Mar Vermelho, na costa da Arábia Saudita, pode ser novo polo turístico

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Mar Vermelho, na costa da Arábia Saudita, pode ser novo polo turístico

A costa do Mar Vermelho na Arábia Saudita se estende por mais de 1.600 km, da fronteira com a Jordânia no norte, até o Iêmen no sul. A maioria dessa área, excluindo cidades como Jeddah, ainda está por se desenvolver, banhadas por  águas turquesa, ilhas deslumbrantes, praias intocadas e recifes de coral. Agora, a Saudi Vision 2030 está trazendo projetos de ultra luxo para essas margens. Querem diversificar a economia, cortar a dependência do petróleo e  apostar na sustentabilidade. O governo financiará tudo, destacou a CNN. Essa iniciativa tem atraído atenção global, impressionando pela beleza natural e os investimentos pesados que já começaram. Resolvemos conhecer mais profundamente o projeto. Condições naturais existem fartamente como a beleza cênica, o colorido espetacular, e a biodiversidade marinha. E, de maneira idêntica, dinheiro não é problema.

Mar Vermelho
Imagem, The Red Sea project.

Mar Vermelho, conheça

Um estudo sobre a biodiversidade do Mar Vermelho, da California Academy of Sciences informa que ‘para aqueles que não estão familiarizados com a biologia dos corais, o Mar Vermelho pode parecer um paradoxo: comunidades marinhas prósperas cercadas por desertos secos. Mas como o ar é árido e a água é clara, as algas que vivem dentro dos corais são capazes de fotossintetizar e fornecer nutrientes aos corais. O resultado é uma área com uma biodiversidade surpreendente’.

‘Trezentas espécies de corais e mais de mil espécies de peixes chamam o Mar Vermelho de lar. Muitos são recursos essenciais para as comunidades costeiras próximas, mas o desenvolvimento humano perto da costa do mar e práticas de pesca destrutivas são grandes ameaças a este rico habitat marinho’.

Ou seja, mesmo sem a pressão de uma população significativa, quase só existem pequenas vilas de pescadores ao longo da costa, o Mar Vermelho não escapa aos problemas dos outros oceanos. Isso torna obrigatório que a ocupação  seja sustentável. Este é o grande desafio para, talvez, um dos últimos litorais ainda prístinos do mundo.

O Mar Vermelho tem uma área de superfície de cerca de 438.000 km2, é de cerca de 2.250 km  de comprimento, e – em seu ponto mais largo – 355 km de largura. Aproximadamente 40% do Mar Vermelho é bastante raso (menos de 100 m de profundidade, e cerca de 25% tem menos de 50 m.

Finalmente, não há consenso sobre a causa do nome, Vermelho. Para alguns isto estaria ligado à forma como as línguas asiáticas costumam usar cores para se referir a direções cardeais. Para outros, a água do mar contém uma cianobactéria chamada Trichodesmium erythraeum (uma alga de cor vermelha), que transforma a água normalmente verde-azulada como marrom-avermelhada.

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Projeto Mar Vermelho

Os árabes prometem que ‘o Projeto Mar Vermelho será um destino turístico de luxo imerso em natureza e cultura. Estabelecerá novos padrões para a sustentabilidade, o desenvolvimento, e colocando a Arábia Saudita no mapa do turismo internacional’.

Mar Vermelho
Imagem, The Red Sea project.

De acordo com o site oficial, ‘o Projeto Mar Vermelho está localizado ao longo da costa oeste do Reino da Arábia Saudita, entre as cidades de Umluje Al Wajh. Concebido como um requintado destino de resort de luxo construído sobre 50 ilhas naturais intocadas que se estendem por 200 quilômetros de costa deslumbrante. O Projeto será situado no local de uma das paisagens naturais mais desconhecidas e espetaculares do mundo. As ilhas formam um arquipélago que abriga recifes de corais, manguezais protegidos ambientalmente, e várias espécies marinhas ameaçadas de extinção’.

ruínas de Mada’in Saleh
As ruínas de Mada’in Saleh. IImagem, The Red Sea project.

Os turistas também poderão visitar as antigas ruínas de Mada’in Saleh. As ruínas datam de milhares de anos e são conhecidas pela sua beleza e importância histórica. Mada’in Saleh é o primeiro local histórico da Arábia Saudita classificado pela UNESCO como Patrimônio Mundial.

Segundo a Unesco, ‘é o maior local conservado da civilização dos nabateus ao sul de Petra, na Jordânia. Tem túmulos monumentais bem preservados com fachadas decoradas que datam do século I a.C ao século I d.C. O local também apresenta cerca de 50 inscrições do período pré-nabataiano e alguns desenhos de cavernas

‘Exótico. Diversificado. Eletrizante.’

A Scuba Diving, um ícone do mergulho mundial, não economizou elogios ao descrever a atividade na região: ‘Exótico. Diversificado. Eletrizante. Inesquecível. Pode parecer exagero, mas esses adjetivos cabem perfeitamente ao Mar Vermelho. Eles também descrevem o que você vê lá embaixo. O Mar Vermelho é um dos pontos de mergulho mais incríveis e procurados do mundo, cheio de peixes coloridos, recifes vibrantes, naufrágios históricos e até golfinhos e tubarões em bandos’.

De acordo com o Smithsonian Journeys 1.200 espécies de peixes foram encontradas no ecossistema de recifes de coral do Mar Vermelho; mais de 100 deles não foram localizados em nenhum outro corpo de água.

recifes de corais do Mar Vermelho.

Assim, o novo complexo turístico já sai com a vantagem da fama para um de seus atrativos, o mergulho de observação que cresce no mundo, gera empregos e renda e, o melhor de tudo: garante a integridade da paisagem submarina. Resta saber se os árabes não repetirão os erros que a Espanha cometeu em seu litoral, transformando-o num surreal mostrengo de concreto, ou os que o Brasil comete ao não controlar a especulação no litoral.

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paisagem do Mar Vermelho.
Cenários deslumbrantes. Imagem, www.amaala.com.

O site oficial destaca: ‘O Projeto Mar Vermelho cobre 34.000 quilômetros quadrados, superando todos os outros destinos turísticos semelhantes em tamanho. O clima temperado se mantém o ano todo, com temperaturas médias no verão variando entre 30° e 31° Celsius.

A transparência da água do Mar Vermelho.
A transparência da água é o maior atrativo. Imagem, www.amaala.com.

Em outras palavras, existem todas as condições para tornar esta costa, ainda prístina, num destino turístico global de sucesso. A maior preocupação permanece sendo a transformação da paisagem com a enorme quantidade de obras previstas. Torcemos para que os árabes aprendam com nossos erros, e não os repitam. A biodiversidade marinha, e a estupenda paisagem, merecem total atenção.

Algumas atividades previstas para os turistas

Os visitantes do Projeto Mar Vermelho desfrutarão de diversas excursões ecológicas, históricas e culturais, tanto em terra como no mar. O resort oferecerá atividades populares, como mergulho, paraquedismo, trekking, escalada, acampamentos,  caminhadas em vulcões adormecidos ou observação de espécies raras de animais e plantas em seu habitat natural. 

Paisagem de Amaala.
Paisagem de Amaala, local escolhido para o primeiro resort. Imagem, www.amaala.com.

Os turistas também poderão aproveitar visitas culturais ao Museu do Patrimônio Árabe e ao Centro de Arqueologia. Além de proporcionar educação, saúde, transporte e outros serviços. O Projeto Mar Vermelho será regido por leis equivalentes aos padrões internacionais; portanto, não serão necessários vistos para maioria das nacionalidades. Além disso, o quadro regulamentar estabelecerá novos padrões para sustentabilidade, desenvolvimento e proteção ambiental para garantir a conservação do ambiente natural em de acordo com os mais altos padrões ecológicos, garantem os projetistas.

Ilustração do Marine Life Institute em Triple Bay
Ilustração do Marine Life Institute em Triple Bay, que será um centro dedicado de pesquisa e educação. Esta  instalação de última geração, diz o site oficial, também servirá para promover a ciência marinha e costeira em todo o mundo.

Preocupação ecológica

O projeto insiste em destacar como tratará os pontos críticos nas novas construções à beira-mar, o que é positivo. ‘Mais notavelmente, a carta do Projeto Mar Vermelho irá mitigar as emissões de dióxido de carbono,  produção de resíduos e poluição luminosa e sonora, em um esforço para preservar o local, mantendo-o o mais próximo possível do seu estado natural para as gerações futuras’.

mapa da costa da Arábia Saudita
Oriente-se. Imagem,

De onde vem o dinheiro?

O Fundo de Investimento Público é o principal promotor desta área turística. É um fundo soberano de propriedade da Arábia Saudita, criado em 1971 para oferecer apoio financeiro a projetos de importância estratégica para a economia nacional.

primeiro resort do Mar Vermelho
Esta é o primeiro resort do projeto. Fica em Amaala, a cerca de 700 km ao norte de Jeddah. Imagem, The Red Sea project.

O Fundo de Investimento Público está construindo uma carteira de investimentos internacionais e nacionais, e  lidera esforços para diversificar a economia do país. Ele é presidido por ninguém menos que Sua Alteza Real, o Príncipe Herdeiro Mohammed bin Salman.

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O que está por trás dos investimentos?

Aparentemente, Salman faz o possível para mudar a péssima imagem de autocracia do país, e a sua própria, acusado de ter assassinado o jornalista Jamal Khashoggi, notório opositor do governo. O projeto Mar Vermelho é apenas mais uma ação com objetivo claro de mudar a imagem. Outro braço do mesmo projeto, por exemplo, é o investimento em futebol.

A CNN, em matéria de outubro de 2023, analisa: ‘A liga da Arábia Saudita movimentou mais de 188 milhões de euros (R$ 1 bilhão) em contratações na atual janela de transferências. Os investimentos no futebol fazem parte de um grande projeto do governo para mudar a imagem do país, a “Visão 2030” — o que envolve não só o mundo dos esportes, mas também do entretenimento’.

A CNN ouviu o especialista José Antonio Lima, Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo e autor da newsletter Tarkiz, sobre Oriente Médio.

“Idealizado pelo príncipe Mohamed [bin Salman], é a estrutura de toda a estratégia. Diversificar a economia, aumentar a participação do setor privado, reduzir desemprego, aumentar participação das mulheres no mercado de trabalho, não deixar o país à mercê da volatilidade do petróleo. Além de mudar a vida no reino, ampliar o entretenimento e fazer com que os sauditas gastem dinheiro dentro do país, não em outras regiões do Golfo como ocorre atualmente.”

Ilustração de resort em Amaala.
Esta ilustração mostra outro aspecto do resort em Amaala, quando estiver concluído. Aparentemente, o impacto na paisagem é baixo. Imagem, www.amaala.com.

O primeiro resort foi aberto em 2023, outros 16 estão previstos até o fim da primeira fase ao longo de 2024/2025. Entretanto, ele só termina em 2030 quando terá 50 resorts ao longo de 1.600 km de costa.

Considerações finais

Vale acompanhar o que ocorrerá na região já que é a primeira vez que um litoral ainda prístino, será totalmente ocupado por um gigantesco complexo turístico, e de uma vez. Quero dizer, em muito pouco tempo, e tendo sido planejado antes. Até hoje, tirando uma grande cidade, Jeddah, todo o resto é ocupado por pobres vilas de pescadores. Há suficiente informação, e muitos exemplos, do que não se deve fazer para alcançar uma ocupação que não destrua a beleza cênica da zona costeira, e que preserve a biodiversidade. Torcemos para que seja assim, e votaremos ao tema.

Lamenta-se que apenas o ‘super luxo’ seja o público alvo da Arábia Saudita. Uma monarquia absoluta teocrática que toma mais uma decisão autocrática. É triste. Todos que podem viajar internacionalmente deveriam ter o direito de conhecer estas belezas tão distintas. A decisão desafia a Unesco, que reconheceu as ruínas de Mada’in Saleh como Patrimônio Mundial. Esse reconhecimento destaca um tesouro de valor histórico, natural e paisagístico, supostamente acessível a todos interessados.

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