O Brasil abusa no uso de agrotóxicos? Conheça o novo marco regulatório
Se somos, ou não, campeões mundiais no uso de agrotóxicos, pouco importa. Diversas das mais confiáveis fontes citadas neste post dizem que somos um dos ‘maiores consumidores’. Para estas fontes, o Brasil é destaque, independente de ser, ou não, ‘número um’. Mas, atenção à esta afirmação: “A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) afirma que 70% dos alimentos in natura consumidos no País estão ‘contaminados’ por agrotóxicos”.
Curiosamente, todos que comentaram este post procuram ridicularizá-lo. Põem a culpa no clima tropical, ou no tamanho da área cultivada. Alegam que o país usa agrotóxicos ‘normalmente’, sem excessos. Mas nenhum contesta a afirmação divulgada pela Abrasco.
Novo marco regulatório sobre uso de agrotóxicos
O novo marco regulatório para agrotóxicos, aprovado em julho de 2019 pela Anvisa, já nasceu contestado. Para muitos, ele não atende o padrão internacional GHS (Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos). Uma das mudanças é na classificação tóxica dos produtos, outra, na comunicação dos rótulos. Segundo a Folha de S. Paulo, “apenas a a nova comunicação dos rótulos atende o estabelecido pelo GHS – desenvolvido pela ONU.” Diz o jornal, “com a mudança, novos produtos devem ser registrados com classificação mais baixa.
Na mesma semana em que foi aprovado o novo marco, “o governo federal publicou no Diário Oficial a liberação de mais 51 tipos de agrotóxicos…a tendência é que o ritmo de liberações supere o recorde do ano passado, quando o Governo Temer autorizou a comercialização de 450 produtos.”
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O Estado de S. Paulo, 4 de agosto de 2019, “Encomendado pelo Ministério da Saúde e realizado pelo Instituto Butantã, a análise de dez agrotóxicos de largo uso no País revela que os pesticidas são extremamente tóxicos ao meio ambiente e à vida em qualquer concentração. Mesmo quando utilizados em dosagens equivalentes a até um trigésimo do recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Não existem quantidades seguras”, diz a imunologista Mônica Lopes-Ferreira, diretora do Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada, responsável pela pesquisa. “Se (os agrotóxicos) não matam, causam anomalias. Nenhum peixe testado se manteve saudável.”
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Plataforma Zebrafish
Ainda o Estadão, “No Butantã fica a Plataforma Zebrafish – que usa a metodologia considerada de referência mundial para testar toxinas presentes na água, com os peixes-zebra (Danio rerio). Eles são 70% similares geneticamente aos seres humanos. Têm um ciclo de vida curto (fácil de acompanhar todos os estágios) e são transparentes (é possível ver o que acontece em todo o organismo do animal em tempo real).
O laboratório pertence ao Centro de Toxinas, Resposta-Imune e Sinalização Celular (CeTICS), apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).”
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Estadão, “De acordo com o pedido do Ministério da Saúde, os cientistas testaram a toxicidade de dez pesticidas largamente utilizados no País. São eles: abamectina, acefato, alfacipermetrina, bendiocarb, carbofurano, diazinon, etofenprox, glifosato, malathion e piripoxifem. As substâncias são genéricas, usadas em diversas formulações comerciais.”
‘Glifosato, o defensivo mais usado na agricultura brasileira’
“Três dos dez pesticidas analisados (glifosato, melathion e piriproxifem) causaram a morte de todos os embriões de peixes em apenas 24 horas de exposição, independentemente da concentração do produto utilizada. Esse espectro foi da dosagem mínima indicada, 0,66mg/ml, até 0,022mg/ml, que teoricamente deveria ter se mostrado inofensiva. O glifosato é, de longe, o defensivo mais usado na agricultura brasileira: representa um terço dos produtos utilizados.”
OMS aponta o glifosato como ‘potencialmente cancerígeno’
“A substância é relacionada, em outros estudos, à mortandade de abelhas em todo o mundo. É apontada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como potencialmente cancerígena para mamíferos e seres humanos. O uso do glifosato é proibido na Áustria e será banido na França até 2022.”
‘Situação atual do País é preocupante’
“Pesquisador de Saúde Pública da Fiocruz, Luis Claudio Meirelles ocupou, por mais de uma década, a gerência geral de toxicologia da Anvisa. Segundo ele, a situação atual do País no que afirma respeito ao uso dos defensivos agrícolas é preocupante. “Somos campeões no uso de agrotóxicos no mundo e dispomos de uma estrutura de controle e vigilância muito aquém dos volumes utilizados e dos impactos provocados”
‘2015: soja, milho e cana de açúcar consumiram 72% dos pesticidas comercializados no País’
Agora quem afirma é a USP, que publicou o gráfico abaixo:
O jornal da USP publicou matéria em julho de 2019. Nela há esta informação: ” O Brasil é campeão mundial no uso de pesticidas na agricultura, alternando a posição dependendo da ocasião apenas com os Estados Unidos. O feijão, a base da alimentação brasileira, tem um nível permitido de resíduo de malationa (inseticida) que é 400 vezes maior do que aquele permitido pela União Europeia.”
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“Na água potável brasileira permite-se 5 mil vezes mais resíduo de glifosato (herbicida). Na soja, 200 vezes mais resíduos de glifosato, que é rico em imagens, gráficos e infográficos. “E como se não bastasse o Brasil liderar este perverso ranking, tramita no Congresso nacional leis que flexibilizam as atuais regras para registro, produção, comercialização e utilização de agrotóxicos”, relata a geógrafa Larissa Mies Bombardi, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).”
Passou o relatório do Projeto Veneno
Em plena campanha do ‘agro é tech, agro é pop’ , durante a Copa do Mundo de futebol, passou na Câmara o relatório do ‘Projeto Veneno’ (junho 2018).
Conheça o Projeto Veneno
Ora, raios, que diabo de projeto é esse? O senador Blairo Maggi, ex-ministro da Agricultura, decidiu, em 2002, criar um pacote para revogar a lei e flexibilizar mais o uso de agrotóxicos. Ele propõe alterações na regulamentação de agrotóxicos. Hoje, fica a cargo de três ministérios: Saúde, Agricultura e Meio Ambiente. A ideia é passá-lo só para um, Agricultura.
De uma demora de cinco anos (para a aprovação de cada novo produto), passaria para dois anos. Outra das modificações é trocar o nome: de agrotóxicos ou defensivos agrícolas para fitossanitários.
Substituir o termo ‘agrotóxicos’ por ‘produtos fitossanitários?’
O Globo informa que, “A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também divulgou uma nota técnica com 25 páginas. Nas primeiras páginas, a organização critica a tentativa de substituir o termo agrotóxico por “produtos fitossanitários” e argumenta que o pedido tenta ocultar o fato de que os “produtos são, em sua essência, tóxicos”.
Reação da Fiocruz ao Projeto Veneno
Além de inúmeros protestos de ONGs e ambientalistas, diz O Globo, “a Abrasco e a Associação Brasileira e Agroecologia – Aba, com o apoio da Fiocruz, entregaram ao deputado federal Alessandro Molon (RJ) o “Dossiê Científico e Técnico contra o Projeto da Lei do Veneno (PL 6299/2002) e a favor do Projeto de Lei que instituiu a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos”.
Saiba o que é a Fiocruz
“Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é uma instituição de pesquisa e desenvolvimento em ciências biológicas localizada no Rio de Janeiro, Brasil, considerada uma das principais instituições mundiais de pesquisa em saúde pública. Foi fundada pelo Dr. Oswaldo Cruz, notável epidemiologista.”
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Ministério Público Federal, e Ibama, também se manifestaram contrários ao Projeto Veneno.
E os órgãos oficiais da Saúde, o que dizem?
A Anvisa diz que não há estrutura para fazer uma importante avaliação determinada pelo Projeto Veneno: “produtos com características teratogênicas, ou seja, causadores de anomalias no útero e malformação de fetos”. Segundo o ‘PV‘, “deveriam ser proibidos apenas os que apresentarem risco inaceitável para seres humanos e meio ambiente.”
Quer dizer, então, que há risco aceitável para seres humanos e meio ambiente?
A voz do especialista Paulo Saldiva sobre agrotóxicos e afins
Assista a este vídeo no YouTube
Saiba quem é Paulo Saldiva
Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 1977, doutorado em 1983, Livre-Docente em 1986 e Professor Titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 1996. Concentra atividades de Pesquisa nas áreas de Anatomia Patológica, Fisiopatologia Pulmonar, Doenças Respiratórias e Saúde Ambiental, Ecologia Aplicada, Cidades e Saúde Humana, Humanidades e Antropologia Médica. Ciclista e gaitista. Diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP desde abril de 2016. (Fonte: Currículo Lattes).
Agrotóxicos e Câncer – Estudos Epidemiológicos, por Karen Friedrich
(Karen Friedrich- PHD Toxicologia e Saúde Pública, Departamento de Toxicologia, Instituo Nacional de Controle de Qualidade em Saúde- INCQS – FIOCRUZ. Jaguariúna, outubro, 2013.)
- Infância – exposição pré-concepção, gestação ou pós-natal
- Linfomas, leucemias, tumor de cérebro, tumor de Wilm, Linfoma non Hodkin, sarcoma de Ewing (50 estudos – Zahm; Ward’s 1998; Infante_Rivard; 2007 – revisões)
- Adulta – exposição ocupacional
- Câncer de pulmão, boca, fígado, próstata, mama, testículos, ovário, cérebro, tireoide,etc.
- Algumas revisões: J Toxicol Environ Health B Crit Rev. 2012;15(4):238-63; CA Câncer Center J Clin.2013
- Mar- Apr; 63(2):120-42; Scand J Work Enviran Health 2005;31 supply 1:9-17
Sobre isso também não há uma linha nos comentários.
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Dedo na ferida
Em artigo escrito para o Estadão, o jornalista Washington Novaes toca o dedo na ferida: “apesar dos avanços no campo, o Brasil ‘esconde’ uma liderança incômoda: somos campeões no uso de agrotóxicos.” De acordo com o jornalista, dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, informam que “28% das substâncias usadas por aqui não são autorizadas”. E agora, com o Plano Veneno, qual porcentagem será?
70% dos alimentos estão contaminados por pesticidas
Segundo Novaes,
a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) afirma que 70% dos alimentos in natura consumidos no País estão “contaminados” por agrotóxicos.
FAO – ONU e Organização Mundial da Saúde
Segundo a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU) e a OMS, é urgente diminuir o uso de praguicidas e substituí-lo pelo plantio direto nas lavouras, que reduz as pragas.
Retificação importante sobre o Brasil e os agrotóxicos
Como este post provocou polêmica, como se vê abaixo, decidimos pesquisar mais sobre o uso de agrotóxicos. Parece o samba do crioulo doido, mas vamos aos dados apurados:
Se considerar a aplicação por área, segundo a FAO o Brasil é o terceiro.
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A FAO especifica quais categorias usadas e quantidades:
Em valores absolutos de peso aplicado, o worldatlas.com diz que o Brasil é quinto:
Enquanto isso o Estadão afirma, com base em dados de instituições brasileiras, que o Brasil é o maior mercado de agrotóxicos do mundo.
Já o IBGE oferece tabelas com diversos dados de consumo de agrotóxicos, seriam estes os “dados oficiais”. Interessante notar que os números do órgão não batem com os da FAO. A organização da ONU mostra que nosso consumo teria sido pouco menor que 400 mil toneladas (1º gráfico). No mesmo ano, o IBGE afirma que foram 477.792.
Agrotóxicos e pesticidas, o que podemos deduzir disso tudo?
E voltamos aos números da Abrasco, que abrem a matéria: “o Brasil é o maior mercado de agrotóxicos do mundo, ultrapassando a marca de 1 milhão de toneladas por ano, o que equivale a um consumo médio de 5,2 kg de veneno agrícola por habitante.” Para os humanos ele aumenta a incidência de certos tipos de câncer, para o planeta contaminam o solo, e prejudicam lençóis freáticos. E para os oceanos e a vida marinha, são a causa das Zonas Mortas que não param de crescer.
Embrapa: consumo de agrotóxicos cresceu 700% nos últimos 40 anos
A conceituada Embrapa, através do site Ageitec, também aborda a questão. Os dados são devastadores:
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anualmente são usados no mundo aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos. O consumo anual de agrotóxicos no Brasil tem sido superior a 300 mil toneladas de produtos comerciais. Expresso em ingrediente-ativo (i.a.), são consumidos anualmente cerca de 130 mil toneladas no país; representando um aumento no consumo de agrotóxicos de 700% nos últimos 40 anos, enquanto a área agrícola aumentou 78% nesse período.
Notícias alarmantes no início de 2019
Apesar do acima exposto, 2019 trouxe mais. O Globo, janeiro: ‘Ministério da Agricultura aprova registro de agrotóxicos de alta toxidade’. Excertos do texto: ‘Entre os produtos estão químicos que já foram banidos na União Europeia e nos EUA’…”O Ministério da Agricultura autorizou o registro de 28 agrotóxicos e princípios ativos. Entre os novos produtos há alguns considerados de elevada toxicidade… Aprovado ainda no governo de Temer, em 28 de dezembro, o pesticida chegou a ter seu registro cancelado nos EUA. Sua ação contra a praga de insetos também teria relação com o extermínio de abelhas, inseto responsável pela polinização de plantações. O pacote também inclui químicos que já foram banidos na União Europeia, como produtos à base de Imazetapir e o Sulfentrazona.”
Os mesmos dados por outras fontes
O Mar Sem Fim se esmera por privilegiar fontes confiáveis, as mais conhecidas e respeitadas, já que não somos especialistas. Assim foi com a escolha dos veículos de comunicação citados, ou com as fontes dos dados, IBGE, FAO, etc.
Outra, destas fontes, é o jornal Folha de S. Paulo e um de seus colaboradores, o jornalista Janio de Freitas. Na edição de 10/3/2019, publicou a coluna, Licença para envenenar onde se lê que…”O Conselho de Pesquisa Científica da ONU denunciou o agrotóxico glifosato, como potencial causador de câncer. A França estabelece, há pouco, duras restrições a determinados agrotóxicos. Nos Estados Unidos, além das limitações de uso, está proibida a pulverização aérea (com glifosato). Todos eles, e muitos outros, por ameaça ao consumidor e envenenamento do meio ambiente. Esses agrotóxicos estão, porém, nos pratos e marmitas do almoço e do jantar brasileiros, no café da manhã e no lanche, em doces e guloseimas.”
Excesso de pesticidas: o mar, e nossa saúde, pagam a conta
Os agrotóxicos, a falta de saneamento (no Brasil só 40% das residências têm saneamento, agora com novo e auspicioso marco regulatório), a poluição industrial, e até produtos que usamos no corpo, como cremes, remédios, e outros, têm quase sempre o mesmo destino: os mares (Não por outro motivo Palau foi o primeiro país a banir os protetores solares). O que varia é a forma de chegada. No caso dos agrotóxicos, a via expressa são os rios que deságuam no mar; no caso dos remédios e cremes que usamos, somos nós mesmos os agentes quando frequentamos o litoral.
90% da cadeia de vida marinha começa no litoral
O problema é grave porque 90% da cadeia de vida marinha começa neste espaço de transição entre a terra, e a água, exatamente os mesmos locais onde vão parar os restos desta sopa mortal. Conseguimos a façanha de inverter o conceito do moto-perpétuo. Quanto mais poluímos este espaço, mais agredimos nossas entranhas porque a poluição volta pra dentro da gente.
Nossa ação com agrotóxicos, e outras formas de poluição, atinge a Antártica
A bióloga Fernanda Imperatrice Colabuono, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), estudou os petréis-gigantes das ilhas Elefant, e Livingston, no arquipélago das Shetland do Sul, na Península Antártica, e confirmou, a partir de amostras de sangue, a presença de diversas substâncias nocivas, entre as quais o DDT, pesticida banido nos Estados Unidos em 1972, quando se constatou que seu uso ameaçava a sobrevivência de diversas espécies de aves de rapina.
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Nos verões antárticos de 2011/2012 e 2012/2013, Colabuono coletou amostras de sangue de 113 indivíduos e constatou a presença de contaminantes orgânicos como bifenilos policlorados (PCBs), hexaclorobenzeno (HCB), pentaclorobenzeno (PeCB), diclorodifeniltricloroetano (DDTs) e derivados, o pesticida clordano (banido nos Estados Unidos em 1988) e o formicida Mirex (banido nos Estados Unidos em 1978 e recentemente no Brasil)
Até nos locais mais profundos, como os 11 mil metros da fossa das Marianas, foram encontrados pequenos amphipodes, espécie de crustáceos, ‘com concentrações extremamente altas’ de PCB (bifenilos policlorados), e PBDE (éteres difenílicos polibromados).
Não se iluda, cada um de nós também dá grande contribuição
Para se ter uma ideia de nossa ação, saiba que o ‘rei’ da contaminação costeira, no mundo, são os pomposos “poluentes orgânicos persistentes“, como dizem os cientistas, ou, como explica o Professor Frederico Brandini, Diretor do IOUSP:
cataflan, prozac, anticoncepcional, cafeínas, substâncias que a sociedade consome há décadas, que eliminam pela urina, que vão para os lençóis freáticos, e acabam parando no mar. Pior..não há bactérias capazes de degradarem estas substâncias que são oriundas de loterias bioquímicas produzidas pelo homem…
Ouvindo os dois lados
Como manda a ética jornalística, conseguimos agora destacar a posição do outro lado. A seguir partes da entrevista com cientista político Christian Lohbauer publicada pelo Estadão em janeiro de 2020. Antes saiba quem ele é: “tornou-se uma espécie de porta-voz das indústrias de agrotóxicos e transgênicos do País. Ex-diretor de Assuntos Corporativos da Bayer e candidato a vice-presidente em 2018 na chapa de João Amoêdo, do Novo, ele agora está à frente da CropLife Brasil, que pretende ser o principal canal de representação institucional dos diferentes segmentos do setor e promover as boas práticas relacionadas ao uso de novas tecnologias de produção no campo.”
‘A gente quer mostrar para a Greta que não é do mal’
A seguir alguns trechos da entrevista. Antes ainda, saiba o que é a CropLife Brasil: “Criada em outubro do ano passado, a partir da união de cinco associações ligadas à pesquisa, ao desenvolvimento e à produção de insumos químicos e biológicos para a agricultura, a entidade reúne 32 empresas – número que, segundo Lohbauer, deverá chegar a 40 em breve – e está vinculada a uma organização internacional, com sede em Bruxelas, na Bélgica, e ramificações em diversos países.”
O governo Bolsonaro tem sido muito criticado no Brasil e no exterior por ter liberado cerca de 500 agrotóxicos em apenas um ano, um recorde histórico. Como o sr. vê essas críticas?
É uma crítica equivocada. O que esse governo está fazendo é desfazer um erro de 16 anos, de dificultar a chegada de novas tecnologias no Brasil. O que são essas liberações? São produtos novos que foram chegando e têm de ser aprovados tecnicamente no País – pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). No mundo, a aprovação de uma tecnologia nova para usar na soja, no milho, no algodão, demora de três a quatro anos. Aqui, demora de oito a dez.
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Enquanto o mundo aprova três, quatro novos produtos por ano, a gente não aprovava nenhum. Por que? Porque desde o governo Lula, isso passou a ser considerado veneno. A orientação era para não aprovar nada. Então, formou-se uma fila, que foi crescendo. Depois, o governo Temer começou a liberar devagar e agora esse governo está desfazendo um processo decisório anacrônico e ideológico. Para você ter uma ideia, há 27 moléculas novas, tecnologias novas, já aprovadas em outros países, que ainda estão na fila para aprovação aqui. Há substâncias que demoraram tanto para aprovar aqui que elas perderam o ciclo de vida.
Os críticos alegam que muitos produtos são proibidos em outros países, particularmente na Europa, que tem uma visão mais restritiva neste campo. Não está havendo negligência do governo nas liberações?
Isso também é um absurdo. Existem vários produtos que são aprovados aqui e não são aprovados na Europa e mesmo nos Estados Unidos? Existem. Sabe por que? Europeu planta soja? Não. Então, ele não precisa de produto para soja. Ninguém faz essa pergunta. Também há várias substâncias que a gente não autoriza e que são aprovadas lá, porque a gente não usa, não cultivamos aqui os alimentos para os quais elas se destinam.
Uma boa parte desses produtos, que uma professora da geografia da USP pôs na tabela dela, para mostrar que o governo estava liberando substâncias que os europeus não aprovaram, é porque eles não precisam usar lá. Além disso, há vários produtos autorizados aqui que os americanos pararam de usar, porque já tem um novo lá e eles deixaram de aceitar o velho. Tem de medir essas coisas também, mas o pessoal do regulatório daqui não está preocupado com isso. Na escola de pensamento da Anvisa, na qual todos os agrotóxicos são vistos como veneno, muitos se veem como protetores da vida – e são mesmo. Só que eles acham que, ao não aprovar uma substância nova, estão protegendo a vida das pessoas, mas o que acontece é justamente o contrário.
Parece que agora o ministério da Agricultura assumiu um papel mais relevante no processo. Isso não é como deixar a raposa tomar conta do galinheiro?
O modelo brasileiro é um modelo que envolve três esferas de decisão e três filas paralelas. Os processos toxicológicos de cada produto são apresentados simultaneamente no Ministério da Agricultura, na Anvisa (vinculada ao ministério da Saúde) e no Ibama (ligado ao ministério do Meio Ambiente) – e as filas andam de forma independente. Há muitos casos em que o produto já passou no Ibama e está parado na Anvisa – e vice-versa. Em tese, a fila do Ibama e da Anvisa deveriam andar juntas e o Ministério da Agricultura só receberia e endossaria os processos, porque não tem gente para fazer análise.
Mas, no período do PT, a Anvisa ganhou muita força e dominou o assunto. Agora, neste governo, a Anvisa está liberando os registros, porque foi parcialmente desaparelhada. Hoje, a ministra Tereza Cristina, no Ministério da Agricultura, a Anvisa, com gente nova, com uma visão mais pró-negócio, e o Ibama, também com uma nova visão, porque às vezes também era duro e sentava em cima do processo, azeitaram a coisa e conseguiram viabilizar duas levas de aprovações.
Por causa dessas liberações, o Brasil tem sido chamado de “paraíso do agrotóxico” por militantes dos movimentos ecológicos. Como o sr. avalia isso?
Refuto veementemente. O Brasil é o maior mercado de defensivos do mundo? É, e vai continuar sendo, porque é o único grande país que tem agricultura tropical. Esse pessoal não faz nem questão de estudar isso. Todos os grandes produtores, Estados Unidos, Canadá, União Europeia, Ucrânia, África do Sul, Austrália, Argentina, estão em ambiente temperado.
O Brasil é o único grande produtor agrícola tropical do mundo. Aqui tem duas safras. Às vezes, até três. Quem tem três safras no mundo? Ninguém. Quem tem duas? Poucos países. O Brasil tem sempre duas. Além disso, o Brasil não tem neve. Eles têm o inverno e a neve. É um processo sanitário da natureza. Quando a neve chega na Europa e nos Estados Unidos, ela faz o processo sanitário. Aqui isso não acontece.
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Você pode ter acesso a íntegra da entrevista neste link: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,a-gente-quer-mostrar-para-a-greta-que-nao-e-do-mal-diz-porta-voz-das-empresas-de-agrotoxicos,70003176125.
Agrotóxicos: a confusão está lançada
Como se vê, uma parte do público aponta excessos e lembra certos malefícios do uso excessivo de agrotóxicos. Mas o representante da indústria ‘refuta veementemente’ as insinuações, e elenca argumentos. Como jornalista, sou obrigado a confessar que é muito difícil saber em que lado está a realidade. Possivelmente no meio do caminho do que diz cada parte.
Mas, para continuar com a discussão, é bom saber que os combatidos ‘agrotóxicos diminuem a pressão por novos desmatamentos na Amazônia‘ que subiram cerca de 30% na relação 2019-2018, na medida em que quem os utiliza, precisa menos terra para produzir mais, logo, menos desmatamento. A tese faz parte do modelo de ocupação para a Amazônia defendida pelo professor Rinaldo Segundo, Mestre em Direito pela Universidade de Harvard, e graduado em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso em seu livro, ‘Desenvolvimento Sustentável Da Amazônia.’
No consumo e na política
Mas, no mesmo livro o professor ressalta: ‘No consumo, quem tem informação e dinheiro compra alimentos sem agrotóxicos, e na política, há propostas de proibição redução do uso de agrotóxicos’. E o professor aponta: “os problemas gerados pelos agrotóxicos requerem fiscalização estatal. E por que, por exemplo, essa fiscalização não se efetiva já que agrotóxicos contaminam ar, terra, água, alimentos e, principalmente, trabalhadores…’
Talvez resida neste fato, a falta de fiscalização, a confusão do público, com cada lado dos interesses sobre o assunto defendo uma narrativa diferente. O público, no meio, fica perdido. Falta, talvez, transparência em todo o processo, assim como certamente há excesso de burocracia. Quando a nós, tudo que queremos é que o agronegócio siga crescendo e trazendo divisas, sem ameaçar a floresta de pé, e produzindo alimentos que não façam mal à saúde.
Além dos alimentos que vêm do campo, às vezes contaminados, há os que saem do mar com o mesmo problema. Ambos encontram seu destino final em nossos estômagos. Continuar este ciclo é no mínimo estúpido. Sair dele não é tão difícil quanto parece. Exige que a sociedade, produtores, indústria e governo façam a sua parte.
Moral da história
Somos todos responsáveis, temos a obrigação de deixar a menor pegada possível. Não é preciso lembrar que estamos aqui de passagem. Há muito o que fazer mas, um dos caminhos, é se informar sempre, e pressionar o poder público. O Estado deve assumir seu papel de árbitro imparcial. Nada contra o agronegócio, tão importante para o país. Mas nem por isso as hortas, os pomares, e os campos arados se tornaram terra de ninguém onde cada um faz o que quer, sem pensar nas consequências. Sem pensar na maioria. Fiscalizar é preciso. Informar, e diluir dúvidas, também.
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Quando o Projeto Veneno voltar a tramitar na Câmara, o Mar Sem Fim voltará ao tema.
Imagem de abertura: diarioliberdade.org.br
Fontes: https://www.worldatlas.com/articles/top-pesticide-consuming-countries-of-the-world.html; http://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/alessandra-luglio/consumo-de-agrotoxicos-no-brasil/; https://sidra.ibge.gov.br/tabela/772#resultado; http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,agrotoxicos-lideranca-indesejavel-no-mundo,10000061639; http://Agenda Ambiental para o Desenvolvimento; http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/29/politica/1430321822_851653.html; http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agricultura_e_meio_ambiente/arvore/CONTAG01_40_210200792814.html; http://www.io.usp.br/index.php/noticias/49-io-na-midia/1058-agrotoxicos-ameacam-colonias-de-aves-da-antartica; http://www.startagro.agr.br/por-que-o-agronegocio-precisa-de-uma-comunicacao-moderna/; http://www.unesco.org/new/en/goodwill-ambassadors/nizan-guanaes/; http://br18.com.br/agrotoxico-futebol-e-foto-de-mulher-seminua/; http://www.cnpma.embrapa.br/down_site/forum/2013/agrotoxicos/palestras/Forum2013_KARENFRIEDRICH.pdf; https://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/projeto-de-lei-sobre-agrotoxicos-o-pl-do-veneno-poe-o-lucro-acima-da-saude-das-pessoas.ghtml; https://g1.globo.com/natureza/blog/nova-etica-social/post/projeto-de-lei-sobre-agrotoxicos-o-pl-do-veneno-poe-o-lucro-acima-da-saude-das-pessoas.ghtml; https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2018/06/26/interna-brasil,690951/relatorio-da-lei-dos-agrotoxicos-e-aprovado-plenario-votara-apos-elei.shtml; https://www.abrasco.org.br/dossieagrotoxicos/wp-content/uploads/2013/10/DossieAbrasco_2015_web.pdf; https://www.baumhedlundlaw.com/toxic-tort-law/monsanto-roundup-lawsuit/where-is-glyphosate-banned/; https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/07/novo-marco-de-agrotoxicos-nao-atende-padrao-internacional-de-riscos.shtml?utm_source=facebook&fbclid=IwAR2kgJplLStlrL_0AcwzrilAR1kmBk3gF–A6dR1nmYfq4xT2zpVfWzC608; https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,pesquisa-indica-que-nao-ha-dose-segura-de-agrotoxico,70002953956?utm_source=facebook%3Anewsfeed&utm_medium=social-organic&utm_campaign=redes-sociais%3A082019%3Ae&utm_content=%3A%3A%3A&utm_term&fbclid=IwAR02zM5KofmKcyeHb1RgvCdHtokOrMj7EdXcafdH_FVUrNsCd2ovqdbo-rM; https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-ambientais/lancado-na-europa-mapa-do-envenenamento-de-alimentos-no-brasil/?fbclid=IwAR3H9aUweIyM2ryvcQ92KrncPJRKho5h_42gn3hhsSWCF6FLE85VU6N4u3U;
Caro José Antônio: citei traz vezes este dado, e coloquei o link da matéria original que está nas fontes.abs
Desculpe, talvez por estar cansado do trabalho, mas nao tive sucesso identificando as refen ias que disse haver ao longo do texto. Poderia referenciar ao trabalho cientifico (publicacao cientica e nao artigo de jornal ou revista) onde poderia ler sobre o trabalho desenvolvido pela ABRASCO.
Defensivos mais modernos, eficientes e menos tóxicos demoram 5 anos para serem aprovados no Brasil, já chegam velhos. Claro que a ANVISA não vai querer perder sei “poder”.
A agricultura orgânica é linda, mas sem tecnologia e segurança para abastecer a população mundial.
È muito assustador tudo isso. O que será de nós que temos um Congresso, em sua maioria, composto por tapados, interesseiros, vendidos e estúpidos?
Dá muito medo saber que estamos sendo “cobaias”, saber que um de nós ou familiares ou amigos, corre o risco de ser contaminado!
Queria entender o que esses congressistas tem na cabeça. Será que a ganância por dinheiro é assim tao desmedida a ponto de colocar a saúde deles próprios e de seus familiares em risco? (não digo a saúde de uma nação pq nós, povo, não somos absolutamente nada para essa gente).
Você mesma respondeu, Ana, “não somos absolutamente nada para essa gente”. Somos apenas de quem eles tiram grana para colocarem em contas no exterior. Nada mais, com raríssimas exceções. Abraços
Querem usar? Podem usar, mas ter que rotular. Todos os produtos vendidos devem constar informações sobre o agrotóxico utilizado (incluindo a dosagem). Eu e todo consumidor temos o direito de saber se o produto está ou não contaminado. E ai cada um decide se quer alimentar seu filhos com frutas e legumes envenenados!
João, respeito o seu trabalho e a sua militância. Concordamos em muita coisa, mas sobre os defensivos ou agrotóxicos, você precisa se informar. Sem eles, não dá para se produzir alimentos em larga escala. São como os medicamentos que nós, humanos, vira e mexe utilizamos. E segundo quem entende, 99% fica na folha e/ou no solo. Além disso, não tem nada que comprove a relação entre o glifosato, por exemplo, usado na soja, e danos à saúde humana. Abraço, Roberto.
Olá, Roberto, obrigado pela mensagem. Estou de pleno acordo, e reitero que não sou ‘daqueles’ contrários a agrotóxicos, sementes geneticamente modificadas, e outros importantes avanços da tecnologia. Ao contrário. Sou favorável. Mas, pelo que li e pesquisei e ainda o faço toda vez que recebo alguma contestação, não sou dono da verdade, apenas aprendiz, pesquiso de novo como fiz hoje. Essa matéria não é nova, corrijo e atualizo quando existem fatos novos, como a aprovação do projeto. Bem, hoje, achei um vídeo de Paulo Saldiva, que ainda não entrou pq houve mudanças no you tube e que tais, mas que deverá entrar ainda hoje se o rapaz que trabalha comigo no site puder colocá-lo. No máximo, amanhã estará inserido no post. Ele diz o mesmo que escrevi: que é perigoso esse protagonismo da Agricultura sobre Saúde e Meio Ambiente, em razão do perigo dos excessos de agrotóxicos. E confirma que, em excesso, podem causar sérios prejuízos à saúde. Aproveito o correio pra dizer que fui conselheiro do Greenpeace. A grande grita ao projeto vem deles. Saí pq percebi que a ONG é dirigida de fora, pela atrasada e anacrônica ideologia ‘à esquerda’. Na época eu questionava justamente esta questão: os ataques da ONG à Monsanto, pelas modificações genéticas em sementes. Ao questionar o, na época, presidente da ONG, e tentar levar o debate para o racional, acabei ouvindo: “somos contra pq a Monsanto é hegemônica, multinacional…” Desisti, e fui procurar minha praia. Nasceu este site. Foi simples assim. O que ninguém questionou até agora, neste polêmico post, são as informações da Abrasco, repetidas diversas vezes ao longo do texto. Por que, não sei. Mas avançam, furiosos, contra o teor do texto…Aproveito este debate em alto nível para mais uma informação. Tentei hoje colocar pranchas ilustrativas sobre agrotóxicos, feitas pela respeitada EMBRAPA. Consegui com uma delas, a outra tb está a espera do rapaz que trabalha organizando a parte técnica do site. Houve mudanças tb nesta questão, a colocação de fotos e ilustrações. Consegui numa, e não na outra. Ela deve entrar junto com o tal vídeo, e mostra os tipos de câncer provocados pelo excesso, entre eles, linfomas de não hodkin. Pois saiba que fui premiado com ele. Faz mais de dois anos que fui diagnosticado com o raríssimo câncer conhecido como síndrome sezary, linfoma de não hodkin.É tão raro que sou o terceiro caso do Einstein em 15 anos. Por recomendação dos médicos daqui, fui aos USA, num centro de referência, confirmar o diagnóstico, ver os possíveis tratamentos, e fazê-lo aqui. Foi o que fiz. Descobri que não se sabe o motivo duma pessoa ter este câncer. Segundo especialistas, não seria relacionado à vida pregressa do premiado. Dizem eles que algumas pessoas nascem com um gene defeituoso. Algumas morrem sem que ele se manifeste. Noutras, como eu, ele se manifesta ainda em vida, e o organismo começa a produzir genes defeituosos. Em outras palavras, câncer. Desde então estou em tratamento. Mas alguma coisa me diz que uma das possibilidades seria o excesso de agrotóxicos. Sempre tive esta dúvida. Hoje achei este quadro da EMBRAPA que ainda não entrou no post (veja de novo amanhã), feito por Karin Friedrich, PhD em Toxicologia e Saúde Pública, do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, INCCQS- Fiocruz, que diz que, entre os cânceres possíveis pelo excesso estão os linfomas de não Hodkin, além de tumor Wilm, e Sarcoma de Ewing…Coincidência? Pode ser mas, pelo sim, pelo não, julguei que deveria continuar os alertas acerca do possível excesso do Brasil no uso destes produtos. Curiosamente, as mudanças aprovadas tiram protagonismo da Anvisa.Tenha certeza, Roberto, que minha doença nada tem a ver com o que escrevo.Aceito o destino com tranquilidade. Luto por ele com o tratamento. E isso me basta. Mas continuo com a pulga atrás da orelha, e me perguntando: por que cargas d’água, ninguém cita o que diz a Abrasco sobre os alimentos no Brasil. É isso. Obrigado por manter o nível da discussão. Grande abraço e até breve.
Esses apoidores do agronogocio sempre são ignorantes sobre os assuntos que tentam discutir e parecem que nem lêem o jornal. Em 2015, a Agência de Cancer da Organização Mundial classificou o glifossato como provavelmente cancerigeno para seres humanos. https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Agricultura/noticia/2015/03/acao-da-monsanto-cai-em-ny-apos-agencia-da-oms-alertar-sobre-glifosato.html
Depois dessa publicação, o MPF está querendo banir esse agrotóxico no Brasil. http://www.mpf.mp.br/df/sala-de-imprensa/noticias-df/mpf-df-reforca-pedido-para-que-glifosato-seja-banido-do-mercado-nacional
Começo desse ano, a França, Austria e Italia anunciaram que querem banir esse agrotóxico em até três anos, devido aos riscos para a saúde humana e ao meio ambiente. Já a Alemanha, quer restringir o uso desse agrotóxico ao máximo naquele país. Meados do ano passado, começaram a aparecer documentos internos da Monsanto nas cortes americanas, conhecidas como Monsanto Papers, de como a Monsanto pressionou a EPA (equivalente ao IBAMA no Brasil) de classificar esse agrotoxico como não sendo perigoso. Na década de 80, a EPA tinha originalmente classificado o glifosato como provavelmente cancerigeno, depois que apareceram tumores em ratos expostos ao glifosato. A EPA misteriosamente reverteu a opinião deles de cancerigeno para “inofensivo”, quatro anos antes da Monsanto lançar a sua soja transgênica tolerante ao glifosato nos EUA na década de 80. Basta fazer um google, Monsanto papers, e aparecerá 2,480,000 resultados sobre esse tópico.
2) Quando e fala em glifosato, tb tem que ser falado sobre o AMPA. O AMPA, principal produto da degradação no ambiente do glifosato, causa danos ao DNA em células. Mañas, F., Peralta, L., Raviolo, J., Garcia Ovando, H., Weyers, A., Ugnia, L., Gonzalez Cid, M., Larripa, I., Gorla, N. 2009. Genotoxicity of AMPA, the environmental metabolite of glyphosate, assessed by the Comet assay and cytogenetic tests. Ecotoxicology and Environmental Safety 72, 834–837.
É de conhecimento já na literatura, que plantas transgênicas contém uma grande quantidade de residuos de AMAPA– coisa que não acontece com soja não transgênica e orgânica. Um desses estudos foi feito por Bohn et al. Bøhn T, Cuhra M, Traavik T, Sanden M, Fagan J, Primicerio R. Compositional differences in soybeans on the market: glyphosate accumulates in Roundup Ready GM soybeans. Food Chem. 2013. doi:10.1016/j.foodchem.2013.12.054.
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0308814613019201
Já a Agênica de Cancer da Organização Mundial diz sobre o AMAPA: ” A degradação do glifosato deixa resíduos como o AMPA (ácido aminometilfosfônico) nas plantas que são suspeitas de serem cancerígenas (IARC 2015)”.
3) É sábido também que as formulações comerciais desse agrotóxico muitas vezes são até mais tóxicos que o glifosato.
https://d3n8a8pro7vhmx.cloudfront.net/ncap/pages/26/attachments/original/1428423381/glyphosate.pdf?1428423381
4) Mesmo antes da Agênica de Cancer classificar o glifosato como provavelmente cancerigeno para os seres humanos em 2015 e aparecer o Monsanto Papers em 2017, a literatura já era farta sobre os os riscos do glifosato para o mesmo ambiente e a saúde. Tem mais que uma centena de esudos revisados por pares sobre esse agrotóxico. Abaixo algumas dezenas citados:
Gasnier et al. (2009) demonstraram que pequenas quantidades de herbicidas à base de glifosato eram responsáveis por efeitos citotóxicos, genotóxicos e de perturbação endócrina em células humanas. Os primeiros efeitos tóxicos apareceram na concentração de 5 ppm e perturbações endócrinas a partir de 0,5 ppm, ou seja, uma quantidade 800 vezes menor do que o limite de resíduo de glifosato permitido em alguns cultivos dos EUA.
Gasnier, C., Dumont, C., Benachour, N., Clair, E., Chagnon, M.C., Séralini, G-E. 2009. Glyphosate-based herbicides are toxic and endocrine disruptors in human cell lines. Toxicology 262, 184–191.
Glyphosate induces human breast cancer cells growth via estrogen receptors
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23756170
Glyphosate Formulations Induce Apoptosis and Necrosis in Human Umbilical, Embryonic, and Placental Cells
http://big.assets.huffingtonpost.com/seralini.2.pdf
Differential Effects of Glyphosate and Roundup on Human Placental Cells and Aromatase
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1257596/
Glyphosate-based herbicides are toxic and endocrine disruptors in human cell lines
http://www.barnstablecounty.org/wp-content/uploads/2010/09/gasnier-toxicology-elsevier-262-184-191-glyphostae-ed-human-cell-lines2.pdf
Glyphosate’s Suppression of Cytochrome P450 Enzymes and Amino Acid Biosynthesis by the Gut Microbiome: Pathways to Modern Diseases
http://www.mdpi.com/1099-4300/15/4/1416
Glyphosate-based herbicides produce teratogenic effects on vertebrates by impairing retinoic acid signaling
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20695457
Roundup disrupts male reproductive functions by triggering calcium-mediated cell death in rat testis and Sertoli cells.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23820267
Cytotoxic and DNA-damaging properties of glyphosate and Roundup in human-derived buccal epithelial cells
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22331240
Ethoxylated adjuvants of glyphosate-based herbicides are active principles of human cell toxicity
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23000283
Acute glyphosate-surfactant poisoning with neurological sequels and fatal outcome
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19877558
Parkinsonism after glycine-derivate exposure
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11391760
Pre- and postnatal toxicity of the commercial glyphosate formulation in Wistar rats
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17634926
Toxicity of four herbicide formulations with glyphosate on Rhinella arenarum (anura: bufonidae) tadpoles: B-esterases and glutathione S-transferase inhibitors.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20669015
Herbicide formulation with glyphosate affects growth, acetylcholinesterase activity, and metabolic and hematological parameters in piava (Leporinus obtusidens).
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20112104
Effect of the herbicide glyphosate on enzymatic activity in pregnant rats and their fetuses
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11237511
The teratogenic potential of the herbicide glyphosate-Roundup in Wistar rats
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12765238
Effects of the herbicide Roundup on the epididymal region of drakes Anas platyrhynchos
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17166697
Time- and dose-dependent effects of roundup on human embryonic and placental cells
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17486286
Alteration of estrogen-regulated gene expression in human cells induced by the agricultural and horticultural herbicide glyphosate
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17984146
Se ” agrotóxicos são necessarios para produzir alimentos em larga escala”, como que a população mundial foi de alguns milhões de pessoas durante a epoca das carvernas pra seis bilhões antes do uso de agrotóxicos na agricultura na década de 60? Essa é a pergunta que não quer se calar.
A maior parte dos monocultivos de soja e milho são usados para a produção de etanol e alimentar animais de corte. Não tem nada haver como necessario para “produzir alimentos em larga escala”. Se usasse essas terrra de etanol para produção de alimentos organicos, teria terras mais que suficientes pra qualquer abastecer qualquer setor de alimentos. A area usada para a produção de soja destinada ao etanol em no centro-oeste é equivalente ao tamanha de vários países da europa.
A Europa e EUA jogam por ano fora, 40% de tudo o que foi produzido. O problema não é “larga escala de alimentos”..
Uma vez vi um documento da USDA de cinco anos atras e dizia que há alimento suficientes pra alimentar atualmente 9 bilhões de pessoas. Em 2050, é estimado que a produção global será suficiente pra alimentar 13 bilhões de pessoas. Atualmente, a população mundial é de sete bilhões e irá pra nove bilhões em 2050– concluindo, a produção de alimentos é muito maior do que é necessario pra alimentar a população global atualmente e no futuro.
A própria FAO e outros orgãos da ONU, já emitiram vários pareceres ao longo dos anos, dizendo que o futuro pra alimentar a população mundial é através da agroecologia e também fazem referencias de como é insustentável o modelo atual quimico-dependente.
Interessante, nessa reportagem, é que ninguém fala das contaminações de alimentos orgânicos que causaram mortes mundo afora, como aquela ocorrida na Alemanha em 2011 onde a bactéria Escherichia Coli encontrada em pepinos orgânicos causou comprovadamente 31 mortes. Ou seja, o que é bom a gente divulga, o que é ruim a gente esconde. Se alguém duvidar veja por exemplo o link https://www.theguardian.com/world/2011/jun/10/e-coli-bean-sprouts-blamed. E verá uma publicação respeitada como o “the Guardian” noticiando o fato. Da mesma forma, procure honestamente sobre mortes de pessoas diretamente relacionadas ao uso de pesticidas das lavouras e veja o que achará. Não estou aqui falando que os fitossanitários são bons ou ruins, estou falando que este maniqueísmo todo de os orgânicos serem os “good guys” e os agrotóxicos os “bad guys” simplesmente inexiste na prática.
Essa “suposta contaminação” é um problema sanitário e nada haver com orgânicos em si. Isso também acontece com alimentos banhados com agrotóxicos e inclusive com uma certa frequência nos EUA. Os argumentos bizarros dos apoiadores do agronegocio, nunca deixam de me fazer surpreso. O desespero deles é tanto em nivelar pra baixo os organicos, pra justificar os alimentos invenenados deles, que chega a ser engraçado. Quando se fala tb em alimentos com agotóxicos, tem que ser falado tb que as pessoas ingerem não apenas um residuo de veneno por dia. Ela ingere uma dúzia de diferentes tipos de agrotóxicos em diferentes alimentos, e os efeitos toxicológicos de ingerir difeentes venenos por dia, não é estudo pela indústria e nem por nenhum irgão regulador no mundo. Aliais, esse tem sido o novo foco da comunidade cientifica nos últimos dez anos. Eles querem avaliar quase os efeitos de comer muitos venenos por dia nos alimentos.
Há diversas razões para o aumento do consumo de defensivos agrícolas no Brasil.
Primeiro o aumento de produção e de áreas plantadas das diversas culturas que produzimos.
Segundo, inquestionavelmente nosso clima tropical e subtropical é fantástico para vivermos, para as diversas produções agrícolas e também para as diversas pragas que assolam lavouras e pomares.
Minha família tem fazenda com pomar de macieiras no sul. Todo ano são necessárias 40 aplicações de defensivos, especialmente fungicidas. Na Argentina são necessárias 5 aplicações anuais. Diferença de clima.
Chamar defensivos agrícolas de venenos é para quem não entende nada de produção.
Comparando, se você tomar aspirinas em dosagens acima das recomendadas também se tornam venenos.
Ainda bem que o conhecimento e o bom senso venceram.
Só numa cabecinha oca acha esses venenos não são agrotóxicos e sim “defensivos agricolas”. Isso é um nome inventado pela indústria para esconder a toxicidade desses venenos e serem aceitos mais facilmente pela sociedade.
Somente IDIOTAS, acham que dá pra alimentar mais de 200 milhões de pessoas com agricultura orgânica. A praga não está no campo, está nas cidades do mundo inteiro, bilhões de pessoas com necessidades de consumo, limitadas por sua capacidade financeira. A culpa é da ciência, que diminuiu a moralidade infantil, aumentou o tempo de vida das pessoas, e do capitalismo, que da ao ser humano maior capacidade (e desejo) de consumo. Abaixo a ciência e o capitalismo.
Realmente, os apoiadores do agronegocio são “IDIOTAS” em não de se fazerem conta que a população mundial foi de alguns milhões durante a época da caverna para seis bilhões de habitantes comendo apenas alimentos organicos, antes do uso de agrotóxicos na agricultura na década de 60.
Enquanto isso, a Embrapa, que deveria liderar as pesquisas para o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis para a agricultura brasileira demitiu, no último dia 28 de fevereiro, o pesquisador especialista em agroecologia Vicente de Almeida, supostamente por ele encabeçar denuncias uso inadequado de agrotóxicos pela própria Embrapa junto aos órgãos de fiscalização e controle.
A grande verdade é que enquanto tivermos tanta ignorância dos brasileiros em relação ao assunto, nunca poderemos evoluir na questão. Impressionante a nossa arrogância em relação ao custo de nosso estilo de vida desenfreado (acreditando que conosco nada acontecerá) ao longo das gerações. Ja vivi muitas crises em nosso país, mas de tanta falta de gente intelectualizada e engajada nunca vi como hoje. Alem disso de tanto vermos a impunidade, individualidade e ganância, nao somos mais capazes de pensar no coletivo e futuro de nossas famílias. Nunca percebi um país tao derrotado como agora, na lona mesmo. Um destino para ser esquecido como ja é. Por isso também resolvi pular deste barco assim como tanto outros infelizmente…. Vivo na Europa ja alguns anos e sem a menor pretensão de retornar quero meus filhos crescendo mais saudáveis e felizes… vivo num país onde se pode consumir todos os produtos orgânicos e frescos e locais (valorizados) ao menos na metade do ano. Nos tempos frios sao substituídos por outros sem tanto prejuízo ao meio ambiente e a população. Onde a lei prevalece e antibióticos sao extremamente regulados, sendo proibidos ate jogar frascos de medicamentos no lixo comum, por isso os devolvemos na farmácia. é assim, comecem a pensar em quais políticos votarão antes que seja realmente tarde demais… sempre ha tempo para mudar o curso!!!
Para os que ainda näo sabem: A Holanda é a campeã mundial no consumo médio de ingrediente ativo de fitossanitários/hectare (cada 10 mil m2 de lavoura) com 20,8 kg, em segundo está o Japão com 17,5 kg, em terceiro a Bélgica com 12 kg e o Brasil está no meio da fila de demais países com apenas 5 kg. Denominar maldosamente por agrotóxicos os fitossanitários indispensáveis às super-safras que garantem nossa economia é, a meu juízo, atitude infantil e sensacionalista de esparramação de “fake news” por apedeutas que nunca conseguem contribuir para a verdade,
A frase que diz que ” é urgente diminuir o uso de praguicidas e substituí-lo pelo plantio direto nas lavouras, que reduz as pragas” é de uma ignorância terrível. Como que um jornal do nível do Estadão solta um texto com frases deste tipo, demonstrando total desconhecimento do assunto.
Um filtro para evitar esses tipos de bobagens faria bem ao jornal. Os assinantes agradeceriam.
A ignorancia do autor destA reportagem é chocante
Exato o que o Articulista quer é que um médico trate de um hospital sem remédios, ou que um mecânico concerte carros sem ferramentas. A diferença é que a Agricultura Brasileira alimenta o Mundo, ou seja cortem os “agrotoxicos” e matem meio mundo de fome. Essa é a sugestão? E não me venha com orgânicos dos ricos que não cabe no orçamento de quem ganha salário mínimo.
Sobre o preço dos organicos, ele tende a cair a medida que a demanda cresce. Entra mais concorrentes, que são depois forçados a abaixarem os preços. Chega a um ponto que o preço dos organicos é quase igual aos que usam agrotóxicos. Isso se vê por exemplo nos EUA e Reino Unido. Hoje em dia, no Reino Unido, um litro de leite organico, custa uma libra. Um libra não é nada. Os preços de verduras e frutas também não são mais caros que os que usam agrotóxicos. A variedade também de organicos naquele pais é enorme.
Barry, preço de produto cai apenas se a oferta aumentar ou a demanda cair um vez que que a demanda mantem e oferta mantem respectivamente.
Isso é macroeconomia
Se vc fosse um pouco mais inteligente, vc entenderia sobre o por que escrevi demanda e não oferta. A medida que a demanda cresce, entra mais pessoas no mercado para oferecer esse mesmo produto. Daí, a oferta cresce e os preços caem. Esse tem sido a dinamica no setor de organicos pelo mundo. Aliais, isso acontece em qualquer setor quando há uma demanda maior que a oferta.
Quanta ignorância Felipe, se você conhecesse um pouco da agricultura orgânica não escreveria uma besteira dessa.
Interessante, nessa reportagem, é que ninguém fala das contaminações de alimentos orgânicos que causaram mortes mundo afora, como aquela ocorrida na Alemanha em 2011 onde a bactéria Escherichia Coli encontrada em pepinos orgânicos causou comprovadamente 31 mortes. Ou seja, o que é bom a gente divulga, o que é ruim a gente esconde. Se alguém duvidar procure na web, usando por exemplo “outbreak E Coli at German Organic Farm”. E verá publicações respeitadas como o “the Guardian” noticiando o fato. Da mesma forma, procure honestamente sobre mortes de pessoas diretamente relacionadas ao uso de pesticidas das lavouras e veja o que achará. Não estou aqui falando que os fitossanitários são bons ou ruins, estou falando que este maniqueísmo todo de os orgânicos serem os “good guys” e os agrotóxicos os “bad guys” simplesmente inexiste na prática.
Acho no mínimo necessário se informar um pouco mais sobre alguns fatos que você menciona aqui. Vou pegar minha história (talvez seja uma amostra não representativa), entrei num turma de agronomia de 50 alunos, era unanime a opinião de que cabe a nós – pesquisadores, técnicos, extensionistas – torna a agricultura mais sustentável (fazer mais com menos), não tive nenhum professor que “pregava” a ideia de uso agrotóxico de forma banal, pelo contrario, os mesmo ridiculizavam isso. Mas também não nego que tínhamos discussões em que concordávamos que para alguns modelos a produção a níveis econômicos viáveis se tornavam práticas inviáveis por vários motivos (clima, escala de produção…).
Quando você fala: “A terra é rica em nutritentes por não ser usado agrotóxicos” – desculpe-me, mas você precisa mais, a quantidade de nutrientes do solo esta ligado a sua pedologia (rocha mãe, intemperismo, clima, um pingo de atividade humana), concordo que o uso de pesticidas podem afetar a biota do solo de forma negativa, porém isso é outros 500.
Detalhe: sou produtor rural de produtos orgânicos, fã e leitor de agroecologia (pretendo implantar em algum tempo). Mas acredito que bom senso vai bem. Aaaa, lembra que produzimos essa quantidade de alimentos, fibras e energias, em grandes quantidades para exportação, ou seja, produzimos para usufruto daqueles – por vários motivos, que não vem ao caso discutimos aqui – de outros.
O que o Edson escreveu acima, em partes, é venerável e verdade na minha opinião.
Desculpe qualquer coisa e estou aberto a um bate papo saudável
:)
Vc não me inspira muita confiança como “agronomo”, pela sua resposta e supostamente “ um agricultor orgânico”. Dá pra ver pela sua resposta, que a agronomia ensinada no Brasil não é das melhores.
Sobre os impactos de como o uso de agrotóxicos afetam o valor nutricional dos alimentos, abaixo alguns estudos para te educar:
(Barbosa et al., 2012, Redwood et al., 2000, 2003, 2004; Bellaloui et al., 2008, 2009a, 2009b; Bott et al., 2008; Ducke et al., 2003; Serra et al., 2011, Zablotowicz & Reddy, 2007, Zobiole et al., 2010a, 2010b, 2010c, 2010d, 2010f, 2010g, 2011a, 2011b, 2012) mostram que pulverizar a soja tolerante ao glifosato com o herbicida complementar pode mudar a composição da soja em vários compostos.
Uma pesquisa de campo realizado no Brasil por Santos et al. (2007) encontrou efeitos tóxicos sobre a soja transgênica RR de diferentes formulações à base de glifosato comerciais– especialmente aqueles que contêm sal de isopropilamina (por exemplo, Roundup Transorb®); um surfactante comum usado no Roundup. Eles concluiram que aplicações de herbicidas à base de glifosato maior do que 2000 g/ha (dosagens de aplicação de campo comum), poderia alterar o estado nutricional da planta de soja RR devido as deficiências em nitrogênio, cálcio, magnésio, ferro e absorção de cobre. Isto é consistente com outros estudos também realizados no Brasil.
Zobiole et al. (2009) relata uma diminuição significativa nutricional (em termos de macro e micronutrientes) em tecidos foliares e nos parâmetros fotossintéticos com o uso do glifosato– ou como um ou vários aplicativos seqüenciais na planta transgênica e variedades quase-isogênicas de soja HT.
Bøhn T, Cuhra M, Traavik T, Sanden M, Fagan J, Primicerio R. Compositional differences in soybeans on the market: glyphosate accumulates in Roundup Ready GM soybeans. Food Chem. 2013. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0308814613019201
Fala do Dr. Melgarejo, membro da CTNBio, sobre o milho transgênico DAS-40278-9 para a audiência pública sobre milhos e sojas resistentes ao 2,4D do MPF em 12-2013:
O milho DAS-40278-9, aspergido com 2,4-D, apresentaria, em média, índice de vitamina E inferior ao MÍNIMO registrado na literatura. A inclusão de dados do ILSI reduz o valor de mínimo de forma a assegurar equivalência entre o OGM e os registros internacionais, escondendo a menor qualidade do milho GM. Empresas Associadas ao ILSI Brasil: BASF, Bayer, Dow AgroSciences, DuPont, Monsanto, Syngenta, Milenia, Pfizer, Kellog,Bunge, Coca Cola, Danone, Arysta Life Science South America”.
As análises da composição centesimal da silagem realizadas pelo Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, revelam diferenças estatísticas significantes no teor de lipídios, quando se comparou variedades não transgênicas e variedades transgênicas (teor 19% e 23% maior) e com variedades transgênicas com aplicação do herbicida (p. 1010). Ou seja, a aplicação do herbicida estaria causando estas diferenças.
http://ctnbio.mcti.gov.br/documents/566529/1459378/Parecer+-+Relator+Lia+Giraldo+da+Silva+Augusto.pdf/20cde4e1-14cf-4cbe-9bb8-47d1084cffaf?version=1.0
Não fiquem preocupados e cantem: “Eu sou brasileiro com muito ORGULHO, cânceres e outras enfermidades”. Campeão no uso de pesticidas não autorizados, micro partículas de plásticos em PET de toda sorte em todas as bebidas, águas poluídas…. acho que vou tentar obter um visto para o Haiti.
A utilização, comércio e distribuição de DDT para fins agropecuários foi proibida no Brasil em 1985 pelo MAPA, considerando as seguintes exceções: uso pelos órgãos públicos em campanhas de saúde pública e uso emergencial na agricultura, ao critério do MAPA. Nesse mesmo ano, havia dois produtos formulados à base dessa substância registrados no Brasil, para serem usados em culturas de algodão, amendoim e soja. Em 1998, o MS excluiu o DDT da lista de substâncias com autorização para uso em atividades agropecuárias e domissanitárias no país, passando a ter todos os usos proibidos.
Segundo a Fundação Nacional da Saúde – FUNASA, a última utilização do produto para fins de campanhas de saúde pública ocorreu em 1995. Nessa ocasião, os estoques remanescentes ficaram sob responsabilidade do Centro Nacional de Epidemiologia da FUNASA. Em 1992, a Fundação dispunha de 200 toneladas de DDT, processado em forma de pó molhável, mas esse produto foi incinerado junto com os respectivos frascos e engradados.
Veja mais em: http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80037/Convencao%20de%20Estocolmo/Inventarios/Inventario%20Nacional%20-%20Estoques%20e%20Residuos_20%20de%20setembro.pdf
Também é importante sempre relembrar que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos em termos brutos, pois claro, olhe o tamanho do país, é óbvio que compraremos mais produtos agrotóxicos que outros territórios menores. O último levantamento da FAO feito em 2017 demonstrou que em termos relativos (quantidade de produto aplicado por área platatada), o Japão ficava em 1o lugar, seguido pelos EUA.. e o Brasil na 12a posição. É preciso ter cuidado ao afirmar que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, pois esse tipo de afirmação fora de contexto só serve para prestar desinformação à população.
1) Vc tem esse link da FAO que vc menciona ou o nome dela?
2) Eu não sei o quanto acredito nesse documento da “FAO”, que vc menciona, porque tem areas de MAto Grosso que usam até 15Kg de glifosato per hectare nos cultivos de soja transgênica– isso sem mencionar ainda os outros inseticidas e herbicidas usados, deste que as ervas daninhas estão ficando resistente ao glifosato.
3) Os dados de 7,5Kg de agrotóxico por habitante por ano é citado pelo IBGE, CONAB, INCA (Instituto Nacional do Cancer, ligado ao Ministério da Saúde), CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, ligada a Presidência da República), entre outros orgãos do governo. Segundo o seu raciocínio, então esses orgãos do governo estão propagando a desinformação. Lembrar, por exemplo, que houve um aumento do uso de agrotóxicos para a soja transgênica de 209% nos últimos anos, sendo que a area plantada não aumentou em mais que 90%. Esse seu argumento de que o Brasil naturalmente usa muitos agrotóxicos por ser “grande”, cai por terra quando se vê que o aumento do uso é muito maior do que a area plantada. Isso vai não só para os cultivos transgênicos, mas para literalmente todos os tipos de cultivos.
O 2,4D não é o ‘agente laranja’!
Os casos de câncer no Brasil tiveram aumento exponencial uma década depois do auge da “revolução verde” no Brasil, ou seja, após a mudança para o uso intensivo de agrotóxicos no campo.
O incrível aumento dos números de pessoas acometidas com câncer vem hoje sobrecarregando o Sistema Público de Saúde. Assim, o setor privado fica com os lucros e o setor público (toda sociedade que depende do SUS) e os consumidores dos alimentos ficam com os prejuízos.
70% das análises de alimentos apontam agrotóxicos não permitidos para a cultura ou em excesso, ou seja, estamos ingerindo cotidianamente venenos em forma de comida.
o aumento dos casos de câncer que o senhor prega pode apenas ser um aumento no diagnóstico, com a melhora das tecnologias.
Artigo lamentável… cheio de equívocos agronômicos de alguém totalmente sem noção do que seja plantar e produzir na região tropical. O consumo de agroquímicos se baliza em kg/ha dos ingredientes ativos utilizados e não no consumo total . A França por exemplo usa muito mais produtos quando se avalia kg/ha até porque a área plantada deste país é menor que o PR por exemplo. Infelizmente existem jornalistas brasileiros que hoje fazem o jogo que a Europa e o EUA querem … estamos assumindo um grande papel na produção de alimentos no mundo e incomodando o “status quo” dos fazedores e controladores de preço, principalmente das comodites agrícolas. “Agricultura aqui, preservação lá “ este é o mote dos grandes grupos americanos e europeus da agricultura. E só usamos 7 % da área brasileira (dados Embrapa ratificado pela NASA) contra mais de 18% dos EUA e mais de 30% dos países europeus… quem preserva então?? Chega de abominarem o agronegócio brasileiro, a maior alavanca de sustentação econômica deste país. Se interesse mais pela realidade de nossa agricultura e não por “pesquisas” mal intencionadas que inundam nossa internet
Prezado F. Orsi, obrigado pela mensagem. Não tenho dúvidas da importância do agronegócio para o Brasil e os brasileiros. Jamais abominei o agronegócio, seria inútil e não corresponderia à realidade. Apenas fiz uma matéria citando todas as fontes, e todas confiáveis. Faço questão de destacar a EMBRAPA, o articulista do Estadão, e o jornal El País. Ficam aí, entretanto, suas observações para que outros leitores conheçam seus argumentos. abs
O que não entendo é o seguinte: Se os países importadores têm conhecimento deste uso abusivo e intolerante de agrotóxicos, por que continuam comprando de nós? QUestão simples , porém instigante.
glifosato é um herbicida base do plantio direto, em especial aos transgênicos resiistente a glifosato (RR). e tem que ser usada em alto volume (4-5L/ha) por aplicação.
Como se faz 3 apliçações/safra o total é elevado.
Qual seria a vantagem de utilização do transgênico se esta for mais cara, com uso de mais defensivos?
A dominância de cultivares geneticamente modificadas em laboratórios tem o sucesso que têm por ser mais barata no plantio, ou seja, usam-se menos defensivos.
E outra, glifosato tem baixíssima toxidade.
Não fale bobagem, Fernando. Vc não sabe nada de agricultura e fica repetindo as mesmas mentiras propagadas pela industria. Dados da USDA, IBGE, CONAB mostram que houve um aumento do uso de agrotóxicos. Isso é conhecido mundialmente. A medida que se usa sempre o mesmo herbicida que a planta foi geneticamente modificada pra ser tolerante, as ervas daninhas vão se tornando resistentes. Consequentemente, o agricultor é obrigado a usar mais herbicidas e uma mistura de até cinquenta agrotóxicos extremamente tóxicos. O mesmo acontece com os transgênicos que produzem os seus próprios inseticidas. Hoje em dia, as pragas já são resistentes a essas toxinas cry, produzidas pelas plantas transgênicas. Houve grandes perdas na agricultura brasileira e american nos últimos anos por causa disso.
Sobre a toxicidade do glifosato, o seu comentário é uma piada. A Agência de Cancer do Organiação Mundial de Saúde, classificou em 2015, o glifosato como provavelmente cancerigeno aos seres humanos. A França, Aústria e Italia, tem uma meta pra banir o glifosato nos seus países em três anos.
2) Quando e fala em glifosato, tb tem que ser falado sobre o AMPA. O AMPA, principal produto da degradação no ambiente do glifosato, causa danos ao DNA em células. Mañas, F., Peralta, L., Raviolo, J., Garcia Ovando, H., Weyers, A., Ugnia, L., Gonzalez Cid, M., Larripa, I., Gorla, N. 2009. Genotoxicity of AMPA, the environmental metabolite of glyphosate, assessed by the Comet assay and cytogenetic tests. Ecotoxicology and Environmental Safety 72, 834–837.
É de conhecimento já na literatura, que plantas transgênicas contém uma grande quantidade de residuos de AMAPA– coisa que não acontece com soja não transgênica e orgânica. Um desses estudos foi feito por Bohn et al. Bøhn T, Cuhra M, Traavik T, Sanden M, Fagan J, Primicerio R. Compositional differences in soybeans on the market: glyphosate accumulates in Roundup Ready GM soybeans. Food Chem. 2013. doi:10.1016/j.foodchem.2013.12.054.
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0308814613019201
Já a Agênica de Cancer da Organização Mundial diz sobre o AMAPA: ” A degradação do glifosato deixa resíduos como o AMPA (ácido aminometilfosfônico) nas plantas que são suspeitas de serem cancerígenas (IARC 2015)”.
3) É sábido também que as formulações comerciais desse agrotóxico muitas vezes são até mais tóxicos que o glifosato.
https://d3n8a8pro7vhmx.cloudfront.net/ncap/pages/26/attachments/original/1428423381/glyphosate.pdf?1428423381
A única função dos transgênicos é que facilita o manejo pro agricultor. Ele economiza dinheiro com mão de obra. Tirando isso, não há nenhuma vantagem. O aumento do uso de agrotóxicos é conhecido mundialmente e a Agênica de Cancer da OMS classifica o glifosato como provavelmente cancerigeno aos seres humanos. Melhor vc se interear melhor nesse assunto e não repetir, que nem um papagaio, o que a indústria diz. Mais informações pra vc:
De acordo com os dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG), a evolução da taxa de consumo de agrotóxicos no Brasil cresceu de 7,5 quilos por hectare em 2005 para 15,8 quilos por hectare em 2010. O percentual mais elevado se encontra entre os estabelecimentos com mais de 100 hectares dos quais 80% usam agrotóxicos.
Quando se compara o crescimento da área plantada com o crescimento do consumo de agrotóxicos, constata-se que enquanto a área plantada com soja, entre 2000 e 2009, cresceu em 67%, o consumo de agrotóxicos elevou-se em 209%, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). A área plantada com soja em 2009 foi praticamente a mesma de 2005, enquanto que o consumo de agrotóxicos foi 94% maior. Considerando que a semente utilizada é transgênica, percebe-se que a promessa de eficiência agronômica e de menor uso de agrotóxicos a partir do plantio da soja transgênica não se comprova.
http://www4.planalto.gov.br/consea/comunicacao/noticias/2018/janeiro/consultado-pelo-stf-consea-defende-o-fim-de-isencao-de-impostos-sobre-agrotoxicos/of-05-17_-stf_resposta-ao-oficio-26057-17-4.pdf
O aumento expressivo do uso de agrotóxicos é um dos principais resultados da liberação dos transgênicos no Brasil. Pesquisa apresentada pelo representante da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab, Asdrúbal de Carvalho Jacobina, durante o Seminário Internacional “10 anos de Transgênicos no Brasil”, aponta que o uso de agrotóxicos cresceu 345% na agricultura brasileira nos últimos 12 anos.
Em todas as localidade pesquisadas pela Conab o número de aplicações de agrotóxicos subiu em média 10% em cada plantio, passando de 22,2 para 24,5 aplicações. A monocultura de soja transgênica está entre as quais houve maior crescimento de aplicações de agrotóxicos, em média 18%. O uso de fungicidas cresceu 80% e de herbicida entorno de 100% no número de aplicações.
O maior consumo de venenos resultou diretamente no custo de produção. Segundo Asdrúbal de Carvalho, o custo dos agrotóxicos no cultivo de algodão transgênico subiu 14,8%, número agravado pelo fato do plantio transgênico de algodão significar quase 100% do cultivo da planta no Brasil. No caso da soja transgênica, o custo do veneno cresceu 25,2%.
Segundo Carvalho, a promessa de menor uso de agrotóxicos com o uso das sementes transgênicos não se concretizou. Há casos em que agricultores foram à justiça contra as empresas produtoras das sementes pelo aparecimento de pragas, e, por consequência, baixa produtividade.
http://aspta.org.br/2013/10/conab-aponta-aumento-de-345-no-uso-de-agrotoxicos-nos-ultimos-12-anos/
É lençóis Freáticos e não frenéticos…
O link para os pretéis gigantes não funciona…
Quera abacar com consumo de agrotóxicos, dimnuam o preço dos orgânicos. Enquanto houver mercado pra eles, nunca esse problema será controlado.
Os malditos corretores…
E se pensar, o comentário de Agmon Rocha, que o criticou por isto, também contém erros.