Brasil, a Iniciativa Azul, na contramão como sempre
Em sete de setembro foi apresentado, Brasil, a Iniciativa Azul, no 4º Congresso Internacional de Áreas Marinhas Protegidas, no Chile. O site do ICMBio anunciou a proposta: “a Iniciativa Azul foi anunciada pela delegação formada por representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com a presença de parceiros, como o WWF e a Conservação Internacional.”
Brasil, a Iniciativa Azul: um banho de água fria
Parece bom, não? Ao contrário. Se percebemos no texto o reconhecimento das falhas do MMA e ICMBio, o que já é um começo, não vimos nas propostas apresentadas nada de bom. Elas foram mais um banho de água fria, ao menos para aqueles que, como este site, defendem a urgente criação de novas áreas marinhas de proteção integral.
E por que o banho de água fria? Porque…
O Brasil, a Iniciativa Azul propõe a pesca sustentável!
Segue o comunicado do ICMBio: “os principais pontos a serem abordados serão a pesca sustentável, as mudanças climáticas e suas consequências, as espécies invasoras e exóticas, a sedimentação excessiva das áreas costeiras e conservação da biodiversidade marinha.”
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Ganha um doce quem explicar como a pesca é sustentável. Essa história, que corre solta no ICMBio, é pura falácia. Durante a última série de documentários Mar Sem Fim, entre 2014 e 2016, visitamos todas as áreas marinhas federais ‘protegidas’. Entre aspas mesmo. Por que tudo que não são, é ‘protegidas’.
A falácia das RESEX
RESEX é a abreviação de Reservas Extrativistas Marinhas. Entre as áreas marinhas federais, ditas protegidas, estão 19 RESEX. O ICMbio assim as define: “Área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte. Sua criação visa a proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. As populações que vivem nessas unidades possuem contrato de concessão de direito real de uso, tendo em vista que a área é de domínio público.”
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RESEX: “assegurando o uso sustentável dos recursos naturais da unidade” (!?)
Nas 19 RESEX que visitamos, entrevistamos nativos, pescadores, chefes das UCs. Apesar do “uso sustentável”, defendido pelo ICMBio, em todas ouvimos reclamação idêntica. Um mantra: ‘…a pesca está acabando….’ ‘Não há mais grande cardumes…’ ‘…cada dia é mais difícil pescar…’, e assim por diante.
Gestores do ICMBio não sabem a quantidade de peixes ou crustáceos das RESEX
O ICMBio sabe do problema. Mas não o reconhece. O Mar Sem Fim relembra a situação comum em todas as 19 Resex: os gestores não sabem a quantidade de peixes, ou crustáceos que a área contém, muito menos a quantidade retirada por mês. Como é possível falar em sustentabilidade sem responder estas perguntas?
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E acredite, algumas Resex, como a de Tracuateua, no Pará, chegam a ter 9 mil famílias inscritas. Imagine a quantidade retirada para alimentar essa gente. Impossível a sustentabilidade.
Nesta Resex entrevistamos Donda, que foi presidente da associação dos usuários de 2008 até 2014. Ele é uma das lideranças mais respeitadas da unidade. Donda mora na comunidade de Nanã, distante 21 quilômetros de Tracuateua. Neste trajeto, diz ele, “há oito pontos de venda de crack”.
E a polícia, perguntei, não age, não dá em cima?
“Eles passam lá pra pedir propina”, respondeu…
Também entrevistamos Mandira, presidente da associação de usuários. Com o semblante triste, ele fala da época em que fisgar um Mero com até 180 quilos era prática comum. Era…
”Hoje não tem mais”, diz resignado.
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Atualmente os Meros estão na lista do Ibama de peixes ameaçados de extinção, ao lado de outras 97 espécies marinhas. É isso que acontece nas Resex.
Ainda sobre Tracuateua. A área protegida tem 27.864,08 hectares. O DIPLOMA LEGAL DE CRIAÇÃO é de 20 de maio de 2005. Até hoje a Unidade não tem Plano de Manejo, passados mais de 12 anos! 30% da população de Tracuateua, estimada em cerca de 30 mil pessoas, (IBGE) depende dela para sobreviver. E sabe qual a força tarefa da Unidade? Uma única pessoa, o chefe da UC, Paulo Henrique Oliveira.
Será que o ICMBio, e o MMA, não sabem desta realidade? Apresentaram isso no Chile?
Brasil: apenas 0,05% de toda a zona exclusiva econômica está protegida de forma integral
Durante a série de documentários entrevistamos especialistas. Entre eles o professor Mauro Maida, preservacionista, que chamou a atenção para o fato de que apenas 0,05% de toda a zona exclusiva econômica brasileira, com aproximadamente 3,6 milhões de quilômetros quadrados, ou 40% do tamanho do Brasil, está protegida de forma integral. Os outros 99,95% estão abertos a todos os tipos de usos.
Agora, durante o Congresso de áreas marinhas protegidas, o Brasil apresenta a ‘Iniciativa Azul’, propondo “que os principais pontos a serem abordados serão a pesca sustentável…”. Ouvi direito?
Iniciativa Azul reconhece as falhas do ICMBio cobradas por ambientalistas
O reconhecimento da biodiversidade, até agora desprotegida, está no parágrafo de abertura do comunicado: “os mares do Brasil são o lar de 1,6 mil espécies de peixes, 100 espécies de aves marinhas, 2,3 mil de invertebrados e outras 54 espécies de mamíferos.”
Em seguida o texto admite o tratamento desigual dado ao mar e zona costeira versus a parte continental brasileira (que tem cerca de 15% a 17% ‘protegidas’ por alguma forma de UC). Outro ponto positivo. Sem esse ‘mea culpa’ não poderíamos ter avanços.
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“Entretanto, apenas 1,5% (3,5 milhões de hectares) do nosso território marinho-costeiro está protegido. A expectativa é de atingir 10% da zona marinho-costeira até 2027, cumprindo compromissos internacionais na área de meio ambiente, dentre eles, o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) e a Meta de Aichi Nº 11.”
ICMBio assume que o governo não é capaz de fazer tudo sozinho, mais um ponto positivo.
“Não será uma operação centrada nas mãos do governo. Nosso papel será o de direcionar a criação das áreas seguindo critérios de prioridade para a conservação das espécies, o potencial turístico e econômico, com foco na sustentabilidade” (a declaração é de Cláudio Maretti, diretor do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Novo banho de água fria da Iniciativa Azul
Voltamos ao comunicado do ICMBio: “além do anúncio da Iniciativa Azul, o Brasil apresentou outros destaques na área de conservação marítima.” O Mar Sem Fim chama a atenção para a expressão “destaques na área de conservação marítima”…E prossegue: “pesquisadores da Reserva Extrativista (Resex) Marinha de Cassurubá (BA) apresentaram o programa Monitoramento Ambiental Comunitário, um programa que tem como objetivo envolver os extrativistas nas atividades de proteção da unidade…”
RESEX de Cassurubá excelente retrato da falência deste tipo de Unidade de Conservação
A Resex de Cassurubá é um exemplo emblemático do que acontece. É inacreditável que tenha sido citada na conferência. Em nossa visita estivemos em Barra Velha, mais uma das comunidades da Resex. Conversamos com um dos líderes, Lasmar Vieira da Silva, sua família mora por ali há cinco gerações. Lasmar afirma que barcos de pesca de Nova Viçosa não respeitam a faixa de mar de 500 metros praia afora, liberada para a pesca apenas aos membros da Resex. Quando são pegos com a mão na massa alegam que não sabiam que estavam dentro da faixa proibida. Eles não teriam como medir a distância certa. A desculpa irrita profundamente o povo de Barra Velha.
Assassinatos nas Resex de Cassurubá
Lasmar estava preocupado. Segundo ele o pessoal de nova Viçosa é “gente perigosa”. “Andam armados, muitos são fugitivos da justiça”, e completou: “15 dias atrás mataram o tio dele”, apontando com o dedo um pescador ao lado.
“É verdade” confirmou o amigo, “e meu tio era paralítico”.
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Lixinha (analista da Resex) intervém, propõe cercar a área com boias, mas nem assim os pescadores se acalmam.
Será que na apresentação do Chile, mencionaram que pescadores se matam dentro da Resex de Cassurubá?
Resex de Cassurubá não sabe a quantidade de crustáceos da área protegida
Durante nossa visita conversamos, e acompanhamos o trabalho, de Anders Schmidt (UFSB), da Rede de Monitoramento de Andadas Reprodutivas de Caranguejos – REMAR.
Ele estuda os hábitos dos caranguejos-uçá para, um dia, saber ao certo qual a quantidade existente na área da Resex. Hoje, não se sabe. Muito menos a quantidade retirada.
Atenção: sobre esta questão há uma contestação de Anders Schmidt, a quem este site respeita e admira pelo envolvimento, o estudo, e o trabalho que desenvolve. Anders escreveu para este site. É muito importante que os leitores conheçam a posição deste nosso amigo. Ela está no final deste post, logo abaixo de “Artigos Relacionados.’
Não há mais peixes da RESEX de Cassurubá
Para encerrar visitamos o sítio Fábrica, onde mora o pescador, seu Eliseu. Muito simpático e falante, ele contou que tem oito “panos de rede” (como se referem às redes de pesca), mas nem se dá ao trabalho de arma-las. “Não pego nada, acabou o peixe”.
E quais seriam as novas áreas marinhas protegidas? O texto do ICMBio não diz…
Como ficam as áreas mais importantes de zona costeira e mar territorial, assuntos que já conversamos com as lideranças do MMA e do ICMBio? Nenhuma palavra sobre elas no comunicado da Conferência!!
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Como ficam a Cadeia Vitória-Trindade; o Albardão, no sul do país; a ampliação do PARNA de Abrolhos; e, finalmente, um de nossos maiores tesouros, os Penedos São Pedro e São Paulo?
Aaargh. Que gosto amargo ficou deste comunicado…
Brasil, a Iniciativa Azul, e as grandes ONGs na Conferência do Chile
Voltamos ao início do comunicado: “a Iniciativa Azul foi anunciada pela delegação formada por representantes do MMA e ICMBio, com a presença de parceiros, como o WWF e a Conservação Internacional.”
Este escriba foi convidado, anos atrás, para ser conselheiro da CI. Aceitei pelo respeito que tenho pelo Presidente do Conselho, Marcos de Moraes, que veio à minha casa fazer o convite. Ele é um empresário vencedor, pessoa extremamente inteligente e bem intencionada; ambientalista, fez belíssimos trabalhos em Ilhabela.
Ao aceitar o convite, pensei que teria oportunidade de questionar os trabalhos da CI no Brasil, com os quais não concordo, apesar de ver neles boas intenções. Mas, em todas as reuniões que participei não tive chance de questionar seja o que for. Como, assim me parece, todas as ONGs internacionais, as diretrizes da CI vêm de fora, ou seja, de outra realidade. E são aplicadas no Brasil. Um dos exemplos é a citada ação na RESEX de Cassurubá.
Fui, também, Conselheiro do Greenpeace, onde vivi exatamente a mesma situação: as diretrizes vinham de fora, dos chefes internacionais, e não há força capaz de mudá-las por aqui. Por este motivo, ainda hoje pedirei demissão do Conselho da CI. Ao criticar publicamente o comunicado da delegação brasileira e seus parceiros, não tenho mais condições éticas de permanecer no Conselho. Desejo, entretanto, que tenham sucesso e consigam de fato realizar o trabalho a que se propõem.
Documentários Mar Sem Fim
Eles foram veiculados pela TV Cultura por mais de um ano, com ótimos índices de audiência. E até hoje estão disponíveis neste site. Foi a primeira vez que todas as UCs federais marinhas foram levadas à TV. Mostrei cruamente a realidade que vi, que me foi contada pelos chefes das UCs, funcionários do ICMBio. No início, não era contrário às Resex. Procurei analisá-las e mostrá-las ao público com seus aspectos positivos e negativos.
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Quem leu meus textos sobre as UCs federais marinhas, percebe nitidamente que não havia preconceito contra qualquer um dos 12 tipos de UCs que temos. Mas, à medida que fui conhecendo cada um, acabei por formar posição. Uma delas diz respeito às APAs e RESEX. Se fosse minha a decisão, elas não existiriam. Foi o que aprendi nesta expedição. Respeito o atual presidente do ICMBio, pessoa inegavelmente inteligente, e de mente aberta. Respeito, e defendi publicamente, várias vezes, o atual ministro do MMA. Mas esta conferência do Chile, a julgar pelo comunicado do ICMBio, foi para mim um tremendo banho de água fria. Torço para estar enganado. Mas não posso deixar de comentar o que aprendi durante anos de documentários na costa brasileira.
Assista o vídeo onde os nativos do litoral falam sobre fiscalização, uma das funções do ICMBio.
Assista a este vídeo no YouTube
Brasil, a Iniciativa Azul- um banho de água fria
Agora ouça o depoimento dos chefes de várias UCs visitadas, comentando a extrema pobreza, e falta de recursos das Unidades de Conservação federais marinhas. A culpa não é dos chefes, mas da União, que não investe no MMA e ICMBio. Considero, também, um erro total do ICMBio que jamais denunciou publicamente a falta de recursos. Trata-se, a meu ver, de uma falha da autarquia. Os professores reclamam sobre a escassez de recursos. A Polícia Federal torna pública a miséria em que vivem (caso recente dos passaportes). A Polícia Civil faz o mesmo, e provoca caos do Espírito Santo (outro caso recente). E assim por adiante. A pergunta que fica é: por que o ICMBio se omite? O público, que paga a conta, tem o direito de saber. A biodiversidade é nosso maior ativo. A ausência de denuncias do ICMBio é um tremendo equívoco. E contribui para este crime de lesa- pátria cometido pelos acima citados.
Assista a este vídeo no YouTube
Imagem de abertura: Blog da Jujubildes – blogger
Há diferença entre visitar e conviver. Tá certo ambos os casos podem influenciar nossas opiniões…rapidez da estada numa visita ou a ligação pessoal, em um convívio. No entanto, nos locais que tenho contato com RESEX Marinhas, tanto movimento de pescadores e pescadoras quanto poder público local reconhecem a mudança social e ambiental que uma UC de uso sustentável trouxe a região. Acho importante termos unidades de proteção integral, mas há se avaliar bem o local, pois há muitas populações que vivem e dependem desta região…ai sim A proteção integral seria uma Falácia! Com a iniciativa, seja Azul ou não, de trazer recursos financeiros as UC veremos se o problema é o modelo (RESEX) ou a falta de investimento nele…lembrando que a gestão não é só do ICMBio, mas como muito prazer, compartilhada com a sociedade local.
Wiliam, obrigado por contribuir. Mas, antes de mais nada, posso assegurar que não há ninguém que conheça a costa brasileira como eu. Modéstia a parte, desde 1967 não faço outra coisa se não navegar pelo litoral. Portanto, não se trata de uma ‘visita’ apenas. AS RESEX podem ter trazido alguma mudança social, concordo. Mas aponte uma, apenas uma RESEX Marinha onde há peixes e crustáceos suficientes. Ou assista os documentários que fiz mostrando todas elas (https://marsemfim.com.br/documentarios/unidades-de-conservacao/), e preste atenção ao que dizem os nativos, os pescadores e catadores, e os chefes das UCs. Está tudo lá. Quanto às de proteção integral, estamos falando de locais como S.Pedro e S. Paulo, Cadeia Vitória Trindade, aumento do PARNA de Abrolhos, etc, ou seja, não há populações locais a serem proibidas de tirarem seja o que for. Quando ao problema de investimento, sim, concordamos. Não há investimento em nenhuma delas. Mais uma prova de que a biodiversidade, maior ativo brasileiro, não é levada a sério pelo poder público. E aqui não me refiro a atual gestão, mas a todas elas.
É isso. Abraços e volte sempre.
Vai estudar um pouquinho antes de dizer tanta besteira, Luisa… que mico! :-)
Luisa, hipócrita são nossos políticos. Hipócrita é o ICMBio que não vem a público divulgar a miséria que a União dá pra que eles cuidem da biodiversidade brasileira. Hipócrita, e desinformada é vc, que dissemina notícias ‘fake’conforme explico abaixo. Você está redondamente enganada. Não se deu o trabalho de ler nada do site. Tudo que vc fala de meu acidente, excluídas as informações erradas, estão no meu site. Neste link vc lê as matérias do resgate:https://marsemfim.com.br/expedicoes/resgate-mar-sem-fim/. Está tudo lá, tim-tim por tim-tim. Quando à sua desinformação, saiba que eu tinha sim, autorização para ir pra Antártica. Ela me foi dada pelo Almirante Palmer, chefe dos navios polares brasileiros. Na segunda viagem que fiz à Antártica, assim como na terceira, a do naufrágio, eles não só deram autorização, como se prontificaram a reabastecer meu barco na base brasileira. Não que ele não tivesse combustível para ir e voltar. Tinha. É que, como o barco não tem a quilha de um veleiro, precisa navegar carregado, com peso, ou lastro. Por isso pedi, e recebi combustível na segunda viagem. A primeira, foi a bordo do Ary Rongel, para conhecer a região, mais uma vez com apoio da MB. E a quarta, foi a bordo do Felinto Perry, mais uma vez com apoio da MB, desta vez para resgatar o Mar Sem Fim. Mais uma desinformação: quem foi pra Antártica, recuperar meu barco, arcando com todos os custos, fui eu. Paguei a companhia que levei para lá, com equipamentos e mergulhadores para os trabalhos de recuperação. Paguei o rebocador que saiu de Punta Arenas, foi até a ilha Rei George rebocar o barco e o trouxe de volta à América do Sul. Paguei a equipe de produção que levei para, mais uma vez, documentar o resgate e não deixar que pessoas ignorantes, e arrogantes como você, saíssem disseminando mentiras. Tudo conforme explicado no link acima que vc não se deu ao trabalho de ler. Quanto “aos danos ao ecossistema local”, trata-se de outra desinformação de quem sabe deitar falação, mas não sabe se informar. Mais uma vez recorro ao site. Veja isso, e diga se houve qualquer dano ao ecossistema:https://marsemfim.com.br/video-o-reflutuamento-do-mar-sem-fim/. Quero esclarecer que durante o processo de resgate havia uma funcionária do Ibama fiscalizando. E ela confirmou que não houve nenhum dano ecológico. O mesmo disseram os militares da base chilena defronte a qual aconteceu o naufrágio. Tudo isso está no site. E mais, faço questão de entupir sua arrogância. Ao término dos trabalhos, recebi o seguinte e mail do Contra- Almirante Silva Rodrigues, da SECIRM, Gerente do PROANTAR (Programa Antártico Brasileiro), de quem me tornei grande amigo:
“Prezado João Lara,
BZ! Este código de marinha é um sinal naval que transmitimos quando uma faina é realizada COM SUCESSO. Esse sinal tático é o MAIOR ELOGIO que um HOMEM DO MAR (comandante) pode receber.
Assim, gostaria de transmitir, ao caro companheiro e equipe, esse reconhecimento.
Comandante João Lara: BZ (Bravo Zulu), ou seja, Well done.”
Luisa, ENGULA as bobagens que escreveu. Quem fez o elogio acima citado, foi o Gerente do PROANTAR! Engula, menina, e se informe antes de sair disseminando bobagens e mentiras. Não tenho absolutamente nada a esconder. A propósito, o elogio em questão está, não só no meu site, onde fiz questão de relatar o acidente, como no livro que publiquei, A Saga do Mar Sem Fim, Ed. Escritura, na derradeira página. E mais, na segunda viagem produzi cinco documentários, vencedores, sobre o continente branco. Foi a primeira vez que um jornalista brasileiro se dispôs a ir pra lá, com seu próprio equipamento, para mostrar aos brasileiros uma visão ‘brasileira’ do continente, e dos trabalhos realizados por pesquisadores patrícios. Os documentários foram veiculados pela TV Bandeirantes (aberta) e comprados três vezes seguidas pela NETFLIX. E, como se não bastasse, estão à sua disposição no site, neste link:https://marsemfim.com.br/documentarios/antartica-band/
Uma vez mais, respeite a integridade de quem tem de sobra. E cale a boca antes de deitar falação mentirosa sem se dar ao trabalho de se informar. Por último: como sempre acontece em acidentes, a MB abriu inquérito depois do naufrágio. Depois de ouvir todas as testemunhas, fui absolvido. De acordo com o inquérito, o acidente aconteceu por “fortuna do mar”.
Antes de terminar, quero que saiba que critico o ICMBio, e o MMA, às vezes, porque conheço o que estou falando, ao contrário de uma certa Luisa. Fiz 70 horas de documentários da costa brasileira para a TV Cultura, todos disponíveis no site. Visitei TODAS as Ucs federais marinhas, na última série. Todas. E vi de perto o descalabro. Descalabro que é confirmado pelos chefes das UCs. O vídeo em questão está na matéria que vc critica. Portanto, Luisa, desapareça, não volte mais aqui. Você não merece o Mar Sem Fim.
Olá João. Parece ter sido mesmo um mal entendido. Na entrevista no Cassurubá focamos apenas no monitoramento de andada, até porque havia uma ocorrendo no dia que chegaram, o que proporcionaria ótimas filmagens. Tínhamos apenas um dia juntos e não haveria tempo para abordar todas as linhas de pesquisa que tenho. Então, objetivamente, para evitar mais mal entendidos, segue o que temos:
# MONITORAMENTO DA QUANTIDADE DE CARANGUEJO-UÇÁ: Resultados anuais contínuos desde 2004 na RESEX do Cassurubá, intercalados na RESEX de Canavieiras e, mais recentemente, em São João da Ponta. Sem previsão de término, porque monitoramento de estoque deve continuar sempre, mas mesmo assim resultados já foram publicados e aplicados.
# MONITORAMENTO DAS ANDADAS DE CARANGUEJO-UÇÁ: Resultados anuais contínuos desde 2006 na RESEX do Cassurubá, e mais recentemente em vários locais do Brasil (incluindo várias UCs), no Amapá, Pará, Paraíba, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina. Previsão de término em 2019, apesar de resultados já terem sido publicados e aplicados
# MONITORAMENTO DA PRODUÇÃO DE CARANGUEJO-UÇÁ: participei da elaboração de metodologia e testes junto ao CEPENE durante um ano, entre 2014-2015. Após isso foi assumido por uma empresa privada e deixei de acompanhar.
Acho que agora está tudo esclarecido.
Cordialmente,
Anders
Mais uma vez, agradeço por seus esclarecimentos. Os leitores saberão sobre seu trabalho de forma mais completa. Mas uma vez, acredite em minha boa fé, e no respeito que tenho por você. Oxalá tivéssemos mais tempo juntos na ocasião das filmagens. Grande abraço
Quem escreve é o biólogo Anders Schmidt, pesquisador citado na reportagem. Escrevo para esclarecer alguns equívocos a respeito da parte “Resex de Cassurubá não sabe a quantidade de crustáceos da área protegida”. As informações contidas neste texto estão ERRADAS. Como pesquisador atuante na RESEX do Cassurubá desde longa data, inicialmente pelo Projeto Manguezal, do CEPENE / ICMBio, e atualmente pela Universidade Federal do Sul da Bahia, informo que, desde 2004, temos produzido estimativas de populações de caranguejo-uçá da RESEX do Cassurubá, algumas delas já publicadas em artigos; e que, desde 2009, temos uma estimativa fiel da quantidade de caranguejo-uçá de toda a região estuarina de Caravelas (além de Canavieiras, BA e, mais recentemente, de São João da Ponta, PA.). Fazemos esta ampla amostragem todo o mês de novembro e os resultados são disponibilizados para os gestores das UCs para tomada de decisão. Assim, a colocação feita pelo Mar Sem Fim é muito infeliz, principalmente porque a RESEX do Cassurubá é a unidade de conservação que tem a mais longa série de dados de monitoramento de estoque de caranguejo-uçá do Brasil. Outro equívoco que gostaria de ressaltar é que a reportagem afirma que o biólogo (eu) “estuda os hábitos dos caranguejos- uçá para, um dia, saber ao certo qual a quantidade existente na área da Resex”. A última reportagem que gravei para o Mar Sem Fim no Cassurubá foi sim sobre um estudo de comportamento de caranguejos- uçá, particularmente sobre andadas reprodutivas. Porém, isso não tem absolutamente NADA a ver com estimativa de quantidade de caranguejos, mas sim com conhecimento para orientar os períodos de defeso da espécie. Quanto a quantidade de caranguejo retirada (tópico completamente distinto da estimativa de estoque), embora não trabalhe diretamente com isso, participei junto com o CEPENE da elaboração daquilo que julgo um ótimo monitoramento de produção pesqueira. O CEPENE, junto com seus parceiros, chegou a realizar um ano de monitoramento com muita dedicação para colocar o método para funcionar pela primeira vez, mas a Fibria optou por continuar o monitoramento com uma empresa privada, sobre o qual nada posso afirmar visto que não venho acompanhando sua realização. Peço que o Mar Sem Fim tenha mais cuidado ao divulgar informações, pois podem comprometer a imagem de pessoas que estão dedicando uma vida para a pesquisa e conservação, independente de todos os limitantes que nosso país tem em relação ao Meio Ambiente.
Prezado amigo, Anders Schmidt, antes de mais nada saiba que respeito muito seu trabalho, empenho e dedicação. Eu simplesmente não sabia que vcs produzem estas estimativas sobre populações de caranguejos- ucá. Na época da reportagem inicial, Maio de 2015, ou você não me disse ou, se disse, não anotei. Em todas as visitas que fiz às RESEX costumava mandar o texto, antes de publica-lo, aos pesquisadores que entrevistei. Fiz isso por respeito e por não querer errar. Quando escrevi a matéria de Cassurubá, mandei o texto à você que fez várias correções. Uma delas, lembro bem, era sobre a equipe do REMAR. Você, ético como sempre, fez questão de incluir o nome da Karen Diele (Edinburgh Napier University), entre outras. Você ainda corrigiu algumas informações sobre a “andada”, a época correta em que ela acontece. Aqui vai o parágrafo em questão: “Segundo Anders, o IBAMA adota o defeso na época da “andada”, quando os crustáceos saem da toca para reproduzir. E não se sabe exatamente quando acontece o fenômeno. Sabe-se que é logo após a lua cheia ou nova. Mas nem sempre ocorre após ambos os períodos. O motivo desta alternância entre luas é o que o grupo de pesquisadores se propôs a descobrir. Com este conhecimento será possível prever datas certas para defesos do caranguejo-uçá. E contribuir para o uso sustentável deste importante recurso pesqueiro.”
Veja que, até aquele momento, maio de 2015, vcs ainda não sabiam a data correta da ‘andada’. Procuravam descobri-la para “…com este conhecimento prever datas certas para defesos do caranguejo-uçá…”
Ou seja, pelo que entendo, até a data da visita não se sabia a data correta para o defeso.Logo adiante, está escrito que…”O monitoramento deve durar até 2019…”
O que entendi como isso? Que até 2019 não se teria a resposta. Por isso escrevi que “a Resex não sabia a quantidade de crustáceos da área, muito menos a retirada mensal”. Esta é a regra em todas as RESEX que visitei. Em todas as visitas fui recebido pelos chefes das UCs. Entrevistei cada um, questionei a absoluta falta de recursos humanos e materiais. A maioria dos chefes concordou: não há fiscalização, não há barcos, não há verbas para combustível nas poucas UCs que contam com este equipamento fundamental, etc. A grande maioria das RESEX conta com apenas um funcionário, o próprio chefe, como no caso da citada RESEX de Tracuateua. As UCs do Maranhão, Pará e Amapá, estão aos poucos sendo invadidas por traficantes de Crack. As comunidades, indefesas, não têm a quem recorrer como bem disse o Donda, citado neste post.
Como você mesmo diz, “o CEPENE, junto com seus parceiros, chegou a realizar um ano de monitoramento com muita dedicação para colocar o método para funcionar pela primeira vez, mas a Fibria optou por continuar o monitoramento com uma empresa privada, sobre o qual nada posso afirmar visto que não venho acompanhando sua realização.”
Se você, que trabalha na área, “nada pode afirmar sobre o monitoramento da Fíbria” como eu posso saber? Fica aqui a pergunta: quem sabe, afinal, qual a quantidade de crustáceos da RESEX?
Ainda esta semana vou entrar em contato com o atual Chefe para saber se ele pode finalmente dar esta informação fundamental para que as RESEX cumpram o papel que o ICMBio espera delas:” Sua criação visa a proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.”
Apesar de respeitar e admirar seu empenho e trabalho, Anders, o que vi nas 19 RESEX da costa brasileira é o semi- abandono. Áreas imensas geridas e ‘controladas’por apenas uma pessoa!Sem barcos! Como é possível “assegurar o uso sustentável desta forma? No meu site há um pequeno vídeo, editado da série de documentários sobre as UCs federais marinhas, com depoimentos contundentes de vários Chefes de UCs confirmando cruamente esta pobreza. A falta generalizada de Planos de Manejo, mesmo em UCs com 20 anos de idade! E por aí afora. Fiquei horrorizado com o que vi, Anders. E ainda esta semana publico novamente este vídeo.
Talvez, em alguns casos, Cassurubá possa ser exceção. Vou checar como adiantei. Mas, se for, é só neste caso da quantidade de crustáceos da área. Peixes já não existem, como disse seu Eliseu, e vários outros pescadores que entrevistei. Simplesmente acabaram. Por que? Porque, insisto, este tipo de UC “não consegue assegurar o uso sustentável”.
Pescadores de Cassurubá se matam dentro da RESEX! Isso me foi dito por Lasmar, na frente do chefe que me acompanhava. É ‘sustentável’? Alguém contestou estas informações?
E as mortes não acontecem apenas em Cassurubá. Ouvi depoimentos arrasadores em várias outras RESEX. Todas estão disponíveis para quem quiser ver. Os documentários estão neste link:https://marsemfim.com.br/documentarios/unidades-de-conservacao/
Finamente, aos leitores: admiro profundamente o trabalho de Anders. Se metade das pessoas envolvidas nas UCs federais marinhas tivessem 1/3 de sua capacidade e dedicação, a situação estaria menos ruim, não tenho dúvidas. Se errei na questão por ele levantada, não foi por leviandade ou má vontade. Foi falta de informação. Mas repito, tanto os posts, como os documentários, estão neste site, à disposição do ICMBio, e do público em geral. E, até agora, não houve nenhuma contestação. A não ser esta, do Anders, sobre a questão dos ucás.
Agora um ‘mea culpa’: sim, cometi um erro. Antes de publicar este post deveria, em razão de nossa amizade e respeito, ter conversado com Anders. Não fiz isso desta vez. Reli o texto original sobre Cassurubá (https://marsemfim.com.br/resex-cassuruba/), e usei as informações nele contido. Agora é tarde para mudar, o post já se tornou público. Tudo que posso dizer é que o trabalho deste biólogo merece todo o respeito, como afirmei várias vezes nesta resposta. Mas, como diz o ditado, “uma andorinha só não faz verão”.
Grande abraço, amigo, e muito obrigado pelo esclarecimento.