Ricardo Salles cai, mas não espere grandes mudanças
Depois de dois anos e meio de descalabro comandado pelo mais arrogante e ignorante ministro do Meio Ambiente que já tivemos, Ricardo Salles cai. Mas não espere grandes mudanças na política ambiental. Salles não era mais que um boneco ventríloquo operado pelo tosco presidente que prometeu mudar o Brasil e se vendeu ao Centrão. Post de opinião.
Ricardo Salles cai: mas não espere mudanças
A situação pesou, a Justiça está em cima, ele é alvo de inquéritos e investigações em São Paulo e em Brasília, e a popularidade do chefe está em baixa.
Salles ‘pediu demissão’ nesta quarta-feira, 23 de junho. Sua gestão foi marcada pelo estilo autoritário, e pela abissal ignorância em relação ao tema de sua pasta.
A Amazônia
A complexa Amazônia, por exemplo, só foi visitada pelo rapaz depois de ser alçado ao cargo. E ainda no primeiro ano de governo instaurou a censura no ministério, proibindo entrevistas de seus servidores.
A covardia
Salles também será lembrado pela covardia. Como ministro de Estado uma de suas preferências era desqualificar em público a equipe que dirigia, em especial os funcionário do ICMBio e Ibama.
Repulsa no exterior
No exterior era visto com repulsa depois de quase acabar com a COP 25, mais uma vez, por arrogância e ignorância.
Prestígio com o ‘mito’
Mas, assim como Abraham Weintraub e Ernesto Araújo, ministros, respectivamente, da Educação e Relações Exteriores, mantinha prestígio com o presidente, seus filhos, e a ala ideológica do governo.
Ainda na terça-feira 22 de junho, no lançamento do Plano Safra, Bolsonaro fez questão de dizer que “o casamento da agricultura com o meio ambiente foi quase que perfeito. Parabéns, ministro Ricardo Salles.” E arrematou: “Não é fácil ocupar o seu ministério. Por vezes a herança que fica é uma penca de processos.”
Proibindo a fiscalização
De fato, é estranho um ministro do Meio Ambiente que dificulta, e quase proíbe a fiscalização. No primeiro ano de desmando quando as queimadas registradas pelo Inpe vieram à tona o ministro criticou a imprensa e as ONGs que atuam na Amazônia, como se todas fossem picaretas.
Um coice nos parceiros do Fundo Amazônia
De forma unilateral, mudou as regras do Fundo Amazônia com mais de um bilhão de dólares em doações, especialmente de Noruega e Alemanha para financiar ações de desmatamento. E plantou o primeiro abacaxi internacional para o Brasil descascar.
Implodindo o agronegócio
A guisa de proteger a produção no campo, o ímpeto destruidor de Ricardo Salles conseguiu quase o impossível: implodir o agronegócio. Foi o que aconteceu depois da escatológica reunião da ‘passada da boiada’.
É proibido proibir, é mesmo?
Mais recentemente o Ibama editou uma portaria, à cara do chefe, que retirava a autonomia dos fiscais em campo. Ou seja, eles não poderiam mais autuar infratores! A medida teve como resultado pedidos de demissão agravando o quadro de um corpo de funcionários há muito debilitado e enfraquecido.
O desmonte da legislação ambiental
Ricardo Salles será lembrado pelo crime de lesa-pátria, ao ‘passar a boiada’ desfigurando uma legislação que começou ao tempo dos militares nos anos 70 do século passado, e que sempre teve participação da academia e da sociedade.
Salles desonrou a memória de todos os ministros que sentaram na mesma cadeira, a começar por Paulo Nogueira Neto, criador do que viria a ser o MMA.
Sim, há problemas na legislação ambiental
Este site já comentou inúmeras vezes alguns problemas desta legislação, entre eles a burocracia, assim como as ‘esquisitices’ de muitos ambientalistas. Mas decepar o que temos de legislação sem nada em troca, não é aceitável. E é esta a especialidade do neófito Ricardo Salles.
O que muda com a saída de Salles?
Provavelmente apenas o estilo de gestão. O conteúdo deve ser o mesmo visto que Salles não fazia se não seguir rigorosamente as ordens do chefe.
Ele será substituído por seu braço direito no MMA, Joaquim Pereira Leite. Formado em administração de empresas, Pereira Leite era o secretário da Amazônia e Serviços Ambientais.
Por 20 anos foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB). O MMA, portanto, continuará ‘casado com o agronegócio’ como alardeia, (lost in space), Bolsonaro…
De qualquer maneira, ao menos para a desgastada imagem externa do Brasil é uma boa notícia. Até o mundo perceber que trocamos seis por meia dúzia há de demorar. Quem sabe o lapso nos favoreça.
Enquanto isso a Amazônia continua a ser desmatada ilegalmente com extrema violência neste terceiro ano de (des) governo. Nunca nossos biomas terrestres foram tão maltratados como na gestão Salles.
Atuação no bioma marinho
O ‘ministro’ teve tempo suficiente para esculhambar ainda mais o litoral. A primeira prova de ineficiência e falta de preparo surgiu quando houve o derramamento de óleo nas praias do Nordeste e parte das do Sudeste.
Óleo nas praias e inação do ‘ministro’
Salles esperou 38 dias para ir até o litoral para ver in loco os prejuízos e tomar providências. Chegou, tirou fotos para o Instagram, e foi embora sem falar com nenhum prefeito ou autoridade.
Enquanto isso as populações nativas se intoxicavam tentando amenizar o desastre sem qualquer preparo ou orientação. Foi preciso o vice-presidente agir e mandar o Exército limpar as praias e pôr ordem na faina.
Pesca liberada em UC de proteção integral
Ricardo Salles do alto de sua ignorância, rebaixou uma unidade de conservação de proteção integral, o Parque Nacional de Fernando de Noronha, ao liberar a pesca de sardinha dentro da unidade.
Engavetando projetos para o litoral
O ‘ministro’, entre aspas sempre (para não denegrir outros), engavetou dois importantes projetos do MMA para o litoral. Um deles era o Programa Nacional para Conservação da Linha de Costa – Procosta, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente desde 2018, ‘visando o mapeamento de riscos em razão das mudanças do clima e dos eventos extremos’.
Negando mudanças de clima
O outro era o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA). Criado em 2016, ele ‘tinha como objetivo promover a redução da vulnerabilidade nacional à mudança do clima’. Mais uma vez, engavetado.
Salles, como se sabe, é um negacionista do clima. Engavetou os planos, sem nada colocar no lugar. E ainda atentou contra a proteção de mangues e restingas no momento em que o mundo começa a lutar para mitigar o aquecimento global.
Provando ignorância sobre mangues e restingas
Incapaz, e sem visão dos problemas ambientais do País e do mundo, não sabe que mangues e restingas amenizam a erosão que já atinge perigosos 60% do litoral, além de serem sumidouros de gases de efeito estufa.
Brasil não tem estatísticas da pesca
Embora a elaboração de estatísticas da pesca não seja da alçada do MMA, mas da Secretaria da Pesca, o fato é que o MMA deveria trabalhar com os dados para procurar ordenar a atividade no País. Mas o antiministro sequer tocou no assunto.
O Brasil é um dos três únicos países membros da ONU, ao lado de Mianmar e Indonésia, a não ter noção das espécies pescadas, muito menos a quantidade.
Quanto ao secretário da Pesca, Jorge Seif Jr., é outro ‘amigo’ do chefe, campeão das lives de quinta-feira, cuja família é proprietária de empresa de pesca em Itajaí, uma das mais multadas por infrações das leis…da pesca.
Enrolado na Justiça
Enrolado com a Justiça, Ricardo Salles já vai tarde. Como seu chefe, era uma ‘usina de crises’. Mas nem por isso temos motivos para comemorar. É preciso que a sociedade continue atenta às questões do meio ambiente. Porque o governo continua o mesmo.
Imagem de abertura: Adriano Machado/ Reuters.