Parque eólico, a ‘síndrome das turbinas’ em moradores próximos, e pesadelo no litoral
Antes do assunto prioritário, um breve resumo sobre como, e quando, começou a instalação de um parque eólico no litoral. Segundo o artigo Desenvolvimento Do Setor Eólico No Brasil, de Renato Luis Proença de Gouveia, e Paulo Azzi da Silva, ambos do BNDES, ‘A primeira instalação de um aerogerador ocorreu em 1992, quando o Centro Brasileiro de Energia Eólica e a Companhia Energética de Pernambuco firmaram parceria com um instituto dinamarquês para instalar, em Fernando de Noronha, uma turbina de 225 kW’.
O Mar Sem Fim já escreveu sobre isso, mostrando o açodamento da decisão que apenas enfeou a ilha e há muito não está em uso.
Prossegue o artigo: ... Em 1999, entrou em operação a primeira usina no Ceará, localizada na Praia da Taíba, com capacidade de 5 MW, dez aerogeradores de 44 m de altura e 500 kW instalados’.
Pois é, ninguém pensou que a profusão das turbinas arrasariam o que o litoral tem de melhor, a paisagem. E, além disso, provocam doenças nos pobres moradores do entorno (pobres no sentido literal, uma vez que os ricos sempre conseguem se safar).
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O Mar Sem Fim protestou contra a escolha dos locais para as turbinas eólicas, assim como outros, mas ninguém deu atenção às reclamações. No Brasil, essa postura se repete: falta planejamento a médio e longo prazos, e as decisões seguem guiadas pelo imediatismo. Deu no que deu.
Segundo o site da Fiocruz, a instituição, ‘em parceria com a Universidade de Pernambuco (UPE), investiga os efeitos do funcionamento de parques eólicos sobre a saúde de moradores em áreas rurais do estado. O termo “síndrome da turbina” descreve sintomas como insônia, irritabilidade, dores de cabeça e ansiedade. Eles surgem devido ao ruído constante e aos infrassons emitidos pelas torres eólicas em funcionamento’.
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‘De acordo com o estudo, 54% dos moradores relataram ter perda auditiva e 31% reclamaram do incômodo visual causado pelas sombras das pás girando. E 66% usam medicamentos para dormir’.
Caramba, que descoberta!! Era óbvio que isso iria acontecer! Será possível que só o governo esqueceu-se de pensar na sorte dos milhares de brasileiros vizinhos destas engenhocas?
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‘Atualmente não há soluções eficazes para minimizar os impactos das torres e turbinas nas comunidades locais. A falta de mitigação para os ruídos e vibrações gerados por essas estruturas têm levado muitas pessoas a se mudarem para as zonas urbanas, já que a paralisação das torres não é uma opção viável. Na primeira etapa da pesquisa, em 2023, 70% dos 105 entrevistados manifestaram a vontade de deixar suas residências devido a essas questões’.
Esta é outra escandalosa obviedade. Como suportar o barulho, a trepidação, e o constante movimento dentro de seu quintal? Sim, muitas turbinas foram instadas nos quintais dos moradores do litoral, e em muitos trechos da Caatinga que abriga 78% de todas as turbinas do País. No interior elas também foram impostas sem questionamentos. Desse modo, a reclamação é generalizada.
‘Outros achados do estudo, mostra o trabalho da Fiocruz, apontaram que 66% dos moradores (de crianças a idosos) utilizam medicamentos para dormir. Mais da metade (54%) relataram ter perda auditiva e 31% reclamaram do incômodo visual causado pelas sombras das pás girando, o chamado efeito estroboscópico, que deteriora a saúde mental dessa população, juntamente com o ruído. Além de todos esses impactos observados, 41% relataram alergias e dermatites por conta da poeira espalhada pelas hélices nas casas ao redor’.
Finalmente, diz o trabalho, ‘os resultados preliminares podem subsidiar a formulação de políticas públicas que integrem as necessidades das comunidades rurais ao planejamento e à expansão dos projetos de energia renovável no estado. A pesquisa também amplia o debate sobre o equilíbrio entre o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida das populações diretamente impactadas’.
A protegida paisagem brasileira é desrespeitada pelo poder público
A maioria das pessoas não sabe, mas todas as recentes Constituições, desde a de 1934 até a de 1988, incluem a proteção da paisagem como um princípio, da mesma maneira que fizeram com a biodiversidade.
Vale conhecer o estudo de Ivette Senise Ferreira, A Tutela Ambiental Da Paisagem No Direito Brasileiro, Profa. Titular de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia e Diretora da Faculdade de Direito Universidade de São Paulo. A autora trata da evolução histórica da proteção da paisagem no País, iniciando seu estudo desde a época do descobrimento.
Não basta a especulação para arrasar a paisagem litorânea, temos as eólicas!
Outra opção é o livro “Tutela Jurídica da Paisagem”, de Luciano Furtado Loubet, vice-presidente da ABRAMPA – Associação Brasileira dos Membros de Ministério Público Ambiental.
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A editora assim o apresenta: ‘é o mais novo lançamento que aborda os conflitos entre a proteção da paisagem e o avanço de atividades econômicas (grifo nosso), tais como desvio de cachoeiras para energia, plantio de soja no Pantanal, instalação de tirolesas em pontos turísticos e construções de prédios próximos a bens culturais’.
Faltou apenas incluir as torres eólicas entre os exemplos.
Para Luciano Loubet, ‘A paisagem, como elemento essencial da identidade cultural e ambiental, merece uma proteção jurídica mais robusta e clara, especialmente diante das pressões do desenvolvimento urbano e das mudanças climáticas’.
E o especialista disse mais: “Discutir a paisagem como um direito humano fundamental é crucial para reconhecer seu valor intrínseco e sua contribuição para a qualidade de vida das comunidades. Isso também fortalece a argumentação para políticas mais robustas de proteção ambiental e cultural”.
Alguém precisa dizer isto ao governo, e suas três esferas, municipal, estadual, e federal. Não basta a especulação imobiliária a destruir a paisagem única de nosso litoral, como se vê, o poder público age da mesma forma.
Deveria ter melhor planejamento para instalação das torres e os mais prejudicados são os pobres.
Sim, os mais pobres, e a mais linda paisagem do País. Ambos são arreganhados com a implantação irresponsável destas turbinas.
Absurdo se criticar a energia mais limpa do planeta.
Essa última foto atormenta a alma. Que coisa horrível!
Joao,
Excelente matéria! Infelizmente os absurdos não param de crescer e nos chocar!
Adriana
Acho o artigo, sobre geração de energia eólica no litoral, no mínimo contrastante com objetivo de diversificar produção de energia para reduzir CO2 na atmosfera. muito radial esse artigo. NÃO GOSTEI.
Por acaso já plantaram uma turbina no seu quintal? E o que acharia se o fizessem?