Cafeína, analgésicos e cocaína no mar de Ubatuba
A descoberta dos poluentes no mar de Ubatuba foi obra de Luciana Rocha Frazão, do Instituto de Oceanografia (IO/USP), para a tese de doutorado Produtos farmacêuticos e de higiene pessoal na zona costeira em Ubatuba (Brasil): um hotspot ecológico e turístico que enfrenta alta contaminação, de acordo com a Agência Universitária de Notícias da USP. O resultado foi publicado no fim de outubro. Nada de muito novo. Em 2024 pesquisadores encontraram cocaína na baía de Santos, no mesmo ano outra pesquisa revelou cocaína em cações/tubarões que frequentam águas cariocas.

Agora a vítima é o balneário de Ubatuba cuja poluição por esgotos não tratados, nas águas dos rios que atravessam o município, é notória.

O mar paulista, de mau a pior
Na mesma semana em que descobrem cocaína no mar de Ubatuba, uma pesquisa da Sea Shepherd, fruto da Expedição Ondas Limpas, estudou o perfil do lixo marinho pela costa brasileira ‘para entender o real impacto dos resíduos e influenciar políticas públicas urgentes de inibição de produção, uso e destinação de resíduos plásticos, dentre outros resíduos no Brasil’.
De acordo com o site da Sea Shepherd, ‘após 16 meses de jornada, completamos a 308ª praia, no Amapá – concluindo 100% da expedição. Recolhemos no total mais de 2 toneladas de lixo, após 8.125 km percorridos em 17 estados!’
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaUma das conclusões mostra que ‘nas cidades, a Baixada Santista, no estado de São Paulo, destaca-se por liderar o ranking em concentração de macrorresíduos, macroplásticos e microplásticos. Em São Vicente, por exemplo, foram encontrados 10 resíduos por metro quadrado nas suas praias. Em Mongaguá, o cenário é ainda mais alarmante, com a presença de 83 fragmentos de microplástico por metro quadrado’.
‘Poluentes químicos não se diluem por completo na água’
Voltando a Ubatuba, a pesquisa de Luciana Rocha Frazão encontrou 15 dos 22 componentes que a especialista esperava mapear. Pesquisadores identificaram componentes desde a região litorânea até áreas mais distantes da costa, evidenciando uma extensa contaminação com baixo nível de diluição ao longo de toda a costa marinha.
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“As características físico-químicas deles não permitem uma diluição por completo e os tratamentos de esgoto não eliminam esses compostos, até porque são muitos e não se sabe os efeitos deles’, explicou a pesquisadora.
O impacto na cadeia trófica
Luciana ressalta também que, possivelmente, as consequências podem afetar tanto a cadeia trófica, ou seja, a transferência de energia e, consequentemente, de poluentes entre os organismos, como também as trocas gasosas entre o oceano e a atmosfera.
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Cores do Lagamar, um espectro de esperançaMarlim azul com pneu no bico, um retrato da nossa açãoPlástico nos oceanos: o que realmente podemos mudar como indivíduosLuciana disse à Agência Universitária de Notícias da USP que, ‘de forma semelhante às emissões de dióxido de carbono na atmosfera, cujo acúmulo de longo prazo levou ao efeito estufa e à atual crise climática, os PPCPs (fármacos e cosméticos) também podem se acumular lentamente. Isso pode causar mudanças significativas que permanecem imperceptíveis até o alcance de um ponto de inflexão, resultando em graves consequências irreversíveis para os ecossistemas marinhos.
Segundo a revista Fapesp, a cocaína tem efeitos toxicológicos graves em espécies como mexilhões-marrons, ostras de mangue e enguias, que afetam sua saúde, desenvolvimento e reprodução, de acordo com levantamento de especialistas da Unifesp.
Duas cúpulas mundiais em seguida fracassam
Enquanto a poluição marinha avança, e o aquecimento do planeta sai do controle, as cúpulas mundiais fracassam uma atrás da outra. Na COP29, realizada no Azerbaijão, os participantes não chegaram a um consenso sobre o custo da descarbonização nem sobre quem deve assumir a conta. Pelo contrário, alguns sugeriram cenários que preveem o uso ainda maior de combustíveis fósseis.
E a quinta reunião do tratado do plástico, que aconteceu logo depois na Coreia do Sul, também fracassou, desta vez pela posição inflexível dos maiores produtores de petróleo, e plástico, a Arábia Saudita, Irã, e Rússia.
Tempos bicudos…









