Como a música clássica salvou milhares de belugas no Ártico

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Como a música clássica salvou milhares de belugas no Ártico

Na década de 1980 um grupo de belugas perseguia um cardume de bacalhau no Estreito de Senyavin, que separa a Ilha de Arakamchechen da Península de Chukchi, no canto nordeste da União Soviética, a cerca de 130 milhas do Alasca. Em meio à caça, irrompeu  uma forte ventania de leste que bloqueou a saída do estreito com o gelo à deriva. A massa sólida, empurrada pelo vento deixou apenas pequenas aberturas para as belugas emergirem para respirar.

as baleias beluga presas nop gelo

Começava uma das mais improváveis operações de salvamento de animais do planeta, envolvendo a União Soviética, o quebra-gelo Moskva (Moskva é o nome russo para Moscou), e música clássica. Uma história tão surpreendente quanto a de NOC, uma beluga treinada para a guerra pela Marinha dos EUA que imitava a voz humana.

A armadilha do mau tempo

No fim de dezembro de 1984, caçadores Chukchi — povo originário da região — avistaram muitas presas nas águas semicongeladas do Estreito de Senyavin. Aproximaram-se animados, mas logo perceberam o engano. Milhares de baleias, sua principal fonte de alimento, lutavam para respirar, presas sob o gelo e espremidas em pequenas aberturas.

As baleias beluga costumam caçar e se abrigar sob o gelo espesso. Contudo, precisam emergir a cada vinte minutos para respirar, ou se afogam. Os caçadores entenderam o perigo. O mar aberto ficava longe demais para alcançar nesse tempo. Aquele grupo com milhares de animais seguia para uma morte certa.

Assim, os caçadores chamaram outros moradores para ajudarem no resgate. Dezenas de chukchis deslocaram-se até as aberturas do manto de gelo e passaram a alimentar as baleias com peixes, enquanto outros cavavam para aumentar as fendas e garantir que as belugas tivessem espaço suficiente para respirar.

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Segundo o New York Times, a situação do grupo de animais, estimado em 1.000 a 3.000, foi relatada por jornais regionais e pelas autoridades do Extremo Oriente soviético. Helicópteros e especialistas foram enviados para examinar a cena, e os habitantes do assentamento próximo de Yanrakynnot trouxeram peixes congelados para alimentar as belugas.

Mas o inverno é rigoroso no nordeste da Rússia, e as baleias logo morreriam. As equipes enviadas ao local  concluíram que a única maneira de salvá-las era abrir um caminho através do gelo para que escapassem. Assim, o navio quebra-gelo Moskva foi enviado para libertar as baleias.

A chegada do navio quebra-gelo Moskva

De acordo com o New York Times na primeira aproximação do quebra-gelo ao estreito, seu capitão, Anatoly M. Kovalenko, achou o problema mais assustador do que o previsto, e recuou.

navios quebra-gelo Admiral e Makarov e Moskva.
Navios quebra-gelo Admiral Makarov (em primeiro plano) e Moskva. Imagem, Wekipedia.

No entanto, quando dezenas de belugas começaram a morrer, o Moskva acionou os motores a toda força.

mapa do local de salvamento das baleias beluga
Ilustração, www.whalescientists.com.

Enquanto o quebra-gelo trabalhava para abrir um canal, helicópteros lançavam peixes frescos acima dos buracos para alimentar as baleias.

Depois de alguns dias o navio  finalmente chegou às milhares de belugas. No entanto, elas estavam fracas e com medo daquele gigantesco monstro de ferro com cerca de 120 metros de comprimento.

Então, o Moskva abriu lentamente piscinas maiores para os animais respirarem, se alimentarem, descansarem e relaxarem enquanto se pensava em alguma solução. Enquanto isso, as baleias se recusavam a seguir pelo canal de volta para o oceano aberto. O que aconteceu a seguir parece fantasioso…

Música clássica nas caixas de som

Já quase sem esperanças, alguém lembrou que mamíferos marinhos reagem à música. A equipe tocou vários gêneros musicais pelos alto-falantes do deck do navio sem conseguir qualquer resultado, até que as baleias se acalmaram com música clássica, perdendo o medo do enorme navio e do barulho de suas hélices.

O Capitão Kovalenko relatou por rádio: “Nossa tática é a seguinte: nós recuamos, depois avançamos novamente para o gelo, navegamos um pouco e esperamos. Repetimos isso várias vezes. As belugas começam a ‘entender’ nossas intenções e seguem o navio. Assim, nos movemos quilômetro a quilômetro.”

Desse modo, no final de fevereiro de 1985 o Moskva levou cerca de 2 mil  belugas para o mar aberto, tocando música clássica no mais alto volume, numa operação sem precedentes até hoje.

Fontes: https://whalescientists.com/russian-ship-entrapped-belugas/……https://www.nytimes.com/1985/03/12/science/russians-tell-saga-of-whales-rescued-by-an-icebreaker.html

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