Casa pé na areia, um equívoco dos tristes trópicos: saiba porquê com o professor Dieter Muehe
Se você frequenta o litoral já deve ter ouvido falar neste objeto de desejo: a casa pé na areia. Se ainda não ouviu, sugiro a experiência de ‘googar’ a expressão. Você verá pelo menos dez páginas de anúncios vendendo este sonho de desavisados. Tem até imobiliária com este nome.
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Tenho cerca de 40 mil milhas navegadas ao longo do litoral do País. E nunca vi a casa de um nativo da costa, ou os caiçaras no sudeste, pé na areia. Ao contrário. Elas ficam atrás da praia, em terreno firme, normalmente depois das primeiras fileiras de árvores ou da vegetação.

Os nativos mostram inteligência. Suas posses não sofrem nem com calor, muito menos com a natural erosão da faixa costeira. E, também é importante, não destroem a paisagem que demorou eras para se formar e compõem um bem comum que pertence à coletividade.
Posses vendidas a preço de banana e a casa pé na areia
Então, espertalhões compram as posses a preço de banana. Já encontrei um caiçara que, alcoólatra, durante um surto sem a bebida trocou sua posse por uma garrafa de cachaça. Curado o porre, acordou como um pária. Sem acesso ao mar, e a profissão de pescador, passou a viver de esmolas.
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Mas o pior é que não são apenas casas de segunda residência pé na areia. São condomínios, hotéis, resorts, clubes, marinas, em pleno descontrole do aquecimento global e consequente aumento do nível do mar e de eventos extremos.
Por fatores naturais, aquecimento global, e construções equivocadas a erosão na costa se alastrou e já atinge perigosos 60% do litoral do País. É o que explica o…
Podcast, conheça
Eles são o mesmo que um bom e velho programa de rádio. Só que agora, com a tecnologia disponível, são encontrados na internet, através de variados aplicativos. Assim você ouve quando quiser.
Professor Dieter Muehe
Graduado em Geografia pela Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro) (1965), mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1975) e doutorado em Ciências da Natureza (ênfase em Geomorfologia Costeira) pela Christian-Albrechts Universtät Kiel, Alemanha (1982).

Professor titular aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro com vinculação ativa com o Programa de Pós-Graduação em Geografia da mesma Universidade. Trabalha atualmente como Professor Visitante Sênior (CAPES) junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
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Seria interessante se adotássemos também a estratégia dos povos tradicionais indígenas, das casas com vida, da moradia para se estar, não do patrimônio, do fixo, da propriedade garantida. Os indígenas coletivamente realizam suas moradias em ciclos, elas possuem tempo de vida, servem para o abrigo, para proteção, para a coletividade, em um dado momento se transformam em produtos da natureza, a partir daí e coletivamente, novas moradias surgem… Hoje há o trágico caso de residências valiosíssimas sobre areias facilmente levadas pelo mar, propriedades do acúmulo excessivo de capitais, garantidas pelo poder público, que atualmente deve garantir a posse, a propriedade e as infra-estruturas situadas em local inadequado. Vide Florianópolis com suas erosões recentes, a coletividade paga ao indivíduo acumulador seu direito de enfrentar o oceano (https://ndmais.com.br/justica-sc/justica-manda-prefeitura-resolver-situacao-critica-no-morro-das-pedras-em-florianopolis/). Vide Balneário Camboriú, a coletividade arca com alimentação praial, em anos de contribuição, para garantia da valorização imobiliária pé na areia (https://pagina3.com.br/cidade/dragagem-iniciou-e-consorcio-quer-reajuste-de-r-21-milhoes-pelo-alargamento-da-praia/).
As cidades fazem suas avenidas nas várzeas dos rios córregos e depois reclamam de inundações. Ninguém “da roça” faz casa em varjões. O mesmo se repete no litoral.
O pessoal do Sul é especialista nisso, principalmente no RS e SC….adoram construir bem pertinho, do ladinho da praia….deve ser a falta de neurônios isso…..
Os espertos sempre “a frente do seu tempo”, o tempo sempre cobra o desrespeito ao meu ambiente, que é implacável no seu tempo, ainda bem.
Falávamos aqui em casa sobre isso ontem. Que loucura construir tao perto da linha d’água. No Rio Grande do Sul tem um farol que foi construído à 30 metros da linha do mar, hoje o mar já o alcançou e as ferragens da base do farol estão completamente expostas.
As pessoas se afastaram tanto da Natureza que agridem-na com ideias equivocadas assim, esquecendo-se de que também seremos vítimas dessas agressões.
TUDO POR DINHEIRO! GANHE OU PERCA.
Conheço vários casos de casas “pé na areia” que evoluíram para “pé na água” ou submarinas… Nasci e fui criado indo à praias sempre, e desde novo sempre soube que construir em locais assim era furada, burrice pura, mas, como o mundo é dito “dos espertos”…