Tubarão-charuto: o voraz minúsculo que ataca tubarões e baleias
A vida marinha é ainda um mistério. Estimativas sugerem entre 700.000 e um milhão de espécies de vida marinha – mas mais de 91% permanecem sem classificação. O site da NOAA – agência norte-americana encarregada de tudo em relação aos mares, diz que ‘os cientistas estimam que 91 por cento das espécies oceânicas ainda não foram classificadas e que mais de oitenta por cento do nosso oceano não está mapeado, não foiobservado mas não explorado. Hoje trazemos aos leitores um espécime tubarão que foi encontrado no litoral do Brasil, no século 19, que é tido como o pequeno infernal: o Tubarão-charuto, ou Cookiecutter.

Tubarão também conhecido como Cookiecutter, o pequeno infernal
Imagine o susto que levaram os pesquisadores ao verem pela primeira vez esta espécie. Dois naturalistas franceses, Jean René Constant Quoy e Joseph Paul Gaimard estavam a bordo da corveta Uranie, em viagem de circum-navegação entre 1817 e 1820 quando, ao largo do Brasil, puxaram uma rede do fundo do mar à procura de espécies desconhecidas.
Em 1824 a descrição da nova espécie foi publicada no relatório da viagem, Viagem à volta do mundo … nas corvetas de S.M. Uranie e Physicienne. Por ter sido encontrada em nosso litoral a espécie recebeu o nome científico Isistius brasiliensis.
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Agora um novo estudo descobriu que eles realmente aterrorizam animais de todos os tamanhos.
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Olhos verdes e aparência alienígena
Assim o site LiveScience descreve o bicho: ‘Os tubarões de olhos verdes parecidos com alienígenas parecem fantoches sinistros feitos de massa folhada e podem crescer até 50 centímetros de comprimento’.
‘Essas estranhas criaturas usam seus dentes pontiagudos para se alimentar de grandes tubarões brancos dez vezes maiores e são até mesmo conhecidas por mordiscar pedaços de carne humana’.
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‘Mas acontece que esses tubarões também mastigam animais na base da cadeia alimentar, o que lhes dá um papel único no ecossistema do oceano, descobriu uma nova análise de espécimes de tubarão’.
Aaron Carlisle, professor assistente na Escola de Ciência e Política Marinha da University of Delaware, principal autor do estudo declarou sobre o animal: “Eles se alimentam de tudo, desde os maiores e mais resistentes predadores – como tubarões brancos, orcas, tudo que você pode imaginar – até as menores criaturas. Não há muitos animais que façam algo assim.”
Principais características do animal
Tubarões Cookiecutter (Isistius brasiliensis) vivem em águas tropicais e subtropicais e podem habitar profundidades de mais de 1.500 metros, de acordo com o estudo.
O Mar Sem Fim recorreu ao site Shark Research Institute para saber mais sobre o animal.
Como é o corpo do cookiecutter shark
O tubarão-charuto é pequeno e tem o corpo cilíndrico, lembrando um charuto. O focinho é curto e bulboso. Possui lábios suctoriais, duas barbatanas dorsais posicionadas bem para trás e uma barbatana caudal grande, quase simétrica, com um lobo ventral alongado.
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Os machos variam em tamanho, entre 37 e 39 cm. As fêmeas são um pouco maiores, 50 cm. O tubarão tem dentes inferiores grandes e triangulares em 25-31 fileiras.
Descrição, distribuição, reprodução e comportamento
Ele é um tubarão oceânico tropical de amplo espectro, epipelágico a batipelágico. Pode variar da superfície a mais de 3.500 m de profundidade, mas geralmente varia de 85 até 3500 m.
Esses tubarões são freqüentemente encontrados perto de ilhas, que possivelmente são seus locais de filhotes ou onde concentrações de presas estão localizadas.
Os animais vivem nos oceanos Atlântico, Índico Meridional e Pacífico. E sua reprodução é presumivelmente ovovivípara, com cerca de 6-7 filhotes por ninhada.
Os tubarões Cookiecutter são péssimos nadadores e geralmente só são capturados à noite. Eles provavelmente migram verticalmente de águas profundas 2000-3000 m para águas intermediárias ou superficiais à noite.

Eles são um ectoparasita em grandes peixes e cetáceos, possivelmente atraídos para o tubarão por seus órgãos de luz bioluminescente.
O tubarão-charuto usa os lábios grossos e a faringe modificada para se prender à presa. Em seguida, crava os dentes inferiores afiados e gira o corpo para arrancar um pedaço de carne.
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Depois de cortado, o tubarão se solta, segurando o pedaço de tecido pelos dentes superiores em forma de gancho e deixando para trás uma ferida de cratera.
Conservação: qual o status da espécie?
A espécie tem sorte, é pequena demais para atrair a atenção do grande predador: nós.

As descobertas do novo estudo
Os pesquisadores descobriram que os tubarões-cookiecutter se alimentavam principalmente de espécies menores em profundidades mais baixas, incluindo crustáceos, lulas e peixes pequenos, como membros dos gêneros Ariomma e Cololabis.

Algumas dessas presas podem ser pequenas o suficiente para os tubarões as engolirem inteiras. Em contraste, os grandes animais da parte superior do oceano representam menos de 10% da dieta dos tubarões, descobriu o estudo.
O LiveScience diz que essas descobertas lançam luz sobre o comportamento da criatura oceânica enigmática. Mas a amostra de tubarões era pequena e de uma área geográfica limitada, e não deixa claro se essa tendência de alimentação é a mesma em toda a área de distribuição global de acordo com o estudo.
O animal representa risco ao ser humano?
O tubarão-charuto, como todos os outros, não ataca o ser humano, mas às vezes o confunde com suas presas, então…
Sim, houve um caso, em 2009, quando um nadador de longa distância tentava atravessar o Canal de Alenuihaha, entre o Havaí e Maui. Ao pôr do sol o nadador sentiu uma mordida em seu peito, e outra na panturrilha quando saia da água.
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De acordo com especialistas, os tubarões-charuto costumam atacar outros animais marinhos, como peixes e baleias, e se alimentam principalmente à noite. Foi o que aconteceu ao infeliz que nadava. Perdeu dois bifes, e a julgar pelos dentes do animal deve ter sido bastante dolorido.
Segundo George Burgess, do Museu de História Natural da Flórida, “não só é doloroso, mas também apresenta uma circunstância difícil para a recuperação, no sentido de que é necessária uma cirurgia plástica para fechar a ferida e ocorre, ainda, uma perda permanente de tecido.”
Imagem e abertura: @ Marc Dando
Fontes: https://www.livescience.com/14882-human-cookiecutter-shark-bite.html; https://www.livescience.com/cookiecutter-shark-weird-feeding.html?utm_source=SmartBrief&utm_medium=email&utm_campaign=368B3745-DDE0-4A69-A2E8-62503D85375D&utm_content=7D8BAB38-1354-42B1-A6EC-50D66B2B7CFD&utm_term=ed3c52ac-2ab9-4297-b170-3e287353803f; https://www.sharks.org/cookiecutter-shark-isistius-brasiliensis.
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