Navio Explorer of the Seas inclina 45º, passageiros se despedem
Desta vez foi por pouco. O navio Explorer of the Seas, da Royal Caribbean, com capacidade para 4.290 passageiros, e uma tripulação formada por 1.185 pessoas, navegava de Barcelona para Miami quando, na altura de Tenerife a maior das Ilhas Canárias, enfrentou uma fortíssima tempestade. De repente, uma violenta rajada pegou o imenso cruzeiro de lado. O navio adernou 45 graus, espalhando pânico entre os passageiros. Um deles chegou a enviar uma mensagem de despedida aos familiares. O incidente aconteceu na madrugada de 7 de novembro.
O mau tempo e os navios de cruzeiro
Será preciso um desastre para os navios de cruzeiro mudarem de comportamento? Não é incomum que estes navios passem por furiosas tempestades, mesmo sabendo que elas estão no caminho. Não é uma regra geral. Muitos mudam de rota, ou diminuem a marcha, enfim, manobram para evitar o mau tempo mesmo sabendo que vão atrasar, causar problemas logísticos, etc.
Mas outros, não, preferem seguir suas rotas. Os custos da atividade são tão grandes quanto os próprios navios, e eles têm prazos a cumprir. Desce uma turma de turistas num porto, sobre outra. Assim, alguns cruzeiros prosseguem em suas rotas, em vez de fugir do mau tempo.
Se este comportamento era ‘aceitável’ até alguns anos atrás, isso mudou completamente nos dias atuais. Com o aquecimento global fora de controle, e os eventos extremos cada mais frequentes e potentes, quando entra tempo feio pode ser muito perigoso.
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Em junho de 2023 aconteceu algo parecido com o Carnival Sunshine, em cruzeiro pelas Bahamas. Ondas gigantes explodiram contra o casco da embarcação com tamanha violência que os vídeos de passageiros mostram a água entrando pelos corredores, descendo escadas como cascatas, enfim, um inferno que durou 14 horas.
Aparentemente, o comandante e oficiais sabiam que o mau tempo estava em sua rota mas não desviaram. É o que sugeriu o www.hindustantimes.com. “Foi aterrorizante”, disse William Blackburn à CNN sobre a experiência, dizendo que ele e sua família se abrigaram em sua cabine e oraram.
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Poucas coisas são mais impressionantes do que assistir imagens de filmes de navios lutando contra ventos e mares ferozes. Posso garantir que é muuuito pior para quem está lá dentro, especialmente nestes imensos navios, muito altos e pesados.
A ideia deste post não é maldizer os navios de cruzeiros, por mais restrições que tenhamos. São navios modernos, equipados com tecnologia de ponta em todos os sentidos e, por isso mesmo, seguros. Contudo, ainda persiste para parte dos comandantes a ideia de seguir em frente mesmo com uma tempestade prevista na rota, é sobre isso que falamos.
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Ainda não se sabe se os oficiais do Explorer of the Seas sabiam, ou não, do mau tempo. O fato é que um navio destes, por seu gigantismo, altura e comprimento, quando pega uma forte rajada de través, ou seja, em cheio num dos lados, deita mesmo, como acontece com veleiros em regatas, por exemplo. E para as milhares de pessoas que estão a bordo, a sensação é de total pânico.
Foi o que aconteceu aos passageiros do Explorer of the Seas. Jonathan Parrish disse à CBS News que estava assistindo um show quando sentiu o barco “adernar fortemente para a direita”, seguido de uma segunda inclinação ainda “mais intensa”.
“Os passageiros andaram um pouco por ali, olhando as garrafas do bar que tinham caído”, disse Parrish. “ E todas as mercadorias que se podia comprar no Royal Promenade estavam espalhadas pelo chão.”
Segundo Parrish, o capitão explicou que os ventos passaram de 46 milhas por hora para 86 milhas por hora.
O britânico Mirror informou que passageiros aterrorizados enviaram “mensagens de despedida” temendo “morrer como no Titanic” quando uma tempestade anormal fez o navio inclinar “45 graus”.
O passageiro Dan So disse que “pensou que ia morrer” enquanto o navio mantinha a sua inclinação dramática durante “cerca de três minutos”.
O Mirror publicou o relato do canadense Dan So:
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Quando saí do bar, ouvi gritos, os copos estavam caindo e o cruzeiro começou a inclinar-se. Vi um cartaz publicitário atingir um homem, que se salva e agarra sua namorada. Ele estava em estado de choque. Perguntei-me se seria uma coisa normal, mas quanto mais ouvia as pessoas gritando, mais me assustava. Parecia o Titanic. Alguns passageiros juntaram-se e nos seguramos uns nos outros, e às cadeiras à nossa volta.
Peguei meu celular e enviei uma mensagem aos meus colegas dizendo que não sabia o que ia acontecer e que se cuidassem.
Felizmente, apenas um passageiro ficou ferido e precisou de “cuidados médicos adicionais” – forçando o Explorer a parar em Las Palmas, Espanha, para um desembarque.
Para saber mais, assista ao vídeo
Assista a este vídeo no YouTube
Eu já trabalhei há muitos anos no Explorer of the Seas, não acredito que o capitão tenha colocado a vida dos passageiros e tripulantes em risco por querer. Eles não são loucos! Falando em valores o custo do navio é muito alto para se arriscarem assim, as cia de seguro não pagariam o navio pelo fato de ter sido exposto ao risco propositalmente.
A própria Royal Caribbean é uma empresa idônea e preza muito pelo desempenho.
Sinceramente, acho que realmente houve uma alteração do tempo que causou esse lamentável incidente. Imagino o desespero das pessoas que lá estavam, mas volto a dizer, não acredito que foi proposital!
Não tem vídeo de fora do navio? Era o mesmo que postaram, se revirando, no Instagram, nesta semana?
Essa tendência de se construir navios com estrutura muito acima da linha d’água já se manifestava nas embarcações que trafegavam no Mar do Norte, no Báltico e no Canal da Mancha nos anos 70. Entre essa década e a de 80, duas delas afundaram no Mancha, deixando centenas de vítima fatais. Esses e outros acidentes graves foram atribuídos à falta de estabilidade desses “arranha-céus” marítimos ao enfrentar ventos de través. No final dos 90, aqui pertinho, um cruzeiro já 8muito mais alto, que voltava de Buenos Aires para portos brasileiros, ficou horas à mercê de uma “Sulestada” no Rio da Prata, com o capitão sendo obrigado a ficar de proa para a ventania, como faria um veleiro do século 19. Diante dos ganhos proporcionados pela grande densidade de carga e de passageiros das rotas europeias, e do lucro bilionário dos cruzeiros mundo a fora, armadores e projetistas se deixaram levar pela ganância e não pelo senso comum. Os barcos estão cada vez altos e a próxima tragédia será ainda maior.
Olá João , tudo bem ?
Poderia me dar um esclarecimento, por favor?
Esses navios não possuem tanques de lastro, acionados por bombas potentes, que possibilitam equilibrar o navio no caso de adernar?
Alguns navios possuem hélices laterais para minimizar o balanço do navio. Esse sistema não auxilia o navio a evitar a se equilibrar e evita adernar ?
Não só têm estes tanques, os mais modernos contam com estabilizadores hidráulicos laterais. Mas nada vence as forças da natureza. Quando elas desabam, como hoje, melhor estar longe. Abraços