Água de lastro pode ter contaminado o manguezal da Baixada Santista

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Água de lastro pode ter contaminado o manguezal da Baixada Santista

Espécies invasivas causam enormes danos à biodiversidade, já vulnerável devido ao aquecimento global, e impactam a economia dos países afetados. Cientistas apontam o aquecimento global, a migração humana por motivos econômicos e políticos, além da globalização do comércio e do turismo, como principais impulsionadores das invasões biológicas. O estudo “Economic Impacts of Biological Invasions” de Guy Preston, divulgado pelo site do governo federal, mostra que as perdas de 1,4 trilhão de dólares causadas por espécies invasoras correspondem a quase 5% da economia global, com base em um PIB mundial de 31 trilhões de dólares. Uma das formas mais comuns de bioinvasão ocorre pela água de lastro dos navios, como se observa na recente descoberta no manguezal da Baixada Santista.

espécie invasiva no manguezal da Baixada Santista.
A espécie invasiva no manguezal da Baixada Santista. Imagem, Jornal da USP.

O custo das espécies invasoras no Brasil

O recém publicado relatório das espécies exóticas feito pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES). O estudo mostra que o Brasil tem 476 espécies exóticas invasoras. Dessas, 268 são animais e 208 são plantas e algas. A maioria vem da África, Europa e sudeste asiático. O comércio de animais de estimação e plantas ornamentais é a principal forma de entrada. Essas espécies se espalham por todos os ecossistemas. Elas se concentram mais em locais degradados ou com muitas pessoas.

O relatório mostra que o Brasil perde de USD2 a 3 bilhões de dólares anualmente em razão das espécies invasoras.

A água de lastro de navios, a grande vilã

Segundo o Jornal da USP, em matéria de Denis Pacheco, ‘durante uma operação de monitoramento dos manguezais no estuário de Santos, parte de um esforço para restaurar a cobertura vegetal local, biólogos avistaram flores totalmente desconhecidas para as árvores da região. Geraldo Eysink e Edmar Hatamura, os biólogos envolvidos, buscaram a colaboração da professora sênior do Instituto Oceanográfico (IO) da USP Yara Schaeffer-Novelli para identificar a origem de uma possível espécie exótica, introduzida de forma involuntária e conhecida por seus impactos negativos em ecossistemas nativos’.

Mais adiante, Pacheco comenta a planta invasora: ‘A planta, inicialmente atraente por suas flores distintas, confirmou-se uma espécie exótica invasora do gênero Sonneratia, usada na China para recuperação de manguezais devido ao seu rápido crescimento e capacidade de retenção de solo, ou seja, a capacidade de um solo de reter água ou umidade. De acordo com os especialistas, é o primeiro registro da Sonneratia apetala na América do Sul’.

“A hipótese mais provável é que ela chegou aqui no porto de Cubatão principalmente devido ao grande tráfego de advindos da China ”, conta Hatamura ao esclarecer que o transporte pode ter acontecido por meio da água utilizada pelos navios para estabilização. “A água de lastro dos navios, que é utilizada para equilibrar o navio, pode ter trazido a planta invasora”, reforça ele.

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Desde sempre foi assim

O oceanógrafo Frederico Brandini, que já foi diretor do Instituto Oceanográfico da USP, diz em seu livro Mar Brasil que a degradação do litoral começou ainda no século 16, quando as naus passaram a frequentar nossa costa: ‘começou a invasão de espécies exóticas agarradas ao casco das caravelas. Assim que sentiam o decréscimo da salinidade na costa brasileira, lançavam suas larvas invasoras contaminando a teia alimentar local. Hoje fazem parte da paisagem submarina de nosso litoral.’

Possibilidades da bioinvasão.
Algumas casos de bioinvasão. Ilustração “Economic Impacts of Biological Invasions” de Guy Preston.

No Brasil a água de lastro de navios também é responsável pela introdução do mexilhão-dourado em 1998, na água do Lago Guaíba, PA. De lá contaminou também a  bacia do rio da Prata. Hoje os dois corpos d’água estão totalmente contaminados pelo mexilhão-dourado. E ele se alastra cada vez mais. Causa sérios prejuízos à Usina Itaipu Binacional, como ela mesma reconhece:

A Itaipu empreende um programa que tem reduzido progressivamente a quantidade de larvas de mexilhão-dourado no reservatório da usina. O molusco é responsável pelo entupimento de encanamentos em equipamentos da hidrelétrica e também causa desequilíbrios ambientais

O site de Itaipu não informa o prejuízo, mas o portogente.com.br  o fez:

Em Itaipu, o mexilhão-dourado alterou a rotina de manutenção das turbinas ao fazer reduzir o intervalo entre as paralisações, antecipando custos de quase US$ 1 milhão a cada dia de paralisação do sistema.

Hoje, pesquisadores temem que o mexilhão-dourado chegue na Bacia Amazônica. De maneira idêntica, ou seja, em cascos de embarcações, chegou por aqui o coral sol que contamina quase todas as ilhas do Sul e Sudeste. Enfim, a água de lastro de navios é a responsável por parte considerável da bioinvasão mundial.

 custo anual estratosférico da bioinvasão
O custo anual estratosférico da bioinvasão. Ilustração, “Economic Impacts of Biological Invasions” de Guy Preston.

A contaminação no manguezal da Baixada Santista

Segundo o Jornal da USP, ‘a Sonneratia apetala, também conhecida como mangue maçã, é uma árvore de mangue da família Lythraceaenativa do Sudeste Asiático. É encontrada em países como Índia, Sri Lanka, Tailândia, Malásia, Indonésia e Filipinas. A espécie de porte médio, que pode alcançar até 20 metros de altura, tem um sistema radicular do tipo raízes-escora que se estende até o solo lodoso, folhas ovaladas de cor verde brilhante e flores grandes e vistosas de cor vermelha que, de acordo com os especialistas, chamam bastante atenção’.

“Seus frutos e sementes flutuantes facilitaram sua disseminação pelas águas, levando à descoberta de 86 exemplares até o momento”, conta a professora Schaeffer-Novelli ao Jornal da USP, ao relatar que a identificação delas foi possível por meio de caminhadas de campo e o uso de drones pelos biólogos, que revelaram a presença da planta em áreas específicas.

A flor da espécie invasiva.
A flor da espécie invasiva. Imagem, Jornal da USP.

O Jornal da USP, após destacar os inúmeros serviços ecológicos dos manguezais, como estabilização costeira e habitat para diversas espécies, cita o biólogo Geraldo Eysink, que alerta sobre os riscos das espécies exóticas. Essas espécies podem substituir as nativas, afetando a estabilidade e biodiversidade dos manguezais no Brasil, exigindo medidas urgentes de proteção.

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Os pesquisadores estão alarmados com o potencial impacto, disse o Jornal da USP. ‘A introdução dessa espécie invasora na Baixada levanta questões urgentes sobre a gestão e controle de espécies forasteiras no Brasil, especialmente em áreas de preservação permanente e unidades de conservação.’ Conforme explica Eysink, “qualquer interferência que perturbe o equilíbrio do manguezal é motivo de grande preocupação para nós”.

Autorização para erradicar a espécie invasiva

O Jornal da USP enfatiza a preocupação dos pesquisadores que ainda não conseguiram a autorização para o corte da invasivas. Segundo a matéria, ‘houve só um contato com o Ministério do Meio Ambiente, o ICMBIO e o Ibama para tratar do caso da espécie invasora’.

Eles pedem pressa às autoridades para poderem agir. Aproveitamos para levantar uma vez mais a questão da burocracia que permeia também as autarquias que trabalham para o ministério, o Ibama e ICMBio, as próprias secretarias  estaduais, além do  ministério. Está na hora de medidas simples e urgentes como a de se erradicar uma espécie exótica saiam tão logo sejam pedidas. Quanto maior a espera, maior o prejuízo. E estes órgãos têm, sim, gargalos que seriam facilmente desfeitos se houvesse vontade política.

Dada a importância crucial dos manguezais, especialmente sob o impacto do aquecimento global, seria essencial que Marina Silva implementasse um programa federal de replantio de manguezais. Esses ecossistemas, reconhecidos por suas qualidades excepcionais, já são alvos de programas que financiam o replantio na Ásia, África, Oceania e nas Américas do Norte e Latina. Vale lembrar lembrar que os manguezais têm dois serviços ambientais primordiais: armazenam quatro vezes mais CO2 que a mesma porção das florestas tropicais e são defesas eficazes contra o aumento do nível do mar e a erosão costeira.

Marina igualmente deve saber que, além desta nova bioinvasão, manguezais e restingas continuam sendo extirpados até mesmo pelos prefeitos de municípios costeiros, como Ilhabela e Ubatuba. E, a cada novo empreendimento fruto da especulação imobiliária que assola o litoral, são os mangues e restingas os primeiros a pagarem a conta.

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Comentários

3 COMENTÁRIOS

  1. Como nós também somos natureza…devemos cobrar daqueles (as) que possuem as responsabilidades públicas com a governança do bem comum

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