Pavimentação da Estrada de Castelhanos provoca tensão em Ilhabela
Ilhabela é um tema recorrente em nossas discussões, sempre focando a proteção das áreas de mata atlântica, praias, restingas, manguezais, e comunidades caiçaras, constantemente ameaçadas pelo poder público e pela especulação imobiliária, além da preservação da qualidade da água dos rios e do mar. O arquipélago de Ilhabela abriga um Parque Estadual que cobre cerca de 85% da área, tornando-se um dos destinos de lazer mais procurados pela elite paulista e outros visitantes. No espaço limitado restante, apenas 15%, novas construções surgem em um ritmo frenético há mais de uma década, sem sinais de desaceleração ou ordenamento. Essa situação atraiu centenas de trabalhadores da construção civil que vivem amontoados no bairro mais pobre da ilha, Alto da Barra Velha, onde a ocupação desordenada vai se desenhando até nas encostas de morros o que é uma ameaça significativa. Agora, um novo desafio assustou parte da população: a pavimentação da Estrada de Castelhanos.
Uma notícia surpreendente pegou os ilhéus de surpresa
Não há quem frequente Ilhabela e não conheça a Estrada de Castelhanos, uma estrada-parque que corta a ilha no sentido longitudinal, ligando a face que dá para São Sebastião à baía de Castelhanos, onde vivem comunidades caiçaras há gerações.
De maneira idêntica, é raro encontrar alguém que não tenha ao menos ouvido falar no interesse do prefeito, Antônio Colucci (PL), em construir um resort nas terras de sua esposa Lúcia Reale, de família tradicional e uma das netas de ‘Seu’ Leonardo, antigo proprietário de um engenho. Esta possibilidade era fonte constante de angústia na comunidade caiçara de Castelhanos. São dezenas, talvez centenas de famílias, ameaçadas pela especulação que prossegue devorando Ilhabela, e todo o litoral.
Em razão desta insegurança, desde 2014 os caiçaras passaram a fazer reuniões entre a comunidade e outros órgãos, para que fosse criada uma Resex municipal com ‘o objetivo de impedir de vez que a especulação imobiliária chegasse’, disse minha fonte. E prosseguiu: ‘naquele tempo era muito fácil falar com Gracinha. Tínhamos diálogo, éramos recebidos, não é como agora’.
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Foi assim que no final de 2020 a prefeita Maria das Graças Ferreira dos Santos Souza assinou o decreto que criou a Reserva Extrativista (Resex) da Baía de Castelhanos.
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Esta unidade de conservação municipal garante a necessária posse da terra para as famílias que vivem ao redor da baía.
Colucci tentou cancelar a criação da Resex de Castelhanos
Uma das primeiras ações de Colucci, ao assumir a prefeitura pela terceira vez, foi cancelar a criação da Resex, uma medida que muitos interpretaram como tentativa de facilitar a ocupação pela indústria do turismo.
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Dessa forma, sem aviso prévio e sem a consulta pública obrigatória nesses casos, a Câmara de Vereadores aprovou no mesmo dia o cancelamento. A revolta foi imediata. Depois de várias manifestações nas redes sociais, os ilhéus publicaram um abaixo-assinado onde os caiçaras alertavam: ‘estamos sendo ameaçados pelo então senhor prefeito de Ilhabela Antônio Luiz Colucci que está dizendo que nossas terras têm um dono’.
Atuação corajosa do MP-SP garantiu a Resex
Como era de se esperar, o caso foi judicializado. O Promotor de Justiça Marcelo Oliveira dos Santos Neves, a Procuradora da República Maria Rezende Capucci, o Promotor de Justiça Cauã Nogueira de Araújo e o Promotor de Justiça do GAEMA/LN Tadeu Salgado Yvahy Junior, assinaram um documento dirigido ao Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público, Mário Luiz Sarrubbo. Com isso, a Justiça decidiu manter a RESEX.
Colucci quer um resort na praia da Serraria?
No final de 2023, o prefeito surpreendeu novamente. Avançando em sua obsessão, desapropriou um imóvel de 898.000 m² na praia da Serraria. O custo aos cofres públicos foi de 7 milhões de reais. Colucci alegou que a área era de “utilidade pública”. O decreto, no entanto, já determina seu destino: a Criação de Área de Compensação de Reserva Ambiental”. Então perguntamos: para que ‘regime de urgência’ se era para criar uma reserva ambiental? Não faz sentido.
Pouco depois, soube-se que embarcou para a Europa para participar da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL). Durante o evento, o Mercado de Eventos publicou Ilhabela projeta captação de resort com bandeira internacional em uma área de 800 mil m2. No corpo do texto: o prefeito Antônio Luiz Colucci anunciou um projeto de captação de uma bandeira hoteleira internacional, cujo objetivo é implementar um resort ecológico em uma área de 800mil m²’. O plano está em fase de prospecção da empresa, um dos motivos que justifica a vinda do destino para a feira em Portugal.
Problemas provocados pelo ‘overtourism’
Ao que parece, não passa pela cabeça do prefeito os muitos problemas provocados pelo overtourism, mesmo visitando a Europa onde as manifestações contrárias não param.
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Mais uma vez, quem paga a conta pelo ‘resort ecológico’ são os caiçaras. Para construir seu sonho, Colucci desapropriou uma área onde vivem cerca de 25 famílias caiçaras. Enquanto isso, saiba que a prefeitura não ergueu sequer uma casa popular, apesar do município ser um dos mais ricos do Estado em razão dos royalties de petróleo. Só em 2022, Ilhabela recebeu nada menos que R$ 700 milhões de reais! Ou seja, o que falta é vontade política, e visão de médio e longo prazos. É por esta omissão não só dele, mas também de ex-prefeitos, que os mais pobres, os peões das obras, moram dependurados no morro em condições indignas, deprimentes, em Barra Velha.
Outra consequência do caso Serraria é que, por desapropriar uma área ocupada por populações tradicionais, houve nova judicialização. Assim, o Ministério Público Federal, na figura da Procuradora da República do município de Caraguatatuba, WALQUIRIA IMAMURA PICOLI, publicou uma ‘Notícia de Fato’, questionando a atitude. A Procuradora disse que o município havia beneficiado particular não pertencente à comunidade com pagamento de 7 milhões de reais, estando o ente público através do chefe do executivo oferecendo o imóvel no exterior para investidores do ramo de hotéis de luxo’.
Este caso mostra que, também para a Justiça, a desapropriação da Serraria seria para investidores do ramo de hotéis de luxo’.
A novidade: pavimentação da estrada-parque
Em julho de 2024, mais um sobressalto da população ao descobrir o envio de um projeto para pavimentar a estrada-parque.
Por atravessar um parque estadual, era de se esperar que Colucci ouvisse os envolvidos, os caiçaras em primeiro lugar, o pessoal do turismo, e o conselho da unidade de conservação. Mas ele decidiu apenas protocolar a obra junto ao Parque. Em seguida, a gestora da UC, Gabriela Carvalho, enviou o processo para análise da Fundação Florestal, encarregada das unidades de conservação estaduais. Este procedimento não é incorreto ou ilegal. Entretanto, demonstra que Colucci despreza o meio ambiental e os nativos. Só depois de encerrada a análise, o projeto será aprofundado com caiçaras, setor do turismo e, claro, o conselho do parque.
Contudo, tão logo a notícia da pavimentação se espalhou, parte dos ilhéus ficou incrédula pela falta de consulta prévia conforme determina a OIT 169 e, por isso, convocou reunião. Hoje, cerca de 120 jipeiros ganham a vida levando turistas pela estrada de terra em carros 4×4. Muitos temem perder suas rendas.
Os ambientalistas questionam a pavimentação, orçada em cerca de 20 milhões de reais, uma vez que o Plano de Manejo do Parque Estadual não permite a impermeabilização do solo, o que poderá ocorrer. Para esta parcela da população, a ‘melhoria’ facilitaria a vida de quem pretende lotear Castelhanos mas não contribui com turistas, ou caiçaras. E, estes, pensam da mesma forma como se verá em seguida.
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A posição dos caiçaras
O Mar Sem Fim conversou com nativos de Castelhanos. Para Aline Gonçalves, ‘os caiçaras foram surpreendidos pela notícia. Do nada a gente soube que a prefeitura mandou um projeto de pavimentação para a Fundação Florestal, sem passar pelo conselho do parque, ou pela comunidade’.
‘Não vejo nenhuma melhoria para a comunidade’, disse ela. ‘Aumentaria a pressão do turismo e da especulação imobiliária, e a comunidade não quer nada disso. A gente briga pela melhoria da estrada porque ela nos dá acesso às comunidades vizinhas, mas o ideal não é a pavimentação’. Finalizou dizendo que ‘vão lutar contra esta pavimentação’.
Este depoimento é mais uma prova de que Colucci não ouviu quem quer que fosse. Tomou a decisão sozinho, uma vez mais, e ignorou parte importante da população como sempre fez. Acontece que isso fere a legislação ordinária, não à toa, o prefeito tem imensa ficha processual.
O Mar Sem Fim ouviu a Fundação Florestal
Em nota burocrática a Fundação Florestal informa que ‘No termo de acordo judicial…entre Fundação Florestal, Prefeitura do Município de Ilhabela e Ministério Público do estado de São Paulo, consta como uma das obrigações do município a realização de intervenções de manutenção na estrada de castelhanos, no valor de 05 milhões de reais’.
‘A manutenção da estrada de castelhanos é extremamente importante para conter processos erosivos, assoreamento de cursos de água, movimentação de encostas e para assegurar segurança para a atividade turística e para o deslocamento das comunidades tradicionais que fazem uso da estrada para acessar o centro de Ilhabela pela via terrestre. Além disso, o acordo prevê que a direção do Parque assegurará consulta prévia ao seu conselho consulto sobre os projetos financiados pela transação judicial’.
‘Nesse sentido, tão logo o acordo tenha sido firmado (SIC), foi dado amplo conhecimento ao Conselho Consultivo do Parque Estadual Ilhabela. Especificamente para a manutenção da estrada parque, em março de 2024 no âmbito do Conselho do PE Ilhabela foi criado o Grupo de Trabalho TAC Estrada Parque. O GT foi criado exatamente para acompanhar as questões do acordo e, posteriormente, o GT deverá levar as considerações para a plenária o Conselho’.
Conselheiros do Parque Estadual e caiçaras só tiveram acesso ao projeto da estrada-parque em 30 de julho
Atenção: segundo os conselheiros com os quais falei, na reunião de março citada pela nota da FF, o Grupo de Trabalho só teve acesso ao fato de que haveria ‘manutenção’ da estrada-parque como consta no Termo de Ajuste de Conduta, TAC. Ou seja, ‘foi dado amplo conhecimento’ de que, como sempre acontece, haveria ‘manutenção da estrada-parque’. Assim, o processo não foi tão transparente como sugere o texto da Fundação.
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‘No dia 03/07, foi informado no GT, que a Fundação Florestal havia recebido um projeto de manutenção da Estrada. No dia 30/07, foi realizada uma reunião do GT com apontamentos sobre os documentos apresentados pela municipalidade e que também já foram encaminhados neste mesmo grupo do GT a todos os participantes, incluindo aqueles que não estavam na reunião presencialmente. A partir do protocolo do projeto também foi feita a comunicação formal ao conselho da UC’.
O parágrafo acima também deixa a desejar. Ele dá a entender que a reunião de 30/07 seria uma reunião corriqueira, pré-agendada. Mas não foi assim. O encontro só ocorreu porque a conselheira Gilda Nunes o solicitou, justamente para finalmente saber o que estava acontecendo. Só então, menos de um mês atrás, caiçaras, ilhéus, e ambientalistas ficaram sabendo que ‘manutenção’ quer dizer ‘pavimentação’ da estrada cujo projeto o controverso Colucci desde março discute com a Fundação.
Fundação Florestal reclama do Mar Sem Fim
Na manhã desta sexta-feira, 9/10, recebi e-mal da FF cobrando o motivo da nota ser publicada parcialmente. Em seguida, citaram os trechos que não publicados originalmente – em razão do tamanho do post, explico.
Para evitar mais problemas, destaco os trechos que a FF considera importantes e que ficaram de fora.
1 -…(ficou de fora) a composição do GT, que congrega liderança da comunidade tradicional de castelhanos, da associação dos jipeiros e das agências de turismo…
2 -…Também omitiram o fato de que o conselho deve aprovar a intervenção…
3 -…Não houve menção sobre a reunião que ocorrerá na data de hoje e que haverá consulta à CETESB para averiguar a necessidade de licenciamento…
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Finalmente, as conclusões da FF:
Feito esse breve histórico, é preciso esclarecer que ainda estamos na fase de análise do projeto pelo Conselho Consultivo do Parque Estadual Ilhabela e do GT criado especialmente para esse fim. Nesse momento, para além das discussões de mérito que serão tratadas no conselho, orientaremos o Município a realizar uma consulta junto à CETESB para que se verifique se as intervenções propostas dependem de licenciamento e, se positivo, qual sua tipologia (Estudo Ambiental Simplificado- EAS; Relatório Ambiental Preliminar-RAP ou Estudo de Impacto Ambiental EIA).
Além dessa questão técnica, a Fundação Florestal promoverá amplo debate sobre o projeto com todos os atores interessados, especialmente as comunidades tradicionais, a associação dos jipeiros e de turismo e a sociedade civil.
Temos absoluta certeza que só um debate transparente, respeitoso e construtivo será capaz de viabilizar intervenções que sejam boas para todos e essa será a linha de atuação da Fundação Florestal.
O Mar Sem Fim ouviu Antônio Colucci
Comecei perguntando se a prefeitura tinha um plano de construção de casas populares. Houve um breve silêncio seguido de, sim! Sim, inclusive recolhemos uma área, um antigo loteamento abandonado, para ali fazer a infraestrutura dos lotes populares…É o Green Park, no início da estrada de Castelhanos.
Estranho nome, pensei. Green Park, um nome em inglês para um bairro a ser ocupado pelos mais humildes numa ilha paulista? Por que não em português, ou guarani? Seria o tão falado complexo vira-latas?
Colucci esclareceu que houve um processo iniciado em 2014 para que a prefeitura pudesse ficar com a área. Agora, quando voltei, tínhamos ganho a causa, assim somos proprietários da área. Em seguida pedimos autorização à CETESB para corte de vegetação, fora de APP, onde a gente quer construir…demorou alguns segundos, como se estivesse pensando, 120 lotes populares, completou. Colucci disse em seguida, que as obras não começaram porque a CETESB não autorizou o corte das árvores.
Toninho é ardiloso, não deixa pergunta sem resposta
Toninho é ardiloso, não deixa pergunta sem resposta mesmo que tenha que falar que Ilhabela tem plano de construção de casas populares quando não tem. Ele está deixando o poder pela terceira vez, portanto, tempo ou dinheiro não faltaram. Mesmo assim foram construídas zero casas populares!
Infelizmente, esta é a regra nos municípios costeiros paulistas. Ubatuba, São Sebastião e Caraguatatuba também não têm. Os pobres que se danem dependurados nas encostas de morros. Os prefeitos se concentram em grandes e caras obras, quanto mais alto o preço, melhor; e no aumento do turismo que já se mostra insustentável. Nenhum dos quatro balneários tem infraestrutura para atender sequer a população. Quando chegam os feriados, ou férias, é um deus nos acuda, as cidades entram em colapso.
O lixo se espalha por todos os cantos, o esgoto não tratado deságua nos rios e no mar, o trânsito é caótico, a poluição sonora é constante, muitas praias ficam impróprias para banho, e a lista vai longe. Quem frequenta, sabe. É a velha história, obras subterrâneas, não à vista de todos, não geram votos. Então, deixa o saneamento pra lá e vamos atrás de mais condomínios, resorts, hotéis; até quando prosseguirá a insanidade?
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Os prefeitos dos balneários de São Paulo frequentemente carecem das qualidades essenciais de um bom gestor, como foco, visão estratégica, senso de justiça, humildade, honestidade e habilidade para a gestão de conflitos. Para ilustrar, basta citar dois exemplos: nenhum deles implementou ou apresentou obras para mitigar o aquecimento global, e alguns sequer acreditam na sua existência. No caso específico de Ilhabela, em vez de gerir os conflitos com eficiência, o prefeito parece ser o principal responsável pela discórdia que domina a ilha.
Ilhabela não tem plano de construção de casas populares
Esclareci que perguntei sobre casas populares porque conheci o Alto da Barra Velha, uma área que se assemelha mais a uma favela do que a um bairro. A região apresenta um superadensamento e um crescimento desordenado, onde os mais pobres vivem, muitos deles em situação de risco.
Basta uma chuvarada fora de controle para uma possível nova tragédia acontecer. Disse ainda ao prefeito, que Barra Velha é inaceitável, uma vergonha para um dos municípios mais ricos do País, em razão dos royalties do petróleo. E pedi que comentasse.
Toninho passou batido pela questão dos royalties, e apesar de ocupar a prefeitura pela terceira vez, também não vestiu a carapuça. Preferiu culpar outros.
Isso sempre acontece. Quando o poder público não administra este crescimento, ele acontece de forma desordenada. A ocupação de Barra Velha é muito antiga, da década de 80. Realmente, em alguns trechos aconteceu crescimento desordenado.
Colucci não é novo no cargo, ele está encerrando seu terceiro mandato
Lembrei que ele não é novato, está terminando o terceiro mandato. ‘O senhor teve três oportunidades de melhorar a condição de vida de Barra Velha e, pelo que vi, francamente, fiquei com pena de quem mora lá’.
Colucci sugeriu que eu fizesse uma avaliação de seus votos em todas as eleições, principalmente em Barra Velha; ‘a população enxerga de forma diferente’. Mas nada disse sobre as condições indignas das atuais moradias.
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Qual o motivo do projeto de pavimentação da estrada de Castelhanos? A quem o senhor acha que isso interessa?
Primeiro, não existe esta história de pavimentação. Existe um projeto de perenização da estrada que precisa ter soluções definitivas. Não dá para, a cada chuva, a gente ter que refazer a estrada. Temos que fazer drenagem, e nos trechos mais inclinados fazer um tipo de pavimentação orgânica, um tipo de pavimentação permeável que possibilite o acesso de turistas e da população.
Pavimentação, manutenção, ou perenização da estrada?
É curiosa a cuidadosa escolha da expressão para se referir à pavimentação da estrada-parque por dois dos envolvidos. A Fundação Florestal usa realização de intervenções de manutenção na estrada de castelhanos.
O prefeito prefere dizer que não existe pavimentação. Existe um projeto de perenização da estrada…nos trechos mais inclinados fazer um tipo de pavimentação orgânica, um tipo de pavimentação permeável…
Ambientalistas, caiçaras, jipeiros, e outros com quem falei, preferem ‘pavimentação’, o mesmo termo que consta do projeto da prefeitura protocolado no parque.
‘Uma cidade só pode ser boa para o turistas se ela for boa para as pessoas que moram na cidade’
Perguntei se Colucci considera que a pavimentação vai melhorar a vida das populações tradicionais, em outras palavras, os caiçaras. Esta é a primeira intenção. Uma cidade só pode ser boa para o turista se ela for boa para as pessoas que moram na cidade.
Como assim? Levei um susto. Desde sempre Colucci investe contra os nativos. Já contamos sobre a tentativa de cancelar a Resex de Castelhanos. Antes, ele investiu contra os caiçaras do Bonete. Em 2013 houve outro ataque aos redutos caiçaras quando ele propôs alterar o plano de gerenciamento costeiro. Pelo projeto, as comunidades de Bonete e Castelhanos seriam classificadas como Z4, o que as enquadraria como ‘áreas urbanas’. Por que será que houve esta mudança radical, pensei?
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Questionei-o, lembrando que um dos primeiros atos desta gestão foi cancelar a Resex de Castelhanos, portanto, dizer que a primeira intenção seria melhorar a vida das populações tradicionais não condiz com seu histórico.
Críticas à ex-prefeita Gracinha
Colucci não respondeu à pergunta, mas criticou Gracinha. A criação da Resex foi feita no apagar da luz. Um decreto da prefeita passada que ela promulgou no último dia de governo, em 29 de dezembro. O decreto é de iniciativa dela e não teve discussão nenhuma com a sociedade. Foi então que o prefeito atingiu o ápice de seu discurso hipócrita. Eu entendo que este tipo de atitude (envio de algum projeto à Câmara de Vereadores), tem que passar por uma discussão ampla com a sociedade. Nossa proposta é que isso entre no Plano Diretor da cidade.
Se eu não tivesse ouvido, não acreditaria. Colucci é famoso por não ouvir ninguém, como atestam as várias medidas da Justiça já comentadas. Inacreditável a audácia. E prosseguiu…
‘Toda a sociedade de Ilhabela tem que discutir o que quer que seja’
‘Toda a sociedade de Ilhabela tem que discutir o que quer que seja de todo o seu território, inclusive as comunidades tradicionais. A Associação de Moradores de Castelhanos, são duas associações, e uma delas é contrária à Resex. Em seguida, discorreu sobre as áreas de marinha, a tal maré de 1833, etc, e sobre os ‘pseudo ambientalistas que defendem a Resex’.
Finalizou dizendo que Resex se refere à faixa de marinha (SIC). A Resex, proposta pela prefeita e que alguns pseudo ambientalistas defendem, não resolve problema nenhum, só cria uma dúvida a todos. Não vejo nenhuma função na questão da Resex.
Ele pode não ver, mas é tudo o que querem os caiçaras de Castelhanos. Portanto, se gosta ou deixa de gostar, tanto faz. Quem tem que opinar são os caiçaras que lutam há anos pela unidade de conservação porque ela garante a posse da terra, entre outros predicados. Segundo uma de minhas fontes, houve algumas reuniões entre caiçaras e Xico Graziano, no período em que ele ocupava o cargo de secretário de meio ambiente de Ilhabela, para tratar da criação da Resex.
Xico Graziano, ex-secretário de Meio Ambiente de Ilhabela, recusou-se a pagar obra que não foi feita
Não posso deixar de abrir um parêntesis e contar como, e por que, Xico Graziano saiu da prefeitura da ilha comandada por Colucci. Antes de mais nada, vale mencionar que Xico já exerceu o cargo de deputado federal (2003-2007) e atuou como secretário de Recursos Hídricos e Meio Ambiente de São Paulo (2007). Formado em engenharia agronômica, ele também leciona em várias faculdades e nunca enfrentou acusações de qualquer imoralidade.
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Depois de demitido, e chamado de incompetente por Antonio Colucci, Xico publicou um post no Instagram onde dá a sua versão. Ele discordava do valor de uma obra, a Estação de Tratamento de Esgoto – ETE da Feiticeira. Em janeiro de 2022, Toninho o chamou para uma reunião em seu gabinete. Além de alguns secretários, estava lá o empreiteiro. O valor da obra era de 2 milhões de reais.
Para encurtar, Xico foi verificar o canteiro de obras e percebeu que o item sobre remoção de pedras simplesmente não era realidade. Voltou e denunciou o caso para a Controladoria do Município. No dia seguinte foi novamente chamado ao gabinete do prefeito onde estavam Colucci e seu vice, o filho João Pedro. Toninho queria que a obra fosse paga. Xico se recusou porque ela simplesmente não existia, e contou que denunciara a maracutaia. Toninho, então, sob o argumento de ‘perda de confiança’, o demitiu. Isso significa que é provável que o empreiteiro tenha recebido, apesar de não feito parte da obra.
Para ouvir o depoimento de Graziano, clique aqui.
‘Quero dizer ao Sr. o seguinte: a sua informação está distorcida’
Voltando à entrevista, reiterei que, ao conversar com os caiçaras, percebi que estavam assustados, além de reclamarem por não serem ouvidos…Colucci mal deixou eu terminar. Quero dizer ao Sr. o seguinte: a sua informação está distorcida.
Mas não explicou o motivo da ‘distorção’. Em seguida, passou a falar sobre uma ponte (ao final da estrada-parque) que anos atrás quis construir, mas que acabou não acontecendo porque pseudo ecologistas inventaram diversas mentiras sobre a ponte. Hoje eles se arrependem de terem lutado contra.
‘Perenização em alguns trechos para agredir menos o meio ambiente’
Antonio Colucci emendou com: a gente defende uma perenização em alguns trechos. Eu não defendo asfalto aqui. Mas nos trechos mais íngremes como a Volta Grande, a Mãe d’água, ou a Sucupira, a cada chuva tem que ser recuperados. A terra que a gente coloca vai parar dentro das cachoeiras, ou no mar. Então, precisamos alguma forma de agredir menos o meio ambiente, por isso esta ideia de perenizar alguns trechos.
Mais um show de incoerências. Ao mesmo tempo em que pretende agredir menos o meio ambiente, meses antes induziu a população a praticar crime ambiental ao sugerir que arrancassem o jundu, importante vegetação de restinga, das praias de Ilhabela. Por causa disso foi mais uma vez indiciado pelo MPF, desta vez por crime de incitação à população para remover a vegetação de “Jundu”.
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O sr. pretende construir a ponte desta vez, perguntei? Não, a população está pedindo isso, todos de lá estão pedindo isso, e a gente vai colocar, sim, a construção da ponte.
Não pense que o trecho acima contém erro de digitação. Como em todas as respostas Colucci parece se contradizer, primeiro diz que não. Em seguida, que sim. Fazer o quê? Mais adiante, num momento de descontração, assegurou: ‘sou um cara que fala as verdades, nem todos concordam, mas eu falo as verdades, além de trabalhar em função dos interesses da coletividade’.
‘Projeto construído com a participação da Fundação Florestal’
Dos interesses da coletividade, Colucci passou a falar do projeto ‘construído com a participação da Fundação Florestal. A gente pôs a mão no pincel e desenhou o projeto. Toda a discussão foi feita com a Fundação, com o Rodrigo (Levkovicz, diretor da FF), nada foi feito às escondidas’.
Insisti que, conversando com jipeiros e caiçaras, fiquei sabendo que nenhum dos grupos foi consultado previamente.
Vamos lá. Eu tive uma conversa com a associação dos jipeiros, e empresas de transporte, e expliquei para eles. Garanti que a perenização deste trechos não muda nada. A estrada não será liberada para qualquer um.
Aqui ele se trai. No começo da entrevista Colucci insistiu que teria ouvido todos os segmentos da sociedade. Agora, ao responder sobre os jipeiros, fica claro que ele só teve a conversa DEPOIS que os 120 motoristas, apavorados de perderem renda, ficaram sabendo do projeto ao toparem com topógrafos. Eles imaginaram que, com a ‘pavimentação’, carros 4×2 poderiam entrar no parque hoje restrito aos 4×4. Por isso o prefeito garantiu que ‘a estrada não será liberada para qualquer um’.
‘O problema foi gerado pelo ex-prefeito Manoel Marcos’
Colucci explicou que o projeto nasceu do TAC, etc. e tal, e aproveitou para dar uma estocada em um de seus concorrentes à prefeitura nas próximas eleições. O problema foi gerado pelo ex-prefeito Manoel Marcos (concorrente de Colucci na eleição de outubro), que cometeu crime que virou uma multa ambiental de 10 ou 15 milhões. Assim, em conjunto com a Fundação fizemos um projeto de recuperação da estrada. A gente nunca discutiu a recuperação da estrada com esta gente. Estamos discutindo a ponte. Toda reunião que tenho em Castelhanos abro a reunião com este assunto, e a grande maioria da população é a favor da ponte.
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Ao leitor, explico que fui processado duas vezes por Colucci, que perdeu em ambos os casos, assim, tomei a precaução de gravar todas as entrevistas. E escrevi ipsis litteris o que ele falou. É por isso que paradoxos surgem com tanta frequência. Depois de insistir que conversou com toda a sociedade, declara que A gente nunca discutiu a recuperação da estrada com esta gente. Estamos discutindo a ponte.
Na sequência o prefeito discorreu sobre a área de Castelhanos que era de propriedade de ‘Seu’ Leonardo Reale, avô de sua mulher. E garantiu: nunca a família teve interesse em fazer loteamento. Foram muitas propostas, mas não tivemos interesse. Estou muito feliz de proteger aquela população (referindo-se aos caiçaras de Castelhanos!?).
‘O Promotor Tadeu me persegue desde que chegou aqui’
Lembrei que ele também teve problemas com a Justiça por crimes ambientais, ao que respondeu: nada prosperou, eu me defendi e continuo fazendo. O Promotor Tadeu (Tadeu Salgado Yvahy Junior, do GAEMA) tem uma diferença comigo, desde que chegou me persegue. Ele me condenou a 4 anos de cadeia, mas eu provei que ele estava absurdamente errado e, no TJ, fui absolvido por 3×0. Acho o Tadeu um Promotor sem escrúpulos que me persegue. Ele faz mal para cidade, o Estado, e o Brasil. Ele não presta.
Antes de terminar, perguntei como anda o projeto do resort na Praia da Serraria. Não existe projeto de resort. Não existe, reiterou. Então perguntei da viagem para Portugal e da divulgação da procura de um sócio.
Para Colucci há várias redes internacionais que se interessam por projetos de turismo ambiental no Brasil. Não tem nada a ver com resort. A praia de Serraria é uma área interessante, e se a comunidade entender que é benefício para eles a gente começa a desenvolver um projeto de turismo ambiental para a região.
‘Foi um bom negócio ao comprar a área por 7 ou 8 reais o metro quadrado’
Colucci afirmou que foi um bom negócio comprar a área por 7 ou 8 reais o metro quadrado. Alguns lotes de particulares já são ocupados pela prefeitura. Ocorre que os proprietários estavam em vias de ingressar com ações contra a gente que poderiam gerar um pagamento enorme. Assim, conseguiu comprar toda a área, inclusive para criar áreas de preservação. Quem sabe uma reserva ambiental naquele local.
Ponderei que a tese de transformar a Serraria em reserva ambiental soa estranha para um arquipélago onde 85% da área já é uma reserva ambiental. Uma coisa é uma unidade de conservação, outra coisa é um parque florestal. Não são o mesmo, indaguei? Não, não é a mesma coisa. Uma unidade de conservação pode não ser de propriedade do poder público em que, através de decreto, você cria regras de ocupação. Mas você não é o dono. Quando você cria um parque a sociedade passa a ser dona daquela área, hoje estes 800 mil m2 em Serraria são de propriedade da sociedade de Ilhabela.
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(Segundo a Lei do SNUC, todas as Unidades de Conservação são criadas pelo poder público, sem exceções, municipal, estadual, ou federal).
Os 85% da área do arquipélago transformados em parque, e suas 72 praias, também pertencem à população, não ao Estado, afinal, de onde vem o dinheiro para comprar a área, fazer melhorias, ou contratar pessoal? De nossos impostos, ora!
Aproveitei para lembrar que a Procuradora da República do município de Caraguatatuba, WALQUIRIA IMAMURA PICOLI, publicou uma ‘Notícia de Fato’, onde questiona a atitude do prefeito.
‘É a participação da esposa do mau-caráter Tadeu’
Bom se eles acham isso, que ingressem com ações. Então, li o trecho em que a Procuradora diz que o município tinha “beneficiado particulares (ao pagar 7 milhões de reais)…oferecendo o imóvel no exterior para investidores do ramo de hotéis de luxo.” É a participação da esposa do mau-caráter Tadeu, agora eles terão que provar esta acusação leviana. Tem tanta coisa na região, mas eles vivem me perseguindo.
Assim é Colucci. Quem não concorda é covarde, mau-caráter, ou ‘pseudo ambientalista’.
Contudo, ele mesmo declarou ao Mercado de Eventos que pretendia implementar um “Resort Ecológico”, enquanto o projeto que enviou cita a Criação de Área de Compensação de Reserva Ambiental”. E agora, na entrevista, diz que se trata de uma “reserva ambiental”. Fica difícil entender o que está por trás. Uma hora Colucci desanca a Resex, e tenta cancelá-la. Depois, desapropria uma praia para construir uma ‘reserva ambiental’?
Ocorre que a Justiça teve a mesma impressão que tivemos: oferecer o imóvel (praia da Serraria) no exterior para investidores do ramo de hotéis de luxo’. O prefeito ainda jura ter sempre ouvido a população, no entanto, recebeu uma série de ações da Justiça exatamente por não fazê-lo sempre que inventa uma nova obra.
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A impressão do Mar Sem Fim sobre a entrevista com Colucci
É um otimista nato, se vê como um democrata preocupado com a população, e que ouve todos os segmentos da sociedade. Repete que tudo que faz na administração pública é de interesse da coletividade. É uma visão demasiado benevolente consigo mesmo, ao mesmo tempo em que se mostra um mitômano.
Além disso, é agressivo com críticas e foge de deslizes como o do teatro que construiu com um concreto tão imprestável, vagabundo, que antes de ficar pronto o prédio foi condenado. Desse modo, ele jogou no lixo alguns milhões dos cofres públicos, mas deixou o esqueleto como um lembrete de que, com ele, é preciso abrir os olhos.
Também não comentou que em março de 2023 novamente ocupou as manchetes ao dispensar de licitação uma obra de desassoreamento do córrego da Água Branca com um custo superior a R$ 13 milhões de reais. Havia também suspeita de superfaturamento.
E por mais esta, o Promotor de Justiça do GAEMA Tadeu Salgado Ivahy Badaro Junior, em despacho, mandou parar a obra sob pena de multa de R$ 100 mil reais.
Quanto mais nos aprofundamos, mais casos estranhos aparecem
Quanto mais nos aprofundamos nas gestões de Colucci, mais casos estranhos aparecem. Em 2016, a Justiça determinou o bloqueio de seu bens por contratação de empresa de eventos sem licitação. Em 2018, sofreu uma Ação Cívil de Improbidade Administrativa por Dano ao Erário, por parte do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Comarca de Ilhabela. Enfim, o prefeito tem enorme ficha processual. Os motivos são acusações de supostos Crimes de Responsabilidade, Violação aos Princípios Administrativos, Direito Ambiental, Crimes de Responsabilidade, Indenização por Dano Moral, Enriquecimento Ilícito, Nepotismo, e outros.
Outra questão que quero dividir com o leitor, é a pesquisa que fiz sobre o custo de construção. De acordo com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), o preço médio para construir uma casa popular, com cerca de 60 metros quadrados, é de aproximadamente R$ 90.000,00. Com 20 milhões de reais Colucci poderia erguer pouco mais de 200. Ou, para não comparar alhos com bugalhos, se tivesse separado 10% dos royalties recebidos apenas em 2022, poderia construir nada menos que 770 unidades.
Ao final, perguntei se gostaria de dizer algo mais. Colucci não perdeu tempo. Se o Sr. publicar, quero dizer que tenho a consciência tranquila. Tudo que tenho feito na administração pública é de interesse da coletividade. Fui reconhecido pela sociedade de Ilhabela e mais uma vez sou candidato (nas eleições de outubro). Ninguém melhor para avaliar minha atuação que a população.
Guerra no Oriente Médio e implicações ambientais no Mar Vermelho
O prefeito de Ilha Bela ficará conhecido na história de Ilha bela como o bandeirante do século XXI. O boniteza está no mesmo caminho. A Ilha Bela não será mais Bela daqui alguns anos .
Quando diz famílias e comunidade caiçara de Castelhanos, você diz aquelas pessoas que hostilizam e exploram turistas que visitam o local? Que enganam e exploram turistas estrangeiros que não entendem português? E que se comportam como donos da Castelhanos? mas na verdade sabemos que muitos ali nem são nativos, apenas invasores.
Pelomenos os carros de jipeiros não vai fica quebrado mais na estrada nem de moradores e também socorro de ambulância serámelhor