A importância das ilhas para a biodiversidade mundial
Segundo o site Island Conservation, existem 465.000 ilhas no mundo. Juntas, elas cobrem 5,3% da área do planeta. Contudo, as ilhas representam a maior concentração de biodiversidade e, ao mesmo tempo, extinções de espécies. Espécies insulares costumam ser evolutivamente distintas e altamente vulneráveis a novos distúrbios, particularmente espécies invasoras. Agora, um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences reconhece que existe uma “ligação crucial entre as ilhas e os ecossistemas marinhos”. Assim, defende nova abordagem à conservação focada no eixo terra-mar, em vez de considerar um e outro separadamente.
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‘Ilhas sustentam plantas, animais e sociedades humanas únicas’
Antes de mais nada, o subtítulo está entre aspas porque vem do estudo que hoje analisamos. Seus autores são mais de 20 cientistas e ambientalistas dos Estados Unidos, Reino Unido e Nova Zelândia.
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‘As ilhas sustentam plantas, animais e sociedades humanas únicas que não são encontradas em nenhum outro lugar da Terra. Entretanto, as pressões locais e globais ameaçam a resiliência dos ecossistemas insulares, com as espécies invasoras entre as mais prejudiciais, porém, solucionáveis.’
O Mar Sem Fim fica feliz de ver a ciência confirmando o que vimos dizendo há anos, e quase que solitariamente no País. Que nos conste, somos o único site especializado no bioma marinho.
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Foi por nossa solitária insistência que depois de 39 anos de omissão a Fundação Florestal, que gere as ‘áreas protegidas’ do Estado, finalmente acordou de sono letárgico e decidiu agir em Ilha Anchieta, um parque estadual infestado de espécies invasivas.
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Para não falar nas matérias que mostram a causa da infestação de espécies invasoras como a água de lastro dos navios, ou ainda destacando a extraordinária biodiversidade de ilhas totalmente desconhecidas dos brasileiros, como Socotra, conhecida como a Galápagos do Índico.
A bioinvasão desde tempos imemoriais
Do mesmo modo, este site tem mostrado desde 2005 que as ilhas da costa brasileira começaram a ter este problema com as navegações do nautas lusitanos desde o século 16.
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Euclides da Cunha e os caiçaras da ilha Vitória, S. SebastiãoUm estudo sobre a flora da Ilha de AlcatrazesIlha Diego Garcia, última colônia britânica na África será devolvidaEra costume das grandes navegações deixar animais em ilhas para que procriassem e contribuíssem com a alimentação nas viagens seguintes. Assim, não há ilha brasuca que não tenha perdido grande parte de sua biodiversidade em razão do desembarque de bodes e cabras, por exemplo, em Abrolhos, Trindade, Fernando de Noronha, e outras.
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E desde sempre cobramos, sempre solitariamente, ação dos responsáveis. Afinal todas as citadas são parques nacionais e, ou, outras unidades de conservação.
Do mesmo modo, nos indignamos quando prefeitos corruptos induzem à especulação imobiliária, e lutamos como fizemos em Ilhabela, ou Ilha Comprida, ambas no litoral de São Paulo.
Abrolhos, Santa Bárbara
Em Abrolhos a ilha principal, Santa Bárbara, ainda conta com dezenas de cabras e bodes que comem de tudo: da vegetação até mesmo pedras. E a Marinha do Brasil se recusa a tomar providências.
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Trindade, uma das joias do litoral do País contava igualmente com centenas destes animais até recentemente, quando finalmente a MB colocou atiradores de elite para acabarem com a praga. Demorou séculos até fazerem a coisa certa!
E Fernando de Noronha é tão infestada de espécies exóticas que costumamos chamá-la de ‘Monumento à Burrice Tupiniquim’.
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No Mediterrâneo
O mesmo processo aconteceu no mediterrâneo desde os primórdios das navegações, 3.000 anos atrás, com os fenícios despejando animais como ratos, e outros, nas ilhas deste oceano. E assim continuou com as navegações egípcias, gregas ou romanas.
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No Mar do Norte
No Atlântico Norte, e não apenas nele, a infestação teve início com a epopeia Viking, a partir do século oitavo de nossa era. E assim por diante até os dias atuais. Um dos tristes exemplos recentes, foi a constatação de carrapatos em pinguins por parte de cientistas que fazem pesquisa no Continente Branco.
Quem teria levado carrapatos à Antártica se não o ser humano? E por estarem isoladas, até que o ser humano as alcançassem, é que as ilhas representam a maior concentração de biodiversidade e, ao mesmo tempo, de extinções tendo as espécies invasoras entre as mais prejudiciais, porém, solucionáveis.
E como são solucionáveis, voltamos ao estudo.
Texto de apresentação do novo estudo sobre a importância das ilhas
‘A erradicação de mamíferos invasores e a restauração da biota nativa são ferramentas promissoras para atingir os objetivos de gerenciamento de ilhas e oceanos.’
‘A magnitude dos benefícios marinhos da restauração das ilhas, no entanto, é improvável que seja consistente em todo o mundo. Propomos uma lista de seis características ambientais com maior probabilidade de afetar a força das ligações terra-mar: precipitação, elevação, cobertura vegetal, hidrologia do solo, produtividade oceanográfica e energia das ondas.’
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Que a Marinha do Brasil, que impede a matança dos malditos bodes de Abrolhos, acorde enquanto é tempo!
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Em contraste, diz a apresentação, muitas instituições modernas dedicadas à gestão ambiental estão isoladas, construindo estruturas que separam a consideração de terra e mar. Em outras palavras, dizemos nós, algumas cuidam de ecossistemas terrestres, sem darem pelota ao que ocorre no mar ou em ilhas. E vice-versa. Infelizmente, assim age a grande maioria das ONGs ambientais do Brasil.
‘Ecossistemas terra-mar’
É por este motivo que os especialistas explicam que “ecossistemas terra-mar saudáveis dependem de um fluxo de nutrientes dos oceanos para as ilhas e das ilhas para os oceanos”, um processo dinâmico no qual aves marinhas, focas e caranguejos desempenham um papel essencial.
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Contudo, algumas dessas espécies estão sob grande pressão devido à presença de invasoras nos seus habitats insulares, empurrando as nativas, que os cientistas designam por ‘espécies contectoras’ por ligarem a terra e o mar, para a extinção, a nível local ou a nível global.
Por isso, a perda de ‘espécies conectoras’, dizem, pode resultar no colapso de ecossistemas, terrestres ou marinhos, e defendem que a remoção de espécies invasoras das ilhas “é uma das melhores ferramentas que temos para restaurar plantas, animais e ecossistemas nativos”.
O mar e a terra indissoluvelmente conectados
O site greensavers.sapo.pt, que também repercutiu o assunto, diz que ‘Alan Friedlander, co-autor e líder científico do projeto ‘Pristine Seas’ da National Geographic, aponta que “poucas vezes nos apercebemos de que o que fazemos em terra afeta a saúde do oceano” e que ainda menos nos damos conta de que o que acontece no mar tem impactos nas espécies terrestres.’
“Esta forte interconexão entre terra e mar era bem conhecida pelos habitantes indígenas das ilhas”, desse modo a recuperação “deste conhecimento tradicional”, lado a lado com a ciência dos dias de hoje, poderá ajudar revitalizar estes “ecossistemas únicos”.
Assista ao vídeo do trabalho que faz a Island Conservation nas ilhas Aleutas
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