Lixo e esgoto nas praias aumentam no verão
Todo verão, ano após ano, as cenas se repetem. O brasileiro adora as praias, e quem pode aproveita o verão para matar as saudades. Em compensação, o acúmulo de lixo cresce assustadoramente mesmo com toda a informação disponível. Reflexo infeliz do fracasso da educação no País. Neste ano não será diferente. E, como sempre acontece, a virada do ano é também o marco do início do aumento da poluição marinha que só volta ao normal (?) ao final das férias. Isto é a consequência da falta de saneamento básico, especialmente no litoral. Até quando o lixo e o esgoto nas praias aumentarão no verão?
O exemplo da Copa do Mundo não serviu
A situação torna-se ainda mais chocante ao se repetir logo ao final da Copa do Mundo assistida por ricos e pobres, educados e mal educados. Todos viram o exemplo dos japoneses que tanto chamou a atenção. Após cada partida, torcedores impressionaram o mundo ao limparem os estádios.
Infelizmente, o exemplo não frutificou no Brasil. Do mesmo modo, este tipo de matéria se parece com a dos jornais na época da Páscoa: ‘Saiba qual o melhor ovo de Páscoa’. Como evitar a repetição?
Litoral Norte de São Paulo
Matéria do g1, do Vale do Paraíba, em 3 de janeiro: Cidades do Litoral Norte de SP recolhem mais de 300 toneladas de lixo das praias depois do Ano Novo.
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“As cidades do Litoral Norte de São Paulo recolheram mais de 300 toneladas de lixo das praias depois das comemorações de Ano Novo. O total recolhido foi de, no mínimo, 323 toneladas – São Sebastião foi o único entre os quatro municípios da região que não divulgou o balanço dos trabalhos.”
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A matéria mostra a divisão do lixo por município: “A cidade com maior quantidade de lixo recolhido foi Caraguatatuba, com 210 toneladas. Ubatuba, por sua vez, recolheu 101 toneladas de lixo após a virada, enquanto em Ilhabela a quantidade foi de 13 toneladas.”
Por falar em Ubatuba, o balneário vive do turismo, e suas lindas praias praias são o chamariz. As mesmas praias lotadas de lixo e, muitas com excesso de esgoto, impróprias para banho!
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Numa tentativa de minimizar o problema, Ubatuba vai cobrar uma taxa ambiental diária aos carros de turistas.
Contudo, o problema do esgoto in natura ainda vai perdurar. Ubatuba é o último município costeiro de São Paulo no ranking de saneamento básico, com apenas 54% de esgoto coletado e tratado.
Ilhabela
Ilhabela é outro destaque turístico no litoral norte do Estado e, desde 1977 portanto há 46, um parque estadual marinho. A despeito disso, o município que mais recebia royalties do petróleo, ocupa a antepenúltima posição no ranking de saneamento do litoral.
Contudo, parte do problema é que os ricos de São Paulo se recusam a fazer a ligação de suas mansões aos dutos que recolhem o esgoto e já instalados. Como diz o presidente da Sabesp, não são mansões mas “favelas de luxo”.
Em 2017, conforme denúncia do Mar Sem Fim eram 1.600 mansões dos abastados comodistas. Hoje este número deve ser bem maior.
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Lixo em Balneário Camboriú
A mais frequentada por ricos inconsequentes é também conhecida como uma aberração no litoral. Ou seja, Balneário Camboriú, SC.
Ainda em dezembro, segundo o www.scc10.com.br, ‘ relatório do IMA (Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina), as praias de Itapema, Porto Belo e Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, estão impróprias para banho.’
A Folha de S. Paulo também repercutiu o fato em dezembro, na matéria Jantar com celebridades e um mar de cocô. O texto, de Marcos Nogueira, enumera alguns motivos para tanta evidência da ‘Dubai brasileira’.
‘Ora são os arranha-céus do balneário, eleito como ponto de veraneio dos ricaços de Santa Catarina e do Paraná.’
‘Aí Balneário virou notícia porque alargou a faixa de areia, empurrando o mar para além da sombra dos pirocões de concreto. Agora a praia está de novo em evidência porque sua água está imprópria para banho, infestada de coliformes fecais.’
‘Modelo de desenvolvimento abraçado pela elite’
Marcos Nogueira define bem o local: ‘Balneário Camboriú, com sua mania de querer ser Dubai, é um retrato do modelo de desenvolvimento abraçado pela elite que mandou erguer seus arranha-céus. Uma classe ignorante, predatória e jeca até o último fio de cabelo (aquele que Luciano Hang perdeu há tempos).’
Pois bem, na virada do ano os ricaços jecas deixaram igualmente montanhas de lixo. Segundo o g1, Santa Catarina, Força-tarefa recolhe 27 caminhões de lixo em praia alargada de Balneário Camboriú após festa de réveillon.
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Em apenas UM dia, os jecas deixam 27 caminhões de lixo para ‘comemorar a passagem do ano!’ Foi preciso uma equipe de 350 pessoas, 12 caminhões e 16 máquinas, segundo a prefeitura, para limpar o que os porcalhões deixaram como rastro.
E ali não há a desculpa da pobreza e, em consequência, falta de educação. Quem tem dinheiro para ter um apartamento tem dinheiro também para a educação. Ainda assim…
Surto de diarreia no litoral de Santa Catarina
As praias do Estado também são o seu cartão postal e o turismo representa 12% do PIB estadual. Depois de dois anos de pandemia, quando quase não houve turismo no verão, este ano o Estado está feliz.
Milhares de argentinos lotaram os hotéis e pousadas. Simultaneamente, o Estado enfrenta um surto de diarreia sem precedentes exatamente no litoral. Segundo a gauchazh.clicrbs.com.br , o caso mais grave é verificado em Florianópolis, onde a prefeitura classificou a situação como uma epidemia.’
‘Além da capital, outras sete cidades registram surtos: Balneário Camboriú, Bombinhas, Navegantes, Penha, Balneário Piçarras, Porto Belo e Itapema.’ Não por acaso, os municípios que registram maior quantidade de turistas.
Curiosamente, diz a gauchazh.clicrbs.com.br, e ‘quase metade das praias do Estado recebeu classificação de imprópria para banho, conforme o relatório mais recente do Instituto do Meio Ambiente (IMA).’ São nada menos que 116 pontos impróprios para banho.
O verão mal começou e Floripa já registou 1.8 mil casos de diarreia. Será que os argentinos voltarão no ano que vem?
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Mil toneladas nas praias do Guarujá
Não há, praticamente, exceções. Seja no Sul, Sudeste, Nordeste, ou região Norte. Onde há praias, o volume do lixo e de esgoto crescem assustadoramente na virada do ano, e em todo o verão.
No Guarujá, por exemplo, ‘O ano de 2023 começou com a retirada de cerca de mil toneladas de lixo das praias de Guarujá, recolhidos na faixa de areia, calçadões e bairros no entorno das orlas. Nesta virada de ano, a Cidade recebeu aproximadamente 1 milhão de turistas, que vieram prestigiar a tradicional queima de fogos na orla de Pitangueiras, segundo informou o www.guaruja.sp.gov.br.
Prestigiar, ou emporcalhar? O que custa cada um recolher seu próprio lixo? Como é possível aceitar tal comportamento em pleno terceiro milênio?
‘Banhistas jogam quase 10 toneladas de lixo por dia nas praias do Paraná’
O título acima não é de filme de terror. É do www.bemparana.com.br, em 2/3/2023. ‘Banhistas no litoral do Paraná jogam por dia cerca de 10 toneladas de lixo nas praias de Matinhos, Guaratuba e Pontal do Paraná. Desde o dia 17 de dezembro, foram 141 toneladas de resíduos. No primeiro Dia do Ano, o lixo acumulado bateu recorde: foram 14 toneladas deixadas pelos veranistas nessas praias.’
‘Faz 12 anos que a Sanepar limpa diariamente as praias do Litoral, durante a temporada de verão. Junto com a limpeza, os banhistas recebem sacolinhas plásticas para colocar seu lixo, em vez de deixar na areia.’
Faz 12 anos que os banhistas inconsequentes recebem sacolinhas plásticas nas três praias. Mesmo assim…não aprendem. E isto acontece na Década dos Oceanos!
Depois da virada, muito cocô nas praias
Em seguida à virada do ano, alguns turistas voltam para suas casas. Contudo, milhares de outros passam as férias em pequenos municípios que não têm qualquer infraestrutura para receber ‘milhares’ de turistas.
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Vamos recordar que, segundo dados de 2021, a coleta de dejetos domiciliares acontece apenas em 55,8% dos lares de Pindorama. Ou seja, 44,2% não têm saneamento, muito menos serviços eficientes de coleta e tratamento de lixo mesmo para apenas os munícipes, então, imagine o que acontece com milhares de turistas a mais na temporada.
No ritmo que segue o saneamento básico no Brasil, seriam precisos mais 50 anos para a universalização. É por este motivo que saudamos, quase isoladamente em se tratando de sites ambientais, o novo marco do saneamento básico aprovado em 2020.
Novo marco do saneamento
O novo marco que prevê contratos de concessão celebrados mediante concorrência aberta ao setor privado. Por quê? Porque, segundo estudos, seriam precisos investimentos do Estado de R$ 600 bilhões necessários à universalização dos serviços. E o Estado está falido.
Neste sentido, abrir a possibilidade de privatização destes serviços foi um tremendo e bem-vindo avanço, só não aplaudido por ‘ambientalistas’ entre aspas, deturpados. Segundo o novo marco, as empresas privadas serão obrigadas a universalizá-los até no máximo em 2033.
Ou seja, além de diminuir brutalmente a poluição de nossos rios e nosso mar, tende a diminuir a indecorosa segregação social existente no Brasil.
Governo Lula e o novo marco em risco
É bom ficar de olho vivo. Antes mesmo de assumir, fala-se em ‘cancelar’ o novo marco do saneamento. Outro dos expoentes do atraso, além de ambientalistas alienados, é Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal eleito por São Paulo e membro da equipe de transição do governo.
Em 2020 Boulos teve o desplante de dizer: “A posição da maior parte dos partidos que sustentam a coligação presidida pelo presidente Lula no próprio Congresso, quando foi votado o marco, é que é muito prejudicial o processo de privatização do saneamento. É muito prejudicial você ter uma agência reguladora como a Agência Nacional de Águas (ANA), com superpoderes e sem controle da sociedade”.
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Antes de mais nada, o Mar Sem Fim vai ficar de olho. Faça o mesmo você. Não permita que o retrocesso aconteça.
E, se você é um dos que frequenta o litoral no verão, não deixe de levar medicamentos contra a diarreia favorecida pelo mar de cocô do Brasil.
E boas férias!
Excelente texto, só discordo de uma coisa, a privatização das empresas de saneamento básico aconteceram com força nos últimos anos. O resultado para esses municípios foi desastroso, péssima qualidade de água, serviço caro e ineficiente. Nem tudo que é público é ruim e nem tudo que é privado é bom.
Dirceu, vc está mal informado.O Novo Marco do Saneamento foi aprovado em julho de 2020. Segundo a CNN, O novo Marco Legal do Saneamento, sancionado em julho de 2020, já gerou cerca de R$ 72,2 bilhões em investimentos para o setor, segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Ao todo, 19,3 milhões de pessoas foram beneficiadas em 212 municípios com as licitações, que ocorreram nos estados de Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Amapá, Rio de Janeiro, e nas cidades do Crato, no Ceará, e São Simão, em Goiás (https://www.cnnbrasil.com.br/business/novo-marco-legal-do-saneamento-ja-gerou-mais-de-r-70-bilhoes-em-investimentos/#:~:text=Ao%20todo%2C%2019%2C3%20milh%C3%B5es,e%20S%C3%A3o%20Sim%C3%A3o%2C%20em%20Goi%C3%A1s). Isto para não falar que entre as regras, as concessionárias são obrigadas a universalizar os serviços até 2033.
Sò faço aqui uma ressalva. Esse problema do lixo nas praias não decorre do “fracasso da educação”. Sejamos claros. Uma coisa é a educação escolar. que está mal, mas cujo dever é ensinar conhecimentos para as pessoas. Outra coisa é a educação elementar, ou seja, a cultura de respeito que deveria se ter por si e pelos outros, como não soltar um pum na cara de ninguém, não cuspir no chão, não fazer xixi na porta do vizinho etc. É essa que vai mal. E essa educação é só uma palavra: respeito. Portanto, o sistema educacional não pode mudar isso se as pessoas não querem mudar. Para mudar a cultura é preciso que todos estejam comprometidos com uma coletividade, o que parece ser difícil. Vamos parar de culpar a escola por pessoas que não possuem comportamentos sociais elementares que devem ser aprendidos em casa, sejam pessoas da classe social que for.
Não culpo ‘as escolas’, culpo os governantes que não investem em Educação. Além disso, aprende-se nas escolas que ‘é preciso que todos estejam comprometidos com uma coletividade’.
Lixo nas areias das praias, esgoto em emissários próximos das praias, o que se poderia fazer? É da cultura popular (incluídos aí classe A+B+C+D) estão habituados a viver desta forma, se banhando em águas poluídas por excrementos (humanos+ de animais + lixo orgânico). ou seja, vivem na dejeção total, como diria, em outras palavras o dito popular.
Fiquem à vontade! Moderem, manerem, cancelem. Mas, é a pura Verdade.
Povo no jentos n quero ver a casa deles.
Isso que dá não dar educação para o povo. As consequências aparecem depois: lixo nas praias, eleição de Jair Messias Bolsonaro, o lixo do lixo dos políticos.
Apenas um adendo: isto já acontecia há muito tempo. E continua, infelizmente.
Sim, porque o país não valoriza a educação. Leia o capítulo Herança rural, de Raízes do Brasil. Aprender a ler e a escrever, já naquela época, era visto como algo inútil, a menos que o indivíduo fosse seguir a carreira eclesial.