Golfinhos e pequenas baleias: 100 mil são mortos por ano

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Golfinhos e pequenas baleias, cerca de 100 mil são mortos por ano

Quando se fala em caça à baleia e golfinhos as pessoas mais antenadas com as coisas do mar pensam no Japão, um dos países que sempre desafiou a moratória da caça às baleias dos anos 80. Ou no máximo nos habitantes das Ilhas Faroe, um departamento da Dinamarca. Antes fosse. Segundo as fontes desta matéria, pelo menos 40 países são apontados como protagonistas na morte anual de pelo menos 100 mil golfinhos e pequenas baleias. Inclusive o Brasil.

Imagem de golfino morto em garupa de bicicleta
Esta terrível imagem ilustra a matéria do WDC com a legenda:Bhabanathtola, Distrito de Malda, Bengala Ocidental, dezembro de 2017.

Matança de golfinhos e pequenas baleias

Uma de nossas fontes é Nicola Hodgins, que trabalha para a ONG inglesa WDC – Whale and Dolphin Conservation, a ONG é parceira fundadora da Convenção sobre Espécies Migratórias, que faz parte do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Em seu texto ela diz que sabia da matança de golfinhos e pequenas baleias,  mas não tinha a exata dimensão do problema. Por isso se reuniu com colegas e passou a investigar mais de perto.

Imagem de golfinhos mortos em caçada nas Ilhas Salomão
O produto de uma caçada de golfinhos nas Ilhas Salomão. Imagem,https://de.whales.org/ .

Nicola e seus colegas produziram um relatório em 2018 para saber quais países estavam matando os animais, e para qual finalidade.

Nas palavras dela, ‘as informações que descobri sobre a escala desse problema e o número absoluto de golfinhos e pequenas baleias sendo abatidas foi avassaladora e profundamente perturbadora’.

O trabalho de Nicola Hodgins e seus colegas

Depois de analisarem mais de 300 publicações científicas, relatórios de mídia, e relatos de testemunhas oculares, o grupo chegou ao estonteante número de 100.000 golfinhos e pequenas baleias caçados e mortos todos os anos.

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Imagem de Partes do corpo de pequenos cetáceos, Japão
Partes do corpo de pequenos cetáceos, Japão. Imagem, https://de.whales.org/.

Muitos desses animais são abatidos para se tornarem iscas para outras espécies de peixes, especialmente tubarões, atuns, mas não apenas. Segundo Nicole, estas caçadas têm como alvo 56 espécies diferentes, e são praticadas por mais de 40 países. A maioria dessas caças é desregulada, ilegal, insustentável e com impactos desconhecidos nas populações marinhas.

Por serem ilegais, é difícil saber exatamente quais os números, mas Nicole suspeita que populações inteiras, até mesmo algumas espécies, sejam exterminadas. Pior é a forma com que alguns são caçados. Segundo Nicole, ‘os indivíduos que forem mortos sofrerão uma morte prolongada e intensamente cruel. A maioria é morta por métodos rudimentares, alguns até mesmo explodidos por dinamite’.

É inacreditável que em pleno século 21 o desatino persista. Mas a pesca com bombas acontece no Brasil, e em outras partes do mundo.

Peru, o campeão da matança de pequenas baleias e golfinhos

Com a palavra, Nicole Hodgins: “De longe, a maior matança de golfinhos e pequenas baleias no mundo é no Peru, onde até 15.000 golfinhos são mortos anualmente para serem usados ​​como isca na pesca de tubarões.”

Brasil, na lista dos que matam milhares de golfinhos por ano

“Outros países onde mais de 1.000 animais são mortos anualmente são Brasil, Canadá, Groenlândia, Gana, Guatemala, Índia, Indonésia, Japão, Madagascar, Malásia, Nigéria, República da Coreia, Ilhas Salomão, Sri Lanka, Venezuela e Taiwan.”

Particularmente, o Mar Sem Fim acredita que o número de golfinhos mortos no Brasil seja muito, mas muito maior que apenas os mil citados. Estas mortes acontecem em toda a costa brasileira via a pesca incidental, resultado das artes de pescadores artesanais e industriais.

imagem de carcaça de boto cor de rosa em casa da Amazônia
Carcaça de golfinho do rio Amazonas, macho adulto, após uso como isca. Imagem de Verónica Iriarte.

Além disso, os botos-cor-de-rosa, e os tucuxi também são mortos pelos ribeirinhos da Amazônia que usam sua carne como isca de piracatinga, como já denunciamos. A matança do boto-cor-de-rosa é tão alta que o animal está em situação crítica.

O golfinho mais ameaçado das águas brasileiras, as toninhas, são mortas diariamente, do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo, por redes de arrasto e de emalhe usadas tanto por pescadores artesanais como industriais.

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Golfinhos e pequenas baleias são mortos também para serem comidos

Mas não é apenas a pesca incidental a matar golfinhos e pequenas baleias. Segundo Nicole, ‘entre os motivos estão consumo humano, medicamentos/amuletos tradicionais, crendices como usar partes do animal como afrodisíaco, etc’.

E o Mar Sem Fim acrescenta: no mercado Ver-o-peso, de Belém, vende-se o sexo dos botos, cobras vivas (tráfico de animais silvestres), e pencas de cavalos-marinhos secos (peixe na lista dos ameaçados de extinção, cuja captura é proibida). Às claras.

Mas ‘ambientalistas’ preferem evitar o incômodo de reconhecer o fato. Assim como parte dos ‘pesquisadores’. Felizmente, nem todos são ideologicamente cegos.

Imagem de golfinho morto em barco de pesca
Mais uma foto que ilustrava a matéria do WDC, mas sem identificar o local. Imagem, https://de.whales.org/ .

Segundo Miguel Migueis, da Ufopa – Universidade Federal do Oeste do Pará, em matéria de O Estado de S. Paulo, os ribeirinhos da Amazônia  “usam (órgãos dos botos) para fazer perfume, espantar mau-olhado, aproveitam a banha do golfinho para tratar o mal do chifre dos bois, uma colher de chá para curar gripe.”

Outra matéria a que tivemos acesso, do site onegreenplanet.org, e também assinada por Nicole Hodgins, diz que ‘desde 1990, pessoas em pelo menos 114 países consumiram uma ou mais de pelo menos 87 espécies de mamíferos marinhos.’

‘Entretanto, apenas uma pequena percentagem  das pequenas baleias, golfinhos e botos consumidos serão relatados em relatórios oficiais, devido à natureza ilegal de grande parte do comércio subterrâneo’. 

Mutilação em botos da Amazônia

Este é um assunto muito pouco abordado em fóruns ambientais. Há uma corrente de ‘pesquisadores’ e ‘ambientalistas’ que não admitem os malefícios da pesca artesanal. Para esta corrente, que dorme um sono esplêndido, ‘não se pode criticar os pobrezinhos pescadores artesanais’.

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Mas a verdade é que muitos ribeirinhos da Amazônia matam botos simplesmente porque eles também dependem de peixes em suas dietas.

Mas a crueldade vai além. Com raiva, muitos  mutilam os animais. A pesquisadora Vera Silva, do Inpa, disse ao Estado que “às vezes o pescador prende o boto a uma árvore, amarrando uma corda em sua cauda, para matá-lo quando precisar pescar. Mas se passa a fiscalização, eles o soltam rapidamente e o animal fica ferido, correndo o risco de perder a cauda e morrer.”

Isca para pesca

Segundo o relatório de Nicole, ‘embora a caça para consumo humano tenha diminuído em muitas regiões, a matança para uso como isca na pesca tem aumentado’.

Imagem de golfinhos mortos nas Ilhas Faroe
Golfinhos mortos em caçadas nas Ilhas Faroe. Imagem, https://de.whales.org/ .

A carne de golfinhos e pequenas baleias é considerada ideal para isca devido à sua durabilidade na água, permitindo que ela permaneça presa aos anzóis mesmo após longos períodos de imersão. E por sua qualidade como atrativo devido ao seu alto teor de sangue e gordura’.

Quem é quem na matança de golfinhos e pequenas baleias

O trabalho de Nicole contemplou uma lista macabra publicada abaixo.

Peru: até 15.000 (isca para pesca de tubarão)

Nigéria: cerca de 10.000 indivíduos (mercado de carne e isca de pesca)

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Brasil: vários milhares (principalmente como isca de pesca)

Venezuela: vários milhares (para mercado de carne e como isca de pesca)

Madagascar: vários milhares (para mercado de carne e como isca de pesca)

Índia: vários milhares (para mercado de carne e como isca de pesca)

Coreia do Sul: vários milhares (para o mercado de carne)

Malásia: vários milhares (para mercado de carne e como isca de pesca)

Groenlândia:> 3.100 (alimentos)

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Japão: atualmente menos de 2.300 (para o mercado de carne)

Mas isto não é tudo. Há muuuito mais. Só para dar um exemplo, o documentário sensação Seaspiracy informa que na costa atlântica francesa cerca de 10 mil golfinhos são mortos anualmente pelas redes de pesca.

Repetindo: 10 mil mortes só na costa atlântica francesa. Quantos mais terão morrido na costa mediterrânea?

E chega por hoje.

Imagem de abertura: de.whales.org

Fontes: https://us.whales.org/2018/08/06/new-report-reveals-100000-dolphins-and-small-whales-hunted-every-year/; https://www.estadao.com.br/noticias/impresso,pescadores-tem-raiva-do-animal-diz-cientista-,872352; https://www.onegreenplanet.org/environment/eating-whales-and-dolphins-into-extinction/?utm_medium=social&utm_source=facebook.page&utm_campaign=postfity&utm_content=postfity533d8.

Ricardo Salles em entrevista patética, e nova crise

Comentários

7 COMENTÁRIOS

  1. Adianta publicar essas matérias ?

    A COVID-19 ou outra doença deveria acabar com todos os seres humanos. Nós não sabemos conviver em harmonia com outras espécies. E é por isso que seremos extintos.

    • Adianta, Gilberto, quanto mais pessoas souberem dos problemas, melhor. Haverá mais pressão internacional para acabar com o descalabro. O que não adianta é jogar nossa sujeira debaixo do tapete. Se quisermos mudar, temos que colocar o dedo na ferida, não tem outra jeito.

      • Muito “defensores do planeta” quando estão nas mídias fingem serem altruístas e dedicados a defesa das águas, das matas, dos lagos, rios e mares. Adoraria poder criar um sistema Big Brother e seguir a todos até nos banheiros para me certificar se fazem aquilo que pregam.

        Não tenho provas que me ajudem mas num passado recente ouvi de uma testemunha visual que no litoral de Santa Catarina os pescadores recolhem milhões de tainhas fêmeas “carregadas” de ovas e em operação rápida extirpam as ovas e lançam os peixes mortos de volta ao mar; ainda segundo esta pessoa me informou que enviam containers de ovas para a Itália e para o Japão.

        Em suma os ditos pescadores estão matando as tainhas dos ovos de ouro e as gerações do futuro que se lasquem.

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