Teste de mineração em alto mar reduz vida marinha em 1/4

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Teste de mineração em alto mar reduz vida marinha em 1/4

Testes de mineração em alto mar na Clarion-Clipperton Zone (CCZ) mostram um impacto forte na vida marinha. Pesquisadores tiveram uma rara chance de explorar o sedimento de grande profundidade no Pacífico. Eles estudaram a área antes do início de um experimento de mineração em alto mar e voltaram depois que a atividade terminou. Assim, eles avaliaram como os animais reagiram. Após peneirar 80 amostras coletadas em quatro expedições, os cientistas viram um quadro preocupante: a abundância e o número de espécies no sedimento caíram quase 40%.

extraindo metais em testes de mineração
Imagem publicada pelo site da Universidade de Gotemburgo com a seguinte legenda: Os nódulos estão densamente agrupados no fundo do mar na área pesquisada. Aqui está um robô subaquático coletando uma amostra de uma esponja do fundo do mar. Imagem, ROV Odysseus, Pelagic Research Services.

A Zona Clarion-Clipperton

Uma das áreas escolhidas para a mineração dos ‘nódulos polimetálicos’ fica em alto-mar, portanto é uma área da humanidade e não de um país em particular. É a zona Clarion-Clipperton, no Pacífico onde, 4 mil metros abaixo da superfície,  encontram-se vastos depósitos de nódulos de manganês, pedras ricas em níquel, cobre, cobalto. E outros minerais essenciais para a fabricação de equipamentos – de celulares a baterias para carros elétricos e painéis solares. A área equivale a aproximadamente duas vezes o tamanho do México. Localiza-se entre a costa desse país e o Havaí.

Para diminuir a polêmica, a autoridade mundial que regula a mineração submarina, a ISA- International Seabed Authority, sugeriu em 2023 que se apressassem os estudos para identificar, afinal, que vida marinha havia naquela profundidade. Assim, os cientistas descobriram mais de 5.000 novas espécies que vivem no fundo do mar nessa área intocada do Pacífico. Por fim, os pesquisadores estimam que 88% a 92% das espécies da região seguem desconhecidas. Em outras palavras, a maior parte da fauna é nova para a ciência.

O site da Universidade de Gotemburgo revela que a pesquisa é realizada de acordo com as diretrizes da Autoridade Internacional do Fundo do Mar (ISA) para estudos de base e avaliações de impacto ambiental.

‘A pesquisa exigiu 160 dias no mar e cinco anos de trabalho. Nosso estudo será importante para a Autoridade Internacional do Fundo do Mar (ISA), que regula a mineração em águas internacionais”, diz Thomas Dahlgren’.

Minerais importantes para fazer a transição energética

A transição energética é o grande problema. A finitude próxima de alguns recursos minerais em terra, bem como o aumento exponencial da necessidade de novos minerais usados na tecnologia atual e, por último, o brutal crescimento e consumo da população de 8 bilhões, são algumas das forças em jogo.

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O site do Museu de História Natural, de Londres, informa que durante um período de cinco anos, os pesquisadores amostraram o piso de profundidade da CCZ três vezes antes e uma vez dois meses após um teste de mineração. Eles coletaram 80 amostras do sedimento de profundidade para ver o que estava vivendo nele e como isso mudou ao longo do tempo e em resposta à atividade de mineração.

amostras coletadas a zona de testes de mineração submarina
As amostras coletadas da zona de testes de mineração submarina. Imagem Natural History Museum e Universidade de Gothenburgo.

Os pesquisadores coletaram 4.350 animais maiores que 0,3 mm que vivem no fundo do mar. 788 espécies foram identificadas. Os animais encontrados eram principalmente vermes de cerdas marinhas, crustáceos e moluscos, como caracóis e mexilhões.

O que foi descoberto na Zona Clarion-Clipperton

Segundo Eva Stewart, pesquisadora de doutorado no Museu de História Natural, ‘essas amostras são muito difíceis de coletar e a maioria das espécies é desconhecida. Isso significa que este é um dos maiores estudos abissais para identificar a espécie de cada animal que coletamos. Conseguimos mostrar que o número de espécies e o número de animais não mudou nas áreas não impactadas, enquanto na área que foi minerada, elas diminuíram quase 40%’.

Crustáceo coletado na zona Clarion Clipperton
Crustáceo coletado na zona de testes de mineração submarina. Imagem Natural History Museum e Universidade de Gothenburgo.

‘Historicamente, pensava-se que os ecossistemas do fundo do mar seriam muito estáveis e imutáveis ao longo do tempo devido à sua distância da superfície do oceano’, explica Eva. ‘Mas, na verdade, descobrimos que houve uma quantidade significativa de mudanças naturais durante o período em que estivemos estudando’.

‘Descobrimos que a abundância de animais estava mudando naturalmente ao longo do tempo antes do impacto da mineração, o que está potencialmente ligado aos ciclos climáticos naturais que afetam a quantidade de alimento que chega ao fundo do mar’.

Os pesquisadores dizem que ainda querem estudar o tema com mais detalhe, mas lembram que outras comunidades do fundo do mar mostram padrões semelhantes.

verme poliqueta coletado na zona de testes de mineração
Verme (poliqueta) coletado na zona de testes de mineração. Imagem Natural History Museum e Universidade de Gothenburgo.

O número total de animais caiu 37%

Contudo, mesmo levando em conta essas mudanças naturais, os resultados dos testes de mineração foram claros. O estudo mostra que o número de animais diminuiu 37% e a diversidade de espécies diminuiu 32% nas trilhas em que a máquina extraiu os metais. Em comparação, as amostras de áreas não mineradas não apresentaram nenhuma mudança entre o período imediatamente anterior e dois meses após.

Os pesquisadores também analisaram o impacto das plumas de sedimentos nas espécies do fundo do mar. A máquina de mineração perturba os sedimentos no fundo do mar, criando grandes nuvens que se depositam longe da área que foi minerada. Eles descobriram que, embora o número de espécies tenha diminuído, o número total de animais permaneceu relativamente estável. Isso provavelmente se deve ao fato de algumas espécies lidarem melhor com a perturbação do que outras.

estrela do mar coletada na zona Clarion Clipperton
Uma estrela do mar coletada na zona de testes de mineração.Imagem Natural History Museum e Universidade de Gothenburgo..

“Agora é importante tentar prever o risco de perda de biodiversidade como resultado da mineração. Isso exige que investiguemos a biodiversidade dos 30% da Zona Clarion-Clipperton que foi protegida. Atualmente, não temos praticamente nenhuma ideia do que vive lá”, diz Adrian Glover, autor sênior do Museu de História Natural de Londres.

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Os nódulos podem levar três milhões de anos para se formar

A jornalista, geóloga e paleontóloga Elizabeth Kolbert, que venceu o Prêmio Pulitzer pelo livro The Sixth Extinction: An Unnatural History — obra que o Mar Sem Fim repercutiu em 2017 no post Extinção em Massa, começou a sexta— explica que ninguém entende totalmente o processo que acumula metais no fundo do mar. Mesmo assim, os especialistas sabem que ele ocorre de forma extremamente lenta. Uma única pepita do tamanho de uma batata pode levar cerca de três milhões de anos para se formar.

Por causa destes perigos, em 2023 o New York Times pediu em editorial que a mineração seja suspensa antes mesmo de começar. Dois anos antes, em 2021, gigantes como as montadoras BMW e Volvo, e ainda a Samsung, e o Google anunciaram que apoiariam uma moratória para a mineração submarina.

Mas, por outro lado, em 2024 o parlamento da Noruega votou a favor da mineração no Ártico. E, em 2025, a Casa Branca iniciou uma avaliação de uma ordem executiva que aceleraria a licença para mineração em águas profundas, vale dizer águas internacionais. A ver como fica a polêmica.

Para encerrar, o Brasil também entrou na disputa. Em 2018, durante uma expedição do navio de pesquisa Alpha Crucis, a equipe do IO-USP mapeou os topos da Elevação do Rio Grande, uma área de cerca de 480.000 km². Ali, os pesquisadores encontraram grandes reservas submarinas de cobalto, níquel, molibdênio, nióbio, platina, titânio, telúrio e outros minerais raros. O País recebeu da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos uma autorização para estudar a região por 15 anos. Com isso, o Brasil protocolou na ONU uma proposta de extensão de sua plataforma continental, que a Comissão de Limites da Plataforma Continental analisa neste momento.

Assista ao vídeo para saber mais

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