Desastre de Fukushima não contaminou só o Pacífico

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Radiação do desastre de Fukushima contamina além do Pacífico

O desastre nuclear de Fukushima, no Japão, aconteceu em 2011. No entanto, em 2019 ainda é uma preocupação. Para a sua própria população, países vizinhos e toda a comunidade internacional. O governo japonês diz que a capacidade de armazenar a água utilizada para resfriar os reatores da usina está se esgotando. E a solução mais barata para resolver o problema é lançar a água contaminada no oceano Pacífico. O volume armazenado na usina de Fukushima é de 1,04 milhão de m3 (dados de junho de 2019). E a capacidade total de armazenamento é de 1,37 milhão de m3, segundo relatório do país enviado à Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea).

 imagem de barcos resfriando os reatores depois do desastre de Fukushima
Desastre de Fukushima, resfriando os reatores. ( Foto: nikkeyweb)

Desastre de Fukushima afeta pescadores: vendas menores

O ministro do Meio Ambiente, Yoshiaki Harada, diz que o Japão não tem escolha senão “jogar [a água] no mar e diluí-la”.  “A única opção será drená-la para o mar e diluí-la. Todo o governo discutirá isso, mas eu gostaria de oferecer minha simples opinião.” Opinião que causa indignação nos pescadores locais, países vizinhos e ambientalistas do mundo todo. As vendas de pescado local, retomadas há cerca de dois anos, ainda estão 20% abaixo dos volumes anteriores ao desastre. Os pescadores temem novas perdas.

Países vizinhos, contra o despejo da água contaminada

A Coreia do Sul convocou o embaixador japonês em Seul para expressar suas preocupações. “O governo sul-coreano enviou uma carta oficial à Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), solicitando assistência em seus esforços para garantir que a água radioativa não fosse liberada da usina de Fukushima. Seul também disse que pretende abordar a questão na conferência geral da Aiea em Viena, ainda neste mês (setembro de 2019). A hostilidade de Seul em relação ao plano japonês é compartilhada pela Coreia do Norte, onde a mídia estatal descreveu a proposta de Tóquio como um ‘ato criminoso’ que poderia causar uma ‘calamidade nuclear’ na região”, informa a DW.

Desastre de Fukushima, confiabilidade dos relatórios da Tepco 

Tokyo Electric Power Co (Tepco), operadora da usina, diz que a água contaminada com elementos radioativos está tratada.  Agentes contaminantes causadores de câncer estariam reduzidos a níveis de “não detecção”. Assim, seria seguro liberá-la no oceano. Mas o relatório encaminhado à Aiea ainda mostra resíduos de trítio. O isótopo de hidrogênio seria menos nocivo ao meio ambiente, porém é o mais resistente a tratamento. O que preocupa é se os relatórios da Tepco são realmente confiáveis, questiona a DW.

Documentos vazados mostram água contaminada em Fukushima

“A Tepco havia alegado anteriormente que processos avançados de limpeza na água reduziram agentes contaminantes causadores de câncer – como estrôncio, iodo e rutênio – a níveis de ‘não detecção’. Portanto, seria seguro liberá-la no oceano. No entanto, documentos governamentais vazados mostraram mais tarde que tais alegações seriam imprecisas e que a água ainda continha radioatividade em concentrações bem acima dos níveis permitidos por lei. Um estudo do jornal regional Kahoko Shinpo confirmou que os níveis de iodo 129 e rutênio 106 excederam os níveis aceitáveis em 45 das 84 amostras relativas a 2017”, lembra a DW.

Greenpeace critica liberação de água no Pacífico

A publicação alemã prossegue: “O iodo 129 tem uma meia-vida de 15,7 milhões de anos e pode causar câncer de tireoide. O rutênio 106 pode ser tóxico em altas doses, além de ser cancerígeno quando ingerido. Posteriormente, a Tepco admitiu que os níveis de estrôncio 90 estavam 90 vezes acima da quantidade permitida por lei em 65 mil toneladas de água que já haviam sido tratadas no local. O Greenpeace condenou os comentários do ministro japonês em favor da liberação da água. A declaração é ‘totalmente imprecisa – tanto científica quanto politicamente’, disse à DW Shaun Burnie, especialista nuclear sênior da organização ambientalista na Alemanha”.

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Como foi o desastre de Fukushima

Fukushima foi o pior desastre nuclear desde  Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. O acidente aconteceu em 11 de março de 2011, após um terremoto de grande magnitude, 9 graus na escala Richter. O terremoto foi seguido por um tsunami, com ondas de mais de dez metros de altura. Várias cidades costeiras da região Nordeste japonesa foram inundadas, incluindo Fukushima. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, esse foi o pior terremoto do Japão. E o quarto pior já registrado no mundo. Os acidentes deixaram mais de 15,8 mil mortos, 2,5 mil pessoas desaparecidas e mais de 6 mil feridos no país asiático.

Desastre de Fukushima, radiação no ar e na água

O tsunami derreteu três dos seis reatores da Central Nuclear Fukushima Daiichi, operada pela Tepco, subsidiária da General Electric. A usina fica na região de Tohoku, ilha de Honshu, cuja capital é Fukushima. Com o derretimento dos reatores, houve imensa liberação de radiação no ar. E também no mar, da água utilizada para resfriá-los que vazou. Entre 2011 e ao menos até 2013, foram relatados o lançamento de cerca de 300 toneladas de água contaminada diariamente no Pacífico. Depois, levada pelas correntezas, ventos e marés, a água radioativa chegou aos demais oceanos.

ilustração de gráfico mostrando a radiação de Fukushima
Terríveis efeitos da radiação, poucas horas depois do acidente, que até hoje vaza. Agora, com ameaça do reator ir pro mar…

mapa

ilustração da radiação pelo pacífico
a radiação pelo mar…

Radiação chega na Califórnia, Estados Unidos

Uma dessas análises está no relatório Fukushima Water Contamination – Impacts On The U.S. West Coast. Ele diz, em novembro de 2014, que a Food and Drug Administrationa (FDA), agência federal norte-americana que regulamenta os serviços de saúde e alimentação, “não encontrou evidências de radiação na cadeia alimentar dos Estados Unidos em níveis que representem um problema de saúde pública”. Embora em níveis não preocupantes, cientistas encontraram vestígios da contaminação de Fukushima a cerca de 150 quilômetros a oeste de Eureka, na Califórnia (EUA).

… e também no Canadá

A quantidade de radioatividade relatada nestes dados são 1.000 vezes menores do que os padrões de água potável da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (US EPA, na sigla em inglês). Em 2018, em níveis também abaixo de preocupantes, foram observados vestígios de césio-137 da usina de Fukushima em vinhos californianos, produzidos com safras de 2009 a 2012. Antes, em dezembro de 2014, cientistas canadenses concluíram que o césio radioativo de Fukushima atingiu a plataforma continental do Canadá em níveis semelhantes ao encontrado na costa norte-americana.

Pacífico: mais radioativo que testes nucleares dos USA

Segundo o site wp.radioshiga.com, o desastre de Fukushima não impacta apenas a costa oeste da América do Norte ou o Canadá. Cientistas afirmam que o Pacífico, atualmente, está de 5 a 10 vezes mais radioativo do que quando os Estados Unidos detonaram inúmeras bombas nucleares no oceano, durante e após a Segunda Guerra Mundial. Cientistas do Instituto de Pesquisa Meteorológica, do Brasil, também disseram à Veja que até 80% do césio que vazou de Fukushima e caiu no Pacífico viajou pelos oceanos ao redor do mundo.

Fukushima, recuperação lenta após desastre

Apesar do tamanho do desastre, matéria do Estadão (janeiro de 2018) mostra que, segundo as autoridades, “a radiação liberada em Fukushima foi pequena e nenhum morador adoeceu ou morreu. A província de Fukushima tinha 2 milhões de habitantes. Era considerada tranquila e turística. Mesmo assim, apesar do governo dizer que não há mais problemas, a população encolheu para 1,8 milhão de habitantes.” Na região, em algumas cidades, a população encolheu para cerca de 3% do que era antes. E “a descontaminação dos campos e das cidades é um empreendimento gigantesco”.

Fukushima, governo japonês gasta US$ 20 bilhões por ano  

“Uma camada do solo de toda área usada para plantações foi arrancada, embalada em sacos de plástico preto e está empilhada em áreas de depósito provisório de lixo atômico. Pés de pera e pêssegos foram lavados um a um, assim como 418 mil casas e 11.500 instalações públicas, que levaram um banho para tirar a poeira radioativa. Segundo autoridades, a área contaminada pela radiação, que chegou a 30% da província, hoje corresponde a 3%. Os gastos são de US$ 20 bilhões por ano”, diz o Estadão.

Fukushima, de 30 a 40 anos para voltar ao normal

“O risco potencial à saúde dos moradores diminuiu bastante”, disse David Lochbaum, cientista especializado em energia nuclear ao Estadão. Que informa: a situação pode levar de 30 a 40 anos para voltar ao normal. “Com reatores desligados, (o país agora) aposta em usinas eólicas e geotérmicas para chegar a 100% de energia limpa até 2040.” A publicação ressalta que “a população local não aceita que a água seja jogada no mar, apesar de o governo garantir que já não está mais contaminada. Além disso, é preciso arrumar abrigo definitivo para o lixo radioativo do campo”.

Desastres radioativos, os maiores do mundo

O desastre de Fukushima divide com Chernobyl a liderança da lista de acidentes radioativos mais graves da história. Os dois levam a classificação 7, nível máximo na escala da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea). Abaixo deles, tem Mayak, na Rússia, que recebeu classificação 6. Além de vários outros acidentes radioativos com classificação 5, entre eles o do césio-137, em Goiânia, Brasil.

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Chernobyl

O desastre de Chernobyl foi em 26 de abril de 1986 em Pripyat, na então República Socialista Soviética da Ucrânia. Aconteceu durante testes em dos reatores da central nuclear. Explosões liberaram 400 vezes mais partículas radioativas no ar do que a bomba lançada pelos Estados Unidos sobre Hiroshima, durante a Segunda Guerra Mundial. A radioatividade atingiu boa parte da Europa. Cerca de 4 mil pessoas morreram em decorrência do acidente, mas estima-se que esse número seja dez vezes maior. Mais de 330 mil pessoas tiveram que sair da região, que virou um lugar fantasma.

Mayak

Localizada próxima a cidade de Kyshtym, na Rússia, o acidente na usina de Mayak contaminou a região num raio de 80 quilômetros. O desastre aconteceu em 29 de setembro de 1957, mas demorou a ser descoberto porque as autoridades russas (soviéticas à época) tentaram escondê-lo por quase 30 anos. Estima-se que 200 pessoas morreram em decorrência da radiação. Outras 10 mil pessoas tiveram que sair das áreas atingidas.

Three Mile Island

O desastre na usina Three Mile Island é considerado o mais grave dos Estados Unidos. O acidente nuclear aconteceu em março de 1979, em Harrisburg, capital da Pensilvânia. Classificado como nível 5, o desastre não causou mortes. Mas foi o responsável por endurecer as regras referentes a instalação de usinas nucleares e de sistemas de segurança de emergência.

Goiânia

O acidente com césio-137 em Goiânia, no Brasil, é classificado na escala 5 pela Aiea. Ele aconteceu em 13 de setembro de 1987, quando moradores da cidade manipularam uma cápsula de césio-137, encantados com o pó azul brilhante do material altamente tóxico. A cápsula havia sido retirada de equipamentos de radioterapia, roubados de um instituto de saúde desativado e vendidos a um ferro-velho. Estima-se que mais de 60 pessoas morreram e mais de 1,4 mil foram contaminadas pelo material radioativo.

Fontes: https://www.hsdl.org/c/fukushima-water-contamination-impacts-on-the-us-west-coast/;  https://www.hsdl.org/?abstract&did=761786; http://www.wp.radioshiga.com/2018/07/cientistas-encontram-vestigios-de-material-nuclear-de-fukushima-em-vinho-californiano/; https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,fukushima-tenta-se-reerguer-sete-anos-apos-maior-tragedia-nuclear-do-japao,70002158674; https://www.theguardian.com/world/2013/aug/20/fukushima-leak-nuclear-pacific;  https://veja.abril.com.br/mundo/radiacao-liberada-em-fukushima-circulou-por-todo-o-planeta/

https://www.iaea.org/sites/default/files/19/09/fukushima_nps_update_-_2019-08-21.pdf; https://www.iaea.org/sites/default/files/19/09/events-and-highlights-july-2019.pdfhttps://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/10/internacional/1568134696_328590.html; https://www.dw.com/pt-br/o-plano-japon%C3%AAs-de-jogar-ao-mar-%C3%A1gua-radioativa-de-fukushima/a-50406122; https://pt.energia-nuclear.net/acidentes-nucleares; https://exame.abril.com.br/tecnologia/os-maiores-acidentes-nucleares-da-historia/; https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2019/07/08/interna-brasil,768979/vitimas-da-tragedia-com-o-cesio-137-em-goiania-reivindicam-memorial.shtml.

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Comentários

15 COMENTÁRIOS

  1. E estranhamente os homens/mulheres das ciências/mídias e assemelhados jamais fizeram qualquer denunciazinha dos testes nucleares feitas pelos EUA. Inglaterra, França, China, Israel, India, Paquistão e a famigerada Russia. Por que será??? Eram cagões e tinham medo de retaliações.

  2. O pior de tudo e saber que nada disso foi natural mas provocado pelo Home, nem eu sabia que terremotos eram provocados e que o Haiti foi um teste para o Japão. Fiquei chocada de saber isso. Infelizmente a ganância de alguns homens polui o mundo todo.

    • Pandora, ouvindo sua suposta insinuação sobre o programa HAARP e a capacidade humana de gerar tremores de terra significativos, a partir de ondas eletromagnéticas, além de supostamente reproduzir a insinuação do ex-presidente Hugo Chávez sobre o terremoto artificial do Haiti em 2010, faz-me crer que esta geração hiperconectada não tem mais futuro. Está perdida inevitavelmente. Tudo que sabem é reproduzir meias verdades sem ao menos se preocupar com o mínimo de questionamento científico. Você é a pedra angular do pensamento idiota ocidental que nos levará a ruína apocalíptica.

  3. Desde poucos anos de lançarem as bombas em Hiroshima e Nagasaki os americanos explodiram diversos artefatos e depois de 1945 eles explodiram dezenas senão centenas de bombas nos atóis do Pacifico a ponto de ainda hoje os povos que foram expulsos de Bikini ainda não podem voltar às suas terrras. Nos inícios de 1950 os russos explodiram as suas bombas e depois vieram franceses, ingleses, israelenses,indianos, paquistaneses e ultimamente os norte coreanos. Estranhamente descem o cacete no acidente japonês mas parecem se borrar nas calças em falar sobre os outros. Eita jornalísmo sério???? Seria isto profissionalísmo ou se vendem por quaisquer 30 moedas????

  4. Por que somos contra Usinas Nucleares ? Uso Escudo da ALEMANHA por prometerem desativar todas suas USINAS até 2.022.
    Quantas Usinas temos na TERRA ? 400 ! 500 ! Quantas ?
    O vazamento da USINA NUCLEAR de FUKUSHIMA está contaminando a vida marinha dos nossos OCEANOS.
    Estamos ou não inviabilizando a vida em nosso Planeta. “Provavelmente fez-se mais danos à Terra no século XX do que em toda a história anterior.” JACQUES Y. COUSTEAU.
    Saudoso oficial da marinha francesa – Jacques-Yves Cousteau (1910-1997) também conhecido como o Papa do Meio Ambiente.

  5. Cada vez mais acredito que a espécie humana está fadada ao desaparecimento de sua presença sobre a face da Terra ; leia-se “extinção”.
    A forma descompromissada com as outras espécies existentes no planeta e a exploração desenfreada de recursos finitos como petróleo levarão-nos à derroca existencial em poucos séculos!
    Estes acidente nuclear em FUKUSHIMA apenas é mais um de uma série de intervenções nucleares que o ser humano vem fazendo sobre a natureza, sem nenhum escrúpulo ou preocupação com as futuras gerações; que o digam os habitantes de Hiroshima e Nagasaki!!!

  6. não entendi esse programa de computador que diz que a radiação avança como nuvem, tendo em vista as correntes maritimas puxando pro lado da india, a “nuvem” devia ir pra lá tbm.

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