‘Cidade perdida’ no fundo do oceano é um habitat

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‘Cidade perdida’ no fundo do oceano é um habitat que pode ter gerado  vida no planeta

Até por volta de 1977, a ciência ainda achava que o assoalho marinho era um deserto sem vida. Veja como sabíamos pouco sobre os oceanos. Como imaginar vida em um lugar sem luz e sob enorme pressão? Até “um segundo” atrás, essa era a visão dos cientistas. Mas tudo mudou em 1977, com a descoberta das primeiras fontes hidrotermais. A National Geographic  escreveu na época:

Sabe-se hoje que as fontes hidrotermais são uma espécie de oásis para formas de vida completamente inesperadas, capazes de prosperar numa sopa química tóxica, onde as temperaturas podem atingir os 350 °C.

Poucos anos depois, em 2000, outra descoberta sacudiu a ciência: os campos hidrotermais da chamada Cidade Perdida, no fundo dos oceanos.

Cidade perdida.
O veículo operado remotamente, Hercules, explora as fontes hidrotermais de Cidade Perdida durante uma expedição de 2005. Imagem, Deborah Kelley.

Estranhos habitats marinhos

Graças a estas descobertas, hoje sabemos que o assoalho marinho, mesmo nas maiores profundidades, é rico em vida. Para Sylvia Earle, uma das maiores autoridades mundiais sobre os oceanos,

Hoje sabemos que as pequenas criaturas que vivem na areia ou na lama dos mares profundos podem exceder nas mais ricas regiões dos continentes em termos de biodiversidade

Contudo, há uma diferença importante.

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Nas  fontes hidrotermais, a vida depende da quimiossíntese — processo em que os organismos obtêm energia pela oxidação de compostos inorgânicos. Acima d’água, por outro lado, a base da vida é a fotossíntese, que usa a luz do sol para produzir alimento.

Agora, surgem os campos hidrotermais. Neles, a vida prospera graças a reações químicas que ocorrem no fundo do mar, sem qualquer luz solar.

O primeiro campo descoberto fica a mais de 700 metros de profundidade. Ganhou o nome de Cidade Perdida. Segundo a sciencealert.com, ‘Embora outros campos hidrotermais como este provavelmente existam, este é o único que os veículos operados remotamente conseguiram encontrar até agora.’

Como surgiu vida em torno dos campos hidrotermais?

Segundo a sciencealert.com, ‘o Campo Hidrotermal de Cidade Perdida é o ambiente de produção de vida mais longa conhecido no oceano. Nada igual jamais foi encontrado.’

Cidade perdida sendo explorada.
Cidade perdida sendo explorada por veículos remotos. Imagem, D. Kelley/UW/URI-IAO/NOAA.

‘Ele foi descoberto perto do cume de uma montanha subaquática a oeste da Cadeia Dorsal Mesoatlântica (cordilheira submarina que se estende sob o oceano Atlântico e o oceano Ártico), uma paisagem irregular de torres surge da escuridão.

‘Por pelo menos 120.000 anos, e talvez mais, o manto ascendente nesta parte do mundo reagiu com a água do mar para produzir hidrogênio, metano e outros gases dissolvidos no oceano.’

‘Nas rachaduras e fendas das aberturas do campo, os hidrocarbonetos alimentam novas comunidades microbianas mesmo sem a presença de oxigênio. As chaminés expelindo gases tão quentes quanto 40°C são o lar de uma abundância de caracóis e crustáceos. Animais maiores como caranguejos, camarões, ouriços-do-mar e enguias são raros, mas ainda estão presentes.’

Para encerrar,  ‘Apesar da natureza extrema do ambiente, ele parece estar repleto de vida, e os pesquisadores acham que vale a pena nossa atenção e proteção.’

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O smithsonianmag.com confirma: ‘O que parece uma metrópole há muito abandonada é, na verdade, fervilhante de vida microscópica. Os trilhões de residentes microbianos da Cidade Perdida tornaram-se um fascínio para os cientistas.’

E conclui: ‘Esses micróbios, prosperando em um campo de fontes hidrotermais nas profundezas do Atlântico, guardam o segredo da sobrevivência da vida em ambientes tão hostis – e podem até fornecer pistas sobre as origens da vida na Terra.’

A vida se originou num habitat como este?

A resposta a esta pergunta é sim, pode ser. Segundo o sciencealert.com, ‘Como os hidrocarbonetos são os blocos de construção da vida, isso deixa em aberto a possibilidade de que a vida tenha se originado em um habitat como este. E não apenas em nosso próprio planeta.’

“Este é um exemplo de um tipo de ecossistema que pode estar ativo em Encélado ou Europa neste exato momento”, disse o microbiologista William Brazelton ao The Smithsonian, referindo-se às luas de Saturno e Júpiter.

“E talvez Marte no passado.”

E, então, é ou não uma descoberta interessante? A sciencealert.com demonstra a grande diferença das fontes hidrotermais para os campos hidrotermais: “Ao contrário das aberturas vulcânicas subaquáticas chamadas fontes hidrotermais, que também foram apontadas como um possível primeiro habitat, o ecossistema da Cidade Perdida não depende do calor do magma.

Formação dos campos termais

Sua formação é igualmente diferente, como  informa a National Science Foundation ‘Estruturas de campos hidrotermais que foram descobertas por acaso em dezembro de 2000, no meio do Oceano Atlântico, incluindo uma enorme fonte de 18 andares mais alta do que qualquer outra vista antes, têm sua formação de maneira muito diferente das fontes hidrotermais estudadas desde a década de 1970.’

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E, prossegue: “Esta nova classe aparentemente se forma onde a água do mar circulante reage diretamente com as rochas do manto. Ao contrário de onde a água do mar interage com as rochas basálticas das câmaras de magma abaixo do fundo do mar.”

Campos termais protegidos

Antes de mais nada, os cientistas defendem que estes locais recebam proteção. Artigo na ScienceDirect informa que os campos hidrotermais ‘estão dentro de uma Área Marinha Ecologicamente ou Biologicamente Significativa. Por isso, a Cidade Perdida passou a ser considerada como possível Patrimônio Mundial.

A necessidade de proteção é urgente. Em 2018, a Polônia recebeu permissão para explorar o fundo do mar ao redor da Cidade Perdida.

Embora o campo termal em si não contenha recursos valiosos, a mineração nas proximidades pode causar danos sérios. A destruição dos arredores pode afetar esse ecossistema único — e ainda pouco compreendido.

Já comentamos inúmeras vezes a catástrofe que seria o início da mineração submarina. Mas tanto países da Europa, como países insulares do Pacífico, entre eles Papua Nova-Guiné, têm visto na atividade a sua salvação.

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