Povos paleolíticos remaram em canoas no Mar da China Oriental

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Povos paleolíticos remaram em canoas no Mar da China Oriental

Não há nada que agrade mais a este site que as antigas navegações. Este escriba é fascinado pela ousadia dos pioneiros enfrentando o desconhecido em mar aberto. Além do mais, estas navegações fazem parte da história da humanidade. Porém, tais textos são raros em Pindorama. Assim, quando surge uma dica costumo não perder a oportunidade. Hoje, o site especializado em navegação gCaptain, trouxe a notícia: ‘cientistas realizaram uma viagem experimental pelo Mar da China Oriental, remando de Ushibi, no leste de Taiwan, até a Ilha Yonaguni, no Japão. A travessia, feita em uma canoa, buscou demonstrar como povos paleolíticos podem ter realizado esse trajeto há 30 mil anos, quando começaram a ocupar diversas ilhas do Pacífico’.

povos paleolíticos remando em canoas no Mar da China Oriental
Imagem, A. J. Tasman.

De maneira idêntica, publicamos recentemente o post Caçadores-coletores e suas navegações de 8.500 anos atrás, aproveitando um estudo publicado na Nature (abril de 2025). O trabalho demonstrava que caçadores-coletores chegaram na ilha de Malta, uma das mais remotas do Mediterrâneo, há 8.500 anos.

Nossa espécie surgiu na África há cerca de 300.000 anos

Segundo a matéria, distribuída pela agência Reuters, nossa espécie surgiu na África há cerca de 300.000 anos. Posteriormente,  viajou pelo mundo chegando a alguns dos lugares mais remotos da Terra. Ao fazê-lo, nossos ancestrais superaram barreiras geográficas, incluindo extensões oceânicas traiçoeiras. Mas, como fizeram isso com apenas tecnologia rudimentar disponível?

Os cientistas remaram em uma canoa de Ushibi, no leste de Taiwan, até a Ilha Yonaguni, no Japão, cruzando um trecho do Mar da China Oriental. A viagem experimental buscou mostrar como povos paleolíticos podem ter feito esse trajeto há cerca de 30 mil anos, durante a migração para as ilhas do Pacífico.

Tudo igualzinho ao passado remoto

Os pesquisadores simularam métodos que os povos paleolíticos teriam usado. Por exemplo, eles empregaram réplicas de ferramentas daquele período pré-histórico, como um machado e um instrumento de corte, o enxó, para fabricar uma canoa de 7,5 metros de comprimento. Batizaram-na Sugime. A embarcação teve sua construção com uso de uma árvore de cedro japonês cortada na Península de Noto, no Japão.

A propósito, é exatamente igual ao que acontece ao longo de toda a vasta costa brasileira pelos nativos que ainda se utilizam de embarcações típicas que, mais uma vez, a decadente mídia de Pindorama insistir em não ver.

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povos paleolíticos em canoas no pacífico

Uma tripulação de quatro homens e uma mulher remou a canoa em uma viagem que durou mais de 45 horas. Eles percorreram cerca de 225 km em mar aberto. Ao fazê-lo, enfrentaram uma das correntes oceânicas mais fortes do mundo, a Kuroshio. A tripulação suportou fadiga extrema. Contudo, fizeram uma pausa de várias horas enquanto a canoa flutuava no mar, mas conseguiram completar a travessia em segurança até Yonaguni.

Em busca de embarcações marítimas pré-históricas entre a costa sudeste da China e as ilhas do Pacífico

O assunto não fascina apenas este site. No exterior há dezenas, centenas, de publicações a respeito destas épicas travessias. Por exemplo, um estudo publicado na Springer Nature, em 2021, discute a possibilidade no artigo Em busca de embarcações marítimas pré-históricas entre a costa sudeste da China e as ilhas do Pacífico.

Ilustração de canoa dos austronésios

O trabalho mostra que documentos históricos e descobertas arqueológicas indicam que culturas marítimas sofisticadas se desenvolveram há milhares de anos ao longo da costa sudeste da China e do sudeste asiático adjacente.

As etnias indígenas Bai Yue (百越) realizaram a navegação primitiva entre a região costeira do leste e o sudeste asiático desde o Neolítico, ou seja, antes da migração do povo Han do norte para o sul, há 2.000 anos (Chang, KC 1989; Rolett, BV 2007; Wu, CM 2019).

construção de canoas dos austronésios

Esses grupos marítimos do período Neolítico também deram origem aos povos austronésios que se espalharam pelo Pacífico. (Chang, KC et al. 1964; Chang, KC 1987a; Rolett, BV et al. 2002; Wu, CM 2012a). Que tipo de embarcação eles usaram para navegar pelo grande mar há milhares de anos? Arqueólogos, historiadores, etno-historiadores e pesquisadores da cultura marítima apresentaram diferentes pontos de vista.

detalhes de canoas dos austronésios

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A tese de Thor Heyerdahl

Importante realçar que ainda não há um consenso sobre como foi, de fato, a colonização da Polinésia. O que se sabe, é que ela aconteceu no período assinalado. Sobre isso não há dúvidas. Entretanto, continua aberta a discussão sobre quem foram os pioneiros.

Por exemplo, o zoólogo norueguês Thor Heyerdahl tornou-se célebre especialmente por ter cruzado o Pacífico em uma jangada em 1947, um extraordinário feito náutico a bordo da mais que famosa Kon Tiki.

O explorador, arqueólogo, antropólogo e escritor, que nasceu na Noruega, em 1914, mudou-se aos 25 para a Polinésia. Intrigava-o, descobrir como colonizaram aquelas ilhas remotas.

Colonização por austronésios, povos sul-americanos, ou os dois?

Thor desenvolveu a teoria com base na ideia de que os povos da América do Sul, como os incas ou seus ancestrais, poderiam ter colonizado as ilhas do Pacífico. Entre outras observações, ele destacou a semelhança entre as colossais figuras de Tiki — o deus e chefe mítico dos polinésios — e os grandes monólitos deixados por civilizações extintas da América do Sul, especialmente os encontrados na Ilha de Páscoa.

Pois bem, Thor foi combatido pelos ‘especialistas’ até o fim de sua vida. Diziam que ele não era um cientista, e que sua tese seria totalmente equivocada. Pois muito bem, em julho de 2020, CNN, um novo estudo publicado na revista Nature mostrava que, “os pesquisadores encontraram ‘evidências conclusivas’ para o primeiro encontro entre os dois grupos, depois de analisar o DNA de mais de 800 indivíduos de 17 ilhas polinésias e 15 grupos indígenas sul-americanos na costa do Pacífico.”

O New York Times também abriu espaço para a descoberta revolucionária: “Hoje, as pessoas em Rapa Nui, também conhecida como Ilha de Páscoa, e outras quatro ilhas da Polinésia carregam pequenas quantidades de DNA herdadas de pessoas que moravam na Colômbia há cerca de 800 anos.”

E é justamente isso o mais fascinante, ou seja, só agora com as melhorias da tecnologia é que estamos montando finalmente o imenso quebra-cabeça de nossas origens. Acompanhar esta discussão é mais que um prazer, é uma grande viagem!

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