrou em ação. Os números de outubro são eloquentes e falam por si.

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Outubro de 2020, pior mês

Segundo a Folha de S.Paulo, em outubro o fogo na Amazônia aumentou 121% em relação ao mesmo período de 2019. Foram registrados 17.326 focos de queimada segundo os dados do Programa Queimadas, do Inpe. No mesmo mês, em 2019, foram registrados 7.855. Segundo a Folha, “é o segundo pior outubro de queimadas na Amazônia dos últimos dez anos, atrás apenas de 2015 com 19.469 focos de calor.”

imagem da Amazonia em chamas
Amazônia. Imagem,https://www.brasil247.com/.

Enquanto isso, no Pantanal, o fogo atingiu um dos hotspots do bioma, a Serra do Amolar. Segundo o site Mongabay, “depois de se espalhar por nove meses pela planície pantaneira o fogo atingiu a Serra do Amolar, a área montanhosa está no coração do bioma e abriga a segunda maior densidade de onças-pintadas da região.”

Diego Viana, pesquisador do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), explicou à BBC a importância do local: “A Serra do Amolar interliga diversas áreas preservadas, por isso é fundamental para os animais.”

Até o momento em que este post foi escrito os incêndios já devastaram 27% do bioma.

Consequências do descaso na Amazônia

Para o pesquisador Carlos Nobre “o sul da Amazônia já está transpirando menos água e durante os meses secos, principalmente julho, agosto e setembro, a temperatura no sul da Amazônia chega a ser até três graus mais quente que nos anos 80. Então, o ar que chega no Pantanal, vindo da Amazônia, chega mais quente.”

Ricardo Galvão confirmou a este site. Para ele, além do aquecimento global, este ano foi particularmente trágico para o Pantanal. Os rios voadores da Amazônia que alimentam as chuvas no Centro-Oeste já estão perdendo força em razão do desmatamento da Amazônia. Isso, aliado ao descaso do governo justifica os brutais incêndios de 2020 na região.

Felizmente a reação internacional tem sido forte, o que pode fazer fazer com que o agronegócio reaja e deixe de estimular os abusos que hoje se vê.

Consequências no Pantanal

O Pantanal não tem os mesmos efeitos que a Amazônia sobre as chuvas, mas as queimadas neste ano certamente farão com que o Brasil não atinja suas metas de cortes de emissões dos GEF – Gases de Efeito Estufa, o que vai gerar ainda mais pressão sobre o País. Mas os efeitos das queimadas de 2020 serão duramente sentidos no bioma.

A pesquisadora Carolina Joana da Silva, professora da Universidade Estadual do Mato Grosso (UNEMAT), e pesquisadora em um projeto de longa duração sobre recuperação de áreas degradadas no Pantanal, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi entrevistada pelo site O Eco.

Para ela “temos dados de plantas que estão nas áreas de preservação permanente (APPs) dos rios Paraguai e Cuiabá, e sabemos quais plantas precisam ser recuperadas. No entanto, acessar bancos de sementes para recuperar áreas é outra história. Estamos começando agora um projeto para coleta de sementes e recuperação.”

Faltam bancos de sementes adequados

“Nós vamos ter os macrohabitats com alto grau de destruição, o que demandará esforços e custos elevados para restauração. Para mim, só neste ano a recuperação e restauração dos macrohabitats (cobertura vegetal) já vão exigir muito. Com toda a área perdida recentemente pelo fogo, não temos banco de sementes adequados suficientes, não estamos preparados para restauração nessa escala de perda.”

Fauna aquática afetada

“A água também vai ser afetada, pois estamos com nível muito baixo nos rios e isso faz que muito material fique em suspensão, deixando a água mais turva. Isso dificulta a Produtividade primária bruta (PPB) e pode diminuir a disponibilidade de oxigênio na época da cheia, afetando a mortalidade de peixes.”

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“Essa redução do oxigênio também seleciona algas que chamamos de fitoplâncton. Essas algas são favorecidas por essa condição e muitas podem contaminar os corpos d’água. O crescimento exagerado dessas algas acarreta a perda de biodiversidade aquática, afetando desde produtores primários até a própria comunidade de peixes.”

Fauna terrestre que escapou de incêndios ameaçada pela fome

Segundo a Deutsche Welle, “depois da devastação provocada pelos incêndios, a ameaça crescente é a da chamada fome cinzenta.” Nenhum pesquisador é capaz de quantificar a quantidade de animais mortos incinerados. Mas todos são unânimes ao informarem que os que escaparam terão que passar por outra privação: a escassez de alimentos.

50 anos para o Pantanal se reestabelecer

Cátia Nunes de Cunha, Professora e pesquisadora associada do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de Mato Grosso (PPG-ECB/IB-UFMT), disse ao O Estado de S. Paulo que  “a regeneração, baseada nos resultados adquiridos, acreditamos que levará em torno de 50 anos. Caso a intensidade do incêndio seja mais grave, poderá levar mais tempo.”

E só para lembrar, entramos em novembro ainda com incêndios tanto no Pantanal quanto na Amazônia.

Imagem de abertura: Gustavo Basso/NurPhoto/Getty Images

Fontes: https://brasil.mongabay.com/2020/10/fogo-chega-as-montanhas-do-pantanal-e-ameaca-fragil-equilibrio-ecologico/; https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2020/11/pantanal-tem-pior-outubro-de-queimadas-da-historia-e-fogo-cresce-121-na-amazonia.shtml; https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/09/21/desmatamento-na-amaznia-est-prximo-do-ponto-de-no-retorno-diz-especialista.ghtml; https://www.oeco.org.br/reportagens/recuperacao-do-pantanal-demandara-esforcos-e-custos-elevados-diz-pesquisadora/?utm_source=mailpoet&utm_medium=email&utm_campaign=hoje-em-o-eco-newsletter-e-mais&fbclid=IwAR0YLEr63rzO5IH61AJhJZHb_p8-aNV5Z–3CO_6xcbbOqtCWwf0twkqiFg; https://www.dw.com/pt-br/no-pantanal-animais-que-sobrevivem-ao-fogo-enfrentam-fome/a-55023420; https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2020/09/4877414-pantanal-pode-levar-ate-50-anos-para-se-recuperar-de-queimadas.html; https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54848995.

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