Viagem da Kika, diário de bordo Nº 9
Partimos de Cairns com destino à Tasmânia no início de setembro, a data era boa pois em Cairns já começava a fazer muito calor. Na Tasmânia faz frio no inverno, chegamos em novembro com clima mais ameno. Assim começa a viagem da Kika, diário de bordo Nº 9.
Fraser Island
Em linhas gerais Fraser Island, uma grande ilha de areia ao norte da Sunshine Coast, é um divisor de águas para quem pretende navegar pela costa leste australiana. Os ventos alísios atravessam o Oceano Pacífico direção leste-oeste e chocam-se contra o continente nesta altura. A resultante será predominância de vento sul para o norte, e de vento norte para o sul. Com 2.300 km de comprimento, a Grande Barreira de Corais nasce em Fraser Island e segue até Papua – Nova Guiné, portanto para o norte deste ponto a navegação se dá dentro da barreira.
Grande Barreira de Corais australiana
A Grande Barreira de Corais suporta uma grande biodiversidade e é a maior estrutura viva do planeta. Sua área é tão grande que pode ser vista do espaço. Desde 1975 é protegida pelo Great Barrier Reef Marine Park, que ajuda a limitar os impactos do uso humano, como pesca e turismo. Outras pressões ambientais sobre o recife envolvem as alterações climáticas e consequente branqueamento maciço dos corais. Há surtos na população de estrelas-do mar coroa-de-espinhos, que se alimenta dos corais. Além disso, o ciclone tropical Debbie causou uma forte destruição em março de 2017.
Uma vez por ano os corais se reproduzem liberando gametas em eventos de desova em massa. Sob o titulo “Sex in the Reef” o site do Great Barrier Reef Marine Park convida cientistas a relatarem suas observações via aplicativo online.
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Dentro do parque existem várias ilhas. Muitas têm poitas públicas, é possível navegar durante o dia e se abrigar à noite. Os gigantescos crocodilos de água salgada vivem nos estuários dos rios desta região. É preciso aprender a usar o bom senso para não entrar em paranoia. Em muitos locais estratégicos encontramos ruínas de bases para defesa contra um possível ataque japonês durante a II Guerra Mundial.
Cairns
Cairns é um ótimo porto de partida para visitar a barreira pois está muito próxima, Fitzroy Island e Green Island tem boa infraestrutura para turismo. Hichinbrook Island National Park tem altas montanhas de granito, praias desertas e várias baías com boa ancoragem. Uma trilha de 32 km , Thorsborne Trail, percorre a ilha, em Zoe Bay. Há uma cachoeira com piscina natural. Em Orpheus Island National Park pegamos uma poita em Pioneer Bay e subimos por uma trilha até o cume.
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Cabras eram soltas em várias ilhas
Antigamente cabras eram soltas em várias ilhas para a sobrevivência de náufragos. Whitsunday Islands é um conjunto de ilhas com praias de areia branca, vegetação preservada e corais. Existem várias opções para charter de veleiros e ferries saindo de Airlie Beach. Palm Island tem um triste passado: até a década de 60 os aborígenes que eram levados para lá sofriam todo tipo de abusos e privações. Famílias eram separadas e as crianças proibidas de falar seu idioma. Percy Islands conta a saga de um inglês para manter sua concessão sobre a Middle Island. Na praia principal um rústico “Hilton” é a parafernália dos navegantes que por ali passam. À noite comemos um stew com outras tripulações em torno do camp fire.
Townsville
Em Townsville fizemos uma saída oficial do país para alto-mar. Meu visto de turista não permite permanecer mais de três meses seguidos. Retornamos treze dias depois e fizemos a entrada em Brisbane, já fora da barreira de corais. Ficamos ancorados na margem do rio em New Farm, um bairro residencial bastante central. Circulamos pela cidade com nossas bikes dobráveis. A capital de Queensland fica dentro da enorme Moreton Bay, onde a navegação é difícil devido aos bancos de areia.
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O Antarctic tem bolina em vez de quilha. Nosso calado, com ela levantada, é de 1,10 mt, um luxo para um veleiro de 67’. Moreton Island e North Stradbroke Island separam a baía do mar aberto.
A passagem entre elas é a South Passage. Antigamente servia de acesso principal para Brisbane, hoje não é nem mapeada devido aos bancos de areia. A quantidade de naufrágios impressiona. A região foi território aborígene durante pelo menos 20.000 anos. Eles tinham o mar como importante fonte de alimento e ainda é possível encontrar sambaquis. Os dugongos quase foram extintos devido à pesca indiscriminada, hoje são protegidos legalmente e se alimentam da abundante vegetação submersa. No início do sec. XIX foi instalado em North Stradbroke Island um presídio, depois serviu como estação de quarentena para os navios que chegavam e, mais tarde, um asilo para idosos. Uma missão aborígene funcionou até 1943.
Navegação para o sul de Brisbane
A navegação para o sul de Brisbane se dá no mar aberto. Existem vários portos para abrigar e as praias são famosas pelo surf. As baleias nesta época estão retornando para a Antártica, vimos muitas jubartes com seus filhotes. Entramos em Ballina, onde a barra é estreita e rasa, e mais adiante em Port Stephans, uma ampla baía com fácil acesso e belos passeios.
Baía de Sydney
A baía de Sydney é considerada um dos melhores portos naturais do mundo. Atravessamos à noite a majestosa entrada emoldurada pelos penhascos de arenito e dormimos em Elizabeth Bay, na poita cortesia do exército. No dia seguinte seguimos para Gore Creek Reserve, onde jogamos duas ancoras e amarramos um cabo em terra para encarar uma forte tempestade.
Royal National Park
Descendo a costa entramos em Port Hacking e ancoramos no Royal National Park, o mais antigo da Austrália. Mais para o sul dormimos no minúsculo porto de Wollongong e depois em Jervis Bay, onde os penhascos de arenito formam desenhos incríveis e enormes cavernas.
Aguardamos uma boa janela de vento norte para a travessia do Bass Strait, que separa o continente australiano da Tasmânia. Os “Roaring 40s” são uma zona de ventos fortes entre os paralelos 40˚ S e 50˚ S dos oceanos austrais com orientação oeste-leste. Esta corrente foi descoberta pelos holandeses no século XVII e se converteu numa via rápida para navegar entre o sul da África e as colônias da Índias Orientais através do Oceano Indico.
Flinders Island
Avistamos Flinders Island no final do terceiro dia de navegação partindo de Jervis Bay. Muitos golfinhos vieram nos dar as boas vindas. Paramos em Cape Barron Island para descansar. Caminhamos por praias e costeiras desertas. A cor alaranjada dos liquens nas pedras vibra de tanta intensidade. Depois velejamos até St. Helen, o canal de entrada é muito raso com arrebentação, uma vez ultrapassado o gargalo a baía é grande com fazendas de ostras.
Pesca de abalone
Essa região tem pesca de abalone, muito valorizado no mercado asiático. Seguimos descendo a costa com vento norte ao longo da Península Freycinet, apreciando a beleza dos penhascos de granito rosa quando, de repente, entrou o vento sul.
Num piscar de olhos soprava 30 nós. Começou a chover e a temperatura despencou. Nos abrigamos em Schouten Island e ligamos o aquecedor, impressionante a velocidade de mudança de tempo.
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Cisnes negros selvagens nas lagoas
Pegamos uma trilha para subir o Bear Hill com uma vista espetacular. Depois velejamos até Coles Bay, ponto de partida para o Freycinet National Park. Atravessamos o istmos para Wineglass Beach e vimos cisnes negros selvagens nas lagoas.
Depois de alguns dias o vento norte retornou e o sol voltou a brilhar. Seguimos velejando rumo sul até Maria Island. A ilha foi presídio e estação baleeira. Um italiano visionário fez vários empreendimentos, e até funcionou uma fabrica de cimento Portland, hoje é um parque nacional. Pedalamos pelas trilhas da ilha o dia inteiro. Vimos wombats, cangurus e gansos selvagens.
Zarpamos com destino a Hobart, passamos pelo canal de Dunalley para cortar caminho. Chamamos pelo radio para abrirem a ponte. Em Betsey Island entrou a brisa marinha que nos empurrou para dentro da baía de Hobart.
Faz um ano que estou viajando e estou com saudades
O Antarctic tem sua poita em Sandy Bay com vista privilegiada para a cidade. Em dezembro sairá da água para pintura do casco e reforma do leme. Irei passar o Natal no Brasil, faz um ano que estou viajando. Estou com saudades da família e dos amigos. Em fevereiro de 2018 faremos uma expedição para a Antártica, partindo de Hobart para o Ross Sea. Temos muito a fazer para preparar o barco para a próxima viagem.
Abrígate Kika que en la Antártida se pone fresco!!! Beso, Vero
Kika irá responder.
Hola Vero! El viaje hasta Mar de Ross ha sido MUY fresco! Una larga travessia con mucho viento, vistamos islas increibles. En breve estara aca en el Mar Sem Fim. Besos, Kika