Espécies de madeira em extinção e ainda vendidas

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Espécies de madeira em extinção e ainda vendidas

Pesquisadores da Universidade Federal Fluminense – UFF e do Instituto De Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro publicaram em conjunto um estudo na revista Journal for Nature Conservation, em junho de 2020, mostrando que espécies de madeiras em extinção continuam a ser vendidas. Enquanto isso, a notícia nos chegou através da Pesquisa FAPESP. Espécies de madeira em extinção e ainda vendidas.

Espécies de madeira em extinção e ainda vendidas

Por falar nisso, caro leitor, refaço uma pergunta que temos feito aos especialistas na Amazônia que entrevistamos em nosso podcast: “Afinal, quantas pessoas de suas relações sociais se preocupam com a origem da madeira quando a compram?”

Para começar, a madeira é tão presente em nossa vida como o plástico. Contudo, a diferença é que por mais que tentemos é quase impossível uma pessoa se livrar de plástico. Quase tudo que compramos nos é oferecido em embalagens de plástico, ou são feitos deste material.

A madeira também cerca a nossa vida cotidiana. Basta olhar em volta da sala de sua casa para vermos a onipresença. Da poltrona que sentamos, à mesa em que nos alimentamos, das prateleiras na parede, aos tacos no chão, ou a cama onde dormimos. Enfim, boa parte dos móveis são de madeira.

Espécies de madeira e o necessário certificado de origem do produto

Mas, ainda que o assunto meio ambiente domine hoje as redes sociais e não saia das manchetes da mídia, quem de nós se preocupa com a origem do produto? Responda quem for capaz.

Antes de mais nada,  a diferença do plástico que entope os oceanos, mata a vida marinha e cresce nos aterros mundo afora, para a madeira, é que esta ainda pode ter a efetiva participação do consumidor. Basta exigir o certificado de origem ao comprar o produto.

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Mas, quem de nós faz uso do propalado e  pouco seguido conceito do ‘consumo consciente’?

Gostaria de poder fazer a mesma pergunta a todos que se manifestam indignados pelos incêndios na Amazônia e Pantanal nas redes sociais. Mas mesmo sem fazê-la, não tenho dúvidas das respostas. Definitivamente, só esta omissão justifica a pesquisa que comentamos.

Araucária lidera a lista de 38 espécies

Ainda recentemente fizemos matéria para mostrar que esta belíssima árvore que se confunde com a paisagem brasileira, está a um passo de acabar: Araucárias, símbolo do Paraná ameaçadas de extinção.

Pois saiba que a araucária, espécie com cerca de 200 milhões de anos, árvore centenária, algumas atingindo até 500 anos, encabeça a lista. “A araucária, uma espécie criticamente ameaçada, e a itaúba, classificada como vulnerável, foram as espécies mais vendidas, respectivamente com 3,2 milhões de m3, e 789,5 mil m3 (Pesquisa feita entre 2012 e 2016).”

Imagem de decô feito comedeira de itaúba, árvores ameaçada de extinção
Experimente googar ‘itaúba’, e você verá decks de casas como este da foto, feitos com itaúba…Imagem, http://casadodeck.com.br/.

Código Florestal Brasileiro

De acordo com o código, o corte de vegetação com espécies ameaçadas de extinção está condicionado à autorização prévia do órgão estadual competente, e à adoção de medidas mitigadoras que assegurem a conservação da espécie. O mesmo acontece com a exploração de florestas nativas que exige licenciamento pelo órgão competente.

Mas isso é a teoria, a prática, é outra. O biólogo Arno F. Brandes, da UFF, um dos autores do estudo declarou à FAPESP: “Teoricamente, se as madeiras estão no sistema DOF – Documentos de Origem Florestal (que foi a base da pesquisa), é porque tiveram autorização para exploração.”

imagem de araucária
Araucária. Imagem, https://biologo.com.br/.

Agora seria o momento de questionar o Ibama e outros responsáveis do MMA para saber como as araucárias, por exemplo, conseguiram o DOF. Mas desde que Ricardo Salles assumiu, proibiu seus funcionários de darem entrevistas. A FAPESP questionou ambos e não obteve resposta.

Inicialmente, a pesquisa mostra que do total comercializado entre 2012 e 2016 havia 2.214 espécies de árvores. Deste total, 38 eram ameaçadas de extinção. E entre elas, o volume total vendido foi de 6 milhões de metro cúbicos de madeira, o equivalente a 10% do total registrado nos cinco anos do estudo.

Incoerências do Ibama e MMA

O site mongabay ainda lembrou que “as espécies incluídas na lista do Ministério do Meio Ambiente-MMA (com as duas citadas) têm sua exploração proibida, exceto em casos raros, como para pesquisa científica.”

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Então, como ficamos neste caso em que 38 espécies ameaçadas foram cortadas, toradas, e vendidas. Como, enfim?

Sisnama

Trata-se de Sistema Nacional de Meio Ambiente, que “regula a posse e o transporte de todos os produtos florestais comerciais dentro do território brasileiro. A ferramenta de rastreamento da rede de fornecedores, que permite monitorar a extração de árvores, o transporte e a exportação, é conhecida como Documento de Origem Florestal (DOF), uma licença obrigatória que registra o nome, volume, origem, destino e uso comercial dos produtos florestais.”

E mesmo assim continua a exploração e a venda. Mais um motivo para você, consumidor,  abrir os olhos e fazer uso dos instrumentos que temos, no caso, o certificado de origem da madeira.

Imagem de abertura: https://biologo.com.br/

Embalagem de Kaiak Oceano, da Natura, ajuda bem-vinda

Comentários

4 COMENTÁRIOS

  1. Pelo que soube, mesmo os fornecedores que têm “Certificado de Procedência” não são necessariamente corretos. Dizem que existe um mercado negro desse Certoficado, regado a propinas. Ou seja, nem isso nos dá certeza de que a madeira é legal. Na dúvida, pelo menos os pisos eu prefiro o porcelanato que imita madeira, que fica ótimo e dura muito mais.

  2. SUPONDO QUE BRASILEIROS TIVESSEM INICIATIVAS E PESQUISASSEM MAIS PODERÍAMOS ESTAR EXPORTANDO PRODUTOS ACABADOS PRODUZIDOS A PARTIR DE BAMBU. APENAS SUPONDO PORQUE POVO CAPAZ DE SE ASSOCIAR A TODAS AS FALCATRUAS NÃO TEM INICIATIVAAS EXCETO ROUBAR O ERÁRIO.

  3. Boa matéria! Só não vi nada falando que as espécies ameaçadas mencionadas no estudo também foram foco de plantios comerciais, como a própria araucária, que tem sido plantada há anos por empresas como Klabin, e produtores rurais que acreditaram nela com foco de produção sustentável. Digo isso porque no Brasil criamos um estigma tão pesado para as madeiras ameaçadas de extinção que os produtores tem até medo de pensar em plantá-las comercialmente, o que ajudaria até a diminuir a pressão de exploração nas florestas naturais. Espécies também ameaçadas como mogno, o jequitibá rosa, a castanheira, entre outras, tem enfrentado burocracias enormes para serem cortadas em plantios comerciais por causa dessa comunicação pela metade, então acho que nunca podemos esquecer que também tem gente plantando para colher no futuro e parte dessa estatística levantada pode ser de plantios sustentáveis.

  4. Em se tratando da Araucaria angustifólia _ Pinheiro; Como Eng. Florestal e atuando na área no processo de Lic. Florestal, podemos informar que o que se autoriza e diga -se de passagem são Talhões de áreas plantadas ou em alinhamento, portanto passíveis de serem autorizadas; Por isso tem e deve ter no sistema “n” autorizações.
    Agora em referência a “criticamente ameaçada de extinção”… isso é uma blasfémia; O que se perdeu foi o “ganho genético”, agora dizer que ela está ameaçada de extinção é coisa de Téc. de escritório e de jornalistas que não entendem nada o que escrevem ou transcrevem, de acordo com os interesses escussos.
    Hoje temos técnicas de clonagem e outros sistemas de propagação que garantem a sustentabilidade e a diversidade existente.
    Lamentavelmente informação distorcida com relação a A. angustifolia, baseada em pesquisas tendenciosas e mal intencionadas.
    Procurem se informar com o pessoal da Embrapa Floresta, UFPR _Prof. Zanete e muitos outros antes de publicarem informações distorcidas e tendenciosas

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