Temperatura dos oceanos bate recorde e é a maior da história
A temperatura média dos oceanos bateu novo recorde em 2019, é a maior já registrada na história da humanidade. No ano de 2019, também foi verificado o maior aumento de temperatura média desta década. É o que revela um estudo internacional recém-publicado na revista Advances in Atmospheric Sciences por um grupo de 14 cientistas. No início do artigo científico, os pesquisadores já explicam que o aumento da temperatura dos oceanos deve-se aos gases de efeito estufa lançados na atmosfera pelo ser humano. Os oceanos estiveram 0,075°C mais quentes, na comparação à média de temperatura apurada entre 1981 e 2010. O que não é pouco, alertam os cientistas.
Calor igual ao de 3,6 bilhões de bombas atômicas
“É como se os oceanos tivessem absorvido o calor liberado pela explosão de 3,6 bilhões de bombas atômicas como a de Hiroshima”, explicou Lijing Cheng, ao G1. Cheng, que lidera a pesquisa, é professor associado do Centro Internacional de Ciências Climáticas e Ambientais do Instituto de Física Atmosférica (IAP) da Academia Chinesa de Ciências (CAS). A bomba atômica de Hiroshima, para quem não se recorda, foi lançada pelos Estados Unidos sobre essa cidade japonesa, em agosto de 1945, durante a Segunda Guerra Mundial.
Cheng disse também, desta vez à Folha de S.Paulo, que o aquecimento dos oceanos “é mais uma prova do aquecimento global”. “Não há alternativas razoáveis, além das emissões humanas de gases captadores de calor para explicá-lo.”
Temperatura sobe 450% nos oceanos em seis décadas
O estudo mostra que a temperatura média dos oceanos subiu 450% nas últimas seis décadas. Pior, a elevação da temperatura também é cada vez mais acelerada. E ressalta ainda que quanto mais quentes as águas mais aumenta o nível dos oceanos. Ele já subiu 46 milímetros. Os pesquisadores lembram que o nível médio dos oceanos nesta década já é o mais alto desde 1900. A referência para esse dado é o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em setembro de 2019.
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Segundo o estudo, 90% de todo o calor gerado pelos gases de efeito estufa desde 1970 foi absorvido pelos oceanos. E somente 4% foram parar na atmosfera. “Quando a energia do Sol chega à Terra, parte dela é refletida de volta ao espaço, e o restante é absorvido e irradiado por gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono. Isso é chamado efeito estufa, o que mantém a Terra quente. Desde a revolução industrial, as atividades humanas liberam cada vez mais gases de efeito estufa no ar com a queima de carvão, de petróleo e o transporte”, explicou Cheng.
Temperatura recorde dos oceanos, impactos
Os cientistas abordam os impactos do aumento da temperatura dos oceanos. Como já exposto, o primeiro impacto é no nível médio dos oceanos. “O aumento da temperatura do oceano leva ao aumento do nível do mar”, enfatizam. Eles explicam, no estudo, que isso é decorrente da expansão térmica dos oceanos. E também da massa adicionada pelo derretimento do gelo terrestre por causa das temperaturas mais altas.
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Águas mais altas ameaçam as populações que vivem em regiões costeiras. Muitas áreas já submergiram, inclusive algumas ilhas. Foram tragadas pelo aumento do nível dos oceanos. Outras, incluindo regiões muito populosas, uma vez que perto de 40% da população mundial vive em cidades litorâneas, correm sério risco de sumir do mapa (Veja aqui uma lista delas).
Inundações, furacões, tufões e incêndios florestais
“O calor crescente aumenta a evaporação. E a umidade extra na atmosfera mais quente nutre fortes chuvas e promove inundações, levando a um ciclo hidrológico mais extremo e a condições meteorológicas mais extremas (em particular furacões e tufões)”, afirmam no estudo. “Essa é uma das principais razões (também) pelas quais a Terra experimentou crescentes incêndios catastróficos na Amazônia, Califórnia (EUA) e Austrália, em 2019.” Na Austrália, estendendo-se em 2020.
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Tundra do Ártico emite mais carbono do que absorveVanuatu leva falha global em emissões à HaiaO plâncton ‘não sobreviverá às mudanças do clima’Todos esses eventos trazem consequências econômicas, lembram os pesquisadores. Kevin Trenberth cita, como exemplo, os prejuízos causados pelos furacões Harvey (2017) e Florence (2018): US$ 146 bilhões, juntos. Além da perda de 153 vidas humanas. Trenberth é um dos cientistas que assinam o estudo.
El Niño, La Niña e blob, impactos
Os pesquisadores alertam ainda que há uma maior propensão para outros fenômenos climáticos, como o El Niño e La Niña (Saiba mais). Bem como para a onda de calor marítima ou ondas de calor oceânicas. Também conhecidas como blob, essas ondas de calor têm causado perdas significativas à vida marinha desde 2013, lembra a Folha. “A blob está documentada por ter causado grande perda de vida marinha, do fitoplâncton ao zooplâncton e aos peixes – incluindo 100 milhões de bacalhaus”, disse Trenberth à imprensa.
“Curiosamente, a maior parte dos registros de ondas de calor marinhas foram feitas em regiões de (maior) aquecimento oceânico, como o Mar Mediterrâneo, o Pacífico Norte (apelidado de ‘The Blob’), o pacífico equatorial central, o Mar da Tasmânia e o Atlântico Norte. Ondas de calor marítimas e as mudanças ambientais nos oceanos representam altos riscos à biodiversidade e à pesca e causam perdas econômicas.”
Oceanos Atlântico e Antártico, temperaturas maiores
Todos os oceanos têm apresentado aumento nas temperaturas. Entretanto, as altas mais acentuadas têm sido registradas nos oceanos Atlântico e Antártico. “O Oceano Antártico e o Oceano Atlântico estão aquecendo mais rápido que os oceanos Pacífico e Índico. Isso está relacionado à circulação das águas oceânicas. Os oceanos Antártico e Atlântico são mais eficientes no transporte de calor da superfície para o oceano profundo”, disse Cheng.
“Pesquisas anteriores já demonstraram que a energia absorvida pelo oceano Antártico foi responsável pela elevação de 35% a 45% da temperatura dos oceanos (OHC, sigla em inglês para Ocean Heat Content) no período de 1970 a 2017. Os pesquisadores afirmam que o calor está associado ao aquecimento dos mares na Tasmânia, o que causa profundo impacto na pesca e nos ecossistemas marinhos”, informa o G1
Temperatura dos oceanos, impactos nos corais
Outro grande impacto citado no estudo é a redução do oxigênio nos mares. Assim como a alta das temperaturas, isso afeta profundamente a vida marinha. Especialmente, os corais e outros organismos sensíveis à temperatura e níveis de oxigênio nas águas. Os recifes de coral são considerados berçário para a vida marinha. Não saudáveis, causam impactos diretos na pesca, tanto profissional quanto artesanal, e de subsistência. E também no turismo. As perdas podem ser incalculáveis.
O branqueamento dos corais é cada vez maior. A tendência é de agravamento desse cenário, asseguram os cientistas, que fazem uma estimativa sombria: até o final deste século 95% dos recifes de coral vão estar em avançado processo de branqueamento.
Temperatura dos oceanos: “Ponta do iceberg”
Mesmo que a humanidade reduza a emissão de gases de efeito estufa e mantenha a temperatura global em 2°C, como objetiva o Acordo de Paris, a temperatura mais alta dos oceanos deve continuar ainda por um bom tempo. Este é outro alerta dos cientistas. Segundo afirmam, grandes sistemas como oceanos e geleiras demoram a se reequilibrar. “Mas os riscos associados serão menores. A taxa de aumento deve ser diminuída por ações humanas para levar a uma rápida redução de emissão de gases do efeito estufa, reduzindo riscos para humanos e outras vidas na Terra”, disseram.
“É fundamental entender o quão rápido as coisas estão mudando”, afirmou John Abraham à imprensa. Ele é coautor do estudo e professor de Engenharia Mecânica na Universidade de St. Thomas, nos Estados Unidos. “E isso é apenas a ponta do iceberg do que está por vir.”
Como o estudo foi feito
O estudo foi realizado por 14 cientistas de 11 instituições. Estão baseados em dados do IAP, da China, e do Departamento Nacional de Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA), dos Estados Unidos. “Usamos observações in situ (no local) com termômetros, e não usamos dados de satélites. Os dados são coletados por muitos instrumentos, alguns em navios e outros transportados por mamíferos oceânicos”, explicou Cheng ao G1. Os pesquisadores calcularam as temperaturas médias dos oceanos até 2.000 metros de profundidade. Também compararam as medições novas com as antigas, corrigindo possíveis diferenças entre as informações. Além disso, dividiram os períodos analisados: de 1955 a 1986 e de 1987 até 2019.
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Temperaturas dos oceanos, medições
“A temperatura média do oceano até 2 mil metros de profundidade é de aproximadamente 5,85°C. Esse número, no entanto, é menos preciso para monitorar o aquecimento dos oceanos do que a análise da variação da temperatura. ‘Por exemplo, nos trópicos, a temperatura da superfície do mar é maior que 28°C, mas cai para cerca de 2°C a 2 mil metros. Já nas regiões polares, a temperatura é próxima de 0°C. Essa enorme variação dificulta a obtenção de um número exato de temperatura média global. Porém, para anomalias de temperatura (alterações relacionadas à temperatura média), elas são menos heterogêneas espaciais e alguns padrões de larga escala se formam, portanto nossa estimativa é mais confiável’, afirmou Cheng”, no G1.
A alta das temperaturas e a ação de cada um de nós
Nem por um segundo pense que você não tem nada com isso. O aquecimento tem tudo a ver com nossa ação! Não espere apenas que governos ajam. Cada um de nós tem que fazer sua parte. Ande menos de carro particular. Dê, ou peça carona. E muita atenção ao consumir. Por exemplo, se você precisar de ar condicionado para este verão, saiba que alguns deles são menos agressivos à natureza que outros. Escolha os ‘mais amigos’ do meio ambiente. O mesmo vale para eletrodomésticos. Não se esqueça da máxima: ‘pense globalmente’, como esta matéria sugere, e ‘aja localmente’, como este derradeiro parágrafo propõe.
Imagem de abertura: https://newatlas.com/.
Fontes: https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/s00376-020-9283-7.pdf; https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/01/13/temperatura-dos-oceanos-cresce-450percent-nas-ultimas-6-decadas-e-bate-terceiro-recorde-consecutivo-em-2019-diz-estudo.ghtml; https://www.publico.pt/2020/01/14/ciencia/noticia/temperatura-oceanos-bateu-recordes-sao-consequencias-1900207; https://www.climatempo.com.br/noticia/2020/01/14/temperatura-dos-oceanos-bate-recorde-em-2019-diz-estudo-1306; https://exame.abril.com.br/ciencia/temperatura-dos-oceanos-bate-recorde-e-sobe-cada-vez-mais-rapido/; https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2020/01/oceanos-atingem-a-maior-temperatura-ja-registrada.shtml.
Para o jornal Clarín de Buenos Aires, na edição de hoje:
– As águas do oceano em Mar del Plata batem o recorde de temperaturas baixas em todo o histórico de registros!
450%? Que matemática é essa?
Caro João Lara Mesquita, se a idade da Terra (4,5 bilhões de anos) for comprimida em um ano, nossa existência como homo sapiens começaria às 23h36min do dia 31 de dezembro desse ano. O que você está nos dizendo é que a temperatura do oceano hoje é a mais quente nesse intervalo de quase meia hora. Pergunto: qual a importância disso frente ao ano inteiro que se passou da existência da Terra?
maior da história que se tem registro certo? O mundo é cíclico, tudo muda e volta ao lugar depois, ou vocês acham que a antartica támbem está acabando? Pelo amor né!!