Corte da produção de plástico é vetado em cúpula da ONU

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Corte da produção de plástico é vetado em cúpula da ONU

Em 2022, em Nairobi, Quênia, mais de 170 países membros da ONU chegaram a um consenso sobre o plástico depois de três reuniões que começaram em 2022, no Uruguai. Desse modo, eles se dispuseram a reduzir a produção do plástico em 40% em 15 anos. Compromisso registrado em acordo juridicamente vinculativo. Agora, entre 23 e 29 de abril, negociadores de 175 países reuniram-se em Ottawa para a quarta rodada do Tratado das Nações Unidas sobre Plásticos. A expectativa era que os  países produtores de petróleo, incluindo Arábia Saudita, Rússia e Irã, pressionassem por um tratado concentrado na reciclagem em vez de cortes de produção. Contudo,  Peru e Ruanda surpreenderam ao apresentar moção que previa reduzir a produção em 40% até 2040. Estados Unidos e Inglaterra assombraram o mundo ao vetarem o corte da produção de plástico.

greenpeace pede corte da produçao de plástico em 75%.
Imagem @Ben Sarten, Greenpeace.

Reunião termina sem acordo sobre reduções globais na indústria

Para David Azoulay, diretor de saúde ambiental do Centro de Direito Ambiental Internacional, embora alguns países tenham tomado uma posição para manter vivas propostas ambiciosas, a maioria aceitou um compromisso, no último minuto, que saiu das mãos de petro-estados e influências da indústria, informou o Guardian.

“Desde o início das negociações, sabemos que precisamos reduzir a produção de plástico para adotar um tratado que cumpra a promessa prevista há dois anos”, disse. “Em Ottawa, vimos muitos países afirmarem, com razão, que é importante que o tratado aborde a produção de polímeros plásticos primários.”

“Porém, quando chegou o momento de ir além de declarações vazias e lutar por um trabalho de apoio ao desenvolvimento de um programa eficaz, vimos os mesmos Estados-Membros desenvolvidos, que afirmam liderarem o mundo em direção ao meio ambiente livre de poluição plástica, abandonarem todas as pretensões assim que os maiores poluidores ‘piscam’ para eles”.

A proposta de Ruanda e do Peru teve a concordância de 33 países. Entre eles, Austrália, Dinamarca, Nigéria, Portugal, Holanda e Nigéria, que assinaram a declaração, “Ponte para Busan” (numa alusão à última reunião na cidade de Busan, Coréia do Sul, em novembro). O pedido é para que todos os delegados garantam que a produção de plástico seja abordada.

Brasil não assina a declaração “Ponte para Busan”

Entre os 33 países favoráveis à redução da produção não está o Brasil oficial que, desde que Lula assumiu, se considera e alardeia ser um dos líderes, o grande ‘protagonista’ do meio ambiente. Será?

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Pesquisei para saber se o País enviou delegação à reunião. Não encontrei resultados. Neste link você fica sabendo quais países assinaram. Por outro lado, a ABIPLAST – Associação Brasileira da Indústria do Plástico acompanhou in-loco a cúpula, e fez questão de divulgar, ao contrário do governo federal que não emitiu qualquer comentário.

O plástico está no centro de dois problemas mundiais: poluição e aquecimento global

Antes de mais nada, e segundo fontes internacionais como o Guardian e o Greenpeace, o fracasso em prosseguir cortes ambiciosos na produção de plástico ocorreu depois de um número recorde de lobistas de combustíveis fósseis e petroquímicos terem participado da cúpula no Canadá.

Importante destacar que antes da reunião, o Greenpeace encomendou uma pesquisa que descobriu que 80% das pessoas em todo o mundo apoiam um Tratado Global dos Plásticos que corte a produção para impedir a perda de biodiversidade e limitar o aquecimento a 1,5°C. A pesquisa aconteceu em 19 países.

Antes de prosseguir, vale saber o tamanho da indústria do plástico nos Estados Unidos, para entender a posição do país. A avaliação é do Statista.comEm 2019, a América do Norte foi responsável por cerca de 20% da produção global de materiais plásticos (a produção mundial hoje é avaliada em 400 milhões de toneladas). Muitos dos maiores fabricantes de plástico do mundo estão sediados nos EUA, como a Dow Chemical e a divisão química da ExxonMobil .

Nos EUA a indústria do plástico vale 129,1 bilhões de dólares

Este volume, transformado em números, representa algo em torno de 129,1 bilhões de dólares por ano.

“Os Estados Unidos precisam parar de fingir ser um líder e assumir o fracasso que criaram aqui”, disse Carroll Muffett, presidente do Centro de Direito Ambiental Internacional. “Quando o maior exportador mundial de petróleo e gás, e um dos maiores arquitetos da expansão do plástico, diz que vai ignorar a produção de plástico em detrimento da saúde, dos direitos e da vida do seu próprio povo, o mundo escuta.”

E nós acrescentamos: O Brasil também ‘precisa parar de fingir ser um líder’, e tomar uma atitude condizente com sua ambição em liderar. A indústria mundial de plástico é a responsável por 5,3% do total de emissões de gases com efeito de estufa (para efeito de comparação, o Brasil é responsável por cerca de 3%).

6% do consumo global de petróleo é usado  para produzir plástico

O Banco Mundial acrescenta que a maioria das pessoas não percebe que os plásticos têm origem em combustíveis fósseis. A indústria do plástico é responsável por cerca de 6% do consumo global de petróleo e deverá atingir 20% até 2050.

Diz ainda que as pessoas pensam que quando o plástico é descartado em lixeiras ele vai embora. Mas, não. Em nível mundial, reciclam apenas 9% dos materiais e descartam o resto no ambiente natural. Quando não reciclam ou não descartam os resíduos plásticos de forma controlada, eles geram emissões de gases de efeito estufa quando expostos à radiação solar, tanto no ar quanto na água.

A queima de plástico a céu aberto e o carbono negro

Sobre esta questão, explica o Banco Mundial: A queima a céu aberto é uma prática comum de tratamento de resíduos no Sul da Ásia e em todo o mundo em desenvolvimento. A quantidade de resíduos queimados na Índia e no Nepal juntos representa 8,4% dos resíduos queimados globalmente. A queima de resíduos em fogueiras abertas leva à produção de um grave poluente atmosférico, o carbono negro, e é responsável por metade da poluição atmosférica visível em cidades como Nova Deli . O potencial de aquecimento global do carbono negro é até 5.000 vezes maior que o do dióxido de carbono (CO2).

Eis porque o Brasil deveria estar presente na cúpula mundial, e ser um dos primeiros a assinar a “Ponte para Busan”. Ou, então, que acorde para a realidade à sua volta, e pare de arrotar algo que, definitivamente, não faz.

Os estuários, berçários marinhos, estão desaparecendo

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