Sexo entre pinguins continua a escandalizar até hoje
Em outubro de 2014, encontraram e recuperaram no gelo o diário de George Levick, um dos membros da Expedição Terra Nova (1910-1913) à Antártica, liderada por Robert Scott. Esta expedição é conhecida como ‘a corrida ao Polo Sul’, na qual o norueguês Roald Amundsen saiu vitorioso, enquanto Robert Scott morreu de fome e frio no retorno. Levick, um pioneiro no estudo destas aves, ficou escandalizado ao testemunhar o sexo entre pinguins. Em grego, em vez do inglês, Levick descreveu os atos como “depravados”, realizados por machos “hooligan” que se acasalavam com fêmeas mortas. Após retornar à Grã-Bretanha, tentou publicar o artigo “A história natural do pinguim-de-adélia”, mas encontrou resistência devido à sensibilidade pudica daquele período histórico. Segundo Douglas Russell, conservador do Museu de História Natural, ‘era demasiado chocante para a época’. Agora, em pleno século 21, a ‘repulsa’ parece ainda presente.
Comportamento estranho dos pinguins ou dos seres humanos?
Na época do retorno de George Levick à Inglaterra, apenas 100 cópias do relato tiveram distribuição entre um grupo restrito de cientistas.
É fácil entender o comportamento dos ingleses do início do século 20, assim como o espanto do pesquisador. Ele ficou tão encabulado ao observar o comportamento homossexual e necrófilo entre as aves que decidiu escrever esta parte em grego.
Douglas Russell, que teve acesso aos documentos, disse que ‘ele está cheio de relatos de coação sexual, abuso sexual e físico de crias, sexo não-procriativo e termina com um relato do que Levick considera ser um comportamento homossexual, e era fascinante.”
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemEmpresária se diz dona de 80% da Vila de JericoacoaraCaiçaras do Lagamar emitem nota aos Governos de SP e PRCOP16, Quadro Global para a Biodiversidade: situação críticaPara Russel, até certo ponto Levick cai na mesma armadilha que muitas pessoas ao descrever hábitos de pinguins ‘como se fossem de seres humanos. Não são. São aves e devem ser interpretadas como tal’.
De ontem, para hoje
Quando George Levick retornou à Inglaterra, a elite considerava três categorias de orientação sexual: heterossexuais, homossexuais (vistos como doentes, perversos e criminosos) e bissexuais. Aqueles condenados por ‘sodomia’ enfrentavam anos de prisão com trabalhos forçados e abusos destinados a quebrar sua vontade. Um exemplo notável é o dramaturgo Oscar Wilde, sentenciado a dois anos de trabalhos forçados, onde sofreu abusos físicos que contribuíram para sua morte prematura aos 46 anos.
PUBLICIDADE
Atualmente, a diversidade nas orientações sexuais é amplamente aceita e poucas pessoas esclarecidas as condenam. No entanto, quando se trata do comportamento animal, ainda parecemos manter certos tabus.
O sexo entre pinguins é escandaloso?
Em 2014 foi ao ar um um documentário na Inglaterra sobre a vida selvagem, produzido pela Nat Geo News, “Homewrecking Penguin” (Pinguim destruidor de lares)”, sobre três pinguins de Magalhães flagrados em um triângulo amoroso.
Leia também
Geleiras do Alasca perdem 50 mil galões de água por segundoMudanças climáticas: Ameaças de tsunami podem mudar as tendências de navegação no AlascaMilhares de pinguins morrem na Antártica por gripe aviáriaQuando um pinguim retorna da pesca, ele se depara com sua companheira junto com um novo pretendente que ocupou seu ninho. Os dois machos gritam e se confrontam, resultando em uma briga onde um deles perde um olho. Após observar a luta pela sua atenção, a fêmea eventualmente escolhe o novo parceiro, deixando o pinguim original sozinho no frio.
De acordo com o Atlas Obscura, o clipe teve uma resposta enorme, com centenas de milhares de pessoas assistindo no dia do lançamento, tornando-o extremamente popular. A imensa popularidade e a reação exagerada a esse clipe, conforme relatado pelo Nat Geo News, estão fundamentadas no acasalamento aparentemente bizarro dos pinguins.
Casal de pinguins escandaliza a ‘cena gay’ de Nova Iorque
A mesma fonte conta que durante os anos 2000, todo o foco do escândalo recaiu sobre Roy e Silo, dois pinguins machos do Central Park Zoo. Eles demonstravam evitar a companhia feminina, preferindo passar os dias entrelaçando seus pescoços e cantando um para o outro.
Os cuidadores do zoológico logo notaram que os dois estavam fingindo que uma pedra redonda era um ovo. Diante disso, decidiram dar-lhes um ovo real, resultando na criação de uma fêmea chamada Tango. Quando se separaram, em 2004, o acontecimento não deveria ter tido um grande impacto fora de seus círculos mais próximos.
Devido à sua localização, Nova Iorque, e ao momento oportuno em que ocorreu (durante o auge do ativismo contemporâneo pelos direitos dos homossexuais), o caso, de acordo com o Atlas Obscura, se tornou um incidente de proporções nacionais. A separação “abalou a cena gay”, como descreveu Andrew Sullivan no Times de Londres. Grupos conservadores, que haviam elogiado o filme “March of the Penguins” meses antes por celebrar os valores tradicionais da família, se voltaram contra o casal, chegando ao ponto de usar a nova parceira de Silo – uma fêmea – para deslegitimar seu relacionamento anterior. Em outras palavras, continuam vendo hábitos de animais ‘como se fossem de seres humanos’.
Enquanto isso, o New York Times informava que ‘após protestos de grupos de direitos dos homossexuais, um zoológico alemão abandonou os planos de forçar os pinguins homossexuais a se unirem fêmeas’.
Forçar pinguins a se unirem com fêmeas? Será que voltamos ao tempo de Oscar Wilde? Se a notícia não fosse deste ícone do jornalismo, o New York Times, seria difícil acreditar.
Isso, sim, é algo surpreendente. Na ‘progressista’ Nova Iorque do século 21, ou na Inglaterra e Alemanhã, muitas pessoas mostram ser tão conservadoras em sua essência quanto aquelas do início do século 20.
Assista ao vídeo da Nat Geo que escandalizou a Inglaterra
Assista a este vídeo no YouTube