Não só peixes ou mamíferos, as aves marinhas também são vítimas da indústria da pesca
Trata-se de uma forte cadeia industrial, mundo afora que, às vezes, parece trazer mais malefícios que benefícios. O cientista Jared Diamond resume: “a indústria da pesca marítima enfrenta o mesmo problema fundamental das indústrias do petróleo, mineração e madeira: crescimento da população e da afluência mundial levando ao aumento da demanda de reservas em declínio.” (Livro Colapso, Ed. Record, pg. 572). Hoje não abordaremos a crítica questão dos estoques de peixes e a pesca industrial. Mas problemas paralelos, como a morte de milhares de aves marinhas.
Plano de ação internacional para reduzir a captura incidental de aves marinhas pela pesca
O problema é tão grave que despertou a ONU. A organização propôs um plano de ação internacional para reduzir a captura incidental de aves marinhas pela pesca com espinhel lançada pelos membros do Comitê de Pesca, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em 1997, visando estabelecer um acordo internacional que atendesse às questões apontadas pelo Código de Conduta para a Pesca Responsável. O Brasil aderiu ao plano.
Albatrozes e Petréis, espécies mais prejudicadas
O Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis – PLANACAP informa que ” a Ordem dos Procellariiformes é composta por albatrozes e petréis que se distribuem amplamente pelos oceanos do mundo, apresentando maior diversidade no hemisfério sul, onde ocorrem 22 espécies de albatrozes, duas de petréis-gigantes e pelo menos 75 espécies menores das famílias Procellariidae, Hydrobatidae e Pelecanoididae.
Possuem grande longevidade e atingem a maturidade sexual tardiamente (cerca de 5-6 anos para as espécies menores e 11 anos para os grandes albatrozes). Produzem apenas um ovo por temporada que pode ocorrer em intervalos de dois ou mais anos.”
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Espécies visitantes que interagem com a pesca
O mesmo documento informa que “das 148 espécies de aves marinhas registradas no Brasil, 45 são da Ordem dos Procellariiformes e, dessas, pelo menos 16 interagem com barcos de pesca oceânica, vindas de outros países/continentes.” E, prossegue: “As quatro espécies regularmente capturadas são o albatroz-de-sobrancelha-negra, a pardela-preta, o albatroz-de-nariz-amarelo-do-Atlântico e a pardela-de-óculos.”
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Outras espécies de albatrozes maiores também são capturadas por barcos brasileiros, principalmente o albatroz-errante, albatroz-de-Tristão, albatroz-real-meridional e albatroz-real-setentrional.”
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As principais ameaças para as espécies que se reproduzem nas ilhas brasileiras é a deterioração do habitat, como a supressão da cobertura vegetal dessas ilhas, o que acarreta a perda dos locais de reprodução e a predação por animais domésticos introduzidos. A Ilha da Trindade, é um delas, assim como Fernando de Noronha. Com a nova proteção que o Governo Temer garantiu à Trindade, esperamos que o problema da desertificação seja amenizado. Por exemplo, as cabras e bodes lá deixados foram finalmente exterminados por atiradores de elite da marinha do Brasil. No entanto, o mesmo não acontece em Abrolhos que apresenta o mesmo problema. Já Noronha parece ser caso perdido nos escaninhos do ICMBio…
Capturas pela pesca incidental
A captura incidental em pescarias é conhecida como a principal ameaça às espécies de albatrozes e petréis em todo o mundo. Há registro de captura em diversas pescarias especialmente nas de arrasto em diversas regiões do planeta. Mas, a pesca com espinhéis pelágicos e de fundo são as mais impactantes para essas espécies.
Aproximadamente 1,4 bilhão de anzóis são colocados na pesca de espinhel
Outros estudos acadêmicos estimaram que um mínimo de 160.000 aves adicionais são mortas a cada ano por outro equipamento de pesca insidioso, ‘longlines’, ou espinhel, que pendem milhares de ganchos mortais em linhas de pesca de até 50 quilômetros de extensão. Aproximadamente 1,4 bilhão de anzóis são colocados na pesca de espinhel a cada ano.
Pesca com espinhéis pelágicos e de fundo são as mais impactantes para essas espécies.
Redes de emalhe e a morte de 400, a 500 mil aves marinhas, por ano no mundo
Elas são outro grande perigo. Um estudo publicado na revista Biological Conservation relatou que os navios de pesca que utilizam redes de emalhar (elas podem ser fundeadas, ou deixadas à deriva) capturam e afogam pelo menos 400.000 aves marinhas em todo o mundo a cada ano.
O valor real pode ser ainda maior. Segundo o New York Times, estima-se que as enormes redes de emalhar de deriva matariam 500 mil aves anualmente antes que uma moratória das grandes redes de deriva das Nações Unidas entrasse em vigor em 1992.
O New York Times explica que o estudo descobriu relatos de 81 espécies diferentes de aves mortas por redes de emalhar, “incluindo pinguins, patos e alguns criticamente ameaçados, como o albatroz.
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Ancoradas na água por pesos e boias, ou desancoradas e à deriva onde quer que a corrente possa levá-las, as redes de emalhar são quase invisíveis para as aves marinhas que mergulham em busca de peixes.
O inglês The Guardian também abordou o tema: “Nos últimos anos, o aumento da regulamentação, fiscalização mais rigorosa e equipamentos inovadores – incluindo a adoção de tecnologias que pesam anzóis bem abaixo da superfície ou assustam as aves marinhas – tiveram um impacto dramático nas chamadas capturas acessórias de aves marinhas.”
“O número de aves marinhas afogadas no Oceano Antártico ao redor da Antártida caiu para quase zero na pesca legal, dizem especialistas. Outro fator importante foi a exigência, pela Comissão de Conservação de Recursos Vivos Marinhos Antárticos, de que um observador científico seja colocado em todos os barcos de pesca que operam no Oceano Antártico.”
Medidas adotadas pelo Brasil
Graças, entre outros ao Projeto Albatroz, o Brasil também tomou, e continua adotando, práticas novas para amenizar mais este drama marinho.
E é bom que apressem o passo. The Guardian diz que “dois estudos recentes destacaram a pressão crescente sobre as aves marinhas do mundo. Um artigo recente da Bird Conservation International observou que 28% das 346 espécies de aves marinhas do mundo estão listadas como ameaçadas pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza – mais que o dobro da porcentagem de aves ameaçadas como um todo (12%). O estudo concluiu que quase metade – 47 por cento – das aves marinhas do mundo estão em declínio.
Fontes: http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/docs-plano-de-acao/pan-albatrozes/sumario-albatrozes.pdf; http://usa.oceana.org/blog/destructive-fishing-gear-kills-400k-seabirds-year.
Dizem que por volta de 2050 seremos 9 bilhões de pessoas pululando pelas terras e, se, água é vida, de onde conseguirão água para tantos viventes? Se, vivos como serão alimentados? Se cada humano expele diariamente cerca de 500 ml de metano nas flatulências serão 4,5 bilhões de litros que “ajudarão” o aquecimento… Não precisamos ser nenhum gênio cientista para afirmar que o desaparecimento de cada ser vivente afeta todo o ecossistema e já de longa data não temos cinemas, teatros ou ônibus que tenham pulgas. Um tal Albert Einstein teria propugnado que o desaparecimento de abelhas seria o fim para a humanidade. Espero que o gênio tenha errado.